Alguns eram ilustres desconhecidos, outros já marcavam pontos, mas noutras áreas. Há quem estivesse no auge do poder e hoje viva nas sombras, há quem tivesse acabado de conquistar um resultado eleitoral com que sonha (discretamente) 10 anos depois. Inspirados no desafio que contagiou milhões nas redes sociais, fizemos o teste aos nossos políticos, dos inevitáveis Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa a André Silva, do PAN, o deputado-novidade desta legislatura.
Uma década é muito tempo em política, como se percebe não só pelas imagens como pelo percurso surpreendente de algumas figuras. Em comum apenas o facto de nenhum dos protagonistas que elegemos para este desafio estar exatamente igual hoje ao que era há 10 anos. Até Jerónimo de Sousa que é hoje precisamente o mesmo que era: deputado e secretário-geral do PCP. A diferença é que agora assume o cargo num partido que suporta um governo do PS, coisa impensável em 2009.
Há dez anos, António Costa contra os “jogos partidários”
A 7 de setembro de 2009, António Costa aparecia no palco da Convenção Nacional do PS grisalho, os cabelos brancos ainda não dominavam, como acontece hoje. Era ano de legislativas, mas também de autárquicas e, depois das intercalares de 2009, o socialista fazia tudo por uma maioria absoluta na Câmara de Lisboa para poder governar com “estabilidade”. No país, a mesma coisa. O PS vinha da maioria absoluta de José Sócrates e queria repeti-la — António Costa foi à Convenção dar uma força nesse sentido:”Entre 76 e 87, aconteceu um pouco de tudo. Tivemos governos de um só partido, coligações pré-eleitorais, coligações pós-eleitorais, tivemos mesmo três governos de iniciativa presidencial e só tivemos um traço comum: instabilidade, instabilidade, instabilidade e mais instabilidade”. Por isso, pedia um resultado absolutamente claro naquelas eleições: “Desde 87, o PS já ganhou e já perdeu, mas os portugueses conquistaram um direito a que não podem renunciar, o direito a que os governos não sejam formados pelos jogos partidários, mas que resultem da vontade expressa, maioritária, clara, inequívoca do votos de todos e cada um dos portugueses”.
Não fazia ideia que dali a seis anos estaria a tentar uma articulação partidária inédita, à esquerda, para responder a um resultado eleitoral que não era claro: a coligação PSD/CDS tinha vencido as eleições, mas era possível uma maioria parlamentar à esquerda para apoiar a governação PS. Na legislatura que termina este ano não faltaram acusações a Costa de operar “jogos partidários” para conseguir tomar o poder e conseguir levar avante a governação. Em 2009, o PS não conseguiu a maioria absoluta nas legislativas e Sócrates não fez um acordo para a ter no Parlamento, governando em maioria relativa. Já na Câmara de Lisboa, Costa conseguiu eleger nove vereadores, garantindo a maioria absoluta que agora, para as legislativas que aí vêm, evita dizer que é o que está a procurar.
José Sócrates andava à procura da maioria que não teve
2009 foi um ano intenso para José Sócrates que se recandidatava, nas eleições de 27 de setembro, para se manter no comando da governação. Mas nem só de eleições se fez esse ano, foi aliás antes delas chegarem que surgiu o polémico caso da escutas de Belém. Em agosto, na primeira página do Público surgia a notícia: “Presidência da República teme estar a ser vigiada”. Dias depois, o Diário de Notícias noticiaria que aquela informação teria sido divulgada por Fernando Lima, assessor de Cavaco Silva em Belém. O episódio fez chegar ao fim de forma definitiva a cooperação institucional entre Cavaco e Sócrates, passando a relação a ser muito complicada.
Na estrada eleitoral, o discurso de Sócrates ia pedido a maioria absoluta, mas ela não chegou, com o PS a eleger apenas 97 deputados. Na campanha não tinha indiciado entendimentos com ninguém e na oposição, a abertura negocial também não tinha sido demonstrada. Na semana seguinte às eleições, Sócrates recebeu os partidos “com vista a apurar a disponibilidade de cada um para darem um contributo para a governabilidade e para a resolução dos problemas do país”. Assegurava que partia “para esse diálogo com preconceitos ou com a intenção de apenas encenar o diálogo”, mas os partidos da oposição saíram precisamente com essa queixa. No final de dias de desfile e de cadernos de encargos debaixo do braços dos chefes das delegações partidárias, não houve fumo branco e José Sócrates avançou para uma governação apoiada numa maioria relativa que não havia de durar dois anos. Hoje, em vez do primeiro-ministro-todo-poderoso do PS, Sócrates é o ex-primeiro-ministro-acusado-de-31-crimes (três de corrupção passiva, 16 de branqueamento de capitais, nove de falsificação de documento e três de fraude fiscal qualificada). Um fardo que ditou o seu fim político.
