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Nomeado como “príncipe” da América, John F. Kennedy Jr. namorou celebridades como Sarah Jessica Parker, Madonna e Daryl Hannah durante os anos 80 e início dos anos 90. No entanto, foi Carolyn Bessette, relações públicas na Calvin Klein, que lhe roubou o coração. E ambos roubaram as atenções a partir do momento em que assumiram uma relação e se tornaram num dos pares mais icónicos da década, cuja sombra terá sido sempre a dos paparazzis que os perseguiam onde quer que fossem. E apesar de um acidente de avião lhes ter tirado a vida em 1999, a memória coletiva desta relação perdura até hoje, pela trágica história de amor e pela dupla imbatível que eram na hora de vestir. E será essa mesma história que terá lugar no pequeno ecrã na próxima série spinoff do produtor Ryan Murphy do franchise American Story — o nome será óbvio, “American Love Story”, e os protagonistas claros como a água: John F. Kenney Jr. e Carolyn Bessette.
Ryan Murphy é um nome incontornável na hora de traduzir eventos e momentos marcantes e polémicos ao longo da história em guiões de séries, llevando-os aos ecrãs, como foi o caso de “The Assassination of Gianni Versace” ou “The People v. O. J. Simpson” e, brevemente, com “Impeachment”, sobre o escândalo de Monica Lewkinsky e Bill Clinton. “American Love Story” será o capítulo mais recente a juntar-se à já longa lista de séries documentais do produtor para o canal americano FX.
Na nova série, ainda sem data de estreia, o produtor vai trocar as engrenagens do horror e do crime pelas do romance, explorando assim as “histórias de amor verdadeiro que captaram a atenção do mundo”, lê-se em comunicado, citado pela Town and Country Mag. O casal de ouro da América será o primeiro a ser foco de atenção da nova série de antologia onde Ryan pretende percorrer o curto caminho de John e Carolyn, desde o namoro e casamento, passando pela invasão extrema de privacidade dos tablóides, culminando no acidente de avião que pôs fim a tudo. Ainda sem grandes detalhes, Ryan Murphy e a respetiva produção não adiantaram quem serão os atores a encarnar John Jr., também conhecido como John John, e Bessette.
“O que começou como uma bela união para o jovem casal, amplamente considerado como realeza americana, começou a desgastar-se sob o stress do microscópio implacável dos tablóides”, diz o comunicado, aqui citado pela Marie Claire. “As pressões das suas carreiras e os rumores de discórdia familiar terminaram com as suas trágicas mortes quando o seu avião particular se despenhou no oceano numa noite nebulosa de verão ao largo da costa de Massachusetts”.
Como único filho homem do presidente assassinado John F. Kennedy, Kennedy Jr. foi alvo das atenções de todos durante toda sua vida, ao contrário da sua cara metade, que foi apanhada num turbilhão de emoções desde que a relação se tornou pública. A curta vida de ambos foi suficiente para que se tornassem um casal sensação que correu as bocas do mundo.
Carolyn Bessette tinha a sofisticação típica das classes abastadas da Costa Leste dos Estados Unidos, mas a simplicidade de John não ficava atrás. O estilo icónico que ambos assumiram tornou-os num dos casais mais bem parecidos (e vestidos) da década de 1990. O minimalismo elegante de ambos fazia deles uma referência de estilo para muita gente na época e ainda hoje.
“Carolyn tinha uma elegância interior. Algo que não era desta terra de certa forma”, disse a designer Gabriela Hearst à Vanity Fair. “Os seus olhos grandes e azuis, as suas feições, o seu nariz, as suas mãos, tudo — ela era muito, muito etérea. As pessoas que a conheciam diziam que ela era muito mais bela em pessoa do que em qualquer uma das fotografias que vimos dela”. Ralph Lauren terá usado Carolyn como musa e até obteve o selo de aprovação de Anna Wintour, que comparou o seu aumento de popularidade ao da Princesa Diana, dizendo: “Carolyn tem um estilo moderno fabuloso”.
