Foi originalmente publicado em 2007, mas surge agora numa edição portuguesa, com carimbo da D. Quixote. Trata-se de “Decisões Fatais”, livro de Ian Kershaw (historiador, professor e escritor britânico que estás prestes a cumprir 81 anos, um dos nomes fundamentais da historiografia do século XX) que tem no subtítulo a explicação sumária e necessária para que entendamos ao que vem: “Dez decisões que mudaram o mundo 1940-1941”.
Estamos em plena II Guerra Mundial. Na Europa, a Alemanha Nazi e forças associadas ameaçam tomar conta de todo o continente, através da eficácia de uma guerra relâmpago aparentemente imparável (à parte a resistência britânica). No pacífico, o Japão segue uma política bélica que ainda está por revelar todas as intenções e capacidades. Entre estes dois anos, 1940 e 41, definem-se os rumos e as estratégias, as vitórias e as derrotas futuras, tudo com base — crê o autor — em, dez decisões fundamentais.
É uma destas dez decisões que aqui recordamos neste excerto do capítulo VI: Estaline decide confiar em Hitler. Os ministros dos Negócios Estrangeiros da Alemanha e da União Soviética assinam um pacto de não agressão em 1939. Mas quais as razões? E quais as consequências, manifestadas daí a muito pouco tempo? O livro chega às livrarias a 30 de maio.
A escala da catástrofe não tinha precedente histórico. E ela seguira-se ao que ainda hoje se destaca como um dos mais extraordinários erros de cálculo de todos os tempos. Estaline tirara repetidamente conclusões erradas sobre as intenções alemãs, e fê-lo até à própria véspera da invasão. As tentativas de satisfazer as exigências económicas alemãs persistiram até ao fim. Os alertas vindos de todos os lados foram ignorados. Os que tentavam avançar argumentos em contrário eram tratados com desprezo. Estaline insistia: sabia como Hitler pensava. O ditador alemão atacaria; mas não já. A grande prioridade de Hitler, assegurava ele, era a exploração económica da URSS. A insistência no apaziguamento económico assentava neste desastroso mal-entendido. Com assuntos por resolver a ocidente, a prioridade inicial de Hitler seria a submissão soviética, e não a guerra total. Isto seria benéfico para a problemática economia alemã, e colocaria mais pressão a ocidente. Entretanto, o rearmamento soviético continuaria a um ritmo furioso. Se houvesse negociações de paz, a União Soviética teria de participar, e em posição de força. Mesmo enquanto os sinais de perigo aumentavam, Estaline continuou confiante em que conseguiria adiar o conflito para além da primavera e do verão de 1941; nessa altura, seria tarde demais para uma invasão. E em 1942, a União Soviética estaria pronta para Hitler. Era esta, mais ou menos, a linha de raciocínio de Estaline. A convicção de que tinha razão, e de que todas as advertências em contrário eram desinformação ou leituras desgraçadamente erróneas da situação, tornou-se cada vez mais firme. A combinação de medo, subserviência e admiração que caracterizava a autocracia do ditador soviético traduzia-se em que dificilmente se poderia propor alternativas sérias, e muito menos adotá-las. Mas que alternativas poderiam ter sido essas? Que opções havia para evitar a calamidade?
Molotov, que foi o braço-direito de Estaline o tempo todo, defendeu insistentemente que todos os erros cometidos eram inevitáveis. Khrushchev, ao contrário, criticou os erros de cálculo e de liderança de Estaline no seu ataque ao ditador falecido, em 1956, atribuindo-os a ações arbitrárias de um só homem que acumulara poder absoluto. Esta forte personalização da responsabilidade era muito conveniente para ilibar aqueles que – sem exclusão do próprio Khrushchev – tinham aplaudido Estaline e apoiado as suas políticas. Também servia para passar uma esponja sobre muitas das chefias militares – cujas insuficiências não podem, porém, ser atribuídas inteiramente a Estaline. Estudos mais recentes vêm confirmando esta asserção. Ainda assim, o veredicto condenatório de Khrushchev continua a merecer grande acolhimento. Raramente se analisa que opções realistas tinha Estaline perante si. E, no entanto, uma autoridade proeminente, que submeteu os factos a um escrutínio meticuloso, concluiu que “o falhanço de Estaline na preparação para a ofensiva alemã reflete em primeira instância as opções políticas pouco apetecíveis que a União Soviética defrontava antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial”, e acrescentando que “mesmo em retrospetiva, é difícil vislumbrar alternativas que poderia Estaline ter explorado com segurança”.
