Todos gostamos de saber de onde vem a nossa comida, certo? Se em 1991, quando a McDonald’s deu os seus primeiros passos em Portugal, todos os seus fornecedores eram internacionais, atualmente, muitos dos ingredientes dos seus menus preferidos são de origem nacional. Quem sabe, até, se não foram produzidos perto de si. Falamos, por exemplo, do icónico ketchup, do molho para batatas fritas, da McBifana (receita constituída por ingredientes 100% portugueses – um hambúrguer de carne de porco portuguesa, o tradicional pão de água português e molho de origem nacional) e até das sopas servidas nos restaurantes desta cadeia de restauração rápida. Haverá melhor forma de conferir um cunho português às refeições da McDonald’s? Contamos-lhe a história de três dos mais de 30 fornecedores nacionais desta cadeia de restaurantes.

O ketchup da McDonald’s vem da Italagro

Em 1992, a Italagro começou com apenas dois tipos de produtos: os concentrados de tomate e os molhos de pizza. “Atualmente, produzimos cerca de 400 produtos, entre concentrados, triturados, purés e molhos à base de tomate”, conta-nos Sofia Stilwell, Responsável do Departamento de Melhoria Contínua, Sustentabilidade e fornecimento de Agricultura. Um deles é o inconfundível ketchup da McDonald’s. A parceria com esta cadeia de restauração começou em 2013, e colocou à Italagro vários desafios, que, felizmente, sempre conseguiu superar e a fizeram chegar mais longe. “O maior desafio foi alterar a nossa capacidade de produção e planeamento. Atualmente, produzimos 24 horas, sete dias por semana, e estamos preparados para assegurar qualquer eventualidade do nosso parceiro”, afirma.

Mas é claro que esta parceria não se faz apenas de desafios, mas também de vantagens. Segundo nos conta a representante da marca de produtos à base de tomate, “a maior vantagem de ser parceiro da McDonald’s é a visibilidade da empresa. A McDonald’s é uma referência no mercado, conhecida por ter elevados padrões de exigência. Não é qualquer empresa que tem a capacidade de fornecê-la. A Italagro passou a ser olhada com outros olhos”. Além disso, esta parceria levou o ketchup da Italagro além-fronteiras, começando a fornecer também a McDonald’s França, Irlanda e Marrocos.

Um ketchup com tomate ribatejano

Sabia que a Italagro demorou cerca de seis meses a desenvolver o ketchup para a McDonald’s? É verdade, um produto de sabor único e qualidade não se faz de um dia para o outro. “Por ser um produto core, o ketchup foi sujeito a um processo muito rigoroso de aprovação com várias fases. Após a aprovação inicial da McDonald’s Portugal, o ketchup foi enviado para aprovação para a sede da McDonald’s Europa, na Alemanha”, explica Sofia Stilwell, Responsável do Departamento de Melhoria Continua, Sustentabilidade e fornecimento Agricultura.

Um fator em que a fasquia também se manteve elevada por ambas as partes envolvidas na parceria foi na qualidade dos produtos: “O ketchup da McDonald’s não contém qualquer aditivo, conservante ou espessante, e tem um elevado teor de tomate. Além disso, é produzido com tomate 100% português”, conta-nos. Aliás, a origem dos ingredientes é um fator de grande importância, transversal a todos os produtos da Italagro: “O segredo do nosso molho é a qualidade da matéria-prima. Somos muito rigorosos na sua escolha e os critérios de aceitação são muito apertados”, avança Sofia Stilwell.

“O tomate é a nossa matéria-prima principal e provém dos campos dos nossos parceiros estratégicos de longa data do Ribatejo. Somos muito exigentes a nível de qualidade e procuramos utilizar o melhor tomate para produzir o melhor ketchup. Procuramos, sempre que possível, apoiar parceiros nacionais — 98% do ketchup da McDonald’s provém de matérias-primas portuguesas.

As embalagens também são do nosso Portugal”, refere. E porque qualquer projeto que se preze tem pequenos imprevistos, a parceria entre a Italagro e a McDonald’s não é exceção.

“Uma das histórias mais caricatas foi logo no início do projeto. Tivemos de montar a linha [de montagem] em tempo recorde para não falhar os timings exigidos. Tememos não conseguir cumprir, mas, à boa maneira portuguesa, conseguimos! Trabalhámos dia e de noite; a sala de enchimento foi montada numa semana, e, devido ao tamanho do pasteurizador, tivemos de arrancar o telhado da nave de produção para que este entrasse pelo teto”, conta Sofia Stilwell.

Um negócio familiar que serve sopa de norte a sul

Numa casa portuguesa, há sopa, com certeza. E a McDonald’s não é exceção! Fornecida pela Sopas Graciete, desde 2015, marca que foi fundada em pleno verão de 2004, quando lançou “no mercado português a primeira sopa pronta a comer, líquida, refrigerada (fresca), embalada em doses individuais, confecionada de forma caseira com base em receitas tradicionais portuguesas”. Isto significa que não contém “corantes, conservantes ou intensificadores de sabor, utilizando apenas produtos hortícolas e azeite virgem”, revela Vasco Vieira, sócio-gerente da Sopas Graciete. Tudo começou em Évora, num pequeno negócio familiar localmente conhecido como “Cozinha da Graciete”.