A nostalgia da moda dos anos 90 continua a não mostrar sinais de declínio, e faz com que todos olhem para os maiores ícones de estilo da época — e nenhum era mais profícuo que Carolyn Bessette-Kennedy, a que se juntou depois John, que até de fato e gravata com boné conseguiu parecer elegante. Nos anos em que os holofotes estavam neste casal, estilo de rua sem esforço tornou-se palavra de ordem para o minimalismo do virar do século e estabeleceu padrões de tendências para os editores de moda dos tempos modernos.
O começo de um romance visto à lupa
Na biografia “America’s Reluctant Prince: The Life of John F. Kennedy Jr.”, Steven M. Gillon, autor, historiador e amigo de JFK Jr., conta que Bessette já tinha o olhar posto sobre John muito antes dos seus caminhos se cruzarem. Há vários relatos sobre a primeira vez em que estes dois terão cruzado olhares. Uns dizem ter sido durante uma corrida no Central Park, em 1990, outros num evento de alta sociedade em 1994, e até há quem diga que o casal já tinha namorado antes de assumir oficialmente a relação precisamente em 1994.
Gustavo Paredes, um amigo do casal e filho da assistente pessoal de Jackie, Providencia Paredes, disse à People em 2014 que os dois se conheceram no showroom Calvin Klein em 1994, quando Carolyn era relações públicas da casa de moda. Segundo Paredes, John convidou Carolyn para sair, mas ela recusou por várias vezes. “Ela não achava que ele estava a falar a sério. Ele não podia acreditar que ela o recusou. Isso nunca tinha acontecido antes”, disse. “Ele continuou a descobrir uma forma de continuar a voltar ao showroom da marca para mais reuniões de negócios e mais acessórios.”
O que é certo é que nesse ano, a coisa deu-se. Também RoseMarie Terenzio, assistente pessoal de John, no seu livro “Fairy Tale Interrupted: A Memoir of Life, Love, and Loss” recorda esse início de romance. “Eu sabia que Carolyn estava a tornar-se uma parte importante da sua vida porque sempre que ela telefonava para o escritório, ele atendia sempre a chamada”, escreveu.
Quando as notícias da relação chegaram às manchetes dos jornais, o estatuto de “It Couple” de John e Carolyn foi rapidamente cimentado, e Carolyn tornou-se uma das mulheres mais famosas dos Estados Unidos. “Carolyn não era a sombra de John; ela era a sua igual”, diz Terenzio, citada pela Marie Claire.
Calvin Klein e George: o romance e as carreiras
Depois da faculdade, Bessette trabalhou como vendedora na boutique Calvin Klein de Boston e em 1989 acabou por ir para Nova Iorque para integrar o departamento de relações públicas da marca — durante o dia ajudava a vestir pessoas como Blaine Trump, Nan Kempner e Diane Sawyer. E à noite fazia o seu papel de mediadora sobretudo na cena dos clubes noturnos da cidade, já com alta sociedade envolvida. E assim continuou, até já depois de conhecer John assumindo-se como uma mulher independente da figura que JFK Jr. representava na altura.
Já John, depois de se ter formado em Direito e ter trabalhado como assistente de procurador em Nova Iorque, acabou por entrar no jornalismo. Em setembro de 1995, John F. Kennedy Jr. e o seu amigo e sócio Michael Berman fundaram e editaram uma revista revolucionária chamada George, que fazia cobertura política como se fosse cultura pop, e que acabou por marcar uma era pela irreverência das suas capas.
Para o número de lançamento, chamaram Cindy Crawford para se vestir de George Washington, uma fotografia de Herb Ritts que faria depois a primeira capa da George. Entre ideias mirabolantes e extravagância desmesurada, certa vez John pediu a Madonna para se vestir de sua mãe, Jacqueline Kennedy Onassis, convite que a rainha da pop recusou escrevendo-lhe um fax com a seguinte mensagem: “Querido Johnny Boy, obrigado por me pedires para ser tua mãe, mas receio nunca ter conseguido fazer-lhe justiça. As minhas sobrancelhas não são suficientemente espessas, por exemplo”, cita a Esquire.
Depois do pedido recusado, veio Drew Barrymore encarnar uma mulher bem conhecida da vida do pai e antigo presidente dos EUA: Marilyn Monroe. A chamada de capa foi, inevitavelmente, “Feliz Aniversário, Sr. Presidente”, desta vez para assinalar o aniversário de Bill Clinton mas numa clara referência à serenata de Monroe a JFK.
