A primeira semana de agosto é um marco para a Igreja Católica em todo o mundo, sobretudo para as gerações mais novas, com a vivência da Jornada Mundial da Juventude (JMJ). É também uma oportunidade para as várias comunidades religiosas em Portugal mobilizarem os seus jovens e para se promover o diálogo ecuménico e inter-religioso. As expectativas são elevadas e ninguém quer ficar indiferente à passagem por Lisboa daquele que é descrito como um dos maiores eventos que Portugal alguma vez recebeu. Da comunidade Islâmica à Hindu, da Igreja Mórmon à Anglicana ou Evangélica, os últimos preparativos estão a ser acertados para aproveitar ao máximo o potencial da JMJ numa cidade que vai ser inundada por peregrinos.

Abrem-se as portas de mesquitas e de estádios, preparam-se concertos e festivais, e fica a promessa de uma semana com muita animação. O programa é extenso e, no Gabinete de Diálogo Inter-religioso da jornada, é o padre Peter Stilwell que acolhe as propostas e garante que os horários dos vários grupos não entram em choque. Ao Observador explica que, para que “não haja exclusões”, todas as atividades estarão incluídas nas opções de diálogo ecuménico e inter-religioso da aplicação oficial da JMJ Lisboa 2023.

Estádio da Luz abre portas ao “The Change”: um evento de celebração e mudança

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A organização do “The Change” espera a participação de 60 mil pessoas

A bola não vai rolar no Estádio da Luz no dia 4 de agosto. Em plena Jornada Mundial da Juventude, o recinto vai ser palco do “The Change” (em português, “A mudança”), um evento de evangelização com espetáculos de música e palestras motivacionais. A iniciativa está a ser organizada por diferentes organizações evangélicas e católicas — entre as quais o Charis (Serviço Internacional para a Renovação Carismática Católica) — dentro e fora de Portugal com o conhecimento e apoio da JMJ. Para o pastor Rodrigues Pereira, um dos responsáveis pelo planeamento do evento, este é um momento “para representar aquilo que é o respeito pelas diferentes denominações”.

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O “The Change”, como o próprio nome denuncia, assume-se como um evento “transformador”. “Juntos podemos ser a mudança que queremos ver no mundo. Vamos transformar vidas, espalhar amor e esperança, e mostrar ao mundo que a fé pode mudar montanhas”, pode ler-se na página oficial do evento, que é aberto a todos e de entrada gratuita. Os bilhetes, que servem apenas para reservar lugar, vão estar disponíveis já a partir do início do mês de junho e a expectativa é encher o Estádio da Luz com 60 mil participantes, revela ao Observador o pastor Rodrigues Pereira.

A programação final ainda está a ser alinhada, mas vai incluir bandas e grupos dos Estados Unidos e do Brasil. Apesar de o dia 4 estar reservado, o horário ainda não está completamente fechado, para garantir que não coincide com a Via Sacra, um dos momentos centrais das jornadas e que está marcado para a mesma noite.

Movimento Youth With a Mission vai tomar de assalto as ruas da capital

São esperados em Lisboa 1,2 milhões de participantes para a JMJ e, como em qualquer grande concentração de jovens, não podia faltar o movimento Youth With a Mission (YWAM, em português Jovens Com Uma Missão), uma organização missionária presente em mais de 180 países que junta diferentes denominações cristãs e se dedica aos ministérios de evangelização, formação e misericórdia. É de comunidades do YWAM no Brasil, na Holanda, na Suíça e na vizinha Espanha que vão chegar a Portugal uma centena de jovens para tomar de assalto as ruas da capital.

A menos de 80 dias da JMJ os últimos preparativos para a vinda do grupo ainda estão a ser definidos e acomodar os participantes está a provar-se um verdadeiro desafio, assume João Barros, presidente do movimento em Portugal. “É impressionante. A nível de escolas e espaços polivalentes está tudo completamente lotado”, aponta, numa altura em que a organização da jornada já reservou muitos espaços para acomodar os mais de 600 mil participantes que já estão inscritos. A procura continua, mas por agora estão já asseguradas estadias em comunidades evangélicas como as de Marvila, Penha de França e Xabregas.

