Toi qui marches dans le vent
Seul dans la trop grande ville
Avec le cafard tranquille du passant
Toi qu’elle a laissé tomber
Pour courir vers d’autres lunes
Pour courir d’autres fortunes
L’important…
L’important c’est la rose
L’important c’est la rose
L’important c’est la rose
Crois-moi
Durante muito tempo, a música de Gilbert Bécaud foi a música de espera do telefone de António José Seguro. Era muito francófono (e europeísta), inspirava-o a liderança do “mon ami Mitterrand” de Mário Soares – e à época também a liderança do fundador do PS -, de Olof Palme, o social-democrata sueco, e a ascensão de Felipe González ou Alfonso Guerra, com quem esteve em 1990. Seguro era jovem, chamavam-lhe muitas vezes “jovem velho”. Enquanto jovem fazia pactos de amizade para a vida e dançava até altas horas no Xafarix, em Santos ou no Plateau. Mas foi com essa etiqueta de “jovem velho” que ficou até muito tarde, mesmo quando se esforçava para descolar da imagem de ex-líder da Juventude Socialista (JS).
O homem que nasceu em Penamacor, que é eleito por Braga, militante na Guarda, que vive nas Laranjeiras em Lisboa e aos fins de semana com a família nas Caldas da Rainha, cedo sonhou em chegar longe na política. Ainda na adolescência chegou a pensar ser padre missionário em África. “Julgo que sempre houve em mim uma vontade de servir, e essa pode ter sido a sua primeira expressão”, justificou Seguro numa entrevista em 2010 à revista “Única” do Expresso.
Foi no longínquo ano de 1985 que conheceu Álvaro Beleza, numa reunião do Movimento de Apoio Soares à Presidência (MASP). Bastou o encontro em Coimbra e a viagem até ao Porto para o atual membro da direção de Seguro ficar com certezas: “Este tipo é um político”. Mas porquê? “Tinha a cabeça mais organizada, era muito simpático, parecia mais velho, mais formal. Tinha a ideia que seria líder do PS. De todos nós, foi sempre o que levava mais a sério a política, até na maneira de vestir”. Começaria aqui a travessia de Seguro até chegar à cadeira no Largo do Rato.
Quando lá entrou pela primeira vez, não tinha dúvidas ideológicas. Fixou-se numa frase escrita nas paredes da sede do partido, que repete em entrevistas como se de uma Bíblia se tratasse: “Onde houver uma injustiça, aí tem de estar o socialismo”.
O jovem Seguro chegaria a líder da Juventude Socialista (1990) numa época conturbada da organização. Depois de um acordo com José Apolinário – que sempre negou, dizendo que não era “candidato de gabinete” – ganhou o congresso dos jovens socialistas com 85% dos delegados com uma moção com o título “Vamos fazer os dias diferentes”. Pela frente, tinha uma jota com problemas financeiros. Citado pelo extinto Independente, Apolinário dizia que a Jota que tinha deixado a Seguro só tinha “um espaço, uma sigla e vento favorável”.
Um ano depois de ser eleito líder da JS, “fez diferente”. Despiu as vestes mais formais, vestiu a camisola amarela, pôs uns suspensórios vermelhos e distribuiu na campanha das legislativas, que daria uma derrota a Jorge Sampaio, 250 mil preservativos. A atitude arrojada foi descrita na altura como “duvidosa”, mas também como “irreverente”. Vasco Pulido Valente, no Independente, arranjou outra descrição: “Mau gosto”.
Certo é que a campanha dos preservativos pôs os jornais a falar no jovem líder da JS que, eleito deputado nessas mesmas eleições, levou para o plenário a defesa do fim do serviço militar obrigatório, e para as páginas do “Jovem Socialista” a maioridade (e a possibilidade de tirar a carta) aos 16 anos.
A irreverência com que Seguro quis levar os tempos da Jota atingiu o climax quando foi detido. E foi “várias vezes”, na expressão do próprio, embora só tenha relatado duas: a primeira ainda era menor, antes do 25 de abril; e a última foi em 1992, numa manifestação à porta da Expo-92 de Sevilha, por causa de Timor, em frente ao pavilhão da Indonésia.
