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DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

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José Mata, de futuro jornalista por um semestre a ator sem planos: "Vou tirando agora as dúvidas em relação a quase tudo"

Podia ter sido bodyboarder e estudou Comunicação. Um casting ao acaso levou-o aos “Morangos com Açúcar”. Depois, o cinema e o teatro. Agora, é a voz do podcast "A Grande Provocadora" do Observador.

Todos os dias saía da escola em Alvalade, Lisboa, e ia almoçar a casa da avó materna, que ficava muito perto. Tinham uma relação próxima e foi ela que lhe passou grande parte do gosto pelas palavras.

“O facto de ser professora de Francês-Português ajudou-me muito, chegou a dar-me explicações e sempre nos demos muito bem. Tenho muitas saudades”, recorda José Mata, que agora resgatou parte destas memórias para um desafio inédito, o de ser narrador — neste caso, narrador de A Grande Provocadora, o mais recente Podcast Plus do Observador.

A própria avó era fruto de uma história que podia ter sido transformada em romance. “A minha bisavó Angel era francesa e veio atrás do meu bisavô depois da Primeira Guerra Mundial. Casaram e ficaram juntos a vida toda, daí a minha avó materna ser meia francesa e meia alentejana, porque nasceu em Beja.”

Esta história desde há muito que o fascina e hoje continua a transportá-lo para um universo diferente. Tal como “diferente” foi o convite para dar voz aos cinco episódios de A Grande Provocadora. José Mata foi rápido a decidir. “Disse logo que sim”, confessa, mas também admite a pressão que se seguiu: “Quando fui ouvir o trabalho que os meus colegas fizeram em podcasts anteriores, aí é que percebi a realidade da situação, estar entre aquelas vozes incríveis era algo muito especial.”

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Noutros tempos ainda não sabia que o caminho futuro passaria por protagonizar muitas ficções e encarnar diferentes personagens. José Mata Neves nasceu em Lisboa a 25 de fevereiro de 1986. Filho único, passou grande parte da infância na Ericeira. Aliás, é para lá que continua a ir com a família e os amigos quando precisa de “desligar do caos do dia a dia”.

José Mata no filme "Amor Impossível", na novela "Nazaré" e nas peças "Uma Casa de Bonecas" e "Jardim Zoológico de Vidro"

Aos 12 anos, sofreu uma das mais duras perdas, com a morte do pai. José Mata sabia que ele estava doente, tinha cancro no pulmão, mas quando o telefone tocou numa manhã de semana que devia ter sido como qualquer outra e a mãe recebeu a notícia que ninguém queria ouvir, ele entrou em negação. Pegou na mochila e foi para a escola.

“Depois de umas aulas fui-me apercebendo do que realmente tinha acontecido, mas com 12 anos não temos ferramentas emocionais para lidar com uma perda destas. Acho que a ‘ficha’ vai caindo ao longo dos anos.”

Ficou ainda mais próximo da mãe, que continua a ser o seu grande apoio. “É a minha melhor amiga, é com ela que desabafo sobre tudo e ainda hoje é o meu melhor colo, o meu colo preferido.” A casa da adolescência é a mesma e é lá que encontra refúgio sempre que necessário. “O meu quarto ainda está no mesmo sítio, um pouco diferente, mas está lá.”

Apesar de ter demorado anos a processar a morte do pai, o comportamento de José Mata, a postura face ao ambiente que o rodeava, não se alterou na adolescência. “Não me lembro de ter havido qualquer fase de revolta”, garante. Passava horas com jogos de computador e saía com os amigos sem grandes restrições. A mãe sempre lhe deu liberdade nos horários e, por isso, nunca sentiu necessidade de mentir.

Começou a fazer bodyboard aos 16 anos, mas um susto no mar do Guincho fê-lo desistir da paixão. Pouco mais de um ano depois, foi acompanhar uma namorada a um casting publicitário. Acabou por fazer ele próprio a audição e ficar com o papel. Um par de trabalhos do mesmo género depois, surgiu o casting para Morangos com Açúcar, que acabaria por marcar a estreia na representação.

Ao longo dos anos aprendeu que o que faz fora dos ecrãs influencia sempre o que faz quando está a gravar, por isso continua a ser muito focado nas rotinas. “Passam por dormir bem, comer bem para podermos estudar e trabalhar ainda melhor, com mais clarividência. Estar atento ao que nos rodeia é fundamental. Como atores, estamos sempre com uma atenção especial a tudo.”

Na altura, em 2004, a série da TVI já era um fenómeno e José Mata não tinha qualquer experiência como ator. “Naquele momento pensei: ‘Isto pode ser giro, vamos experimentar’. Talvez por isso tenha ficado no casting.” O primeiro ordenado enquanto ator foi especial. “Lembro-me perfeitamente: comprei um computador.”

Seguiu-se uma aventura inesquecível e muito intensa. Fez a primeira série de verão ao lado de nomes como Tiago Aldeia, Diogo Amaral ou Filomena Cautela, que continuam a ser amigos próximos. “Consegui aproveitar a experiência, fiz muitas amizades, algumas continuam entre os meus melhores amigos, mas também senti de perto o que era a loucura dos Morangos.”