Numa semana de muitas atividades e onde vai restar pouco tempo livre, as equipas do YWAM vão estar ao serviço das igrejas locais nas suas atividades eclesiásticas — dinamização de grupos de jovens, apoio em projetos de ação social –, mas também vão desenvolver ações próprias por Lisboa. Num “trabalho de alcance”, como o descreve João Barros, os jovens vão fazer-se às ruas e praças para animar e evangelizar através de espetáculos de música, teatro e dança. A mensagem que querem passar é clara: “Esperança e ânimo, principalmente para as gerações mais novas.”

Mesquita Central de Lisboa de portas abertas para visitas e acolher participantes da JMJ

A Mesquita Central de Lisboa vai receber um grupo de peregrinos da JMJ

No seio da comunidade islâmica, as expectativas são elevadas para a vinda de participantes de todo o mundo para a Jornada Mundial da Juventude, entre 1 a 6 de agosto. “Ter um milhão de jovens na cidade de Lisboa é algo extraordinário. Damos graças a Deus que isto esteja a acontecer e que haja muita discussão à volta daquilo que é uma religião tão importantíssima. Queremos fazer parte disso”, garante Mahomed Iqbal, presidente da Comunidade Islâmica de Lisboa, destacando a importância da partilha de experiências e ideias sobre temas de interesse comum, mesmo naqueles em que possam existir divergências.

Para mim, é muito importante que a juventude da Comunidade Islâmica de Lisboa, os muçulmanos de Portugal, tenham a oportunidade cívica de se expor a esse grande número de pessoas, procurando partilhar valores comuns.”

Na vinda da JMJ a Portugal — a primeira vez desde que foi instituída em 1985 pelo Papa S. João Paulo II —, Mahomed Iqbal vê uma oportunidade “única” a que ninguém da comunidade islâmica pode ficar indiferente. Assim, e no espírito de promover o diálogo inter-religioso, as portas da mesquita central de Lisboa vão estar abertas durante toda a semana para acolher os peregrinos em visitas espontâneas ou planeadas, onde esperam vir a ter uma interação positiva e poder partilhar um pouco do que é a história do Islão. É também entre as paredes da mesquita que vão receber, em parceria com a Junta de Freguesia de Campolide, um grupo de peregrinos da Jornada.

As ações não se vão restringir ao espaço da mesquita e no decorrer da JMJ a comunidade islâmica terá uma forte presença nas ruas da capital, com tendas montadas em várias zonas ligadas a evidências do passado muçulmano em Portugal. É nestes espaços que pretendem acolher e conversar com os peregrinos que vão inundar Lisboa. Os detalhes ainda estão a ser acertados, mas o Bairro Alto será um dos pontos em destaque durante toda essa semana.

Igreja Lusitana levanta-se e mobiliza jovens durante a JMJ Lisboa 2023

Catedral de São Paulo, Lisboa

Durante a JMJ a Catedral de São Paulo vai acolher jovens da comunidade lusitana

A Jornada Mundial da Juventude 2023 serviu de mote para a Igreja Lusitana se mobilizar e organizar um programa dedicado aos seus jovens. É na Catedral de São Paulo, na Rua das Janelas Verdes, em Santos, que vão receber cerca de 30, vindos de várias zonas de Portugal e de países europeus para participar em momentos de oração, partilha e testemunhos, bem como eventos ecuménicos e espaços de formação sobre temas ligados à justiça social, economia e ambiente.

Durante a primeira semana de agosto, estes jovens vão dividir-se entre os eventos programados na catedral — que, à semelhança da Mesquita Central de Lisboa, estará aberta para os visitantes — e os momentos organizados pela jornada. “Como lusitanos e anglicanos, vemos que este é um momento de abertura, de sair de si para encontrar o outro”, diz ao Observador a presbítera Abilene Fischer.

“É um evento novo para a Igreja Lusitana [em Portugal]”, assume a responsável. Lembrando que o caminho para estabelecer pontes ecuménicas se iniciou há mais de cinco décadas, aponta que o diálogo foi ganhando força ao nível da liderança, mas que é algo mais recente entre os membros mais jovens da comunidade. “Muitos talvez não pensassem participar. É uma coisa nova, sair do conforto da Igreja Lusitana para ir ao encontro de jovens de outra comunidade cristã”, explica.

