Tem nome de rockstar, mas trabalha num laboratório de investigação em realidade aumentada onde está a desenvolver uma aplicação que promete revolucionar o sistema de manutenção da Airbus. Johnny Cartucho é aluno de doutoramento na Universidade de Loughborough, que tem o maior campus no Reino Unido, perto de Nottingham. Conversamos acerca da sua visão sobre o futuro com Realidade Aumentada, que pode demorar menos de 15 anos a tornar-se “normal” no dia a dia.
Apaixonado por app design, tem investido bastante no desenvolvimento de ferramentas que possam estimular a autodisciplina nos alunos e nas pessoas, em geral. Há uns anos, para deixar o hábito de roer unhas, criou um botão no smartphone onde tocava de cada vez que levava o dedo a boca. Ao tocar no ecrã, eram retirados 10 cêntimos da sua conta para a de um colega. Ao fim de uma semana, Johnny tinha perdido alguns euros e isso ajudou a combater o vício. Atualmente está a desenvolver uma app que pretende disciplinar o tempo de sono através do agendamento das horas de entrar e sair da cama. Sob o lema “you snooze, you loose”, sempre que o smartphone despertar e continuar na cama, vai perder dinheiro. Com o design já concluído, falta apenas escrever as linhas de código.
Esta paixão pela programação começou cedo, em casa, quando passava horas sozinho no computador. Johnny defende que o grande valor foi ter estado sozinho a explorar a internet antes das redes sociais. Filho de pai algarvio e mãe canadiana, Johnny Cartucho estudou na Escola Internacional do Algarve, onde durante as aulas de informática se divertia a editar conteúdos em páginas da Wikipédia.
O jovem investigador defende que o código é a barreira a ultrapassar para que todos possam compreender o futuro. Não temos de ser todos profissionais de programação, mas “é essencial aprender a pensar numa lógica semelhante aos computadores.”
Antes da Covid-19 chegava ao laboratório pelas 9h00, depois de um breve período de meditação matinal usando a app Waking Up. O dia é passado entre artigos de pesquisa sobre o cutting edge da Realidade Aumentada e os projetos que está a desenvolver, com o foco em aumentar a eficácia de ferramentas de RA no domínio da transferência de conhecimento industrial. No final do dia, trabalha nos seus projetos de desenvolvimento de apps.
Durante a universidade tinha problemas em focar-se nos estudos e resolveu desenhar uma app chamada Tiger Time para o ajudar, no último ano do curso. “A Tiger Time e o Santander deram-me a oportunidade de participar na European Innovation Academy, onde pude desenvolver a app e criar uma startup,” conta Johnny. Uma experiência que lhe mudou completamente o rumo, dando-lhe pela primeira vez a oportunidade de formar uma equipa e viver no mundo dos startups.
“A European Innovation Academy deixou-me com uma impressão muito forte sobre o destino a seguir”, referindo-se às áreas de pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias.
A European Innovation Academy é um dos vários projetos de Empreendedorismo e Empregabilidade apoiados pelo Santander. Trata-se do maior programa universitário de aceleração na área da inovação digital. Em 2019, a terceira edição do evento teve lugar no Centro de Congressos do Estoril, congregando 500 estudantes de 60 países que ao longo de duas semanas se dedicaram à criação e desenvolvimento de startups. Entre os 10 projetos apurados, com maior potencial de impacto na sociedade, seis integravam estudantes portugueses.
Depois do sucesso na European Inovation Academy, Johnny Cartucho participou no Lisbon Challenge, a maior aceleradora de startups em Portugal, abrindo caminho para o trabalho de pesquisa e desenvolvimento sobre Realidade Aumentada que está a desenvolver com a Airbus, no Reino Unido.
Johnny Cartucho não tem dúvidas em afirmar que “os smartglasses são o próximo smartphone”. A Realidade Aumentada possibilita interações com objetos virtuais 3D, integrados no mundo real. Em 10 anos os estudantes irão trazer para a escola os seus smartglasses de realidade aumentada pessoais.
