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Jean-Luc Mélenchon, líder da coligação Nova Frente Popular, é o líder da coligação (vitoriosa) que os analistas dizem ser "despesista".
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Jean-Luc Mélenchon, líder da coligação Nova Frente Popular, é o líder da coligação (vitoriosa) que os analistas dizem ser "despesista".

AFP/Getty Images

Jean-Luc Mélenchon, líder da coligação Nova Frente Popular, é o líder da coligação (vitoriosa) que os analistas dizem ser "despesista".

AFP/Getty Images

Mercados. Resultado das eleições em França foi o “menos mau”, mas analistas receiam "despesismo” nas contas públicas

Para analistas, resultado das eleições foi o "menos mau", mas vitória da coligação da esquerda mais "despesista" cria risco de cortes de "rating" e de confrontos com Bruxelas sobre planos orçamentais.

A segunda volta das eleições francesas, neste domingo, trouxe um resultado diferente daquele que as sondagens prenunciavam – porém, ao contrário do que habitualmente acontece quando umas eleições produzem um resultado inesperado, os mercados financeiros não esboçaram qualquer movimento significativo de reajuste de expectativas. Foi uma reação serena nas bolsas que, para vários analistas, se explica por um resultado que “é o menos mau” entre os cenários que eram considerados mais prováveis. Mas a vitória da esquerda mais “despesista” e a indefinição política, avisam, dá poucas garantias de que França irá ter as reformas e o equilíbrio das contas públicas de que necessita.

Os partidos de centro e esquerda obtiveram uma maioria clara, desferindo um golpe nas ambições da União Nacional, de Marine Le Pen, que tinha saído vencedora da primeira volta das eleições legislativas. A Nova Frente Popular (coligação de esquerda que reúne a França Insubmissa, socialistas, ecologistas e comunistas) foi o grupo mais votado numas eleições que bateram recordes de afluência às urnas e que deixam, agora, um parlamento muito fragmentado e um cenário de grande indefinição.

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“Um parlamento sem maiorias sempre foi visto como o resultado menos mau – e mais provável – desde que Macron convocou eleições antecipadas”, afirma Holger Schmieding, economista-chefe do Berenberg Bank, numa nota de análise partilhada com o Observador. Ainda assim, diz o especialista, “mesmo que os eleitores franceses não tenham dado uma maioria nem à União Nacional nem aos partidos mais despesistas da esquerda, o resultado das eleições não deixa de ser negativo para França”.

Para este analista, mesmo não sabendo nesta altura qual será o figurino governativo que sairá destas eleições, o resultado é “negativo” desde logo “significará o fim da agenda de Macron, que se baseia em reformas amigas do crescimento económico”.

Emmanuel Macron tornou-se Presidente de França em 2017 e, nos últimos anos, o crescimento económico tem vindo a desacelerar a cada ano. Depois da quebra de 7,5% na economia em 2020, primeiro ano da pandemia, o crescimento em 2021 foi de 6,4% mas logo em 2022 baixou para 2,5%. No ano passado, segundo o organismo oficial de estatísticas, a economia francesa cresceu apenas 0,9%.

Mesmo que o partido de Macron venha a ser reconduzido na liderança do governo, Holger Schmieding diz que “para conseguirem aprovar o próximo Orçamento, os centristas irão, quase de certeza, ter de aceitar algumas reversões em áreas como a crucial reforma das pensões, de Emmanuel Macron, bem como aceitar alguns aumentos de impostos exigidos pelos partidos mais à esquerda”.

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Por outro lado, os economistas do UBS, noutra nota de reação divulgada esta manhã de segunda-feira, mostram-se preocupados com o impacto financeiro das medidas que um governo mais à esquerda poderá tomar, sobretudo se for liderado pela coligação mais votada. “Um governo liderado pela Nova Frente Popular iria, provavelmente, desfazer as reformas na segurança social e no mercado de trabalho, faria aumentar o salário mínimo e não iria tomar medidas de equilíbrio orçamental”, afirma o banco suíço, concluindo que o programa eleitoral que saiu vencedor, “se for aplicado, levará a uma deterioração significativa nas contas públicas, que já têm um défice elevado“.

O programa eleitoral da coligação mais votada prevê um aumento do salário mínimo para 1.600 euros (face aos cerca de 1.400 euros líquidos atuais), com uma indexação dos salários à taxa de inflação. Entre as propostas mais mediáticas do líder da NFP, Jean-Luc Mélenchon, está também o congelamento dos preços de bens considerados essenciais como certos produtos alimentares, energia e combustíveis.

Do lado da receita, a NFP prometia introduzir um “imposto de solidariedade” aplicado aos cidadãos com maior património, um imposto que seria “reforçado” com uma “componente climática”. Além do património, seria introduzido um 14.º escalão e uma nova sobretaxa para os rendimentos mais elevados.

Na área da segurança social, a idade da reforma voltaria já para os 62 anos (depois de ter aumentado para os 64 em 2023) mas desceria progressivamente até aos 60 anos. A contribuição dos salários atuais para o sistema de pensões iria aumentar em 0,25 pontos percentuais por ano, durante cinco anos.

