O facto de Jeremy Corbyn ter recebido o galardão de “Melhor Barba Parlamentar” do Reino Unido cinco vezes, um recorde, seria irrelevante, se ele não fizesse caso disso. Mas faz. Numa das cinco ocasiões em que recebeu o prémio anualmente atribuído pela Beard Liberation Front, Corbyn afirmou que a sua barba é “uma forma de dissidência com o New Labour”.
Ou seja, aqueles pêlos outrora arruivados na cara de Corbyn que, por força dos 66 anos, são hoje brancos, representam uma diferença entre ele próprio e a fação do partido à qual estará sempre marcada a figura de Tony Blair — o homem que transformou os trabalhistas na viragem do século. Blair, deputado desde 1983 pelo Labour, chegou à liderança do partido em 1994 e três anos depois venceu as eleições legislativas. Tão impressionante quanto o resultado — 43,2%, mais do que suficiente para uma maioria absoluta — era o ciclo que ali se quebrava. Naquela altura, era preciso recuar 20 anos para se encontrar uma vitória eleitoral dos trabalhistas.
Não foi um período qualquer. Foi com Tony Blair que o Partido Trabalhista se afastou da esquerda socialista apoiada por sindicatos e avessa ao “capitalismo popular” de Margaret Thatcher e se aproximou ao centro e até à direita, onde foi buscar o mesmo eleitorado que até aí elegera quatro governos conservadores de seguida — três deles com Dama de Ferro à frente. A mudança não se queria subtil. E, por isso, esta nova era do Labour foi então apelidada de “New Labour”.
Jeremy Corbyn estreou-se no parlamento em 1983 — tal como Tony Blair. Nas eleições de maio de 2015, foi escolhido pela oitava vez pelo círculo de Islington North. A 3 de junho, menos de um mês depois, anunciou a sua candidatura à liderança do Partido Trabalhista.
“O New Labour é um partido de ideias e ideais mas não de ideologias antiquadas. O que conta é aquilo que funciona. Os fins são radicais. Os meios serão modernos”, lia-se no manifesto eleitoral assinado por Blair. O Partido Trabalhista de então abriu o diálogo com o patronato, afastou-se dos sindicatos, criou condições mais apertadas para o acesso à segurança social, promoveu parcerias público-privadas, mostrou otimismo quanto ao capitalismo de mercado e foi eficaz ao roubar a bandeira do combate à insegurança aos conservadores. Era, de facto, um partido novo, aquele que ali se formava. “Acreditamos na força dos nossos valores, mas reconhecemos que as políticas de 1997 não podem ser as de 1947 ou de 1967.”
E em 2015, podem? Jeremy Corbyn acha que não.
“[O partido] tem estado demasiado próximo das grandes empresas, demasiado próximo da ortodoxia económica, tem sido incapaz de apresentar aos eleitores trabalhistas e à maioria do eleitorado uma verdadeira alternativa”, disse Corbyn numa entrevista recente. Noutra ocasião, afirmou que nos últimos cinco anos a mensagem do seu partido tem sido de “austeridade light e mais cortes”.
Ainda sobre o governo de Blair, Corbyn arrancou alguns risos irónicos ao público por fazer tão óbvia afirmação: “Eu discordei em muitas coisas do último governo trabalhista”. Os números apontam que, desde 1997, o deputado Jeremy Corbyn votou de forma diferente do seu partido em 15% das ocasiões. Bateu-se contra as privatizações e as parcerias público-privadas, mas foi a aliança militar do Reino Unido aos Estados Unidos na invasão do Iraque que abriu o maior fosso entre Corbyn e o New Labour: “Quando as pessoas me dizem que isso foi há muito tempo, que não importa… Desculpem, mas importa, importa bastante”.
Corbyn está entre os deputados trabalhistas que mais desafiaram a disciplina de voto do partido nos últimos anos. Desde 1997 fê-lo 536 vezes. Ou seja, em 15% das votações.
