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A Caixa, o Millennium BCP e o Santander extraíram mais de mil milhões de euros em margem financeira, cada um, em nove meses.
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A Caixa, o Millennium BCP e o Santander extraíram mais de mil milhões de euros em margem financeira, cada um, em nove meses.

MÁRIO CRUZ/LUSA

A Caixa, o Millennium BCP e o Santander extraíram mais de mil milhões de euros em margem financeira, cada um, em nove meses.

MÁRIO CRUZ/LUSA

Lebre a subir prestações e caracol a aumentar depósitos. Margem dos cinco maiores bancos supera os 5 mil milhões em nove meses

Prestações saltaram como uma lebre mas juros de depósitos mexeram-se à velocidade do caracol. Resultado: a margem salta para 5.359 milhões em nove meses só em Portugal (e comissões baixam pouco).

A subida rápida das Euribor fez saltar, como uma lebre, as prestações de crédito pagas aos bancos. Mas a subida da remuneração dos depósitos aconteceu à velocidade do caracol. Só em Portugal, nos primeiros nove meses do ano, esta discrepância deu aos cinco maiores bancos 5.359 milhões de euros na chamada “margem financeira“, a rubrica mais importante das contas dos bancos. Há razões para acreditar que os próximos tempos serão menos favoráveis mas, para já, a banca está a ter o melhor ano da história recente graças a esta margem positiva – e, por outro lado, baixam pouco ou nada as comissões que tinham sido aumentadas para compensar a margem financeira mais pobre que havia nos anos de juros negativos.

Os quatro maiores bancos privados a operar em Portugal fecharam os primeiros nove meses do ano com lucros de 2,3 mil milhões, aos quais se juntaram os 987 milhões apresentados esta sexta-feira pela Caixa Geral de Depósitos, o banco público que é a maior instituição financeira do País. Assim, no total, os cinco maiores bancos lucraram um total de quase 3,3 mil milhões de euros em três trimestres, os lucros mais elevados desde antes da crise financeira (2007/2008).

No mesmo período de 2022, os cinco maiores bancos tinham tido lucros de 1.888 milhões, ou seja, há um aumento de 61% de um ano para o outro.

O volume de lucros é muito influenciado pelas imparidades que se registam, as provisões que se fazem e o impacto das operações internacionais – cruciais, por exemplo, no caso do BCP, que continua a digerir o difícil problema dos créditos concedidos na Polónia, em francos suíços, antes de 2008.

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Expurgando o impacto das operações internacionais, que alguns deles têm, os cinco maiores bancos fecharam os primeiros nove meses de 2023 com lucros de 2.978 milhões de euros. Esse foi o resultado líquido que os bancos tiveram nas operações em Portugal, na soma dos cinco maiores. Mas a margem financeira permite estimar aquilo que os bancos ganharam com o efeito da subida dos juros, que foi refletida mais rapidamente no lado do ativo dos bancos (os créditos, entre outras) do que no lado do passivo (os depósitos)

Em alguns casos, essa margem mais do que duplicou em relação ao período homólogo. A Caixa, o Millennium BCP e o Santander extraíram da economia portuguesa mais de mil milhões de euros em margem financeira, cada um, em nove meses. O banco público, aliás, mais do que triplicou a margem financeira na operação doméstica.

As Euribor, que são usadas como indexantes de crédito da larga maioria dos portugueses que têm crédito à habitação, começaram a subir na primavera de 2022, quando se passou a perspetivar que o BCE iria começar a subir as taxas de juro de referência (retirando-as de níveis negativos, onde estavam há vários anos). Mas o efeito positivo dessas subidas na margem financeira dos bancos demora alguns meses a consumar-se, já que a generalidade dos clientes tem revisões de seis em seis meses ou de 12 em 12 meses, conforme o indexante contratado.

Euribor começaram a sair de níveis negativos na primavera de 2022, quando se começou a perspetivar a subida das taxas de juro pelo BCE (que começaria em julho desse ano).

O aumento da margem financeira não acompanha de forma linear a subida das Euribor, desde logo porque é quando os indexantes sobem que mais clientes tentam baixar os spreads que são aplicados no crédito. Só este ano os bancos privados renegociaram mais de 73 mil créditos, a maioria dos quais de forma bilateral entre o cliente e o banco, sem recurso às medidas de apoio criadas pelo Governo. Quase sempre essa renegociação envolve uma descida do spread contratado, o que reduz a margem do banco.

“A continuação do contexto concorrencial bastante competitivo e num quadro de elevada liquidez do sistema bancário, continuou a resultar numa dinâmica em que as taxas de juro das operações ativas não acompanharam na totalidade a evolução das taxas de mercado, pressionando em baixa os spreads de crédito”, notou o Santander Portugal no comunicado onde publica os resultados dos primeiros nove meses do ano.