Com a sua experiência no mundo da restauração, a Sopas Graciete decidiu “explorar uma oportunidade de negócio que, até então, não existia no mercado português”, explica. “Podemos dizer que as Sopas Graciete são as ‘originais’, porque efetivamente foram as primeiras. Uma sopa refrigerada, com prazo de validade compatível com as necessidades de logística e distribuição. É também um produto estudado para ser fácil de transportar, de aquecer (no micro-ondas) e de consumir (na própria embalagem). Nascia, assim, um novo produto nas prateleiras das superfícies comerciais, de média e grande dimensão, hoje indispensáveis na categoria de ‘produtos frescos’”, refere Vasco Vieira. E tal como qualquer negócio familiar, a Sopas Graciete começou devagar, com seis variedades de sopa em embalagens de 400 gramas: creme de espinafres, creme de cenoura, creme de agrião, creme de legumes, sopa de feijão com espinafres e creme de feijão verde. “Hoje, produzimos para várias marcas, além da marca Graciete, com um total de mais de 40 receitas em embalagens de 400 gramas, 800 gramas e litro”, afirma o sócio-gerente da marca. Ainda no ano passado, a marca lançou quatro receitas com certificação BIO, criando oferta para os consumidores que preferem alimentos com este tipo de origem.

De empresa familiar a parceiro da McDonald’s

Sopa de Caldo Verde, Sopa de Ervilhas e Sopa de Legumes Passados. São estas as três receitas que a Sopas Graciete prepara para a McDonald’s. Mas como é que decorreu todo este processo de seleção? “No início, a McDonald’s pediu-nos seis receitas predefinidas de sopas e desafiou-nos a enviar mais duas receitas que considerássemos terem viabilidade de utilização nos seus restaurantes. E assim foi feito. Enviámos-lhes as sopas para uma prova de degustação. E as receitas que reuniram um maior consenso foram a sopa de Caldo Verde e a Sopa de Ervilhas. Por fim, com base na nossa experiência de vendas, tomámos a liberdade de sugerir uma terceira receita: o Creme de Legumes, por fazer parte do nosso top 3 de vendas. Entretanto, esta sopa sofreu uma alteração na receita, especialmente para a McDonald’s: em vez de levar legumes em pedaços, passou a ter os legumes passados, tornando-se uma sopa totalmente cremosa, especialmente pensada para os mais pequenos.” Dito desta forma, até parece que foi um processo muito simples. No entanto, desenvolver as receitas, aprimorá-las e enviá-las para as provas de degustação foi um processo que demorou cerca de dois meses. “Todas as receitas foram desenvolvidas exclusivamente e em parceria com a McDonald’s, tornando-as únicas, diferentes das demais sopas produzidas pela nossa empresa. Um dos pequenos detalhes que as distingue é, por exemplo, o sal. Ao longo destes últimos anos, temos vindo a reduzir o teor deste ingrediente nas receitas. Uma prática pioneira, que nos levou inclusive a rever as nossas receitas, acompanhando, assim, a McDonald’s numa maior preocupação com a alimentação saudável”, revela Vasco Vieira.

Contudo, não foram só as receitas que sofreram mudanças após o início da parceria com esta cadeia de restauração. “Para fazer face a um cliente com um grande consumo e altamente exigente, passámos por um processo de restruturação e reformulámos muito do nosso processo produtivo, para garantir que o produto final fosse ao encontro do que era expectável. Hoje, exportamos sopas para Espanha e vislumbramos exportar para outros países. Atualmente, estamos a desenvolver novos produtos, de outras categorias, de forma a conquistar novos mercados além das sopas”, afirma o sócio-gerente da Sopas Graciete.

De onde vêm os ingredientes das sopas McDonald’s?

O ingrediente-chave das sopas é a segurança alimentar. Nas Sopas Graciete, “toda a matéria-prima selecionada tem necessariamente de satisfazer as exigências do nosso Sistema de Segurança Alimentar. A empresa define critérios de avaliação e seleção de fornecedores e de fornecimentos em cumprimento com os requisitos da Norma IFS-Food”, afirma Vasco Vieira. Posto isto, uma vez que a maioria da matéria-prima utilizada nas sopas é de origem vegetal, há aspetos que a marca tem em consideração na seleção dos seus ingredientes, “como, por exemplo cor, aspeto, ausência de pragas, temperatura, rotulagem, integridade das embalagens e, quando aplicável, análises sensoriais”. E de onde é que vêm esses ingredientes? De bastante perto. Recentemente, a Sopas Graciete “adquiriu uma herdade com 90 hectares, totalmente convertida em agricultura biológica e devidamente certificada”, refere. “[Aí, é] onde produzimos grande parte das hortícolas consumidas na nossa produção. Quanto aos produtos que não conseguimos produzir na nossa herdade, preferimos adquiri-los a nível nacional e, sempre que possível, o mais próximo das nossas instalações para promover a economia local”, explica Vasco Vieira.