Apesar das diferenças, Corbyn manteve-se sempre no partido e no parlamento. Provavelmente por ser mais à esquerda do que a média do seu partido, nunca foi chamado para dirigir um ministério ou para fazer parte de um governo sombra. Foi, por isso, o deputado que pôde ser: barulhento, controverso, assíduo e inconformado. O barbudo cujo pescoço raras vezes conheceu uma gravata, conhecido por usar chapéus “à Lénine” e por se deslocar de bicicleta, uma vez que não tem carro. Acima de tudo, é abertamente defensor de um socialismo democrático que nunca chegou ao poder e que teve no escritor George Orwell o seu defensor mais mediático. Corbyn é, assim, uma memória viva do Partido Trabalhista dos anos 80 — cujo epitáfio é o manifesto eleitoral de 1983. Neste, defendia-se um aumento “maciço” do investimento público; a abolição da Câmara dos Lordes; o desarmamento nuclear do Reino Unido e a saída britânica da Comunidade Económica Europeia. Por ter rendido apenas 27,6% dos votos (o pio resultado do Labour desde 1918) contra os 42,4% de Thatcher, ficou mais tarde conhecido como “a nota de suicídio mais longa da História”.
Não foi com surpresa que se ouviram as ideias apresentadas por Corbyn para o partido e para o país, na campanha à liderança do partido. “As raízes do Partido Trabalhista são essencialmente democráticas, socialistas e orientadas para a comunidade”, disse. Criticou os cortes do governo conservador do primeiro-ministro David Cameron — “baixar o rendimento, os salários, os impostos sobre os mais ricos, subir as exigências para a segurança social, é tudo um ciclo de declínio” — e censurou a postura do seu partido perante estas medidas. “Estamos a aceitar demasiado aquilo que eles estão a fazer.”
Corbyn também sugeriu que a proximidade do Labour aos sindicatos deve ser restaurada: “Não podemos continuar a tratar os sindicatos como um tio chato que só vemos no natal e que queremos ver pelas costas”. Prometeu que iria defender a abolição das propinas (criadas pelo Labour em 1999 e aumentadas para 12 800 euros/ ano por Cameron em 2010), sustentando esta medida com um aumento do IRC e do IRS dos mais ricos. E defendeu a nacionalização de setores vitais, como o da energia e dos transportes ferroviários: “Chamem-lhe renacionalização, chamem-lhe propriedade pública, chamem-lhe uma melhor forma de controlo dessas indústrias. Neste momento, as empresas de gás e eletricidade estão a fazer muito dinheiro à custa de todos nós ao beneficiarem do investimento em infra-estruturas que todos nós fizemos enquanto contribuintes nos últimos 50 anos”.
A verdadeira surpresa foi a maneira como a mediatização de Corbyn e da sua mensagem — apesar de ser uma antiga presença em Westminster, o socialista era um desconhecido do grande público — mudou o jogo. Depois de alguns debates em que esteve frente-a-frente com os restantes três candidatos (Yvette Cooper, Liz Kendall e Andy Burnham, todos eles ministros-sombra, ou seja, todos eles em linha com a atual direção do partido), foi o deputado assumidamente socialista quem surgiu num destacado primeiro lugar na sondagem do YouGov: 43%. Seguia-se Burnham com 26%, Cooper com 20% e Kendall com 11%.
Para vencer as eleições internas do Partido Trabalhista, é preciso conseguir mais de 50% dos votos. Por isso, é possível que haja desistências por parte de alguns candidatos até 14 de agosto, que é quando os militantes vão receber os boletins de voto por correio. E num cenário hipotético de apenas o nome de Corbyn e Burnham (os dois com melhor colocação nas sondagens) constarem no boletim, o esquerdista teria 53% contra os 47% do ministro-sombra da Saúde.
Foi a partir daqui que Corbyn, o outsider desta campanha, passou a estar no centro do debate. De repente, foi para as capas dos jornais, que ganharam um interesse imediato no socialista do Labour. O Sun descreveu-o como “amigo do Hamas e do Hezbollah” — algo que Corbyn nega — e os colunistas do The Guardian, jornal pró-trabalhista, dividem-se a discutir os seus méritos e defeitos. Mas, para desagrado do deputado de Islington North, a reacção que atraiu mais atenção foi precisamente a do homem que Corbyn mais atacou dentro do seu próprio partido: Tony Blair.