Por exemplo, conta-nos que um estudante de química pode ter um kit verdadeiro de copos de precipitação à sua frente, mas todos os químicos e líquidos são virtuais. Usando uma combinação de realidade aumentada e inteligência artificial, irá ser possível fazer download da aula mais popular do mundo em radioatividade ao nível de um liceu, criada por professores em Cambridge.
Como é viver num mundo onde temos a capacidade de editar a nossa perceção da realidade visual? Esta é a questão de um milhão de dólares para Johnny Cartucho, que imagina “uma nova geração de apps com a capacidade de melhorar ou eliminar os nossos comportamentos negativos, utilizando inteligência artificial e smartglasses.”
O percurso exemplar de Johnny Cartucho diz bem da importância da escola nos processos de desenvolvimento e aprendizagem, tema da primeira Conversa Solta, em ambiente virtual, intitulada: A melhor Escola do Mundo – É a que se abre ao Futuro.
“Hoje Conversas. Amanhã és Pro” é o mote da iniciativa que reúne o Santander e o Observador para levar até si uma série de conversas sobre o tema da Educação. E desta vez “levar até si” ganha pleno significado, uma vez que as medidas de isolamento social tornaram obrigatória a realização do encontro em ambiente virtual. O primeiro aconteceu na terça-feira e juntou Daniel Traça, Dean da Nova School of Business & Economics, Carolina Almeida Cruz, consultora na Mercer e fundadora da ONG Sapana, Paulo Gonçalves, Diretor de Comunicação do Grupo Porto Editora e a jornalista Laurinda Alves.
Todos juntos, mas em casa, partilharam experiências e opiniões, estimulando a reflexão sobre o ensino em tempo de pandemia e, sobretudo, no período a seguir, quando a crise passar. Num registo simples e informal, os convidados envolveram a audiência online através das redes sociais, atraindo o público para o debate sobre o futuro da educação – que pode ver aqui -, enquadrado nas “Conversas Soltas” do Santander, em parceria com o Observador, sob o lema “Hoje Conversas. Amanhã és Pro”.
A conversa “A melhor Escola do Mundo – É a que se abre ao Futuro” é para ver na íntegra
Uma crise acelerada
“Tivemos de mudar tudo para o online em 48 horas”, salientou Daniel Traça quando descreveu o processo de adaptação que teve de coordenar em tempo recorde na Nova SBE. No dia 12 de março, entre a confirmação do primeiro caso de Covid-19 e o fecho do campus passaram apenas duas horas. Foi preciso manter a união, comunicar com abundância e partilhar aprendizagens pois todos as professores tiveram de passar rapidamente para um modelo virtual.
O diretor da Nova SBE apontou três fases-chave na gestão da crise provocada pela pandemia: mudança, estabilização e exploração das novas oportunidades.
A mudança para o digital tem resistências naturais, quer de professores quer de alunos, mas já está a acontecer. Mais depressa do que alguns tinham pensado, porventura, mas o professor não tem dúvidas de que “esta transição traz imensas oportunidades e é essencial tirar partido disto e construir a escola do futuro ainda mais cedo”.
A emergência do virtual no ensino é algo que a Porto Editora prepara há mais de 15 anos. Mais de 1,5 milhões de alunos já utilizam, diariamente, manuais digitais que estão disponíveis online há mais de 10 anos. Um trabalho feito a pensar na preparação de professores e alunos, disponibilizando-lhes as melhores ferramentas.
Quando as escolas fecharam, “foi imediata a decidir de abrir a escola virtual a toda população”, destacou Paulo Gonçalves, diretor de comunicação do Grupo Porto Editora, defendendo que a escola virtual é a solução mais completa em termos de ensino a distância. Cobre todo o percurso desde o pré escolar até ao 12º ano, permitindo que pais e professores monitorizem os progressos dos alunos.