Marcelo, o comentador dos domingos, que anunciava candidaturas e falava até de futebol
Há dez anos, o Presidente dos afetos dominava noutro palco, o da RTP, no seu comentário dominical. “As escolhas de Marcelo”, assim se chamava o programa, tinha mais de um milhão de espetadores semanalmente, uma vasta audiência a quem o social-democrata ia comentando a atualidade política da semana anterior. Apesar de ser essa a sua especialidade, Marcelo falava de tudo, até de futebol. Tinha uma opinião bastante informada, tanto que, em 2010, foi ele a anunciar o dia, local e hora do anúncio da recandidatura presidencial de Cavaco Silva. Curiosamente, a sua própria candidatura não foi anunciada no seu espaço de comentário dominical, na TVI (para onde entretanto voltou anos mais tarde). Marcelo anunciou apenas que estava ponderado “o que havia a ponderar” sobre uma recandidatura a Belém. E apresentou-se como candidato nessa semana.
Em 2009, a atualidade política estava quente, com três eleições em linha. Marcelo comentava o caso das escutas de Belém como um “equívoco” “ridículo” que se resolveria com um “puxão de orelhas” ao assessor de Cavaco. Foi mais ou menos o que aconteceu, com Fernando Lima a ser afastado do cargo de assessor principal. E no final do ano, comentaria sobre si mesmo, quando no PSD à procura de novo líder se falava no seu nome para suceder a Manuela Ferreira Leite. Antes de recusar, ainda provocou um equívoco. Numa semana disse: “Não sou candidato à liderança do PSD certamente até 2009. Em nenhum momento isso está na minha intenção, mas sei lá se isso não acontece”. A interpretação foi que, depois desse ano admitiria ser. Por isso, na semana seguinte, veio explicar-se: “Não, n-a-o, til. Não até 2009, não depois de 2009”. Os planos eram outros e acabaram por se concretizar em 2016, quando foi eleito Presidente da República e inaugurou um estilo de atuação que, 3 anos depois da eleição, continua a surpreender.
Mário Centeno, o matemático afastado de holofotes que trabalhava no Banco de Portugal
Em 2009, Mário Centeno era muita coisa, mas nada a ver com a atividade política pura e dura, onde agora se move em Portugal e além fronteiras, como ministro das Finanças e presidente do Eurogrupo, em Bruxelas. Nesse ano, era economista do Banco de Portugal há nove anos, e há cinco diretor-adjunto do Departamento de Estudos Económicos. Era também presidente do Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento das Estatísticas Macroeconómicas do Conselho Superior de Estatística. Foi ainda catedrático do ISEG, em Lisboa. Não tinha intervenção pública, era conhecido entre os amigos da faculdade como “o matemático”. Afastado, portanto, dos holofotes para os quais António Costa o viria a puxar dali a quatro anos, quando o convidou a coordenar o grupo de 12 economistas que prepararam o cenário macroeconómico para o programa eleitoral do PS às legislativas de 2015. Costa não o largou mais e atribuiu-lhe a decisiva pasta das Finanças onde está até hoje.
Rui Rio, no Porto com Manuela e mais uma maioria absoluta no bolso
Há dez anos, como agora, Rui Rio andava em campanha. Não como líder do PSD, mas como presidente da câmara do Porto que se recandidatava a mais um mandato (o terceiro e último) apoiado pelo PSD e pelo CDS, em coligação. Naqueles dias, como hoje, Manuela Ferreira Leite estava ao seu lado, ela sim na qualidade de líder do partido. Dez anos depois, Ferreira Leite não anda na estrada, não está na dita “política ativa”, mas continua ao seu lado nos comentários televisivos. Foi inclusivé, uma declaração sua que serviu de justificação para Luís Montenegro dar um murro na mesa e agitar as águas. Desafiou a atual liderança de Rui Rio, mas foi derrotado em Conselho Nacional.