De repente, era como se o antigo primeiro-ministro estivesse a citar de memória o manifesto eleitoral de 1997. “Estamos a negligenciar a diferença entre o esquerdismo — que muitas vezes é reacionário — com a social-democracia, que consiste em garantir que os valores são postos em prática da maneira mais eficaz tendo em conta não o mundo de ontem, mas o de hoje e o de amanhã.” E, depois, o antigo primeiro-ministro fez manchetes ao dirigir-se a todos os que apoiam Corbyn: “Quando as pessoas dizem ‘o meu coração diz-me que eu devo estar ao lado daquelas políticas’… Bem, façam um transplante!”.
Blair também apontou o dedo à eventual estratégia eleitoral de Corbyn nas (ainda) distantes eleições legislativas de 2020: “Ganha-se a partir do centro. Ganha-se quando se apela a um setor amplo do público. Ganha-se quando se tem o apoio das empresas, tal como dos sindicatos. Não se ganha a partir de uma posição tradicionalmente esquerdista”.
“A um cabelo de se tornarem conservadores”
Semelhante posição tem o historiador Andrew Thorpe, professor de História Contemporânea na Universidade de Exeter e autor do livro A History of the British Labour Party (“A História do Partido Trabalhista Britânico”, em português). “Se Corbyn apenas se deixar ficar sentado e agir como um socialista puro, seja lá o que isso for, então o resultado pode ser desastroso”, diz ao Observador por telefone. “Ser agressivamente de esquerda seria uma estupidez política da parte dele, porque, se ele se tornar líder do partido, terá de incluir pessoas de todas as alas.”
Thorpe argumenta que uma mensagem mais radical pode levar a uma cisão dentro dos trabalhistas, como aquela que aconteceu dois anos antes do manifesto que foi comparado a uma nota de suicídio. Nesse ano de 1981, um grupo de trabalhistas moderados saiu do partido para formar o Social Democratic Party, entretanto extinto por se ter juntado aos Liberais Democratas — um partido posicionado à direita do do Labour e à esquerda dos conservadores. Mas, além de perder o partido, Thorpe explica que se Corbyn for “pouco flexível”, também pode perder o eleitorado. “A regra é vencer a partir do centro e não da esquerda”.
E não é só a História que o diz. É também o presente, segundo um relatório escrito por dois veteranos do Partido Trabalhista, que fizeram uma série de entrevistas com pessoas que sempre votaram Labour, mas que nas eleições de maio deste ano escolheram outros partidos. Estima-se que dos 6% de eleitores perdidos para os outros partidos, um terço votou no Partido Conservador, outro terço no Partido Nacional Escocês e o último terço dividiu-se entre os eurocéticos do UKIP e os Greens, mais à esquerda. A avaliação final não foi nada simpática: “O Partido Trabalhista está neste momento de frente para uma arma”.
A maior parte dos entrevistados “quase votaram Labour”, mas acabaram por desistir dessa ideia. Muitos apontaram que era impossível imaginarem Ed Miliband (ele próprio oriundo de um setor à esquerda, embora não tanto quanto Corbyn) como primeiro-ministro — “muitas pessoas nos grupos entrevistados riram-se dessa hipótese”, lê-se no relatório. E também não foram poucos os que disseram que o partido tinha perdido credibilidade em matéria de economia e finanças. Além disso, escreveram os autores do estudo, “o Labour pareceu-lhes demasiado anti-empresarial e contra aqueles que fazem algo das suas vidas”. Criticaram os números da imigração (“o país está cheio, não podemos aguentar mais pessoas”), sugerindo ainda que demasiada gente vai viver para o Reino Unido com objetivo de “chegar e receber os benefícios da segurança social e usar o sistema de saúde pública sem contribuir com nada”.
Mais do que expressarem ideias diferentes daquelas apresentadas pelo Partido Trabalhista de Miliband, as pessoas repetiram as ideias do Partido Conservador e do UKIP. “Estes eleitores estão a um cabelo de se tornarem conservadores”, lia-se no relatório.
Ou seja, estão a anos-luz de Corbyn e das suas ideias.
