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O vice-almirante foi recebido como um herói no centro de vacinação de Alcabideche. Disse-se "emocionado" pela lição de civismo dos mais jovens
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O vice-almirante foi recebido como um herói no centro de vacinação de Alcabideche. Disse-se "emocionado" pela lição de civismo dos mais jovens

JOÃO PEDRO MORAIS/OBSERVADOR

O vice-almirante foi recebido como um herói no centro de vacinação de Alcabideche. Disse-se "emocionado" pela lição de civismo dos mais jovens

JOÃO PEDRO MORAIS/OBSERVADOR

Gouveia e Melo já tira selfies e está a escrever livro de memórias. "O aplauso de hoje é uma resposta à semana passada"

No início da vacinação dos 12 aos 15 anos, Gouveia e Melo foi recebido com aplausos em Lisboa — mas voltou a negar uma carreira política. No Porto houve crianças que quiseram dar o exemplo aos pais.

É recebido com aplausos, distribui emblemas de combate (contra a Covid-19), tira selfies, já anda com segurança e tem na calha um livro de memórias. Qualquer semelhança com um candidato político é pura coincidência. Neste retrato quem figura é o vice-almirante Gouveia e Melo, o coordenador da task force criada pelo Governo para gerir o processo de vacinação que, na manhã deste sábado, no centro de vacinação de Alcabideche onde estavam a ser vacinados jovens entre os 12 os 16 pela primeira vez, foi recebido com uma ovação mal entrou na sala. “Não tenho jeito nem gosto pela política”, assegura, mas a popularidade vai em altas e mesmo enquanto fala aos jornalistas é interrompido: “Pode tirar uma selfie com o meu filho?”.

Gouveia e Melo esteve no centro de vacinação de Alcabideche já depois de ter passado por outros três. Disse que a afluência dos mais novos era um exemplo de civismo

JOÃO PEDRO MORAIS/OBSERVADOR

“Já tira selfies como o Presidente da República, já viu?” A pergunta é recebida pelo homem de camuflado com os braços abertos, como quem diz que já sabe o que vem daquela provocação atirada pelo Observador. Gouveia e Melo já ouviu o repto mais do que uma vez, mas: “Eu gosto de ser militar”. Também não tem de deixar de ser, o general Ramalho Eanes… De novo uma provocação e de novo o corpo do vice-almirante tomba ligeiramente para trás, numa gargalhada. Mas lá vai desfiando que, sem qualquer gosto pela política, tem ali no bolso esquerdo do peito do seu camuflado um pequeno caderno onde vai escrevendo “as memórias deste período fantástico”. E quer publicá-las.

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Para quem não está familiarizado com as lides, sabe muito da poda: dirige-se aos jornalistas com um simpático “vejam lá se não têm mais perguntas ou se precisam de mais alguma coisa” e alinha bem as palavras quando as câmaras ligam outra vez para gravar mais uns acrescentos: “Entrei aqui e aqueles aplausos tiraram-me uns certos meses de cansaço”.

Mas voltando às notas que tem recolhido neste ano meio. Começou no início da pandemia, quando já estava nas equipas de planeamento do combate à Covid-19, e já vai no terceiro caderno. Este é mais pequeno do que os outros. Abre-o para as câmaras registarem. Está cheio de apontamentos em letra miudinha. “Registo os eventos mais importantes. Estou a pensar escrever um livro”. Explica que escreve sobretudo “as coisas positivas. Sou orientado para as coisas positivas. As negativas só faço uma nota”. É assim que lá deve constar a manifestação da semana passada, onde foi recebido por protestos de negacionistas. O aplauso de hoje, diz, “é uma resposta ao que aconteceu na semana passada”. Revela que ficou “magoado” com o que ouviu: “A palavra genocida toca-me profundamente porque tenho origem judaica”.

Aos jornalistas mostrou um pequeno caderno onde vai apontando algumas notas. Está a escrever um livro de memórias do seu trabalho na pandemia

JOÃO PEDRO MORAIS/OBSERVADOR

O episódio foi duro e fez diferença. Desta vez, o vice-almirante vai acompanhado não só de mais um membro (também miltar) da task force como também de um segurança do Estado. Vai à distância, com o pin na lapela que identifica estes profissionais da PSP. O militar que acompanha o vice-almirante assegura ao Observador que a medida não foi tomada como resposta ao que se passou há uma semana, ainda que admita que é a primeira vez que este elemento acompanha Gouveia e Melo.

