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Após um interregno de sete anos, a cantora está de volta a estúdio e prepara-se para lançar um novo álbum no final do ano. Antes disso, atua no North Festival no dia 26 de maio, no Parque de Serralves, no Porto

Getty Images for Coachella

Após um interregno de sete anos, a cantora está de volta a estúdio e prepara-se para lançar um novo álbum no final do ano. Antes disso, atua no North Festival no dia 26 de maio, no Parque de Serralves, no Porto

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Nelly Furtado: “Ou promovo um álbum ou desapareço, mas sinto-me muito confortável com o desaparecimento”

A artista luso-canadiana está de volta e atua no North Festival, no Porto, este domingo. Em entrevista, fala do afastamento da música, do novo disco e do desejo de colaborar com artistas portugueses.

É o ano 2000. No pequeno ecrã, os primeiros versos de I’m Like a Bird denunciam uma voz distinta das demais que desfilam pelos canais de música do cabo. É o single de estreia de Nelly Furtado, artista canadiana de 21 anos, e que antecipa o álbum Whoa, Nelly!. “You’re beautiful, that’s for sure”, entoa uma jovem sentada sobre a relva, de argolas penduradas nas orelhas.

Quatro anos depois, a cantora com ascendência portuguesa vai pôr um país inteiro a cantar “Como uma força que ninguém pode parar”, hino do Euro 2004 que não salvaria Portugal de perder na final. Mas Nelly continua a levantar voo e nos anos seguintes afirma-se como artista promissora na cena pop, com temas como Promiscuous, Maneater ou Say It Right e o álbum Loose (2006), com mão do produtor Timbaland, cimenta definitivamente o seu estatuto e força.

Pouco depois, muda de registo e lança um disco em espanhol, Mi Plan (2009), e a ele segue-se The Spirit Indestructible (2012), e The Ride (2017), sem nenhum vingar o prometido no princípio do milénio. Segue-se então um longo silêncio discográfico. Até que, em 2022, Drake a chama ao palco num concerto em Toronto, no Canadá. “A música desta pessoa mudou muito minha vida”, disse o rapper. Entre o entusiasmo e a nostalgia, o público reage e Furtado ganha força para, no último verão, interromper o silêncio de sete anos longe dos palcos e do estúdio. Junta-se ao DJ australiano Dom Dolla e lança Eat Your Man. Meses depois, em outubro, reune-se no estúdio com Timbaland e Justin Timberlake, 16 depois do fenómeno Give It To Me, e o trio edita Keep Going Up.

A resposta para “Onde tem Nelly Furtado andado?” chegou. Tem-se mantido ocupada a gravar a música que deverá chegar no final do ano sob a forma de disco, antecipa ao Observador, numa entrevista poucos dias antes de voar para Portugal, onde é cabeça de cartaz do último dia do North Festival, no Parque de Serralves, no Porto, a 26 de maio. Um dos temas foi lançado esta quarta-feira, Love Bites. Mas há mais a caminho, incluindo com artistas portugueses.

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Passaram 20 anos desde que Força, hino do campeonato europeu de futebol, em 2004, tocava em todas as rádios. Que memórias tem desse tempo?
Lembro-me de Portugal perder na final e de, no dia seguinte, estar deitada na cama do hotel a comer pastéis de nata todo o dia. Estava super deprimida por terem perdido, mas depois toda a gente ultrapassou o assunto e Portugal acabou por ganhar mais tarde, por isso está tudo bem. Mas a pergunta era no geral, sobre como era a minha vida nessa altura?

Também. Com vinte e poucos anos queria ser uma estrela pop. O objetivo permanece o mesmo?
São quase 24 anos a fazer música… Sinto que tenho muita sorte porque a música ainda me apaixona. Continuo a adorar fazer música, estar no estúdio, colaborar com artistas, descobrir música nova, poder expressar aquela que é a minha verdadeira paixão, que é a música, com a mesma inocência que tinha com 18 anos. Conhecer o DJ Dom Dolla há um ano e meio mudou a minha vida musical porque lembrou-me de como era quando era adolescente e fazia música eletrónica, house, drum and bass, o que fosse, com os meus amigos. E lembrou-me da dádiva que é poder usar a nossa voz para canalizar outra realidade. Chamo à música um vício saudável. Todos os outros vícios são maus, mas podemos ser totalmente obcecados por música e isso não vai afetar a nossa saúde, nem mesmo a saúde mental. Nunca ouvi falar de alguém que enlouquecesse a ouvir música. É algo muito especial, poder fazer música. Sinto-me muito grata.

