“A moda não está só nos vestidos. Está no céu, está nas ruas. A moda tem tudo a ver com ideias, com o que está a acontecer”. Coco Chanel
A moda é um produto do seu tempo. É um produto da criatividade dos designers, da riqueza de inspirações, do mundo digital, dos acontecimentos sociais, políticos e económicos. A moda é causa e consequência. Em 2014, a moda foi sinónimo de rebeldia.
Louis Vuitton: pode uma marca histórica de luxo reinventar-se? Sim.
A casa fundada em 1854 ganhou este ano com a frescura de Nicolas Ghesquière. O diretor artístico das coleções de mulher entrou em funções na marca em 2013 para substituir Marc Jacobs. Mas foi em março deste ano que aconteceu o primeiro desfile com Ghesquière a dirigir a casa de moda. O diretor artístico decidiu arriscar e “brincar” com o intocável monograma castanho e dourado — o símbolo distintivo da marca de luxo.
O monograma foi também reinventado por seis artistas convidados, entre eles, o líder da casa Chanel — Karl Lagerfeld. O projeto Icon and Iconoclasts concretizou-se numa edição limitada das carteiras, que chegaram às lojas em outubro. Mas coube ao diretor artístico da Louis Vuitton a versão oficial. Nicolas Ghesquière disse que queria um símbolo “mais simples e mais flexível, menos geométrico e mais redondo”.
Em entrevista ao Wall Street Journal nos escritórios em Paris, o ex-diretor artístico da Balenciaga diz que a histórica LV deve reinventar-se. “Eu sempre fui interpretado como um designer do futuro, mas não gosto muito dessa ideia. Para mim, o futuro é agora”, explica Ghesquière.
A Petite Malle com o novo símbolo foi a principal estrela do desfile Outono/Inverno 2015, que decorreu em março em Paris. Nos preços, não há grandes reinvenções: a carteira custa 2940 libras, qualquer coisa como 3754 euros.
Calendário Pirelli, fetiches e sensualidade sem preconceitos
Adriana Lima, Isabeli Fontana, Natalia Vodianova e… Candice Huffine. Doze modelos. O último nome podia não ter nenhum significado especial, mas foram as formas redondas de Candice que abriram uma nova porta no calendário de pneus mais conhecido do mundo.
A própria considerou que ser escolhida para posar nesta 42ª edição do Calendário Pirelli significa “definitivamente que algo está a mudar” na indústria de moda. A norte-americana de 30 anos, modelo XL, revela ao Independent que o “tamanho ou o peso nunca surgiu no processo de casting”.
O tema para 2015 é o fetichismo e o látex foi o principal material usado no guarda-roupa das modelos. O casamento entre o látex e o mundo dos fetiches já dura há 200 anos e parece estar para durar.
Os designers falam no “poder e na intensidade” do material, mas há um que se distingue na criação de peças em que o látex é o rei. Atsuko Kudo é o designer que conquistou a confiança de Kate Moss, Kim Kardashian ou Lady Gaga.
Este ano, Nuno Gama apostou numa Maison em Lisboa — um espaço masculino com as peças do criador à venda, mas também com uma alfaiataria e uma barbearia. Em entrevista ao Observador, o criador que desde 2005 se dedica apenas ao público masculino dizia que “há cada vez mais homens a gostarem de ter uma boa apresentação”. Nuno Gama definia a moda como “uma extensão” das pessoas, sem “sentidos obrigatórios”.
Lá fora, a moda portuguesa também brilhou. Há 15 anos que o Portugal Fashion se apresenta na Semana de Moda de Paris e este ano não foi exceção. Fátima Lopes apresentou as propostas para a primavera/verão de 2015 no Cabaret Lido e Luís Buchinho estendeu a passerelle na Biblioteca Municipal de França.
De Paris para Portugal. A organização do Portugal Fashion adaptou o modelo de Paris, que leva os desfiles a diferentes espaços da cidade. O desfile da Chanel, por exemplo, decorreu no Museu do Louvre. Já em Lisboa, o desfile da dupla Alves/Gonçalves aconteceu no Museu Nacional de História Natural.
No Porto, os desfiles decorreram na já habitual Alfândega do Porto, mas também no Mosteiro de São Bento da Vitória, Conservatório de Música e no Palácio dos Correios. O objetivo era “aprofundar a relação da moda com o património arquitetónico, a história local e a cultura urbana das duas cidades”, revelava o presidente da ANJE — a associação que organizou o evento de moda.
Na Moda Lisboa, Eduarda Abbondaza assumiu mais uma vez os comandos. O Pátio da Galé recebeu as propostas para a próxima estação de Filipe Faísca, Luís Carvalho, SAYMYNAME, Ricardo Preto, Miguel Vieira e Dino Alves, entre outros. Na passerelle de Filipe Faísca, as modelos interagiam com uma obra de Joana Vasconcelos. No desfile de Luís Carvalho, havia música ao vivo. Cada estilista usa os seus trunfos para que a imprensa internacional registe e fale do seu momento. Em 2014, a moda é muito mais do que coordenados, cortes e tecidos. É espetáculo.
Pode a Chanel estar num supermercado?
Desafio e reinvenção. O alemão Karl Lagerfeld comanda os destinos da casa Chanel e ordenou ousadia para a Paris Fashion Week de setembro. Por isso, houve carteiras inspiradas em cestos de supermercado, apelos feministas e manifestações simuladas por modelos que empunhavam cartazes.
Frases como “Make fashion not war” (Faz moda e não guerra), “Boys should get pregnant too” (Os rapazes também deviam engravidar) ou “Be your own stylist” (Sê o teu próprio estilista) marcaram o fim do desfile no Museu do Louvre, que contou com uma das modelos do ano, Cara Delevigne, mas também com um nome incontornável da indústria — Gisele Bundchen.
Em moda, tudo é permitido. A imaginação, a rebeldia e o risco foram palavras dominantes em 2014. Como diz Karl Lagerfeld, “o melhor da vida está nos novos começos”. E 2015 está já aí para uma nova jornada de estilo.