E foi nessa altura, em que a relação entre as jotas estava ao nível de uma rivalidade Benfica/Sporting, que se cruzou com outros protagonistas da política nacional atual.
Enquanto presidente do Conselho Nacional de Juventude (CNJ) (1985-1990), negociou com o primeiro-ministro à época: Aníbal Cavaco Silva. Numa altura em que a política de juventude trazia novidades como o cartão jovem ou a rede de pousadas da juventude, Seguro mostrou “uma grande capacidade negocial com o Governo de Cavaco Silva”, diz ao Observador Ascenso Simões – hoje apoiante de António Costa nas primárias socialistas.
Já no cruzamento das jotas, encontrou-se com Passos Coelho e com Carlos Coelho (hoje eurodeputado do PSD e ex-líder da Juventude Social Democrata). Em 1990, nas páginas do Independente, falava-se nas mudanças nas juventudes partidárias. Seguro sucedia a Apolinário, Pedro Passos Coelho sucedia a Carlos Coelho, amigo de Seguro e que viria a ser padrinho do casamento com Margarida Maldonado Freitas. Foi aí que respondeu que um charro era “um prazer”, apesar de mais tarde confessar que só tinha fumado uma vez e que não tinha sentido “nada de especial”. Passos Coelho era mais comedido das respostas, mas passados quase 25 anos há quem lhes veja semelhanças no feitio: “Eles são determinados a fazer coisas diferentes. António Costa não tem a noção do quão determinado pode ser António José Seguro”, diz ao Observador Óscar Gaspar.
A primeira vez na “cadeira do poder”
Foi a primeira vez que se sentou na cadeira do poder. E não gostou. Seguro era, então, secretário de Estado da Juventude. Ele não estava no carro que teria caído ao rio com uma mulher no banco do acompanhante, nem a abandonou no hospital.
Flashback.
Ano de 1997. A emissão normal da SIC era interrompida com um direto perto do rio Tejo. A repórter contava que um veículo da secretaria de Estado da Juventude se tinha despistado. Os ocupantes? Presumivelmente o secretário de Estado António José Seguro e uma mulher desconhecida. Ambos teriam fugido para não prestarem depoimentos à polícia e Seguro teria até abandonado, posteriormente, a mulher no hospital.
O teaser para o programa “Cadeira do Poder” estava feito. Mas era mentira. Era mesmo tudo mentira e cada pormenor irritava ainda mais Seguro. Exigiu ir ao Jornal das 8 da SIC desmentir a história que serviu de golpe publicitário. E a estação pôs-lhe Artur Albarran à frente, o apresentador do programa, que não chegou a pedir as desculpas exigidas pelo governante. Resultado: a SIC foi condenada a pagar dez mil contos.
Quem o conhece diz que Seguro teve a mesma reação irada que no dia em que Marcelo Rebelo de Sousa o acusou de fazer uma “golpaça” aos estatutos do partido, depois de a Comissão Política do partido aprovar a alteração às regras do partido (2012).
Mas daquela vez irritou-o também a mistura da vida privada com a vida pública. Raras foram as vezes que falou da mulher – ativa politicamente – e dos dois filhos. São poucos os pormenores que dá – se excetuarmos a descrição do dia em que a conheceu: “Conheci-a a dançar em cima de uma coluna de uma discoteca”, contou numa entrevista em 2010 à “Única”. Em entrevista à Sábado explicou o porquê de tanta reserva. Uma vez, quando o filho mais novo ouviu na televisão que o estavam a queimar, “ficou em pânico” porque tinha entendido “o que ouviu à letra”.
Não será à letra, mas mais a régua e esquadro, que o atual secretário-geral socialista traçou o seu percurso. O mais novo de três irmãos, numa família que não viveu com facilidades económicas, Seguro rumou a Lisboa para estudar. Chegou a contar que muitas vezes não tinha dinheiro para as refeições porque não queria pesar na carteira dos pais. A mãe era doméstica e o pai tinha um café, depois uma papelaria. “Quantas vezes não comi pão com chouriço na Feira Popular porque já não tinha dinheiro para a cantina”, disse na mesma entrevista à Única.