"Um governo liderado pela Nova Frente Popular iria, provavelmente, desfazer as reformas na segurança social e no mercado de trabalho, faria aumentar o salário mínimo e não iria tomar medidas de equilíbrio orçamental. Se for aplicado, o programa eleitoral levará a uma deterioração significativa nas contas públicas, que já têm um défice elevado."
Economistas do banco suíço UBS, em nota de análise desta segunda-feira

Nestas circunstâncias, Holger Schmieding receia que “os problemas orçamentais de França se tornem ainda mais exacerbados” – depois de um défice de 5,5% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado, que levou à abertura de um procedimento por défice excessivo, o fosso entre receitas e despesas do Estado será “semelhante neste ano, a menos que sejam tomadas medidas corretivas”.

E é neste contexto que o UBS antecipa o risco de “possíveis confrontos” com a Comissão Europeia na negociação dos próximos planos orçamentais, já no final do verão. À semelhança do que aconteceu na crise grega e até nos primeiros meses da governação de António Costa, no início de 2016, essa possível “confrontação” com Bruxelas poderá “levar a fortes subidas nas taxas de juro” – algo que seria uma possível causa e, ao mesmo tempo, uma consequência de decisões desfavoráveis por parte das agências de notação financeira que, na opinião do UBS, podem decidir cortar o rating da República Francesa.

“Centro de gravidade do novo parlamento é menos extremista do que se temia”

Para já, contudo, o impacto nos mercados destes receios a médio-prazo foi mitigado por algum “alívio” de curto prazo pela derrota da União Nacional (de Marine Le Pen), que tinha ambicionado uma maioria absoluta nesta segunda volta das eleições.

“Do ponto de vista dos europeus, o facto de os eleitores franceses terem rejeitado um governo da União Nacional deve ser recebido com alívio”, afirma Holger Schmieding, antecipando que “embora seja previsível que tenha dificuldades em cumprir as regras orçamentais europeias, França deverá ter uma atitude de maior cooperação do que teria se houvesse um governo da União Nacional”.

Juros da dívida de França têm vindo a subir desde o início do ano, com os títulos a 10 anos a rondar os mesmos 3,1% da dívida portuguesa.

As taxas de juro da dívida de França baixaram muito ligeiramente nesta segunda-feira, para 3,12% no prazo a 10 anos, prosseguindo a correção (favorável) face aos níveis atingidos após a vitória de Le Pen na primeira volta das eleições (acima de 3,3%) no início deste mês de julho. A diferença face à dívida alemã, a referência europeia para as obrigações com menor risco, estreitou-se ligeiramente, para 65 pontos-base e esta ligeira melhoria da perceção de risco alimentou ganhos moderados no mercado acionista francês (que subiu cerca de 0,2%).

De um ponto de vista mais alargado, o resultado das eleições francesas poderá ter levado a uma pequena descida da cotação do euro (face ao dólar) durante a madrugada, mas a moeda única acabou por recuperar dessas perdas e voltou a ser negociada acima dos 1,08 dólares.

Para Vincent Chaigneau, analista da Generali Asset Management (AM), os mercados financeiros já estavam a prever que o mais provável seria um parlamento fragmentado mas “esta versão [de parlamento fragmentado] parece ser ligeiramente menos tóxica do que se temia“, já que o bloco do centro acabou por ter um resultado mais simpático do que na primeira volta.

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Também o Goldman Sachs explica a relativa tranquilidade nas bolsas com o facto de “o centro de gravidade do novo parlamento ser menos extremista do que se previa“. Ainda assim, “os resultados das eleições não parecem conduzir nem a um cenário de estabilidade política nem a uma agenda promissora de reformas”, lamenta Vincent Chaigneau, da Generali AM. O principal receio deste analista está ligado com a reforma das pensões e da segurança social cujo principal rosto tem sido Emmanuel Macron.

“Tanto a Nova Frente Popular como a União Nacional [que obtiveram dois terços do parlamento] disseram durante a campanha que queriam reverter a reforma das pensões – e conquistaram votos no parlamento suficientes para fazer com que isso aconteça, caso tenham coragem“, afirma o analista da Generali AM. Mas, a confirmar-se, “isso daria uma sinal muito negativo aos mercados”, avisa.

Também Alex Everett, gestor de investimentos da Abrdn, considera que a reação ligeiramente positiva nas bolsas se deve ao “resultado menos mau” nas eleições – a mesma análise feita por Holger Schmieding. A prazo, as perspetivas para França não são famosas, diz o especialista, recomendando aos seus clientes que invistam menos em ativos franceses do que nas ações e obrigações de outros países – um conselho que, se for seguido por muitos investidores, levará a um desempenho negativo nas bolsas e na dívida francesa.

“Quando a poeira assentar, o impasse causado por um parlamento sem maioria irá revelar-se mais danoso que inicialmente se pode acreditar”, vaticina Alex Everett, lembrando que “os problemas orçamentais de França não desapareceram” e o calendário aproxima-se a passos largos do “prazo de 20 de setembro [dado pela Comissão Europeia aos países] que França tem para apresentar um plano credível de redução do défice”.

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