Em 2009, como em 2019, houve três eleições: europeias em junho, legislativas em setembro, e autárquicas em outubro. Rui Rio chegou a estas últimas e renovou a sua maioria absoluta, com 47,5% dos votos. Por essa altura, em Lisboa, António Costa também limpava com 44% dos votos, e, no concelho vizinho do de Rio, separados apenas por um rio, Luís Filipe Menezes arrasava em Gaia, conquistando 62% dos votos. O mesmo Luís Filipe Menezes que durante décadas não pisava o mesmo chão que Rui Rio, apareceu, há uma semana, no Conselho Nacional da re-legitimação do líder, pronto para fazer as pazes. A zanga era tal que, quando Rio terminou o seu terceiro mandato à frente do Porto, em 2013, e Menezes avançou com uma candidatura para o substituir, Rio não tem dúvidas em assumir que seria “hipócrita” apoiar Menezes, dizendo que sabia que ele iria “destruir tudo o que foi feito”. Foi assim que os rioístas passaram o seu voto para Rui Moreira e foi assim que Luís Filipe Menezes ficou em terceiro lugar na votação. Agora, muitos anos volvidos, Menezes foi ao Conselho Nacional de Rio dizer-lhe precisamente que hoje percebe porque é que não o apoiou: “Acredito que não me apoiou por convicção: acreditava que eu não era o melhor para o partido, e enquanto eu acreditar que faz as coisas por convicção o senhor terá o meu apoio até à vitória em outubro”. Está perdoado.
Há 10 anos como agora, Rui Rio tinha o rótulo de gestor rigoroso, célebre pelas “contas à moda do Porto”. Há 10 anos como agora, Rui Rio era intransigente com a Justiça e com a Comunicação Social. No dia em que a câmara do Porto assinalou o 35º aniversário do 25 de Abril, em 2009, Rio resumiu assim o que pensava do estado do jornalismo em Portugal: “Manipular a informação, fazer títulos enganosos, desinformar as audiências, recortar os factos à medida, promover ostensivamente candidatos ou candidatas ou tratar de forma diferente o que é igual, não é seguramente saudável para o regime. Fazer julgamentos populares nas páginas dos jornais, violar o segredo de justiça ou reunir fragmentos de verdade para contar uma mentira, não é liberdade de imprensa – é, antes do mais, alienar um importante dever democrático, de forma leviana e irresponsável. A crise das instituições também passa pela forma como a comunicação social, muitas vezes, as trata publicamente”. Um pensamento que se mantém atual.
Assunção Cristas, o primeiro ano do resto da vida dela
Dez anos e muitos cortes de cabelo depois, Assunção Cristas foi das líderes partidárias que mais mudou nesta janela temporal. Tudo porque 2009 foi precisamente o ano em que mudou de (e a) vida. Foi o ano em que se estreou na política partidária ativa, ao ser eleita deputada à Assembleia da República em setembro, ainda que já fizesse parte dos quadros do CDS desde maio de 2007.
A história da sua chegada tardia ao CDS é conhecida: Paulo Portas convidou-a para o partido em 2007 depois de ver o seu desempenho no programa Prós e Contras, defendendo o ‘não’ em plena campanha do referendo sobre a despenalização do aborto. A partir do momento em que deu o ‘sim’ a Paulo Portas, teve logo grande destaque no Largo do Caldos, o que deixou muitos dos centristas de pé atrás com a ultrapassagem. Tornou-se rapidamente vice-presidente do partido e Portas deu-lhe a tarefa de coordenar a proposta de orientação política, económica e social que iria apresentar ao congresso desse ano.
Até aí, a vida de Assunção Cristas passara ao lado da política ativa, tendo apenas assessorado Celeste Cardona enquanto ministra da Justiça em 2002 e tendo passado os três anos seguintes como diretora do Gabinete de Política Legislativa e Planeamento do Ministério da Justiça. A vida que tinha em 2009, apesar de já estar inserida no CDS, era outra: a academia tinha prioridade. Tinha acabado de se tornar professora associada na Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa e era simultaneamente consultora na Morais Leitão, mas em junho de 2009 um convite — novamente de Paulo Portas — para ser cabeça de lista do CDS pelo círculo de Leiria fez com que mudasse de vida. Fez campanha eleitoral, foi eleita e em setembro passou a ocupar um lugar no Parlamento. Mas não se ficou pela terceira ou quarta fila: Paulo Portas deu-lhe mesmo a coordenação dos centristas numa das comissões parlamentares mais exigentes: a Comissão de Orçamento e Finanças, que trata, entre outras coisas, do Orçamento do Estado.