O jovem de Penamacor investiu na política deixando muitas vezes os estudos para segundo plano. Mesmo sem fazer a licenciatura chegou a secretário de Estado da Juventude, a eurodeputado e a ministro Adjunto de António Guterres. Longe do salário de 500$00 que recebia ainda em Penamacor para ser monitor e trabalhar com crianças.
O percurso fez-lhe um discurso: de quem olha para a política de fora, numa espécie de outsider/insider da política. E criou-lhe uma estratégia: numa das últimas intervenções que fez em público, no dia 14 de setembro em Santo Tirso, defendia que “não podem ser sempre os mesmos a comandar os destinos do nosso país. A pôr e a dispor quando e como lhe apetece. E quando digo sempre os mesmos, não é os mesmos dos partidos que estão no Governo. É os mesmos que muitas vezes se alternaram no Governo mas que verdadeiramente nunca foram capazes de fazer aquilo que é necessário por este país”.
Da contenção à emoção
Contido. Formal. Político. Persistente (teimoso ou obstinado, também entram no léxico). Emotivo. “É assim por defesa e não por pose ensaiada. As pessoas gostariam que lhe fugisse o pé para o chinelo”, diz Óscar Gaspar.
Raramente foge nas palavras, mas foge-lhe na expressão que muitas vezes denuncia a irritação. “Fala muito de afetos, é bastante emotivo”, diz Óscar Gaspar. Para memória futura ficará, por exemplo, quando se emocionou em Castelo Branco, já enquanto líder do PS.
Mas se no trato é “carinhoso”, na vida política é “formal”. No Rato, faz a introdução e a conclusão e tenta que as reuniões não fujam ao tema que desenhou para o encontro. “Gosta de marcar o início e o fim dos discursos, assim como das reuniões. O António ouve com muita atenção os argumentos e é capaz de mudar de posição, mas só se os argumentos forem válidos. Foi assim com o Orçamento do Estado para 2012, com o acordo de salvação nacional e foi assim com as primárias”, conta Eurico Brilhante Dias, secretário nacional do partido.
Enquanto líder do partido, nunca abdicou das formalidades. “Uma vez dei uma conferência de imprensa com pólo e blazer e ele chateou-se comigo. As reuniões do secretariado são muito formais. Manda-me calar muitas vezes porque diz que eu desestabilizo”, conta Álvaro Beleza.
A excessiva formalidade é admitida pelos amigos, que veem nisso a sua maior dificuldade em passar a mensagem pelos media. “É subvalorizado. Ele vale mais do que parece. É muito inteligente, mas nem sempre a imagem condiz com ele. Porque ele é muito preso, contido”, acrescenta o dirigente e amigo de Seguro.
Mas se muitas vezes é um problema, os amigos também veem nessa formalidade (e institucionalismo), uma qualidade. “Ele é muito gabinete, muito centralizador, muito sério e honesto e dedicado à causa pública e institucional. Ele é muito da terra”, conta Beleza, que diz que brincava com ele a dizer que seria “o próximo primeiro-ministro nascido na Beira”. Na brincadeira lembram-no, por vezes, que o outro foi Salazar.
Álvaro Beleza brinca, mas fala a sério quando diz que “não são os assessores que trabalham para ele, mas ele para os assessores”. Seguro controla tudo e é por isso bastante atento ao que escrevem sobre o que faz. Passa notícias a pente fino e, nos longos anos no Parlamento, media cada palavra e se não fosse citado corretamente, ligava ao jornalista a corrigia. O preciosismo com o que passa através da imprensa trespassa toda a direção de Seguro. Eurico Brilhante confessa a dificuldade: “É muito difícil um líder da oposição fazer passar a sua ideia”.
Regresso ao Governo
Há muito que os verões políticos passaram a ser quentes. Em 2001, o início foi a escaldar. Seguro estava em Bruxelas, depois de ter sido eleito eurodeputado como número dois nas listas de Mário Soares (1999). Por cá, Manuela Arcanjo, ministra da Saúde, e Pina Moura, ministro das Finanças, dão um abanão fatal no Governo de Guterres, e põem o país à beira do “pântano democrático”. O agora desejado candidato à Presidência da República cairia meses mais tarde, na noite das autárquicas.