Do outro lado do balanço, naquilo que os bancos pagam aos clientes pelos depósitos, nos últimos meses os bancos aumentaram a rendibilidade oferecida em alguns produtos, sendo mais fácil hoje encontrar depósitos que rendem juros até 3,5% (taxa anual nominal bruta, ou TANB).

Mas esse caminho tardou a começar a ser feito e a concorrência pelos depósitos só “aqueceu” depois de o BCE retirar algumas medidas de apoio à liquidez dos bancos. Pelo meio, o Governo também alterou as condições oferecidas nos (novos) certificados de aforro, que na primeira metade do ano levaram milhares de aforradores a retirarem depósitos da banca e a subscreverem esse produto de poupança do Estado.

Particulares aplicaram 14,4 mil milhões de euros em certificados de aforro desde o início do ano

Na diferença entre aquilo que o banco paga pelo seu passivo (depósitos, basicamente) e pelo seu ativo (créditos que concedeu), o Millennium BCP terminou o terceiro trimestre com uma taxa de margem financeira de 3,39%. Um ano antes era de 2,38%. Já o Novo Banco tinha em setembro uma taxa de margem financeira de 3%, bastante melhor do que aquilo que tinha previsto para a média do ano (2,5%).

A evolução favorável das taxas ativas (3,98%; 2022: 1,79%), mais que compensou as taxas passivas mais elevadas (1,29%; 2022: 0,31%), com a margem financeira global a aumentar para 2,66% no período (1T23:2,34%; 2T23: 2,66%; 3T23: 3,00%)”, explicou o Novo Banco na apresentação de resultados.

A conta de resultados dos bancos também beneficiou do facto de não estar a haver descidas na cobrança de comissões, que foram subindo nos últimos anos com a justificação, dada pelos bancos, de que a margem financeira reduzida obrigava a cobrar mais comissões e a ter uma banca mais baseada na cobrança de serviços e menos na intermediação (a margem financeira). Com a margem financeira a disparar subitamente, os bancos têm dito que as comissões estão “estáveis”. Mas não baixam.

Só os quatro maiores bancos privados recolheram em Portugal 1,23 mil milhões de euros em comissões, valor a que se soma os 369 milhões cobrados pela Caixa Geral de Depósitos, que apresentou resultados esta sexta-feira, 10 de novembro.

No ano passado, os quatro maiores bancos privados tinham obtido, em comissões, 1,24 mil milhões, um valor apenas ligeiramente superior. E a Caixa Geral de Depósitos tinha ganho 385 milhões de euros com comissões (na operação doméstica), ou seja, há uma redução de quase 7%.

Juros altos e inflação? Vai ficar tudo bem no crédito

O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, disse na quinta-feira que os bancos têm de aproveitar os lucros do atual ciclo positivo da sua atividade para aumentar as ‘almofadas financeiras’ e, assim, estarem mais bem preparados para futuras crises.

“É o momento de refazer buffers [amortecedores], construir buffers, porque o ciclo pode mudar, vai mudar, não sabemos quando, mas temos de estar preparados”, afirmou Centeno.

As instituições financeiras têm dito que, olhando para a aparente estabilização das taxas Euribor, a margem financeira poderá estar nesta altura no “pico” – ou até já poderá ter passado esse “pico”. Essa análise foi corroborada pela agência de rating DBRS, em agosto, quando disse que, “no futuro, esperamos que os resultados dos bancos portugueses permaneçam sólidos, mas poderá surgir alguma pressão“.

Os analistas da DBRS notaram que, “dado que a maior parte das carteiras de empréstimos dos bancos foi totalmente reavaliada”, o crescimento da margem financeira “pode ter atingido o pico em alguns bancos ou estar próximo do pico para outros, devido a uma possível estabilização das taxas de juro, a um abrandamento nos novos volumes de empréstimos e um aumento na remuneração dos depósitos nos próximos trimestres”.

A boa notícia é que, pelo menos para já, os bancos têm argumentado que o aumento das prestações e do custo de vida, no geral, não está a levar a problemas generalizados no crédito. “Há uma maior dificuldade, houve um aumento do custo de vida, é claríssimo”, afirmou Miguel Maya, presidente do Millennium BCP, na apresentação de resultados, a 30 de outubro. “Dito isto, quando olhamos para os casos concretos, há casos em que os clientes precisam de apoio. Mas se olharmos para a ‘floresta’ não vemos que exista um problema de natureza sistémica”, acrescentou.

Este otimismo está patente nas próprias contas dos bancos, já que não aumentaram as provisões de forma significativa, o que impactaria os seus lucros e também os seus requisitos de capital regulatório. O BPI explicou porquê: mesmo com mais clientes em “dificuldades em enfrentar a rápida normalização das taxas de juro”, o banco “não registou qualquer entrada de imóveis por recuperações de crédito à habitação em 2023“.

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