Há dez anos, por isso, Assunção Cristas mudava-se em definitivo para a vida que tem hoje. Na altura já tinha três filhos, dez anos depois juntou o quarto elemento lá em casa.
Catarina Martins, a atriz que se estreava no Parlamento
A 27 de setembro de 2009, o Bloco de Esquerda obteve os melhores resultados numas eleições legislativas até então, elegendo 16 deputados. Um número que acabaria por ser suplantado em 2015. Nas eleições que ditaram o fim da maioria absoluta do PS de José Sócrates, os bloquistas, liderados por Francisco Louçã conseguiam um resultado próximo dos 10%. Entre os deputados eleitos estavam velhos conhecidos – Luís Fazenda, José Manuel Pureza, João Semedo ou Helena Pinto, por exemplo – mas havia também algumas estreias. Uma delas era Catarina Martins, que tinha sido eleita como independente nas listas do partido no círculo eleitoral do Porto. Foi a número três, atrás de João Semedo e José Soeiro, e serviu para personificar o melhor resultado do Bloco na Invicta. Ia pisar pela primeira vez os corredores de São Bento depois de, em 2005, ter falhado a eleição.
Nessa altura, a atriz de teatro, então com 36 anos, estava longe de imaginar o guião que lhe estava destinado dentro do partido: 2009 foi o ano de cantar vitória, houve drama nas eleições de 2011 – que atiraram o BE para o quinto lugar e reduziram os seus deputados para metade, passando de 16 para 8. E depois, uma longa indefinição interna.
Catarina Martins chegava à liderança, poucos anos depois de ter entrado no Parlamento. Primeiro, numa liderança bicéfala com João Semedo, que começou em 2012, depois da renúncia de Francisco Louçã, e depois como porta-voz de uma direção a seis. Foi nessa condição, assumida em 2014, na sequência de uma convenção que espelhou um Bloco dividido ao meio – entre a fação de Catarina Martins e a de Pedro Filipe Soares -, que levou o partido para o melhor resultado eleitoral de sempre. Em 2015, depois de uma campanha bem sucedida e de ter capitalizado as boas prestações nos debates, os bloquistas elegeram 19 deputados, tornando-se na terceira força política do hemiciclo e um dos braços da inédita “geringonça”.
Uma experiência de poder que o partido nunca tinha experimentado e que levou os principais dirigentes a assumir que “estão prontos” para ser Governo.
Jerónimo de Sousa, de duro crítico a suporte de um governo do PS
Em 2009, o PCP elegeu 15 deputados nas legislativas. Em 2019, conta com 17 assentos parlamentares. Há dez anos, o secretário-geral comunista era Jerónimo de Sousa. E hoje, também. À primeira vista, não mudou muita coisa. Mas no PCP, nem tudo se manteve na mesma, ou não tivesse Jerónimo de Sousa assinado por baixo um acordo inédito que permitiu ao PS ser governo durante uma legislatura.
Há dez anos, o secretário-geral do PCP era um duro crítico do governo socialista de então, liderado por José Sócrates. Agora, o partido aprovou sucessivamente os quatro orçamentos desta legislatura, propostos, precisamente, por um Governo do PS. Foi o preço a pagar para afastar a direita do poder. O pragmatismo do partido pode ter-lhe custado votos e câmaras nas últimas autárquicas, e a questão nunca foi completamente pacífica junto de alguns setores do partido.
As legislativas de outubro vão, por isso, ser vistas internamente como a prova dos 9 para a estratégia pela qual Jerónimo de Sousa deu a cara no rescaldo das eleições legislativas de 2015. Nos últimos tempos, os comunistas assumiram uma postura mais crítica em relação ao Governo – mas não muito, pois as negociações para os orçamentos também permitiam ao partido retirar dividendos da estratégia de devolução de rendimentos que uniu a esquerda ao longo dos últimos três anos e meio.
Apesar de a liderança de Jerónimo de Sousa ter continuado incontestável, nos dez anos que passaram várias vezes se falou da sucessão do líder. Mas essa discussão apenas será tida quando Jerónimo de Sousa sair. Para já, voltará a ir a jogo nas legislativas de outubro. Aí ser verá como é que esta experiência afetou – ou não – a imagem, que se pretende renovada, do partido.