No primeiro dia, antes de decisão oficial, a grande maioria de escolas e professores manifestaram um espírito de missão verdadeiramente notável ao procurar encontrar, de imediato, soluções para os seus alunos. Destacando a
capacidade de adaptação dos professores, Paulo Gonçalves chamou a atenção para o facto de a maioria estar a recorrer aos seus meios pessoais, quer em termos de equipamentos, quer de comunicações.
Carolina Cruz criou a ONG Sapana cujo princípio passa pela ideia de “não deixar ninguém para trás”, desenvolvendo projetos de integração de jovens em risco, reclusos e desempregados de longa duração. A escola perfeita tem de partilhar, ensinar e ser o mais eclética possível para conseguir chegar às pessoas que não tem recursos.
Os três cursos online que realizou, em universidades de referência, deram-lhe uma visão ideal sobre as formas de conquistar a atenção dos alunos no ensino à distância. Recordou o ano de 2011, quando frequentou um curso na Universidade das Nações Unidas, onde encontrou “a validação de algo em que acreditava e que já defendia.” A consultora defende que o modelo híbrido é aquele que pode levar à excelência, combinando os três agentes de socialização, família, escola e trabalho. “Se alienamos a presença física, perdemos a capacidade relacional”, salientou Carolina.
Com a declaração de pandemia, a realidade alterou-se profundamente. As pessoas têm mais flexibilidade, generosidade, criatividade e resiliência. “Nas crises somos dos melhores povos dos mundo”, disse Daniel Traça a propósito da reação da comunidade académica, que permitiu uma mudança para o online tão rápida como pacífica.
O professor da Nova considera essencial aproveitar esta transição para alcançar a qualidade e apostar numa lógica em que o presencial possa ser alinhada com o virtual, num modelo de blended learning. “É preciso assegurar que, quando a crise passar, não voltaremos ao ponto onde estávamos e aproveitemos ao máximo o que já está a ser feito”.
Ainda há muitas escolas sem condições estruturais para fazer a transição para o digital. O que se vive atualmente tem muito de generosidade dos professores e das suas condições pessoais” sublinhou o diretor de comunicação da Porto Editora, referindo que é preciso investir em infraestruturas de redes e condições técnicas como tomadas para carregar os equipamentos. Em sentido positivo, na Madeira, todos os alunos do 5º ano estão já a trabalhar com manuais digitais, na escola virtual, usando apenas o tablet.
A Porto Editora tornou gratuito o acesso à escola virtual, que até 12 de março já tinha 250 mil utilizadores, passando num ápice para mais 700 mil utilizadores e 40 mil turmas. A propósito da capacitação de professores, a academia virtual dispõe de um curso para facilitar a adaptação às novas metodologias de EAD que ultrapassou os 10 mil formandos em poucos dias.
Para Paulo Gonçalves, os livros são ferramentas que tem de estar coordenados com os conteúdos digitais, de modo a favorecer o ambiente de aprendizagem híbrido. Os alunos estão predispostos a usar tecnologia, os adultos têm de lhes dar as boas práticas, assegurar um bom processo de aprendizagem no 1º ciclo que dá as bases para tudo o que vem a seguir. No ensino à distância é ainda mais importante manter contacto com a escola. A Porto Editora concebeu vários vídeos para os pais perceberem este novo contexto e dar-lhes ferramentas para acompanhar o progresso dos filhos.
É preciso alimentar a ideia de que aprender é uma coisa boa, de que “o conhecimento é o que permite aos alunos, amanhã adultos, argumentar em vez de apenas opinar”, salientou Carolina Cruz. Esta é uma crise que obriga a mudar para o digital, tão rapidamente quanto possível. No mundo onde a única constante é a mudança, é fundamental apostar na criatividade, espírito crítico, colaboração e comunicação, como ferramentas humanas de excelência.
A próxima conversa que terá lugar no dia 7 de maio, às 18h30, online num tablet, smartphone ou computador perto de si.
Juntos somos mais fortes a Observar.
Esta é uma iniciativa do Observador e do Santander