Mediatismo — a nódoa da relação
Em 1995, a relações públicas mudou-se para a casa de John, em Tribeca, Nova Iorque. A partir dessa altura, os paparazzi começaram a ficar obcecados em apanhar cada movimento do casal, muitos deles são hoje fotografias icónicas de atividades quotidianas como passear o cão ou dar um passeio a dois. Imagens que iam alimentando todo um público que estava de olhos postos naquele estilo elegante effortless que ambos envergavam — dos ténis Nike de Carolyn aos muitos gorros e boinas de John.
E esta constante presença de fotógrafos acabou por ser um aspeto desafiante da relação para Bessette. Enquanto que John estava habituado ao escrutínio, Carolyn nem tanto. Nas páginas dos tablóides da cidade, durante esses curtos anos de casamento, Carolyn era uma novela diária nas capas de jornais e revistas numa cobertura obsessiva que oscilava entre elogios e críticas. Muitas manchetes chamavam-lhe “princesa do gelo” ou diziam que não era “suficientemente boa” para o herdeiro Kennedy.
Nem tudo foram rosas e um dos momentos mais infames do casal ficou registado em imagens e até vídeo — aqui divulgado pelo Daily Motion —, até porque aconteceu no meio da rua. O momento foi depois apelidado de “Fight in the Park” por ter decorrido no Washington Square Park, em Nova Iorque, à vista de todos durante um passeio com o cão. A discussão foi feroz e durou algum tempo, com o casal a berrar um para o outro, sem se preocuparem com os olhares à sua volta, e Kennedy terá alegadamente tirado o anel de noivado a Carolyn. O arrufo continuou até à porta do apartamento de ambos onde, antes da reconciliação também acompanhada pelos fotógrafos, Carolyn pede a John para lhe devolver o que lhe tirou.
Apesar de toda a atenção mediática conseguiram manter o casamento longe do olhar público, com manobras dignas de distração dignas de filme. Quando regressaram à Big Apple John terá já apresentado Carolyn como sua mulher e pediu alguma privacidade aos paparazzis para que a companheira se pudesse adaptar aos novos tempos de casada.
O casamento top secret
A cerimónia aconteceu a 21 de setembro de 1996, na costa da Geórgia na ilha de Cumberland. Mas o secretismo e a privacidade com que tudo decorreu gerou ainda mais burburinho e curiosidade à volta deste casal.
A ilha tinha apenas um hotel, o Greyfield Inn, que ficou todo reservado para assinalar a data. Devido às restrições de espaço e também ao desejo do par em manter o evento fora dos olhares indiscretos, os amigos que ambos achavam que não conseguiam manter um segredo foram simplesmente cortados da lista de convidados, garante a InStyle. O próprio John convidou apenas um representante de cada ramo da sua extensa família. Cada convidado foi presenteado com uma moeda com uma figura de um índio para servir de prova de que eram convidados reais e não intrusos. Para despistar a imprensa, até itinerários falsos foram criados para dar a ideia de que o casal estaria na Irlanda nesse fim de semana.
A First African Baptist era mais uma capela que uma igreja e foi aqui, neste espaço pequeno e intimista construído em 1893 pelos e antigos escravos e inutilizada durante décadas, que John John e Caroyln deram o nó. Foi também nesse cenário que surgiu a primeira das raríssimas fotos da cerimónia, com os dois a saírem da capela, felizes.
Como uma verdadeira it girl daquela altura, um dos looks mais icónicos de Carolyn foi, sem dúvida, o do seu casamento. O vestido de noiva moderno, fluído e colado ao corpo, diferente de muitos dos que se viam naquele tempo acabou por ficar eternizado por ter rompido com a escolha tradicional.
A peça foi criada pelo designer Narciso Rodriguez, também amigo chegado de Carolyn. “É muito sedutor para um vestido de noiva, não acha? Mostra a personalidade de Carolyn: limpa, clássica, sexy, sedutora”, disse o designer que à data ainda não tinha nome sonante na praça. A sua simplicidade no dia de dar o nó marcou um afastamento dos volumosos vestidos de princesa da época e solidificou uma tendência emergente: o vestido de noiva slip-style.