A noite em que manifestantes cercaram o vice-almirante e um DJ foi a um centro de vacinação

De qualquer forma, ali em Alcabideche não houve motivos de preocupação com a segurança do coordenador do task force que na semana passada esteve no centro de um episódio de empurrões. O pavilhão cheio onde estão dispostas as 10 divisões para a vacinação rebenta num aplauso mal vê o militar a entrar por ali adentro com câmaras de televisão à frente. O vice-almirante agradece e circula para distribuir os emblemas que tem trazido para os mais jovens. Incentiva-os com um “fazes parte do combate” quando lhes entrega o emblema que diz, em latim, virum pugnare cum vaccinum e tem três cabeças a combater o coronavírus que lançou o mundo numa pandemia.

Matilde Alfaro, de 12 anos, perdeu em novembro a bisavó de cem anos, que estava no Lar do Entrocamento, para a doença que marca esta geração. Ouve o vice-almirante perguntar-lhe se tem receio “da pica” e dizer que “um mosquito dói mais” e atira-lhe, descontraída enquanto espera a sua vez: “Estou super tranquila com estas coisas”. Gouveia e Melo diz-lhe de volta: “Vocês estão a dar uma lição de civismo, por vocês, os mais velhos e os vossos familiares”.

A fila lá fora dá a volta ao complexo desportivo de Alcabideche, onde está instalado o centro de vacinação que responde ao concelho de Cascais inteiro. Às 11h da manhã, o tempo de espera desde o fim do caracol até à box de vacinação é de cerca de uma hora. À porta, lá à frente, já se ouvem protestos. “10h40 era a hora marcada e agora estão a entrar à frente pessoas das 11h da manhã. Não pode ser”, grita um homem a um membro do staff de vacinação. Rapidamente abrem-se as portas para essa fila.

Em Alcabideche, muitos apareceram antes da hora marcada e as filas acabaram por se estender

JOÃO PEDRO MORAIS/OBSERVADOR

Carla Ares é responsável pelo ACES de Cascais (Agrupamento de Centros de Saúde do Concelho) e diz ao Observador que a forte afluência se deve também às pessoas que “vieram antes da hora marcada para despachar”. “É época de férias…”

A enfermeira explica que já abriram ali no centro de vacinação o “plano B” ou a “11.ª box”, que é mais uma ala onde se conseguem vacinar 40 pessoas ao mesmo tempo. É aí que já está sentada no recobro a Iryna, com 13 anos, acompanhada da mãe Oksana, de origem ucraniana e que está em Portugal há 20 anos. “Eu disse-lhe: se queres ir ver a neve à Ucrânia tens de te vacinar”. Iryna não vê a avô ucraniana há dois anos, por causa da pandemia e, agora, com todos vacinados, a família está a planear ir no Natal até ao país de origem ver os familiares que a Covid-19 deixou longe mais tempo do que o previsto.

Iryna só tinha medo que lhe doesse, mas afinal não. “Não doeu nada”. Não tinha dúvidas. Aliás, ali no centro de Alcabideche, os jovens com quem o Observador falou não se mostraram com receios. Só mesmo da injeção em si. Nem mesmo a Joana, de 14 anos, que está sentada na sombra, na rua junto ao muro das piscinas municipais, à espera na longa fila. O pai e a madrasta não quiseram ser vacinados, mas ela quis e foi com a mãe. “Ele tem receio por causa dos sintomas”, explica sobre o pai. A mãe, Patrícia, diz ao lado: “Perdido por cem, perdido por mil”.

É o mesmo raciocínio de Leonor, que levou o filho Vicente e o sobrinho Luís. Já estão no recobro e o único medo que tinham também era o momento da injeção em si, mas, neste caso, “nem tiveram opção”, decreta a mãe. Leonor explica que se informou primeiro, ligou à pediatra e a familiares médicos, e, como teve indicação de que “os problemas eram menores que os benefícios”, avançou logo no primeiro dia do agendamento.

Às 11h45, depois de já ter visitado os centros de vacinação na comunidade hindu, na Cidade Universitária e na Amadora, Gouveia e Melo teve a indicação que já estavam vacinados 45 mil dos mais de 100 mil inscritos para o dia. Explicou pouco depois ao Observador que “mais de 90%” daquele número eram desta faixa etária.

O vice-almirante foi falando com alguns dos adolescentes que esperavam a sua vez ou se preparavam para serem vacinados

JOÃO PEDRO MORAIS/OBSERVADOR

O centro de Alcabideche estava cheio e Carla Ares explica que, mesmo assim, mantiveram o outro centro de vacinação do concelho, o de São Domingos de Rana, fechado. “A lista de elegíveis não justificava abrir o outro centro”, afirma. “Esta geração é muito bem informada”, assegura ainda, acrescentando que, a partir dos 18 anos, os jovens “querem muito a vacina”. Mas que também é entre os mais jovens que a enfermeira tem notado “mais ansiedade e mais reações vagais”, nomeadamente abaixo dos 30 anos “quando aparecem com os pais também nervosos”.

