A Caixa Geral de Depósitos aumentou os lucros consolidados em quase 43% nos primeiros nove meses do ano, com um resultado líquido que saltou para os 987,4 milhões de euros. Com este resultado, os cinco maiores bancos a operar em Portugal lucraram um total de quase 3,3 mil milhões de euros em três trimestres, os melhores resultados desde a crise financeira.

A informação foi divulgada esta sexta-feira, 10 de novembro, em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). E foi apresentada, em Lisboa, em conferência de imprensa com Paulo Macedo e a restante comissão executiva do banco. Na linha do que o banqueiro tinha dito na véspera, numa conferência, Paulo Macedo mostrou concordar com a decisão de deixar aprovar o Orçamento do Estado para 2024, sem prejuízo de um eventual novo Governo apresentar um orçamento retificativo, depois.

Num comentário à crise política, de um modo geral, Paulo Macedo concordou que “fomos confrontados com uma situação vista como negativa” lá fora e, por isso, “em termos económicos Portugal fica mais debaixo de foco“, desde logo por parte dos investidores internacionais.

Assim, fatores como “a redução da dívida e o superavit orçamental torna-se mais importante, bem como ter um setor financeiro estável e robusto”. O banqueiro não esconde, porém, alguma preocupação com aquilo que a crise política pode representar para o País: “Não devemos ficar quatro meses à espera e adiar todas as decisões”, designadamente ao nível do Programa de Recuperação e Resiliência (PRR).

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Onde Paulo Macedo não vê um problema, pelo menos não vê um problema de incompatibilidade, é no convite que terá sido feito a Mário Centeno para liderar o Governo. “Não me parece que uma pessoa, por se disponibilizar a prestar um serviço ao país, não me parece que seja uma incompatibilidade – ainda mais quando a pessoa fez parte desse governo específico”. “Um eventual conflito de interesses não me parece que, aqui, neste caso, se coloque”, afirmou Paulo Macedo.

Porém, o presidente da comissão executiva da Caixa não gostaria de ver uma mudança de governador do Banco de Portugal nesta fase. “Afastar o governador do Banco de Portugal não seria algo que ajudava a estabilidade do país“. “Os conflitos de interesse devem ser afastados antes, não depois. Juntar instabilidade a mais instabilidade é tudo menos aquilo que nós precisamos”, atirou Paulo Macedo.

Margem financeira salta para mais de dois mil milhões

Tal como os restantes bancos, a Caixa Geral de Depósitos beneficiou de um aumento substancial da margem financeira – em termos simples, a diferença entre aquilo que o banco cobra em juros nos créditos que concedeu e aquilo que o banco paga para se financiar (depósitos dos clientes, sobretudo).

A margem financeira (alargada) da Caixa Geral de Depósitos, em termos consolidados, saltou de 923,7 milhões para 2.096 milhões, mais do que duplicando. Na operação portuguesa, apenas, porém, a margem financeira triplicou, para 1.708 milhões.

As aplicações que o banco faz em bancos centrais, que passaram a ter uma remuneração positiva em setembro de 2022, renderam 417 milhões de euros – também impulsionando a margem financeira.

O banco cobrou menos 31 milhões de euros em comissões, porém: 426 milhões de euros, em comparação com 457 milhões no período homólogo. Por outro lado, os custos com a estrutura aumentaram quase 11% para 791 milhões.

O que reduziu o lucro do banco foi a tomada de 355 milhões em provisões, relacionadas com o programa de reestruturação da Caixa Geral de Depósitos. Mas também é um aumento das provisões que Paulo Macedo justifica com o momento de maior incerteza e que, tal como aconteceu com a pandemia, a “cautela” recomenda que se criem mais “almofadas” que, se mais uma vez o cenário não for tão negativo, serão “repostas, como aconteceu na Covid”.

Não temos um aumento dos NPL mas temos um cenário que recomenda prudência. Já na Covid foram feitas provisões que, depois, quando não foram necessárias, foram repostas”, afirmou Paulo Macedo.

Tal como já se tinha indicado na proposta de Orçamento do Estado para 2024, o banco público prevê entregar 461 milhões de euros em dividendos ao acionista (Estado) no próximo ano. E “se a Caixa tiver margem para pagar mais dividendos assim fará“. “A intenção da Caixa é de que a Caixa possa rapidamente devolver o investimento que o Estado fez e depois ter uma vida normal de banco a remunerar o acionista”, afirmou Paulo Macedo, destacando que o banco entregou dois milhões de euros por dia, em dividendos.

Cerca de 40 mil créditos renegociados até outubro

O banco público renegociou cerca de 40 mil créditos à habitação, desde o início do ano: metade dos quais tiveram reduções de spread que superaram, em média, o meio ponto percentual. Cerca de 12 mil clientes passaram para soluções de taxa fixa, pelo menos por dois anos (97% dos clientes que mudaram ficaram com taxa fixa a dois anos).

A informação do banco é que 1.200 renegociações foram feitas ao abrigo do primeiro decreto governamental que foi apresentado em novembro de 2022, para mitigar o impacto da subida das taxas Euribor. Por outro lado, há 3.400 créditos que estão a receber bonificação (com o segundo decreto, já em 2023) e o banco está a ter cerca de 50 pedidos por dia para estabilizar a prestação por dois anos, ao abrigo do mais recente decreto-lei apresentado pelo Governo.