É neste espírito de diálogo ecuménico e de não ficar fechado dentro de portas que vão estar envolvidos nas atividades das comunidades francesas de Taizé e Chemin Neuf (em português, Caminho Novo), que vão estar a dinamizar programas na Igreja de São Domingos e na Basílica da Estrela durante a JMJ. É uma experiência que acredita que possa vir a ser “enriquecedora” para todos os jovens da Igreja Lusitana.

Rumo a Portugal para a JMJ, comunidades de Taizé e Chemin Neuf dinamizam igrejas em Lisboa

A Basílica da Estrela vai ser dinamizada pela comunidade Chemin Neuf

Mais de 1.800 quilómetros separam a comunidade de Taizé, na região francesa de Borgonha, da Igreja de São Domingos, no Rossio. É nesta igreja lisboeta que os membros da comunidade ecuménica, que junta lado a lado protestantes e católicos, vão preparar durante a primeira semana de agosto um espaço para os jovens poderem “parar e respirar” da agitação da jornada. “Vai haver muitas atividades, os dias vão ser muito cheios e pretendemos oferecer um tempo de paragem, introspeção e reflexão”, resume o irmão David, o único consagrado português permanentemente em Taizé.

Enquanto nas manhãs o programa da Igreja de São Domingos vai incluir as habituais catequeses da JMJ — este ano marcadas por uma forte intervenção dos jovens —, durante as tardes de terça a sexta-feira as atividades e momentos de oração vão estar nas mãos da comunidade de Taizé, que têm participado em todas as jornadas desde a sua criação. Do mesmo modo, a Basílica da Estrela estará a cargo do Chemin Neuf, uma comunidade de base católica e de vocação ecuménica que reúne ortodoxos, protestantes, anglicanos e evangélicos, hoje presentes em mais de 35 países.

As atividades do Chemin Neuf não se vão limitar ao período da jornada e arrancam uma semana antes com o “Welcome to Paradise”, um festival cristão que acontece anualmente em França e que este ano segue para Portimão a propósito da JMJ. De 26 a 31 de julho são esperados cerca de quatro mil peregrinos de 40 países para participar em workshops, concertos e noites temáticas. No final do evento, os participantes são convidados a seguir para Lisboa a tempo de viver a jornada. Um dos pontos altos do programa será a vigília pela paz, organizada em parceria com a comunidade de Taizé, e que vai decorrer no dia 3 de agosto na Igreja de São Domingos, depois da chegada e do acolhimento ao Papa Francisco.

Da Igreja Mórmon à comunidade Hindu: canto pela paz junta comunidades religiosas no arranque da JMJ

O que têm comum um canto da Igreja Mórmon, um poema da comunidade Hindu ou a apresentação de um coro da comunidade Ismaili? As diferenças destas comunidades estiveram em destaque na quinta edição do “Canto Pela Paz”, uma iniciativa inter-religiosa e ecuménica que acontece todos os anos em Lisboa e que a 10 de maio foi hospedada na sede da Jornada Mundial da Juventude, no Beato. Foi apenas uma amostra do que se pode esperar no dia 1 de agosto, que marca o arranque da JMJ Lisboa 2023.

Inserido no Festival da Juventude da jornada, o “Canto pela Paz” vai juntar grupos de diversas comunidades religiosas num programa em que a arte se assume como uma linguagem universal. O evento vai decorrer no auditório da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa e vai contar com a participação de um grupo de crianças da comunidade Hindu de Portugal, com um canto de mantras, e a atuação de um cantor e um grupo de jovens da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (Mórmon).

Entre as comunidades que vão participar, algumas foram mais longe e disponibilizaram-se a apoiar a organização da jornada durante o mês de agosto. É o caso da comunidade Ismaili, que, segundo o padre padre Peter Stilwell, se comprometeu com cerca de 100 voluntários. Do mesmo modo, a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias estima ter cerca de 200 voluntários disponíveis para ajudar e, com a sede próxima ao Parque Tejo — onde vão decorrer alguns dos eventos centrais –, já mostrou abertura para acolher peregrinos.

Depois de “O Sargento na Cela 7”, está a chegar o “Piratinha do Ar”, uma nova série do Observador para ouvir em seis episódios. Ouça aqui o trailer.