Na sala do recobro está sempre alguém sentado, o jovem, e um adulto em pé. É a única diferença neste dia de vacinação de menores face a qualquer dia de vacinação de adultos. Há sempre alguém que vai com os mais novos. Também há, num canto da sala, um ecrã a passar os hits músicais do ano, mas está com o volume tão baixo que Emily, de 14 anos, e o pai nem ouvem. Estão apenas a olhar para as imagens que vão passando. Ficam espantados quando lhe falamos de centros de vacinação com DJ’s: “Olha, isso é que devia haver aqui, dava mais energia”.

Wilson foi vacinado e deu o exemplo aos pais, Ana pensou na bisavó que morreu com Covid-19

A norte não há muitas diferenças. O centro de vacinação de Matosinhos está de portas abertas há apenas uma hora, a fila de pessoas anda a bom ritmo e já se faz notar no passeio, junto ao portão e até no parque de estacionamento. São 9h30, miúdos e graúdos abrigam-se do sol enquanto esperam pela sua vez, o burburinho é grande e o nervosismo também.

“Dormi bem, tomei um bom pequeno almoço, mas já estou a suar das mãos”, confessa ao Observador Wilson Gomes da Silva, de 12 anos. Está sentado junto a posto de vacinação número um à espera que chamem pelo seu nome, e se na fila desejava ir para casa, depressa ficou mais calmo quando viu muitos da sua idade  saírem sorridentes, a mostrar o penso rápido colado no braço e a garantir que, afinal, “isto não dói nada”.

“Estou contente por tomar esta vacina, acho que vou ficar mais protegido e talvez não apanhe tão facilmente o vírus. Claro que não vou estar à vontade, teremos sempre que andar de máscara”, diz, admitindo que gostava que todos os seus amigos também seguissem o seu exemplo. “Dois colegas da minha turma tiveram Covid e por causa deles tive de ir para casa. Nessa altura, o vírus assustou-me, não gostava que isso voltasse a acontecer agora.”

Em Matosinhos, a fila de espera ultrapassava os 30 minutos

Rui Oliveira/Observador

Ao lado de Wilson está Maura Gomes, a sua mãe, que, ao contrário do filho, ainda não foi vacinada. “Nem eu nem o meu marido fomos vacinados, eu tenho medo de agulhas e ele não acredita que isto vai resolver alguma coisa. Ouvimos tanta coisa e temos receio dos efeitos secundários, mas agora quero tomar. Se o meu filho vai tomar, eu também tenho de tomar”, afirma. O regresso às aulas fez com que Maura mudasse de ideias e percebesse que a vacinação “é mesmo uma grande ajuda”. “Eles no recreio tiram a máscara, brincam todos juntos, abraçam-se, pode ser que isto ajude. Realmente fico mais descansada.”

O nome de Wilson ouve-se no corredor, o menino levanta-se lentamente, senta-se numa outra cadeira, apreensivo, levanta a manga da t-shirt a custo e olha para a mãe fixamente, apertando com força a sua mão esquerda. Segundos depois, arregala os olhos quando a enfermeira diz que “já passou”. “Não senti nada, foi tudo muito rápido”, conta, já a caminho da sala de recobro, local onde tem que se separar da mãe. “Até já, estou à tua espera lá fora”, diz a progenitora, afastando-se. “Agora quando a minha mãe for vacinada, também venho com ela para lhe dar alguma força”, promete Wilson, que, para já, não quer pensar muito no dia 11 de setembro, data em que voltará ao centro para receber a segunda dose.

Luca estava nervoso e segurou a mão da mãe durante o momento da vacinação

Rui Oliveira/Observador

Ao seu lado, sentada na sala de recobro, com o telemóvel na mão e a bater o pé no chão, está Ana Futuro, de 15 anos, um tanto ou quanto impaciente. “Acho que vamos continuar a apanhar o vírus, mas esta vacina ajuda-nos a não ir para o hospital tão rapidamente”, começa por dizer ao Observador, sublinhando que a vacinação não lhe doeu nada. Nos 20 minutos que lhe restam para sair do centro e ir almoçar com a sua família, a jovem de Matosinhos recorda o irmão mais velho e a bisavó.

