Tira daqui e põe ali. O aumento dos preços nos supermercados não é uma miragem, a inflação é uma ameaça real ao poder de compra das famílias, mas, com a destreza certa, é possível contornar algumas das subidas mais flagrantes. O mesmo cabaz de compras terá um preço final diferente esta segunda-feira, 1 de agosto, do que nos próximos dias da semana. O segredo? Folhetos e promoções.

Desde abril que o Observador prepara um cabaz mensal com o objetivo de acompanhar a evolução dos preços dos produtos selecionados a cada mês, no atual contexto de elevada inflação. O cabaz é composto por um conjunto de bens considerados essenciais para uma família com filhos. São eles ​​óleo alimentar, atum, farinha, arroz, massa, bolacha Maria, cereais Corn Flakes, leite, farinha láctea, maçãs, bacalhau, frango, feijão, ovos, açúcar, pão, papel higiénico e fraldas.

As comparações têm como base os preços verificados no primeiro dia de cada mês nos sites de três hipermercados. O objetivo desta recolha não é fazer comparações entre superfícies comerciais.

Entre abril e agosto, é possível verificar oscilações de preços significativas. Num dos casos, no espaço de quatro meses, o cabaz ficou quase 17% mais caro. Mas numa das superfícies analisadas, os preços até baixaram. O mesmo acontece quando a comparação é feita com o mês de julho. Numa das superfícies, a mudança de mês trouxe um salto no preço final do cabaz superior a 12%. Mas entre as superfícies analisadas também houve uma descida. Numa altura em que a inflação carrega sobre os preços de praticamente tudo, só o jogo das promoções ajuda a explicar esta discrepância.

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O caso do óleo alimentar é um dos mais exemplificativos desta situação. O preço do óleo começou a disparar logo após ter estalado a guerra na Ucrânia, uma vez que o país é um dos grandes produtores mundiais de óleo de girassol. O preço do óleo chegava, em abril, praticamente aos quatro euros em todas as superfícies. Foi baixando, ligeiramente, nos meses seguintes, à medida que a indústria foi encontrando soluções para substituir o óleo de girassol, nomeadamente o óleo de soja e de colza. Mas o preço de venda ao público nunca baixou dos três euros. A não ser pelo efeito das promoções. É o único produto que, a 1 de agosto, está com 20% de desconto em todos os supermercados.

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Mas o preço de hoje poderá não ser o de amanhã. No Pingo Doce, por exemplo, as promoções em causa terminam esta segunda-feira, 1 de agosto. Já no Auchan existe a “oferta cartão Auchan 10% segunda-feira”.

Tal como em meses anteriores, na análise à seleção no primeiro dia de agosto é notório o peso das promoções. Entre julho e o mês atual, as principais variações, tanto para cima como para baixo, são causadas pelos descontos temporários da distribuição. Os preços de venda ao público de produtos que registam descidas de preço mais expressivas, de 20%, 25% ou 30%, estão sob o efeito de promoções. Isso é visível no Continente em produtos como a farinha, o feijão branco e o frango, no Pingo Doce no caso da Cerelac e no Auchan com o bacalhau.

Já quando são verificadas subidas expressivas, de 30% ou até 55%, isto significa que determinado produto estava em promoção quando foi feita a recolha no mês anterior. Acontece com os Corn Flakes do Continente, com os ovos do Auchan e com o esparguete das duas mesmas insígnias.

Há um produto que chama a atenção, porém, pelo aumento quase generalizado do preço entre julho e agosto: o atum em lata. No Pingo Doce, a lata de atum em óleo aumentou 6,29%, enquanto no Continente o aumento do preço é de 5,88%. No caso deste último, o preço aumenta mesmo apesar de o produto estar em promoção. O preço do atum aumenta à boleia do custo do óleo, sendo que algumas empresas chegaram a admitir a redução da quantidade de óleo que incluem nas latas.

A crise do óleo continua, mas o preço no supermercado baixou. Como se explica?

Em julho, a inflação disparou para 9,1%, naquele que é o valor mais elevado desde novembro de 1992, segundo os dados preliminares divulgados na passada sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística. Os produtos energéticos continuam a ser os grandes responsáveis pela escalada dos preços, com uma variação que atingiu os 31,2% em julho desde ano face a julho do ano passado. Mas os preços dos produtos alimentares não estão isentos de “culpas” no que toca a este máximo com quase 30 anos. Em julho, voltaram a subir em comparação com junho, com uma variação de 13,2%, face aos 11,9% registados no mês anterior.

Quando esta recolha de preços teve início, em abril, o valor do cabaz Observador variava entre os 49 euros e os 55 euros. Quatro meses depois, o valor dos produtos selecionados varia entre os 53 e os 57 euros. O valor está cada vez mais próximo do apoio de 60 euros criado pelo Governo, para maio ou junho e renovado para os meses de julho ou agosto, e que é dirigido às famílias mais vulneráveis que beneficiam da tarifa social de eletricidade ou de prestações sociais mínimas. O Governo remete para setembro a apresentação de um pacote de medidas mais amplo para ajudar as famílias e as empresas a fazer face aos efeitos da inflação.