Pedro Santana Lopes, o político das sete vidas
No currículo, já contava com algumas vitórias e várias derrotas. Em 2009, podia ser referido como ex-primeiro-ministro, ex-presidente do PSD, ex-presidente da CM da Figueira da Foz, ex-presidente da CM Lisboa ou ex-eurodeputado. Era tido como o principal responsável pela única maioria absoluta do PS numas eleições legislativas, depois de ter perdido em 2005 para o PS de José Sócrates. E essa era a memória mais recente para muitos sociais-democratas. Num ano com três eleições – legislativas, autárquicas e europeias -, o nome de Pedro Santana Lopes começou a ser ouvido nos corredores da São Caetano à Lapa. Era possível que entrasse nas listas em qualquer um dos atos eleitorais. Afinal, já tinha passado por todos esses palcos e os quatro anos de governação socialista tinham servido para começar a reinventar-se. Em 2008, entrou na corrida à liderança do partido mas perdeu, ficando em terceiro lugar, atrás de Manuela Ferreira Leite e Pedro Passos Coelho. A derrota foi honrosa: a ex-ministra das Finanças ganhou com 37,9%, Passos Coelho ficou em segundo com 31% e Santana em terceiro com 30%.
Mas faltava o teste do algodão fora do partido. Depois de um habitual suspense, em que se manteve aparentemente reticente quanto à aceitação de um convite da então presidente do PSD, Santana Lopes veio mesmo a aceitar ser o candidato do partido à CM Lisboa, nas eleições autárquicas de 2009. A tarefa não era fácil. Tinha pela frente um embate com o presidente da autarquia em funções, António Costa, que tinha chegado ao cargo depois das intercalares de 2007. Avançou e voltou a perder. Mais uma vez, apesar da derrota, saiu de cabeça erguida: Costa conseguiu maioria absoluta, mas Santana Lopes ficou a apenas 15 mil votos do autarca. O método de Hondt explica.
Escreveram-se títulos anunciando a sua morte política. Previsões que vieram a revelar-se manifestamente exageradas. O ano de 2019 será prova disso mesmo. Depois de ter perdido as diretas do PSD para Rui Rio em janeiro do ano passado, rompeu com o partido em que militou durante 40 anos e surpreendeu com a criação da sua própria força política no final de 2018: o Aliança.
Santana Lopes voltará, assim, a estar na corrida às eleições legislativas. Às europeias concorrerá com Paulo de Almeida Sande, ex-assessor de Marcelo Rebelo de Sousa. A expectativa é grande e o objetivo é o de entrar nos dois parlamentos logo à primeira – o nacional e o europeu. Dois grandes testes que vão tirar as teimas sobre o real valor de Santana Lopes juntodos eleitores.
André Silva, nem vegetariano era
No dia 4 de dezembro de 2009, um grupo de seis pessoas entrava no Palácio Ratton, carregando várias caixas de cartão. No seu interior, contavam-se mais de 9500 assinaturas que serviam para formalizar junto do Tribunal Constitucional a criação de um partido cuja causa principal era a animal: o PPA – Partido Pelos Animais. Um ano depois, mudaria o seu nome para PAN – Partido Animais e Natureza. Há dez anos, o agora líder André Silva andava longe destas lides. Embora sempre tenha tido um interesse pela causa ambiental e pela causa animal, o engenheiro civil, então com 33 anos, não se tinha associado a nenhum movimento ou partido que a promovesse. Aliás, por essa época, nem sequer tinha aderido ao vegetarianismo – e muito menos ao veganismo.
André Silva estava a meio do seu mestrado e viajava de comboio pela Europa, numa espécie de interrail homemade. Foi em 2012 que ganhou interesse pela política. No ano da formalização do PAN, tornou-se vegano e aderiu ao partido. Ficou marcado como o ano da mudança na vida do único deputado do partido, que já conseguiu sentar-se à mesa das negociações do orçamento e suscitar debates que concentraram as atenções do país político e mediático, como o caso da Eutanásia.
André Silva arranca 2019 com confiança no sucesso do partido nas próximas legislativas. Quer multiplicar por dois ou por três o número de deputados e passar a ter companhia – e um grupo parlamentar.