“O meu irmão tem 20 anos, estuda em Inglaterra e já teve o vírus, ficou com falta de ar e sem se conseguir mexer e comer. Agora já está bem, mas há quase um ano que não o vejo, espero reencontrá-lo no Natal. A minha bisavó tinha 90 anos e morreu com o vírus, faz em outubro um ano. Ela já tinha alguns problemas, mas a morte dela fez-me ter a certeza de que temos de ter muito cuidado porque isto não é uma brincadeira.”

No regresso à escola, Ana teme que, graças à vacinação, muitos dos seus colegas relaxem ainda mais durante os intervalos e lamenta que muitos não tenham a oportunidade de se protegerem este fim de semana. “Conheço pessoas que não querem tomar. Aliás, elas até querem, mas os pais não deixam, por isso, não podem fazer grande coisa. Ficam com medo só de ouvir os pais a falar sobre isto, dizem-lhes que somos novos e não apanhamos o vírus.”

Jorge Rodrigues não tem essa opinião. Está na fila há mais de 30 minutos ao lado da sua filha, Mafalda, de 15 anos. “Vir aqui hoje foi uma decisão tomada em conjunto lá em casa, não tive trabalho nenhum para a convencer. Este é um passo importante, não propriamente pela escola, mas para eles terem alguma liberdade e poderem entrar em qualquer sítio.”

Mafalda abana com a cabeça, concordando com o pai. “Acho que é uma oportunidade única para a nossa geração, não podemos ter medo destas coisas. A ciência já evoluiu muito, temos de acreditar nela.” No entanto, para Jorge Rodrigues, os mais novos já deviam ter tido a oportunidade de se vacinarem e lamenta o arranque do processo em Portugal. “Muita coisa podia ter sido diferente, no início muitas pessoas foram vacinadas sem fazer qualquer sentido, incluindo os professores”, critica, queixando-se ainda do tempo de espera. “Estamos aqui há mais de meia hora porque há gente que chega horas antes do horário marcado e metem-se à nossa frente.”

Mafalda foi acompanhada pelo pai, Ana apresentou-se com a mãe. Ambas acreditam que irão voltar à escola mais protegidas

Rui Oliveira/Observador

Do outro lado da sala de recobro, dezenas de pais esperam pelos filhos, ora à sombra, ora ao sol. Uns olham atentamente para o relógio, numa espécie de contagem decrescente para irem embora, outros esperam calmamente no carro, mas nem todos escolhem ficar ali. “Uma mãe deixou aqui o miúdo e foi às compras, depois ele não sabia dela”, desabafa um elemento da polícia municipal presente naquela zona. Ao fim da manhã, a sala de emergência tinha algum movimento. “Foi um menino que desmaiou depois de tomar a vacina. Eles ficam ansiosos, mas é por culpa dos pais que estão mais nervosos do que eles”, alerta um membro da equipa de segurança.

A transportar bandejas de alumínio repletas de doses prontas a serem administradas está a enfermeira Carla Carvalho. “Dê-me uns cinco minutinhos e já falamos.” A azáfama nos corredores é grande, mas a fila lá fora vai diminuindo. “Antes de abrirmos já estavam umas 20 pessoas lá fora. Esta adesão surpreendeu-nos, assim como a tranquilidade dos mais novos. Há uma vontade expressa nos jovens, não se opõem em nada, vemos que não é uma decisão única dos pais”, começa por dizer ao Observador, sublinhando que “ninguém é vacinado sem estar acompanhado por um representante legal”.

Para este sábado estão previstos 3.500 agendamentos em Matosinhos, há 13 postos de vacinação a funcionar e 64 profissionais de saúde a trabalhar no local. “Este período de férias pode atrasar o processo, mas vamos estar disponíveis para as senhas digitais e em formato casa aberta para quando voltarem poderem ter uma espécie de via verde”, adianta a enfermeira.

A sala de recobro em Matosinhos esteve quase sempre completa

Rui Oliveira/Observador

Gonçalo adiou as férias para ser vacinado, Luca prefere agulhas às zaragatoas

No Regimento de Transmissões, no Porto, a fila é grande e são muitos os que atrasam o passo para preencher o questionário prévio. É o caso de Pedro Leitão que ajuda o filho Luca, de 12 anos, a terminar essa tarefa. “Logo que foi possível agendamos a vacina para ele, mas penso que só daqui a muitos anos é que vamos conhecer a eficácia de tudo isto”, diz o pai ao Observador.

De braços cruzados, t-shirt branca, boné escuro na cabeça e visivelmente tranquilo, Luca não esconde a vontade de ser vacinado contra a Covid-19, um vírus que o obrigou a estudar em casa e já infetou muitos dos seus amigos. “Ficaram doentes e não pude estar com eles durante imenso tempo, não quero que isto me aconteça um dia. Espero que a partir de hoje possa correr menos riscos e consiga aprender melhor.”