Seguro não sabia o tempo de vida do Governo socialista. Mas sabia que o segundo mandato de Guterres dificilmente passaria da metade. Muitos lhe disseram que seria um ministro com os dias contados. E foi. Sucedeu no cargo de adjunto do primeiro-ministro a Armando Vara e não esteve por lá nem um ano. “Foi por amizade a Guterres”, diz Óscar Gaspar.
Para quem gostava de estar em Bruxelas, onde juntou ao currículo a co-autoria do relatório ao Tratado de Nice, foi até um “sacrifício pessoal, assim como o que fez António Costa que também estava no Parlamento Europeu para entrar no Governo de José Sócrates”, diz Ascenso Simões, amigo de Seguro, mas que hoje apoia o autarca de Lisboa.
“Soares continua a ser fixe”
Seguro tinha dado a cara na campanha das europeias, em 1999, lado a lado com Mário Soares. Ficou próximo do antigo chefe de Estado, mas a relação não acabou bem. Soares ficou chateado com Seguro depois de uma célebre reunião das esquerdas na Aula Magna, promovida por Soares, mas a que Seguro não quis dar o braço. E mais ainda quando Seguro aceitou negociar o acordo de salvação nacional promovido por Cavaco Silva após a crise política de 2013. Nos dias da crise socialista, Soares acabou por ser um elemento chave a reunir apoios para António Costa.
Seguro “gostava muito de Sá Carneiro, dizia que ia ser como o Sá Carneiro. E gosta muito de Soares e agora está magoado”, conta Álvaro Beleza. Não disfarçou a mágoa quando ouviu Soares dizer que estava “desiludido” com o secretário-geral do PS, em 2013. “Tenho uma imensa ternura e um imenso carinho pelo doutor Mário Soares. Ligam-me a ele relações de grande amizade. Não farei nenhum comentário”, disse. A palavra ternura, aplicada a Soares, foi o suficiente para o cortar de relações.
Para as eleições primárias, não foi só Soares a apoiar o outro lado da barricada. Jorge Sampaio, Almeida Santos, Manuel Alegre e Vera Jardim mostraram o apoio a António Costa nesta guerra pelo poder socialista. Mas há quem aponte o dedo à gestão de Seguro destas relações. “Deixou de fazer uma coisa que era muito relevante para ele. Gostar e ser gostado por figuras relevantes do PS. Não percebo como ele se isolou tanto para que se incompatibilizasse com as figuras do PS quando ele sempre teve muito cuidado com essas figuras”, diz Ascenso Simões.
No xadrez socialista, acabou por contar com o apoio de Francisco Assis, com quem tinha disputado a campanha interna após a demissão de Sócrates. A amizade de 30 anos, que ainda vinha dos tempos da JS, e o facto de ter sido cabeça-de-lista escolhido por Seguro, terão pesado na escolha de Assis. Mas nem sempre foi assim. Em 2011, os dois estavam em lados opostos. “Telefonavam-me os dois a fazer queixas um do outro. Pareciam dois miúdos” conta Beleza, que é amigo dos dois.
Das boleias à rutura
Chegou a apanhar boleia de José Sócrates para Lisboa, mas as boleias do ex-líder para Seguro terminaram ainda na Beira. Apesar de serem dois valores crescentes no partido, cedo se separaram, apesar de se terem encontrado mais tarde no mesmo Governo. O último de António Guterres.
Já com Guterres a ligação foi tanto política quanto pessoal. Foi Seguro quem chegou a ser falado como chefe de gabinete do então primeiro-ministro. E foi Guterres quem Seguro apoiou na luta fratricida contra Jorge Sampaio.
Na sequência das legislativas de 1991, perdidas por Jorge Sampaio para Cavaco Silva, Seguro tinha escolhido o lado dos que desafiavam o líder numa das lutas mais agressivas da história do PS.
