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Na incerteza da matemática de possíveis coligações, todos esperaram até à última para se pronunciarem. Assim, depois do discurso dos partidos dos extremos — Santiago Abascal pelo Vox e Pablo Iglesias pelo Podemos — os restantes líderes dos partidos ditos moderados atropelaram-se a discursar ao mesmo tempo, quando mais de 90% dos votos já estavam contados e a noite eleitoral se aproximava do fim.
Pedro Sánchez, do PSOE, assumiu, naturalmente, o estatuto de vencedor e as televisões deram-lhe primazia. Mas o mais curioso no seu discurso não foram as expressões de regozijo, mas sim as linhas vermelhas que colocou para negociar futuras coligações. A multidão pediu-lhe que ignorasse o líder do Ciudadanos (“Rivera não!”, gritavam), mas Sánchez não se comprometeu. Um governo das esquerdas em Espanha ainda não é, por isso, uma certeza. Pablo Iglesias gostaria que o fosse, razão pela qual colocou em Sánchez toda a responsabilidade no seu discurso — “Às perguntas para Pedro Sánchez responde Pedro Sánchez, não respondo eu”, disse, a certa altura.
À direita, o Ciudadanos e o PP protagonizaram a taça da liderança da oposição, num dérbi onde o partido de Albert Rivera saiu por cima do de Pablo Casado. A Rivera, aliás, não lhe faltou ambição, assumindo-se não só como líder da oposição — apesar de ter menos nove deputados que o Partido Popular —, mas como líder de um partido que mais cedo ou mais tarde será Governo. Já Casado concedeu a derrota, mas preferiu focar-se nas eleições de 26 de maio (que reunirão municipais, autonómicas e europeias) — e não se demitiu.
Santiago Abascal, o líder do partido de extrema-direita Vox e estreante no Congresso dos Deputados, manteve-se fiel ao estilo do partido e atacou tudo e todos: a esquerda e os media, inimigos já conhecidos, mas não só. A “direitita cobarde”, leia-se PP, foi referida três vezes (contra zero menções a PSOE ou Sánchez) e o Ciudadanos foi definido como “cata-vento laranja”. Para além disso, deixou uma promessa: defender as bandeiras do partido no Congresso e fiscalizar o próximo Governo, sobretudo na sua ação com os independentistas.
O texto do discurso está em itálico e a interpretação e o comentário estão a amarelo:
Pedro Sánchez, líder do PSOE
Ouviram: o Partido Socialista venceu as eleições gerais. E, com isso, ganhou o futuro e perdeu o passado
Em primeiro lugar, quero agradecer de coração aos mais de 7 milhões e 300 mil espanhóis que nos deram o seu voto e confiaram no Partido Socialista para liderar o país nos próximos quatro anos. Obrigado, do coração. Também acho que hoje, com quase 75% de espanhóis e espanholas a exercerem o seu direito ao voto, demonstrou-se que esta é uma grande democracia. Espanha tem uma democracia sólida, de qualidade, em que participam milhões de espanhóis em defesa da democracia, do futuro, dos direitos e liberdades que conquistámos em 40 anos de democracia. E creio que também é preciso reivindicar a diferença que fez o conjunto de pais da democracia.
Nestas eleições, amigos e amigas… [multidão interrompe, gritando “Com Rivera não”] Acho que ficou bastante claro, não?
De qualquer forma, acho que é importante que reivindiquemos, como primeiro partido do país, a democracia e a defesa dos direitos e liberdades que conquistámos nestes 40 anos. Todos os espanhóis e espanholas enviámos mensagens. Mensagens do que não queremos: não queremos a involução, não queremos a reação, não queremos o retrocesso. Queremos um país que avance em direção ao futuro [multidão grita “No pasarán!”].
Também enviámos uma mensagem clara, nítida e rotunda, à Europa e ao mundo: de que se pode ganhar à reação, ao autoritarismo e à involução. [“Sí, se puede”, gritam os apoiantes do PSOE].
A terceira mensagem que enviámos é que os espanhóis querem claramente que o Partido Socialista Operário Espanhol lidere o país nos próximos quatro anos. Tratava-se de ganhar as eleições e governar. Ganhámos as eleições e vamos governar Espanha. Durante toda a campanha dissemos que os três objetivos do próximo Governo socialista eram avançar a justiça social e acabar com a desigualdade de que sofrem tantos no nosso país; em segundo lugar, avançar em convivência e concórdia, que é o que o nosso país precisa, de acabar com a confrontação e a crispação territorial que dominou a política espanhola nos últimos anos; e em terceiro lugar, reivindicar a exemplaridade e limpeza da política e acabar com a corrupção que nos últimos 7 anos dominou.