A estudar na Foz, o pequeno Luca recorda que já foi testado várias vezes, seja antes de festas familiares ou até mesmo no centro de saúde da sua residência, e não tem dúvidas que prefere a agulha no braço a uma zaragatoa no nariz. “No fundo, isto é só uma injeção e tem efeitos melhores que um teste que comprámos na farmácia”, diz confiante e sem medo dos possíveis efeitos secundários.

A fila no Regimento de Transmissões era grande à hora do almoço

Rui Oliveira/Observador

“Acho estúpido sermos vacinados só nesta altura, depois de tantos surtos ao longo de quase dois anos”, ouve-se na fila. É a opinião decidida e destemida de Leonor Pacheco, de 13 anos. Acompanhada pela mãe, Teresa, a jovem acredita ser “muito bom” ter a vacinação completa antes do regresso à escola. “Claro que isto não vai parar definitivamente o número de contágios, mas é bom que todos se protejam. Tenho colegas que dizem que não vão tomar, mas sinceramente não sei se estão a falar a sério ou a brincar. Espero que seja só uma brincadeira.” A mãe, Teresa Pacheco, alerta a filha para a possibilidade de esse cenário ser verdade. “Infelizmente ainda há muita gente que rejeita a vacina, é uma pena. Depois andam aí como se nada fosse e ajudam a que isto fique pior”, afirma.

Neste centro de vacinação no Porto, onde os enfermeiros de bata branca contrastam com homens fardados e de espingarda na mão, os pais podem acompanhar os filhos durante todo o processo, tendo apenas de aguardar no espaço exterior os 30 minutos que integram o período de recobro. Sentados em pequenos bancos coloridos, os mais velhos aproveitam o tempo de espera para telefonar à família, descansando-a, enquanto os mais novos optam por jogar jogos no telemóvel, ouvir música de headphones ou ler um livro que prometeram acabar nas férias.

“Estou a ligar só para dizer que o Gonçalo já foi vacinado, acho que correu tudo bem. Ele quando chegou estava um bocadinho nervoso, mas passou. Já têm as malas todas no carro?”, questiona Carina Vieira ao telefone, enquanto espera pelo filho Gonçalo, de 13 anos. A família adiou as férias no Algarve durante 24 horas para que a primeira dose fosse tomada. “Vamos de férias hoje, claro que ele vai ter de ser testado a entrar no hotel e para ir jantar fora, mas ao menos já vai com uma dose no braço e em setembro vai para a escola completamente vacinado.”

Carina é farmacêutica, lida com o vírus desde que ele chegou a Portugal e não esconde o descanso que sente ao ver o filho a ser vacinado. “Ele acordou com receio, como quase todos os miúdos na idade dele, chegou aqui assustado, mas estive quase sempre com ele e as enfermeiras foram impecáveis.”

Só na sala de recobro é que "o cordão umbilical se quebra", diz a enfermeira Conceição Guimarães

Rui Oliveira/Observador

A família de Gonçalo não foi imune à Covid-19 e isso marcou o jovem. “O meu pai apanhou no hospital num internamento, já no ano passado, e a minha irmã teve recentemente. Não foram casos muito graves, mas claro que marcam sempre a família mais próxima”, partilha Carina Vieira, que, com o avançar da vacinação, espera ver algumas regras alteradas. “Não consigo entender os isolamentos profiláticos, há regras que não fazem sentido nenhum. Tenho outra filha com quatro anos que não sabe o que é um Natal em família, um passeio no parque ou uma festa de aniversário normal”, lamenta.

Sobre os pais que não autorizam a vacinação dos filhos, Carina respeita a decisão e é incapaz de os julgar. “Isso parte de cada um. Os meus filhos têm as vacinas todas, prefiro ter a consciência tranquila e saber que fiz tudo para evitar qualquer doença, a partir daí está na mão de Deus, mas há pessoas que não pensam assim. Sinceramente, acho que há muita gente que só quer ser vacinada para ter o certificado digital e poder ir aos sítios, não porque acredita que a solução pode passar por aqui.”

No Regimento de Transmissões estão previstos 1.850 agendamentos para este sábado. “Está a correr maravilhosamente, tenho verificado bem mais gente do que na semana passada”, garante a enfermeira Conceição Guimarães, acrescentando que a maioria dos jovens vacinados até à hora do almoço tinham 15 anos. “Temos 12 postos de vacinação a funcionar, 46 profissionais ao serviço e não foi necessário qualquer reforço.”

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