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A cantora Nelly Furtado num concerto a 13 de abril, no primeiro fim-de-semana do festival Coachella, na Califórnia, Estados Unidos da América

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A propósito de saúde mental, esteve algum tempo afastada da música, sem dar concertos, sem lançar canções. Sabendo que para os artistas a profissão é muitas vezes uma grande parte da sua identidade, como foi encontrar-se sem todas estas coisas?
Ando a brincar com esta ideia há 25 anos… Sempre admirei artistas como a Sade, que lança um projeto e depois desaparece durante uns anos e vive uma vida normal. Sempre olhei para a minha vida dessa forma. Ou estou a promover um álbum ou desapareço, mas sinto-me muito confortável com o desaparecimento. A música é uma parte da minha vida. A criação e a escrita nunca param, nem exprimir-me e ser criativa. É mais a atuação e a promoção… Essas coisas são divertidas, mas não podemos estar sempre a fazê-las, senão ficamos esgotados, cansados.

É possível ou sustentável ser uma estrela pop e desaparecer de vez em quando?
Não sei. Quer dizer, algumas pessoas conseguem fazê-lo. Nem toda a gente, mas algumas pessoas. Depende da qualidade da música. Não acho que precises de ser uma estrela pop. Podes simplesmente lançar boa música, como os Daft Punk. Quer dizer, se eles lançassem um álbum amanhã eu ouviria.

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Nelly Furtado no Estádio da Luz, a 4 de julho de 2004, na final do campeonato europeu de futebol, que foi disputada entre Portugal e a Grécia

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Retirou-se depois de lançar The Ride, em 2017, que não teve o mesmo sucesso comercial que os álbuns anteriores. Foi também nessa altura que saiu da sua editora Universal e se editou em nome próprio [Nelstar]. Foi a repercussão de tudo isso que a motivou a decidir que era uma boa altura para parar?
Acho que fiquei ocupada com a vida. A minha família estava a crescer. Tive dois filhos, dois bebés. Agora tenho três filhos. Não sei, eu sou assim. Por vezes, compartimentalizo a minha vida. Penso: “Está bem, vou fazer isto agora”. Acho que também é porque tenho ADHD (Transtorno de deficit de atenção/hiperatividade ou TDAH, em português), por isso aborreço-me muito facilmente. Não consigo, literalmente. Como ontem, quando estava no ensaio… Estou a ensaiar para todos os meus espectáculos de festivais e estava a pedir desculpa à minha equipa técnica porque mudei tudo à última da hora. Estou sempre a mudar tudo porque fico muito aborrecida e quero estar sempre a mudar as canções. Não quero que todos os espetáculos sejam iguais. Quero que seja diferente para cada público, dependendo do país onde estou, até porque tenho algumas canções que são mais populares nalguns países do que noutros. Acho que é porque tenho ADHD e aborreço-me muito facilmente se não estou entretida. Ou estou a aprender a dançar, ou estou a aprender uma nova língua, como espanhol (risos). Sou guiada pelos meus interesses como um gato a olhar para uma bola. É essa a minha personalidade.

"Chamo à música um vício saudável. Todos os outros vícios são maus, mas podemos ser totalmente obcecados por música e isso não vai afetar a nossa saúde, nem mesmo a saúde mental. Nunca ouvi falar de alguém que enlouquecesse a ouvir música"

O que a fez voltar ao estúdio e fazer música nova? Ter algo a dizer com as canções?
Para mim não tem tanto a ver com a mensagem nas letras. Sou produtora, também. Sou música, compositora e produtora também, por isso para mim tem mais a ver com a energia da comunidade, para ser sincera. Tenho uma canção no meu novo álbum que tem cinco pessoas diferentes, com idades dos 20 aos 75 anos. São pessoas diferentes de países diferentes. A minha mensagem com a música tem sido sempre sobre o cruzamento de culturas e a colaboração, a comunidade, muita positividade também, mas também um certo escape. Como disse, acho que a música é o vício mais saudável e só quero dar um escape às pessoas. Quando canto a Maneater (do álbum Loose, 2006) ao vivo, o movimento de dança é um pouco provocador, mas parece-me tão autêntico, porque sinto que essa canção foi feita para escapar e sentir… Não sei se a palavra é animalesca, mas há esse sentimento primitivo que todos sentimos.