O que parece evidente é que, quaisquer que fossem as opções que Estaline pudesse ter tido, elas reduziram-se acentuadamente com o tempo. As decisões iniciais, e o raciocínio que a elas presidia, tinham-se traduzido necessariamente em que na véspera da invasão alemã o seu espaço de manobra se tivesse reduzido grandemente. Mas alguns anos antes disso, Estaline tivera as mãos relativamente livres. E foi então que cometeu um erro catastrófico que limitou as opções futuras.
Sem qualquer pressão externa, instigou, em 1937, e como vimos antes, a destruição das chefias do Exército, com consequências incomensuravelmente prejudiciais para a reconstrução de uma força militar profissionalizada capaz de opor-se ao perigo rapidamente crescente da Alemanha de Hitler. Para além dos fantasmas nas mentes de Estaline e seus acólitos, as purgas carecem de qualquer justificação racional. Eram absolutamente desnecessárias. Estaline não estava obrigado a realizar as purgas; foi ele que escolheu essa opção. Mas elas não causaram apenas danos incalculáveis à futura construção do poderio militar soviético; também instilaram em Hitler e nos seus conselheiros a ideia indelével da fraqueza do Exército Vermelho. Para Hitler, essa própria fraqueza era um convite a atacar antes que pudesse ser reconstruída uma poderosa máquina militar. Aos olhos de Hitler, portanto, as purgas de Estaline abriram uma oportunidade. Achava que Estaline devia estar louco. Já em 1937 comentara que “A Rússia não conhece nada senão o bolchevismo. É esse o perigo que havemos de ter de derrubar em algum momento”. Ao escolher destruir as chefias do seu Exército, Estaline removeu o que poderia ter sido a mais importante espinha dorsal de poderio em data posterior, quando a crise eclodiu. Em 1940 e 1941 foi feito um esforço enorme num programa apressado de rearmamento e militarização, mas já se perdera demasiado terreno, e o programa não podia ser concluído antes de a ameaça alemã se tornar assoberbante. O facto de Estaline ter deixado a si próprio um espaço militar de manobra demasiado estreito é atribuível em larga medida, portanto, à escolha que fez em 1937-8 de minar a sua própria capacidade militar. E isto na exata altura em que a Europa era abalada pela incorporação alemã da Áustria e de grande parte da Checoslováquia, com a cumplicidade das pusilânimes democracias ocidentais.
Em 1939, com a guerra a espreitar a Europa, Estaline via-se perante uma segunda e altamente indesejável opção. Deveria aliar-se com as democracias ocidentais, em relação às quais nutria profunda desconfiança, ou com a Alemanha nazi, o arqui-inimigo ideológico? Isto viria a transformar-se, na realidade, numa decisão fatal. Já analisámos o raciocínio plausível que levou Estaline, em agosto de 1939, a optar por um pacto com Hitler. Grã-Bretanha e França tinha demonstrado pouca apetência para uma aliança com a União Soviética. Estaline e outros líderes soviéticos consideravam que as motivações ocidentais eram pouco menos cínicas do que as de Hitler. Ao menos o pacto com a Alemanha proporcionaria algum espaço para respirar. E salvaguardava a perspetiva de a Alemanha e as potências ocidentais se guerrearem até um impasse, para benefício último da União Soviética.
Que consequências teriam resultado da improvável junção de forças com o Ocidente só pode ser matéria de especulação contra factual. A ofensiva de Hitler contra a Polónia teria sido mais arriscada nessa eventualidade. E as altas esferas na Alemanha, receosas das consequências do envolvimento numa guerra europeia generalizada contra inimigos poderosos, ver-se-iam fortalecidas. Hitler adiou a mobilização contra a Polónia uma vez, à última hora, e poderia ter sido ainda dissuadido caso se visse perante uma tripla aliança de URSS e potências ocidentais, uma reedição da aliança antigermânica de 1914.