Os sinais de desgaste de um casamento aparentemente perfeito
O romance e toda a pressão exercida nestes dois puseram em causa o casamento, que em 1999 começou a dar sinais de conflito e surgiam até rumores de um possível divórcio.
Alguma dessa tensão terá decorrido de dilemas como ter ou não filhos, mas também do cenário duro para o casal decorrente de momentos difíceis no seio do clã — na altura, Anthony Radziwill, primo de John, havia sido diagnosticado com cancro. À Vanity Fair, Carole Radziwill, mulher de Anthony, disse acreditar que parte do stress do casamento vinha precisamente da situação que o marido enfrentava, antes de morrer em agosto de 1999 já depois do desastre de avião que vitimou o casal.
“A razão para esse stress teve sobretudo a ver com o facto de o meu marido estar a morrer, e foi difícil para John aceitar isso”, disse. “Carolyn tinha uma empatia natural… Ela não só ajudou a guiar-me através de uma série de centenas de visitas médicas e visitas hospitalares, mas também ajudou o John a perceber que Anthony não ia conseguir, que ele não ia ser capaz de fazer este milagre que John tanto esperava.”
O estatuto de casal de ouro começa assim a ser posto em causa no verão de 99, quando John e Carolyn se veem numa encruzilhada, ambos centrados na sua carreira e a lidar com os primeiros anos de casamento.
“Este foi o momento”, diz Matt Berman, diretor criativo da George e amigo íntimo do casal, citado pela Town and Country Mag. “A George tinha de ser revista e pensada; e o seu primo estava a morrer. Talvez a Carolyn tenha de decidir como quer viver a sua vida. Será que ela quer trabalhar? Será que ela quer ter filhos? Será que ela quer liderar instituições de caridade? Aqui estavam eles num momento de mudança total, e foi quando o acidente aconteceu”, disse.
O fim chegou e foi mais uma acha na fogueira Kennedy
O dia 16 de julho de 1999 seria o último dia deste casamento e também o último dia com vida deste casal. John F. Kennedy Jr.,, de 38 anos, Carolyn, de 33, e a sua irmã, Lauren Bessette, 34, morreram num trágico acidente de avião, com Kennedy a pilotar o monomotor. Segundo relatos da imprensa na época, os três seguiam para o casamento da prima de John, Rory Kennedy.
O aparelho saiu do aeroporto Essex County em Nova Jérsia por volta das 20h38 locais e seria suposto aterrar às 22h em Martha’s Vineyard. Por volta das 21h40, o radar perde o sinal do avião que nunca chegou a aterrar no destino. As horas seguintes foram de pânico, sem ninguém saber onde poderia estar a aeronave que só chegou a estar 62 minutos no ar antes de cair, segundo uma cronologia do Washington Post.
As buscas decorreram até ao dia 20, quando encontraram a fuselagem do avião, sendo que só no dia seguinte é que os corpos dos três foram recuperados. No dia 22, nas cerimónias fúnebres, levaram as cinzas de JFK Jr., Carolyn e da sua irmã para serem atiradas ao mar ao largo de Martha’s Vineyard, a cerca de três milhas do local onde os corpos foram recuperados.
John conseguiu dedicar-se ao seu hobby, que era pilotar, e tirou uma licença de piloto definitiva em 1998 — mesmo depois da sua mãe, Jackie Kennedy, lhe ter pedido para se manter longe da prática tendo em conta os desastres com aviões que já faziam parte do histórico da família.
Naquele dia, entraram para a lista dos desastres da família Kennedy, sobretudo no que toca a acidentes aéreos. Isto porque antes de John, também Joseph P. Kennedy Jr. morreu na 2.ª Guerra Mundial enquanto pilotava um avião de guerra, em 1944, e em 1948, Kathleen ‘Kick’ Kennedy morre também num desastre de avião que se despenhou e vitimou todos os passageiros. Em 1964, Ted Kennedy sobreviveu, apesar das graves lesões, também na sequência de um acidente de avião.
E o mais recente foi mesmo John F. Kennedy Jr. e a sua incontornável companheira Carolyn Bessette. “John e Carolyn eram incrivelmente únicos. Eram um casal caloroso e amoroso que lidou com a sua fama com humildade e graça”, escreveu RoseMarie Terenzio.