A cantora lançou esta quarta-feira a música "Love Bites", com Tove Lo (à esquerda) e SG Lewis (à direita)

Ao crescer indústria, como é que olha para a forma como as mulheres artistas são encaradas hoje? Observa mudanças? Sobretudo pensando que alguns dos maiores fenómenos da música pop atual são mulheres, precisamente…
É uma boa pergunta. Há muitas mulheres que têm sucesso, mas continuo a pensar que há muitos homens que também têm sucesso. Fui a um espetáculo do The Weeknd no verão passado e foi o melhor espetáculo a que já fui. Senti-me como se estivesse a ver o Michael Jackson em 1984. Foi uma sensação de escape. Mas sim, [há diferenças]. As mulheres têm mais escolha agora. Por causa das redes sociais também. Temos um pouco mais de escolha sobre que lados da nossa personalidade queremos mostrar. Podemos ser hoje uma maria-rapaz e no dia seguinte ser hiper-femininas, hiper-girly. Também há mais artistas queer, o que é ótimo. Há mais visibilidade LGBTQ e mais consciencialização, o que faz com que as pessoas se sintam um pouco mais à vontade com a sua sexualidade, com as suas personalidades, com a expressão completa da sua feminilidade. É por isso que gosto muito da Tove Lo, a artista com quem colaborei no meu novo single, porque ela tem uma liberdade de expressão que eu adoro. Ela é a sua versão de sexy. É ótimo que as pessoas queiram ouvir as histórias das mulheres mais do que nunca.

As pessoas querem ouvir as histórias das mulheres, e querem ouvir sobre as suas vidas reais. Querem ouvir sobre as paixões das mulheres, e querem que as mulheres sejam bem sucedidas e tenham negócios de sucesso e todas essas coisas. Há uma mudança muito boa, muito positiva, a acontecer.

"Há uma vozinha que me diz: 'Tens de fazer aquilo que te faz arder por dentro'. Para mim, é a música, mas tinha me esquecido. Pensava que podia viver sem música, mas enganei-me"

Sobreviver enquanto artista parece implicar uma espécie de jogo do gato e do rato em que se tem de mudar frequentemente de sonoridade, sem nunca perder a personalidade, lançar discos, mas não com demasiada frequência para não aborrecer os fãs, e ao mesmo tempo lidar com a possibilidade de se ser descartado a qualquer momento. Hoje, aos 45 anos pensa em todas estas coisas? Como tem sido observar a reação ao seu regresso?
Senti muito amor e apoio. Lembro-me que a Shania Twain começou a voltar com música há uns anos e lembro-me de sentir isso em relação a ela: “Uau, a Shania está de volta!” É fixe. Acho que no final do dia queremos ver as pessoas a sair-se bem. Queremos ver as pessoas a sentirem-se bem com elas mesmas e a serem positivas. Queremos histórias de inspiração, histórias positivas. Queremos ver-nos a nós mesmos. Quando pessoas olham para mim talvez possam pensar: “Uau, olha para ela, ela está mesmo a divertir-se outra vez, a fazer música, e é mãe, tem 45 anos, mas foi atrás da sua paixão outra vez e está a trabalhar outra vez”. Isso é fixe, acho que é inspirador. Fico feliz por isso, porque também quero enviar essa mensagem às mulheres, de que devem sempre seguir a sua paixão. Há uma vozinha que me diz: “Tens de fazer aquilo que te faz arder por dentro”. Para mim, é a música, mas tinha me esquecido. Pensava que podia viver sem música, mas enganei-me.

Quando sai o novo álbum?
No final do ano. Estamos agora a misturar o disco e a terminar a arte.

Haverá alguma colaboração portuguesa?
Estamos a tentar pôr o Way 45 [nome artístico enquanto rapper do futebolista Rafael Leão] num remix. Estou a tentar que o Rafa faça um remix (risos). Estou sempre a falar com artistas portugueses.

Numa das últimas passagens por Portugal assistiu a um concerto da Ana Moura, em Lisboa.
Sim! Adoro-a. Tornámo-nos amigas e estamos ligadas a esse nível, como mães e artistas. É uma coisa muito bonita. Por isso… Sim, de certeza que vão ouvir mais coisas portuguesas e remisturas e coisas minhas no futuro. De certeza. Estou a chegar lá.

 
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