Sair à rua era uma tarefa quase impossível. Os fãs sentiam uma necessidade de contacto e proximidade relativamente aos atores, praticamente todos a saírem da adolescência, algo que nunca se tinha visto em Portugal, não com aquela intensidade.

Talvez por isso — e para “regressar à Terra” — José Mata decidiu seguir para a faculdade depois de terminar o ensino secundário. “Entrei em Comunicação Social, na Universidade Católica, mas quando fiz a minha primeira novela da noite, Fala-me de Amor, resolvi desistir.”

Contas feitas, o sonho da carreira de jornalista durou um semestre. Percebendo mais claramente qual era a sua vocação, inscreveu-se na Escola Superior de Teatro e Cinema, para estudar representação. “Assim que acabei o conservatório, estava licenciado, mas tinha perdido um pouco o ‘comboio’. Um Plano B está sempre na nossa cabeça, esta vida de ator é muito inconstante, mas na verdade acho que nunca pus a hipótese de não querer ser ator.”

Fez parte do elenco principal de novelas como Deixa-me Amar (2007), Olhos nos Olhos (2008) ou Mar Salgado (2014), sendo protagonista de Nazaré (2019) e A Serra (2021). Em 2016 fez um vilão que lhe deu muito gozo, em Amor Maior, e o fez descobrir outra paixão: o CrossFit. “O Lobo foi um personagem muito especial, o Crossfit era um desporto que me permitia estar em forma e ao mesmo tempo ajudava com todo o stress do dia a dia.”

"Quando fui ouvir o trabalho que os meus colegas fizeram em podcasts anteriores, aí é que percebi a realidade da situação, estar entre aquelas vozes incríveis era algo muito especial"

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Ao longo dos anos aprendeu que o que faz fora dos ecrãs influencia sempre o que faz quando está a gravar, por isso continua a ser muito focado nas rotinas. “Passam por dormir bem, comer bem para podermos estudar e trabalhar ainda melhor, com mais clarividência. Estar atento ao que nos rodeia é fundamental. Como atores, estamos sempre com uma atenção especial a tudo.”

No cinema trabalhou com Sérgio Graciano (Uma Vida à Espera, 2017) e António-Pedro Vasconcelos (Amor Impossível, 2015). Este filme garantiu-lhe o Globo de Ouro para Melhor Ator de Cinema, o Prémio Sophia e o Prémio Autores.

No teatro fez parte do elenco de Uma Mulher Sem Importância (2015), Jardim Zoológico de Vidro (2016) e Uma Casa de Bonecas (2022) e Dois + Dois (2023), além de acumular dobragens em filmes de animação.

Durante algum tempo deixou de sentir prazer em palco, começou a ter ataques de ansiedade e procurou ajuda na psicoterapia. “Fiz muitos anos de psicoterapia e sinto que toda a gente só teria a ganhar se também fizesse.” Define-se como um overthinker, alguém que analisa demasiado pensamentos e problemas: “Sou. Sempre fui”, confessa.

Tenta trabalhar este seu lado todos os dias, com a ajuda da terapia, mas também da espiritualidade. “Tem-me dado mais paz. A meditação ou o ioga ajudam bastante. Prefiro falar de espiritualidade do que de religião. Espiritualidade é fundamental para nos conhecermos melhor e encontrarmos a nossa paz. Religião é outra coisa. Não tenho religião, a não ser o Sport Lisboa e Benfica.” O amor pelo futebol foi uma das heranças que o pai lhe deixou. Era com ele que costumava ir ver os jogos ao estádio.

Aos 38 anos, e com 20 de carreira, tem em mãos mais um papel de protagonista. Em Fugir do Destino, novela com estreia marcada para 2025 na SIC, será Gonçalo. A viver um ritmo intenso de gravações, com muitas vezes 12 horas de trabalho por dia, vai havendo tempo para fazer um balanço.

De volta ao início, José Mata diz-nos que a memória mais antiga que tem é a de “não fazer a sesta no infantário”. Uma mania de inquietação que se mantém, garante. “Não gosto de definir as coisas, nem a minha vida, gosto de viver dia a dia."

“Penso que o aproximar dos 40 [anos] muda as coisas, vou tirando agora as dúvidas em relação a quase tudo. Vem uma vontade ainda maior de aproveitar a vida, perto daqueles que gostam de nós. Uma vontade enorme de viajar mais e mais pelo mundo fora. A vida é bela, incrível, mágica, surpreendente e nunca sabemos o dia de amanhã. E que bom que isso é.”

O facto de ter perdido pessoas muito próximas na família deixou-lhe uma “saudade que nunca acaba”, mas também uma forma diferente de encarar o futuro.

De volta ao início, José Mata diz-nos que a memória mais antiga que tem é a de “não fazer a sesta no infantário”. Uma mania de inquietação que se mantém, garante. “Não gosto de definir as coisas, nem a minha vida, gosto de viver dia a dia, tentando sempre ser melhor pessoa, tornar o mundo melhor e deixar as pessoas à minha volta felizes. Se conseguir fazer isso, nem que seja por um segundo, será um dia bom.”

Ouça aqui os episódios 1, 2, 3, 4 e 5 de A Grande Provocadora.

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