Para esses três desafios houve uma mensagem do conjunto de espanhóis e espanholas com independência que votaram em duas coisas: que um Governo socialista e eu como presidente seremos o Governo e presidente de todos os espanhóis e espanholas; em segundo lugar, que a partir das nossas ideias de esquerda, da nossa posição progressista, vamos tentar falar com todas as forças políticas que respeitam a Constituição para fomentar a concórdia de que a política precisa [multidão volta a gritar ‘com Rivera não’]. Eu ouvi, eu ouvi. Nós não vamos fazer como eles, que põem cordões sanitários à volta do Partido Socialista. A única condição que vamos colocar é respeitar a Constituição espanhola e avançar a justiça social, com convivência e limpeza política.
Isto será a partir de amanha. Hoje quero terminar como comecei: voltando a repetir uma frase que me marcou muito. Diziam que este partido não tinha futuro, que o futuro não nos pertencia. Que a esquerda deste país tinha de se resignar a que o Partido Popular governasse. Que o Partido Socialista só podia querer ser a muleta do Partido Popular. E aqui estamos a reivindicar o presente e o futuro dum partido com 140 anos de História. E com ele, estamos a enviar duas mensagens contundentes: ao conjunto da social-democracia europeia, de que a social-democracia tem muita História mas também tem futuro porque tem um grande presente e Espanha é um bom exemplo disso; em segundo lugar, porque nos ouvem também fora de Espanha e em particular na Europa, que formaremos um Governo pró-europeu para fortalecer e não debilitar a Europa.
[Gritos dos apoiantes de “Viva Espanha e viva o socialismo!”] Foi isto que venceu: uma Espanha diversa, que ama a liberdade e que reconhece a sua diversidade. Foi isso que reivindicámos na campanha e vamos construir a partir de hoje.
Hoje é um grande dia, sem dúvida alguma. Mas falta o 26 de maio. Precisamos também de maiorias socialistas, progressistas, nas comunidades autónomas. Ânimo, animo, animo! Tornámos possível que o Partido Socialista passasse a ganhar, vamos construir a Espanha que queremos. Obrigado do coração.
Pablo Casado, líder do Partido Popular
Muito obrigado a todos os meios de comunicação por terem coberto este dia tão intenso. Sou especialista em vir a esta sala em noites complicadas. Quero dizer que está aqui um grande partido, um partido que sabe estar “en las duras y las maduras”.
A parte positiva deste dia é o nosso agradecimento aos mais de 4 milhões de espanhóis que continuam a confiar no Partido Popular, que continua a ser o partido líder da oposição e do centro-direita. Permitam-me também que agradeça a todos os militantes, apoiantes, delegados, à direção nacional, ao comité executivo, aos candidatos, aos diretores de campanha, até ao último candidato que deu o melhor de si nesta campanha tão complexa.
A segunda coisa que quero fazer é felicitar Pedro Sánchez, já tive oportunidade de o fazer pelo telefone. Sempre disse que o Partido Socialista é um partido-chave em Espanha e espero que com este resultado possa chegar a acordos de governabilidade sem precisar dos independentistas. Para o Partido Popular o importante é Espanha. Esperemos que o nosso país esteja à altura das circunstâncias.
Em terceiro lugar — e eu sou uma pessoa que não foge às responsabilidades — o resultado foi muito mau. O Partido Popular gosta de ganhar e de ganhar sempre e já temos vindo a perder apoio em várias eleições. Por isso, vamos trabalhar com a máxima responsabilidade para recuperar esse apoio e para o fazer liderando o espaço do centro-direita que, como temos vindo a dizer há meses, ao fraturar-se torna-se numa opção dificilmente ganhadora.
A fragmentação do centro-direita, face à esquerda que teve mais votos (dependendo de que partidos colocamos à esquerda)… os nossos foram menos. Por isso propusemos na última Junta Eleitoral coligações pré-eleitorais, propusemos em concreto uma coligação com o Ciudadanos no Senado e uma com o Vox no Congresso. O tempo veio dar-nos razão. A capitalização e a proporcionalidade dos mandatos com esta lei eleitoral castigou muito a fragmentação e por isso todos os partidos devem fazer um exercício de análise para ver se valeu a pena — sobretudo nos últimos dias — esse confronto com o Partido Popular, à luz dos resultados.