Um novo eleitorado… junto dos mais novos
Mas será esse o eleitorado que Corbyn quer? Ele próprio sugere que não. Num debate na rádio LBC com os outros três candidatos, Corbyn mostrou a sua estratégia eleitoral caso se torne líder do partido: “Podemos encorajar muitas pessoas a irem votar, muitas mais pessoas. E podemos apelar a um conjunto mais vasto do eleitorado”. Esses votos, argumentou, podem ser recuperados na Escócia (onde os trabalhistas elegeram 41 deputados em 2010 e apenas um em 2015) e no País de Gales. Mas, a existir, a galinha dos ovos de ouro de Corbyn pode vir a ser o eleitorado jovem.
Segundo a empresa de estudos de opinião britânica Ipsos Mori, a taxa de participação eleitoral nas eleições de maio foi de 66%. Os grupos que estão abaixo dessa marca são aqueles que mais votos deram aos trabalhistas. Dos 18 aos 24 anos, onde a participação foi a mais baixa de todas (47%), os trabalhistas conseguiram 43% dos votos contra 27% dos conservadores. Dos 25 aos 34 (participação de 54%) os trabalhistas ficaram com 36% e os conservadores com 33%. E dos 35 aos 44 (votaram 64%) o resultado foi um empate a 35%.
Assim, se Corbyn garantir mais votos junto das gerações mais novas (sobretudo daqueles que vão dos 18 aos 24 anos) talvez os números se tornem mais risonhos para a sua candidatura. Isto, segundo Corbyn, pode ser feito com uma mensagem anti-austeridade: “Acho que podemos entusiasmar muitas pessoas e se lhes mostrarmos que o nosso partido não apoia medidas de austeridade, que não somos um partido que faz cortes na segurança social e que somos um partido de expansão económica”.
Onde é que já vimos isto? John Gaffney, professor na Aston University e especialista no Partido Trabalhista, dá uma ajuda: “Corbyn está a apanhar a onda do Podemos, em Espanha, do Syriza, na Grécia, e de todo o movimento anti-austeridade em geral. E aposta forte na ideia de que o partido perdeu as eleições em maio porque não foi radical o suficiente”, diz ao Observador numa entrevista telefónica.
“Corbyn está a apanhar a onda do Podemos, em Espanha, do Syriza, na Grécia, e de todo o movimento anti-austeridade em geral. E aposta forte na ideia de que o partido perdeu as eleições em maio porque não foi radical o suficiente”
Ao Telegraph, Kostas Lapavitsas, deputado do Syriza e uma das caras da Plataforma de Esquerda, a fação mais à esquerda do partido de Alexis Tsipras, disse que uma vitória de Corbyn seria “uma das melhores coisas a sair do Reino Unido para a Europa nos últimos anos” e assegurou que “Corbyn tem muito mais convicções de esquerda do que muitas pessoas que estão dentro do Syriza”.
Para Gaffney, pode ser tudo uma questão de vigor. “Ele pode trazer algum vigor ao partido, não tanto do ponto de vista ideológico, mas sobretudo do ponto de vista da narrativa. Podia preparar as condições necessárias para tornar o partido numa força radical de centro-esquerda”, diz-nos, para depois adotar alguma cautela, como quem trava a fundo o seu wishful thinking: “Provavelmente estou a sonhar”.
Mas a verdade é que as coisas correm de feição a Corbyn. No início de julho, o Unite, o maior sindicado britânico, declarou o seu apoio ao socialista e apelou aos seus 1,4 milhões de membros para se registarem no Partido Trabalhista (como simpatizantes ou militantes) e votarem a seu favor. E, na quarta-feira, o segundo maior sindicato britânico, o Unison, que agrega 1,3 milhões de trabalhadores, também endossou Corbyn. Enquanto isso, o partido contou com 42,550 novos militantes e simpatizantes desde maio, segundo números oficiais. E as sondagens, sugerem que muitos destes trabalhistas recém-chegados estão inclinados para votar em Corbyn.