Mas também poderia ter avançado de qualquer forma e invadido a Polónia. Em tais circunstâncias, a União Soviética também se teria abstido muito provavelmente de entrar em conflito direto, mas teria visto nessa Alemanha de após a vitória na Polónia não um aliado, mas um inimigo às portas do país. Talvez então a ofensiva alemã contra a União Soviética tivesse ocorrido mais cedo do que realmente aconteceu. Por outro lado, a grande ofensiva ocidental de Hitler na primavera de 1940 (que abalou seriamente os cálculos de Estaline) teria sido bem mais arriscada com uma União Soviética hostil posicionada a leste. Quem sabe qual teria sido o resultado? Mas o jogo de adivinhação é fútil. As variáveis da equação são simplesmente demasiadas para que a especulação possa ser frutífera.
O que parece, de facto, evidente, porém, é que Estaline estava demasiado cego pelos seus preconceitos ideológicos para permitir que a União Soviética desempenhasse mais do que um papel passivo nas conversações com o Ocidente no verão de 1939. Dava-se seguramente o caso de Grã-Bretanha e França pouco fazerem durante esses meses para viabilizarem a “grande aliança” que poderia ter sido a derradeira esperança de travar Hitler. Pouco interesse tinham em juntar forças com a União Soviética, que detestavam e de que suspeitavam. As negociações realizadas enquanto a guerra se aproximava foram previsivelmente morosas. Mas a União Soviética também estava encerrada na passividade. Uma diplomacia mais urgente e determinada da parte de Estaline poderia realisticamente ter aberto caminho, apesar das hesitações britânicas e francesas, para uma nova tripla aliança com o Ocidente. No mínimo, teria dado a Hitler e às elites de poder alemãs motivo para pensar. No entanto, Estaline contentou-se em deixar as negociações com as democracias ocidentais arrastar-se enquanto as nuvens de guerra se acastelavam ameaçadoramente. O resultado foi que essa inação de parte dos soviéticos, e não apenas de parte dos ocidentais, acabou por empurrar a decisão para aquilo que fazia mais sentido em termos da segurança da URSS nesse momento: o pacto com a Alemanha de Hitler.
Estaline viu nesse pacto um grande golpe diplomático soviético. Mas, na prática, ele funcionava mais em benefício da Alemanha do que da União Soviética. É verdade que a URSS pôde alargar as suas fronteiras defensivas para oeste mediante ganhos territoriais. E a eliminação da ameaça imediata da Alemanha conseguia tempo para reconstruir o Exército Vermelho e preparar as defesas. Obviamente, porém, o tempo foi insuficiente. A reconstrução foi lacunar e inadequada. E também os alemães ganharam tempo para se aprontarem, não apenas militarmente, mas também em termos de peso diplomático. Durante o ano de 1940, depois de a vitória alemã sobre a França ter alterado completamente o equilíbrio de poder na Europa, Hitler pôde exercer influência sempre crescente sobre os países da bacia do Danúbio. O domínio alemão na Roménia, em particular, e as vãs tentativas de Estaline e Molotov para evitar que os Balcãs, a Norte, e a Finlândia caíssem na órbita alemã, levaram a esse acréscimo de tensões tão visíveis aquando da visita de Molotov a Berlim em novembro de 1940. A aventura de Mussolini nos Balcãs tinha, entretanto, agravado ainda mais a desestabilização da região. E na primavera seguinte, a intervenção alemã na Jugoslávia e na Grécia afastou a derradeira esperança de influência soviética no Sudeste da Europa (além de ter contribuído para ocultar a “Operação Barbarossa”, pois deixara de fazer grande sentido para Estaline que Hitler atacasse a leste nesse mesmo ano, imediatamente depois das suas conquistas nos Balcãs). A União Soviética ficava agora completamente isolada. A Turquia, portal de acesso ao mar Negro, mantinha-se neutral, embora numa posição relativamente favorável à Grã-Bretanha. A oeste, por outro lado, a URSS estava mais ou menos cercada por países sob influência alemã. O pacto tinha proporcionado à União Soviética vantagens de curto prazo, mas enquanto ele vigorou, a ameaça alemã aumentara grande mente. Que Estaline tenha feito a melhor escolha em 1939 pode, portanto, ser justamente questionado.