As críticas ao estado do partido – “velho”, “complexado” ou “castrador” – não deixavam margem para dúvidas: Seguro achava que tinha chegado a hora de virar o PS. À época, o desafiador da liderança de Sampaio, Guterres, já tinha as costas guardadas por Almeida Santos – a quem Guterres daria a presidência do partido – e Jorge Coelho. Precisamente o homem que, em 2004, o chamou para um almoço em Coimbra para lhe dizer que aquela não era (ainda) a hora dele. Seguro respirou fundo e colocou-se de fora, mas sem nunca declarar apoio a José Sócrates como sucessor de Ferro Rodrigues.
“Ele é incapaz de passar à frente numa fila”, diz Beleza. Terá sido por isso que “decidiu nunca ir contra José Sócrates”. Não era a vez dele, como lhe disse Coelho.
E foi a partir daí (2004) que Seguro começou uma longa travessia pelo deserto do Parlamento. Foram seis anos a gerir silêncios: aquela não era a liderança dele. Mas só a prudência lhe garantiria um lugar de partida para o dia seguinte. Sócrates foi-lhe dando pequenos palcos: cabeça-de-lista em Braga, a presidência da comissão parlamentar de Educação e Ciência; também da Comissão de Assuntos Económicos, Inovação e Energia. Foram os anos em que fez a reforma do regulamento da Assembleia da República (2007), transformando os debates mensais em quinzenais, por exemplo.
Durante esses anos manteve, como pôde, as “Tertúlia do Martinho da Arcada”, restaurante onde cerca de uma vez por mês alguns socialistas mais próximos do ex-líder da JS se uniam para discutir. Entre eles, Seguro, Álvaro Beleza, Ascenso Simões e até Paulo Campos. A ida para o Governo de Sócrates fez com que muitos deixassem de ir com frequência aos encontros com Seguro e muitos deles começaram aqui a cortar a relação que vinha dos tempos da Jota.
Não foi o caso de Álvaro Beleza, o médico e hoje membro do secretariado nacional do partido, tinha feito com Seguro um “pacto de amizade de política para a vida”, conta Beleza ao Observador, numa noite perdida nos anos 90 em que se tinham divertido até às tantas da madrugada no Xafarix, em Santos. A conversa foi levada a sério. Beleza tornou-se um dos principais amigos de Seguro, e um dos principais impulsionadores de uma candidatura do amigo à liderança do PS e do país. A iniciativa das Tertúlias nasceu depois de um jantar entre os dois. “Nesse jantar, lembro-me que eu queria falar de política e ele só falava da filha, estava apaixonado”, conta Beleza. É que Seguro foi pai tarde.
Foram anos em que se foi construindo, à espera do momento. Depois do fim do Governo de Guterres, lançou-se nos estudos para acabar a licenciatura em Relações Internacionais na Universidade Autónoma, já com 41 anos. Antes tinha passado pelo ISCTE para tirar gestão de empresas, que não terminou. Casou-se, foi pai.
Para alguns, estes anos no Parlamento fizeram-lhe mal. Numa camisa de forças entre a solidariedade ao partido e o não apoio ao secretário-geral do partido, Seguro raras vezes rachou em público com a linha do partido. Votou contra a lei do financiamento dos partidos e das campanhas eleitorais, defendeu um referendo ao Tratado de Lisboa (conjuntamente com o então líder da JS, Pedro Nuno Santos), foi contra o aumento do IVA, mas a oposição a Sócrates fazia-se nos corredores da Assembleia da República.
“Houve uma metamorfose, principalmente os seis anos de Parlamento, foram anos que o envelheceram muito. Ele remói muito as questões”, diz Ascenso Simões.
E remoeu, dizem os críticos, ao ponto de quando assumiu a liderança do partido não ter seguido a linha de defesa do legado de Sócrates, como queriam que fizesse. “Defender o passado seria um suicídio político, seria péssimo para o partido, porque isso era a agenda de Passos Coelho: pôr o PS no divã a discutir José Sócrates”, justifica Eurico Brilhante Dias, amigo e secretário nacional do partido.
Seguro não o fez. “Anulei-me durante estes três anos”, disse agora, em campanha, numa entrevista à TVI. Nestes três meses foi diferente. No próximo domingo se verá se tudo até aqui lhe valeu a pena.