É o caso do Timothy Barson, estudante de design gráfico de 22 anos. Ao Observador conta que se inscreveu como simpatizante do Partido Trabalhista com um propósito muito claro: “Entrei [no partido] especialmente por causa do Jeremy e hei de sair se ele perder”. Em maio, recorreu ao voto útil e votou nos trabalhistas, mas hoje recorda a sua opção como “um esforço vão para afastar os conservadores do poder”. Foi quase como se votasse contra a sua vontade: “Os trabalhistas estão cada vez mais próximos dos conservadores, o que me levou a desprezar a política de forma geral. Afinal de contas, ambos os partidos apresentam mais ou menos o mesmo”. Corbyn devolveu-lhe alguma esperança, refere. “Eu não tenho nenhum apreço por aquilo que os trabalhistas têm feito. Mas estou entusiasmado para ver no que é que o partido se pode tornar sob a liderança do Jeremy”, diz, tratando Corbyn pelo primeiro nome.
Um partido da clase acomodada ou dos trabalhadores?
Xosefa Costas, uma galega radicada em Londres desde 2002, parece ter sido varrida pela mesma onda de entusiasmo por Corbyn. Ao Observador, a espanhola de “50 e muitos anos”, conta que se tornou militante dos trabalhistas antes das eleições de maio, quando as sondagens previam que Ed Miliband iria surgir como primeiro-ministro de um governo minoritário. “Mas, honestamente, eu não me identifico muito com o partido”, reconhece. “O partido não se reconhece totalmente na classe trabalhadora. É um partido de classe média, que finge apoiar a classe trabalhadora, e isso faz uma grande diferença. É um partido, como dizemos em Espanha, da clase acomodada.”
“”Agora que Corbyn pode tornar-se líder do Labour, a possibilidade de aproximar o partido das classes mais baixas está mais perto. Porque ele é, obviamente, de esquerda e é socialista.”
Antes de ir para Londres, Xosefa trabalhava no departamento comercial do jornal La Voz de Galicia. Com as duas filhas já fora de casa, esta mãe solteira decidiu ir para Londres aprender inglês. “Era para ficar só uns meses, depois fiquei um ano, dois anos, cinco anos, depois veio uma das minhas filhas e… bem, cá estou”, conta-nos num inglês que comprova a aprendizagem. Arranjou emprego nas limpezas e depois passou a trabalhar em hotéis e restaurantes. Mais tarde, tirou a carta de pesados de passageiros e foi conduzir os autocarros vermelhos de dois andares que pululam na capital britânica. Sindicalizou-se no Unite e passou a ser representante da organização dentro da empresa. A páginas tantas, demitiu-se porque a administração não concordou em reduzir-lhe o turno para ela ter tempo para estudar. “Estudar o quê e onde?”, perguntamos-lhe. “História Contemporânea dos Sindicatos Britânicos”, responde-nos, explicando depois que não se trata de uma universidade, mas sim de aulas no próprio sindicato.
Foi depois de concluir este curso que Xosefa entrou no Partido Trabalhista. “Não concordava com tudo o que lá se passava, mas entrei com a ideia de tentar puxar o partido mais para a esquerda. A classe trabalhadora precisa de um partido, os trabalhadores precisam de ter uma voz no parlamento. Não há outro partido para isso no Reino Unido”, diz-nos a galega que, se ainda votasse em Espanha, colocaria a sua cruzinha no Podemos. “Agora que Corbyn pode tornar-se líder do Labour, a possibilidade de aproximar o partido das classes mais baixas está mais perto. Porque ele é, obviamente, de esquerda e é socialista.”
A discussão em torno de o Partido Trabalhista ser ou não socialista (e de agir como tal) está longe de ser recente. Em 1941, George Orwell escrevia o seguinte no ensaio The Lion and the Unicorn: “Na Inglaterra só há um partido socialista que interessa, que é o Partido Trabalhista. Nunca foi capaz de conseguir nenhuma mudança significativa, porque, com a exceção dos assuntos puramente domésticos, nunca teve uma política genuinamente independente”.
74 anos depois, Corbyn está mais perto de mudar isso do que alguém alguma vez já esteve. Resta saber se o Partido Trabalhista sobrevive a tamanha mudança.