Os constrangimentos da pandemia voltaram a afetar 12 meses de filmes, o funcionamento da indústria cinematográfica e a normalidade da exibição. Mesmo assim, conseguimos eleger 11 títulos como os melhores dos que foram estreados em 2021, dez deles vistos no cinema e um no “streaming” (“A Mão de Deus”, de Paolo Sorrentino, disponível apenas na Netflix). Três deles são documentários e os restantes ficções, assinadas por nomes como Christian Petzold, Andrei Konchalovsky, Clint Eastwood, Ryusuke Hamaguchi ou Paul Thomas Anderson.

“Undine”, de Christian Petzold

Uma ninfa do rio Spree com um emprego municipal (Paula Beer) e um escafandrista industrial (Franz Rogowski) apaixonam-se neste filme fantástico passado em Berlim e assinado por Christian Petzold, que cultiva o maravilhoso tradicional com roupas contemporâneas, e um romantismo fatalista inconfundivelmente germânico.

“Mais uma Rodada”, de Thomas Vinterberg

Quatro professores de um liceu dinamarquês começam a fazer experiências com bebidas alcoólicas, até perderem o controlo dos acontecimentos, com consequências trágicas para alguns deles. Esta comédia dramática sobre as satisfações e os riscos da bebida é brilhantemente liderada por Mads Mikkelsen.

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“Caros Camaradas!”, de Andrei Konchalovsky

O instinto maternal derrota o comunismo neste tremendo filme sobre o massacre de operários pelo KGB em Novocherkassk, na URSS, a 2 de Junho de 1962. Julia Vysotskaya, mulher do realizador, é formidável no papel da militante e quadro do partido que vê a sua filha ser morta em nome da ideologia em que crê fervorosamente.

“Minari”, de Lee Isaac Chung

Um afetuoso, divertido e sensível filme autobiográfico sobre uma família coreano-americana que, nos  EUA dos anos 80, se muda de uma grande cidade para uma quinta do Arkansas, porque o pai quer tornar-se agricultor. A veterana actriz Yuh-Jung Soon é magnífica na avó nada convencional mas profundamente ligada às tradições da sua cultura.

“Be Natural — A História Nunca Contada de Alice Guy Blaché”, de Pamela B. Green

Este documentário entusiástico e minucioso faz pleno jus à vida e à obra da pioneira francesa Alice Guy-Blaché, a primeira mulher a realizar um filme, em 1896, a ser diretora de produção de um estúdio (a Gaumont, em Paris) e a fundar e gerir uma produtora (a Solax, em Nova Jérsia, em 1910).

“Colectiv — Um Caso de Corrupção”, de Alexander Nanau

Em 2015, um diário desportivo romeno fez cair o governo com a investigação de uma rede de fraude e corrupção nos hospitais do país, na sequência de um trágico incêndio de uma discoteca de Bucareste. Este impressionante documentário realça a importância da existência de um jornalismo livre, independente e determinado nas sociedades democráticas.

“Funeral de Estado”, de Sergei Loznitsa

A recuperação de imagens de um filme censurado sobre o funeral de Estaline, em Março de 1953, e de imagens de reações de gente de toda a URSS à morte do ditador comunista, fazem deste “Funeral de Estado” um documento esmagador sobre a encenação a nível nacional do luto e da dor, o culto da personalidade e a omnipresença e o poder da propaganda estatal numa sociedade totalitária.

“Cry Macho — A Redenção”, de Clint Eastwood

Limpidez formal, eloquência narrativa e serenidade emocional combinam-se neste filme em que Clint Eastwood é um velho “cowboy” e antigo campeão de rodeos, que vai ao México resgatar o filho adolescente do seu ex-patrão das mãos de uma mãe irresponsável. Um filme todo ele feito à medida do homem que o realiza e interpreta.

“Roda da Fortuna e da Fantasia”, de Ryusuke Hamaguchi

O realizador de “Happy Hour: Hora Feliz” e “Asako I & II” conta três histórias baseadas na coincidência, no acaso, no mal-entendido e sobretudo na palavra, que usa magistralmente para revelar os sentimentos e as emoções das personagens, e escrutinar e transmitir a sua mais secreta intimidade, num quadro de realismo o mais quotidiano possível.

“Licorice Pizza”, de Paul Thomas Anderson

PT Anderson assenta arraiais no Vale de San Fernando, em Los Angeles, e nos anos 70, para contar uma arrebatada e reticente história de amor entre um finalista de liceu fura-vidas (Cooper Hoffman) e uma rapariga mais velha (Alana Haim), e as caóticas e desconcertantes peripécias em que se envolvem, de um negócio de colchões de água a um encontro surreal com o produtor Jon Peters. (Estreia a 30 de Dezembro)

“A Mão de Deus”, de Paolo Sorrentino

Acenando a “Roma”, de Alfonso Cuarón, e sob a égide de Diego Maradona e Federico Fellini, Paolo Sorrentino evoca a sua juventude em Nápoles nos anos 80, a sua família extravagante e a tragédia que o deixou órfão e o empurrou para o cinema. Sempre com com singeleza formal e reserva emotiva, e contornando as armadilhas do filme autobiográfico, caso da autopiedade, da retórica da dor, ou do excesso de sentimentalismo.