Entre agosto de 1939 e junho de 1941, a política de Estaline consistiu, como vimos, em rearmar-se consistentemente e a toda a velocidade, do mesmo passo que apaziguava tanto quanto possível a Alemanha. Não era tão ingénuo que acreditasse que o conflito com a Alemanha fosse evitável. Tinha lido e meditado sobre as passagens de Mein Kampf que defendiam a conquista de “espaço vital” a leste. Mas julgava que poderia adiar o confronto até 1942, e acreditava que conseguia “ler” as intenções de Hitler: submeter politicamente a União Soviética até chegar a um entendimento com a Grã-Bretanha, e só depois virar a agressão para leste. Estaline julgava que Hitler agiria com a mesma racionalidade fria e brutal de que ele próprio seria capaz. Na certeza de que Hitler emitiria um ultimato antes de qualquer ofensiva (um logro alemão que Estaline engoliu), sentia-se confiante em que conseguiria ganhar tempo. Entretanto, era preciso evitar a menor provocação. Isto era duplamente importante, do ponto de vista de Estaline, já que a União Soviética continuava perante uma outra ameaça, ainda que menor – a do Japão, no lado oriental. Mas isso tornou-o excessivamente prudente. Haveria alguma alternativa a esta política?
A política de Estaline de evitar a guerra a todo o custo foi for temente criticada, muitos anos mais tarde, pelo marechal Alexandre Mikhailovich Vasilevsky, vice-chefe da administração operacional do Estado-Maior-General em 1941, e de 1942 a 1945 chefe do Estado-Maior-General e comissário-adjunto para a Defesa. Vasilevsky defendeu que:
Estaline não vislumbrou o limite para além do qual essa linha se tornava, não só desnecessária, como perigosa. Esse limite deveria ter sido corretamente identificado, e as forças armadas conduzidas a prontidão de combate com a máxima velocidade possível, a mobilização acelerada, e todo o país convertido num campo de batalha. Enquanto procurava adiar o conflito armado, deveria ter sido empreendido e completado mais cedo todo o trabalho clandestino possível. Havia indícios mais do que suficientes de que a Alemanha planeava uma ofensiva militar contra o nosso país (…) Tínhamos chegado, devido a circunstâncias fora do nosso controlo, ao Rubicão da guerra, e era necessária a determinação de dar um passo em frente.
O rearmamento e a militarização estavam, na realidade e como vimos, em curso e a um ritmo frenético durante 1940 e 1941. Mas Vasilevsky era perentório em que deveria ter sido feito mais: mobilização precoce e total das forças armadas para prontidão de combate. O corolário desta afirmação é que a política de não-provocação ter-se-ia tornado altamente perigosa, e que a mobilização total deveria ter sido feita nessa altura. Era necessário aceitar o risco de a ofensiva alemã surgir mais cedo, mas teria valido a pena correr tal risco. Como os conselheiros de Estaline bem sabiam, o momento mais precoce em que os alemães poderiam ter invadido era, afinal, aquele em que invadiram, a primavera de 1941. O pior que a “provocação” poderia ter conseguido era, por outras palavras, exatamente o que aconteceu de qualquer forma (e apesar de Estaline ter querido evitar aquilo que durante muito tempo pensou ser, não necessariamente guerra total, mas uma iniciativa limitada dos alemães visando a conquista de territórios fronteiriços e maior dependência económica).