Por falar em instalações, a sócio-gerente da marca conta: “Não há muito tempo, tivemos uma visita de alguns colaboradores de restaurantes McDonald’s para conhecerem alguns dos seus fornecedores. O mais engraçado foi a surpresa destes visitantes ao verem como as sopas são produzidas, confirmando que realmente são feitas tal como em casa, mas com outra dimensão. Talvez pensassem que transformávamos pó em sopa, mas o que realmente transformamos são legumes frescos, água e azeite virgem numa espetacular sopa.”

O segredo está nos molhos

Ser diferente. Este sempre foi um dos motes da Mendes Gonçalves. Nesta empresa, fundada por um pai de 60 anos e um filho de 15, Carlos, “o percurso fez-se, desde logo, de uma forma original e desafiante, com um produto nada óbvio: vinagre de figo feito a partir do fruto cultivado pelos produtores locais na região de Torres Novas/Golegã”, conta-nos Alexandra Mendes Gonçalves, CEO da Mendes Gonçalves. E porquê o figo? “A abundância desta matéria-prima na época, vista por muitos como um problema, foi encarada como oportunidade para a Mendes Gonçalves, que desde a sua génese privilegiou a utilização de produtos locais e ingredientes únicos, e sempre esteve atenta a novas e criativas formas de dar uma nova vida a um produto perecível”, revela. O crescimento ao longo dos anos é notório: se à data da fundação da empresa, eram oito colaboradores, hoje, são 350. Este espírito aventureiro e empreendedor levou também a que a Mendes Gonçalves e a McDonald’s a assumissem uma parceria em 2012.

Para sermos mais precisos, esta “iniciou-se com o desenvolvimento do refogado de tomate para o McLusitano e, mais tarde, passou a ser o fornecedor do molho da McBifana Original (com alho, louro, azeite, colorau) e da mostarda Paladin”, revela Alexandra Mendes Gonçalves. Passados quase 10 anos, a relação mantém-se, e a CEO confessa: “É um constante desafio trabalhar com a McDonald’s, e isso é algo que nos motiva e nos orgulha.”

A origem dos produtos da Mendes Gonçalves

A mostarda da McBifana, o molho para batatas fritas e a maionese de alho são obra da Mendes Gonçalves, que sabe que a qualidade de um produto começa na escolha das matérias-primas. “Enquanto empresa portuguesa, sempre demos preferência a produtos nacionais, particularmente aos que são da nossa região. Por outro lado, estamos constantemente atentos a novas tendências e produtos inovadores. A título de exemplo, estamos a abandonar os ovoprodutos na produção dos produtos McDonald’s, presentes nas nossas maioneses, para ovos de galinhas criadas no solo”, refere. Quanto à criação dos produtos para a McDonald’s, a CEO da Mendes Gonçalves revela que se trata de um trabalho em equipa: “Desde o primeiro dia, foi muito fácil trabalhar com a equipa McDonald’s, uma vez que partilhamos os mesmos valores e objetivos.

Cada produto é um produto, e uns exigem mais da Mendes Gonçalves do que outros. Trabalhamos em equipa, pelo que para cada desafio e necessidade da McDonald’s, a equipa vem ter connosco aos nossos laboratórios e juntos cocriamos produtos, o que torna o processo muito mais ágil e os objetivos mais simples de alcançar.”

Como é ser parceiro da McDonald’s

Para a Mendes Gonçalves, ser parceiro da McDonald’s veio trazer muitas mudanças e deve ser motivo de orgulho “para qualquer empresa, pois o rigor necessário para alcançar este patamar é gigante”. Para alcançar esse rigor, a empresa passou por algumas modificações: “Tivemos de fazer significativas mudanças na nossa estrutura de trabalho e de fabrico, elevando o patamar de qualidade e segurança. Por exemplo, tivemos de implementar um sistema anti-sabotagem e um sistema de fábrica espelho, que permite ter backups de produção e assegurar a laboração da empresa em caso de anomalia na fábrica principal”, afirma Alexandra. Na verdade, a exigência de um sistema anti-sabotagem foi algo que inicialmente provocou alguma estranheza a este fornecedor: “A Golegã é uma vila muito calma, onde, acreditávamos, não haveria nunca algum problema relacionado com sabotagem. Rapidamente percebemos a importância deste sistema, pois, exatamente por esses motivos, a Mendes Gonçalves poderia ser um alvo fácil para atingir a McDonald’s. É este tipo de exigência que nos faz crescer enquanto empresa.” Além disso, esta parceria abriu horizontes internacionais, tendo a marca passado a fornecer, por exemplo, a McDonald’s de Israel.

Tanta conversa sobre comida abriu-lhe o apetite? Já sabe onde pode comer uma refeição bem à moda portuguesa, como um caldo verde e uma McBifana — ou outro menu… mas sempre com sabor português.