Sabiam, além disso, que no verão de 1940 os líderes japoneses tinham optado pelo avanço para sul. Uma ofensiva japonesa vinda de oriente era, portanto, uma hipótese praticamente posta de parte. Em vez de permitir que os alemães se reforçassem sem contestação ao longo de tantos meses, é, portanto, provável que uma exibição dissuasora tivesse sido bem-sucedida no adiamento da ofensiva para além dos preciosos meses do verão de 1941. Acresce que a proclamação de poderio soviético teria contrariado a imagem de debilidade do Exército Vermelho prevalecente na liderança alemã. Ao invés, Estaline, petrificado com a ideia de proporcionar o menor pretexto, permitiu frequentes voos de reconhecimento, que fotografaram em pormenor as instalações militares e o posicionamento das tropas soviéticas, indícios que “confirmavam a impressão de que a Wehrmacht irromperia através das fileiras do Exército Vermelho”. Estaline encontrava-se, sem dúvida, numa posição nada invejável. Mas a escolha da não-provocação em relação à dissuasão foi outra decisão fatal.
Em junho de 1941, já as opções se tinham reduzido drasticamente. Zhukov reconheceria mais tarde que tinha sido correta a rejeição por Estaline do plano de 15 de maio de 1941 de uma ofensiva preventiva. Seguir esse plano seria arriscar um desastre ainda pior. Naquelas circunstâncias, as defesas fronteiriças estavam demasiado dispersas, as divisões mal destacadas, e as fortificações inacabadas. Para agravar o problema, o planeamento militar de 1940 e 1941 previra que a principal frente de ataque alemã viesse do Sul da Polónia, pelo sul dos pântanos de Pripiat. E era aí que estava concentrado o grosso das forças soviéticas em junho de 1941. Mas, inteiramente ao contrário do que o comando do Exército Vermelho previra, o ímpeto esmagador alemão, quando chegou, veio pela área central da frente, a norte dos pântanos de Pripiat, na direção de Minsk, Smolensk e Moscovo. Coletivamente, e depois com a concordância de Estaline, as chefias militares soviéticas optaram desastrosamente pela opção errada.
Em última análise, a responsabilidade dos erros cabe a um sistema de governação altamente personalizado. “Estaline era a maior autoridade para todos nós, e nunca ocorreu a ninguém questionar a sua opinião e avaliação da situação”, comentaria Zhukov mais tarde. Num clima de medo e bajulação, onde as fobias paranoicas, o sentimento de infalibilidade, os limitados conhecimentos militares e a imprevisibilidade implacável de um único indivíduo se haviam tornado elementos estruturais do sistema soviético, não podia haver emenda para as preferências de Estaline. A reverência era endémica a todos os níveis. O Politburo era seguidista. Os militares não eram, em geral, muito diferentes, e quem quer que colocasse reservas era repreendido e submetido.
A recusa do ditador soviético de aceder às reivindicações das chefias militares, ainda uma semana antes da invasão, de que fossem colocadas tropas em prontidão em melhores posições defensivas é sintomática de um sistema de que a racionalidade fora excluída.
As obscenidades desesperadas proferidas dias antes da invasão são fáceis de compreender. Refletiam o sentimento de que a liderança soviética, coletivamente, e ele, pessoalmente, tinham feito um erro de cálculo calamitoso. Feitas as contas, e independentemente de todos os equívocos e ilusões pessoais, as suas opções poderiam ser resumidas a uma escolha simples: deveria fazer tudo o que fosse imaginável para preparar a União Soviética para uma guerra com a Alemanha (possibilidade objetivamente impossível de afastar), ou persistir na crença (e nos riscos correspondentes) de que o conflito podia ser adiado até 1942? Ou, colocando a questão de outra forma, preferia Estaline trabalhar na base de um cenário de “melhor-caso ou pior-caso”. A resposta é óbvia. Era, realmente, uma decisão fatal. E, no entanto, o caminho para essa decisão tinha sido tudo menos a direito. Mesmo a esta distância, é impossível ter uma certeza sobre qual teria sido a viragem mais proveitosa nas encruzilhadas decisivas. O que podemos ver claramente é que as decisões que Estaline tomou convidavam ao desastre. Já a espantosa recuperação desse desastre é outra história diferente.