Estas eleições coincidiram com a Semana Santa e a poucos dias de novas eleições autonómicas e europeias. Já tínhamos avisado que isso tinha problemas para realizar a campanha e provavelmente optimizou os resultados da força que estava no Governo. Mas é positivo, porque em menos de um mês voltaremos às urnas e poderemos demonstrar que se nos unirmos o nosso eleitor de centro-direita poderá perceber que a fragmentação só favoreceu um Governo de Pedro Sánchez e provavelmente aqueles que não estão de acordo com um futuro de unidade de Espanha. E talvez passem assim a apoiar os nossos candidatos e a demonstrar que este é um grande partido que cresce ante as dificuldades e que pode ter excelentes resultados no próximo 26 de maio.
Com o mesmo sonho e futuro de sempre, mas a tentar melhorar aquilo em que não estivemos bem e a convencer os espanhóis de que continuamos a ser a melhor opção para o futuro das suas famílias e para o destino de Espanha. Na próxima quarta-feira, teremos comité executivo e teremos oportunidade de responder a todas as vossas perguntas, depois de uma análise pormenorizada aos resultados. Continuaremos a trabalhar porque temos apenas alguns dias até às próximas eleições. Muito obrigado a todos.
Albert Rivera, líder do Ciudadanos
Boa noite e muito obrigado por estarem aqui. A primeira coisa que quero fazer é agradecer a todos vós, a todos os militantes, a todos os delegados, a toda a gente que deixou a pele nesta campanha e neste dia eleitoral, mas também a todos os que estiveram nas mesas eleitorais e a todos os democratas. Hoje os espanhóis foram votar em massa, e, mais importante do que os resultados, é o facto de quando muita gente vota num país, o país se torna mais forte. Muito obrigado por terem ido votar.
Mas hoje tenho duas coisas a contar-vos. Eu digo sempre a verdade: uma notícia é boa, a outra é má. Sánchez e Iglesias vão formar Governo com os nacionalistas. Mas há uma boa notícia: há um projeto vencedor, um projeto que aumentou 80% dos seus mandatos comparado com há dois anos. Que há um projeto que acredita em Espanha e que tem futuro. Esta é a casa comum do projeto constitucionalista. Disse-o na campanha e hoje ficou provado. Fomos a segunda força política em quatro ou cinco comunidades, empatámos com o Partido Popular noutras… O Ciudadanos elege-se como a esperança e o sonho de Espanha. Obrigado aos mais de 4 milhões que nos deram o vosso voto, obrigado.
Vamos fazer uma oposição leal à Constituição. Uma oposição leal à economia de mercado, à Europa, à sociedade de bem-estar, aos valores constitucionais, a Espanha. Aos que governam, vamos vigiá-los de perto e vamos fiscalizar este Governo. Para que não ataquem as famílias e a classe média, para que não ataquem os empresários e os trabalhadores, para que vocês tenham uma voz no Parlamento. Os líderes da oposição vão ser a oposição, ao vosso serviço.
Este projeto começou há mais de uma década com um grupo pequeno de valentes, com três deputados no Parlamento de Catalunha. Depois demos o salto para a política nacional, vencemos as eleições na Catalunha, governamos na Andaluzia… Hoje somos o refúgio da liberdade, da igualdade, da Constituição, para milhões de espanhóis. Vocês sabem que não prometo muitas coisas, mas hoje prometo-vos uma: hoje ganharam os socialistas e nós demos um salto qualitativo para liderar a oposição e o futuro de Espanha; mas prometo-vos que vamos fiscalizar o Governo, vamos trabalhar no duro e prometo-vos que vamos governar Espanha.
Não quero arrastar-me mais, são muitas horas de trabalho e esforço. Obrigado à minha equipa, que fez a melhor campanha. Fomos uns resistentes. Sabemos o que é lutar, como a sociedade civil. Este é o país que mais se parece com Espanha, com a sociedade civil espanhola. E como gostamos deste país, vamos defender a igualdade e a liberdade em todos os lugares de Espanha. Promete-vos que com um Ciudadanos forte no Congresso, com um Ciudadanos forte em maio nas eleições municipais, autonómicas e europeias — que também vamos ganhar… Agora vamos a Madrid, às europeias, aos municípios. Que ninguém pare a força do Ciudadanos. A cada vez que se abrem as urnas, este partido cresce. Cresceu 80% em menos de três anos e vamos crescer nas autonómicas e nas europeias.
Companheiros, cidadãos e cidadãs que nos veem, hoje começa um projeto vencedor em Espanha. Hoje os espanhóis sabem que, frente a um governo de Sánchez e Iglesias, frente a um governo que se vai esquecer de uma parte de Espanha, há uma parte importantíssima de Espanha que vai estar representada com força e voz no Congresso. Sei que há gente que não está contente com este governo, mas também há muita gente contente porque sabe que em breve vai chegar outro Governo liberal, constitucionalista, europeísta, aberto, moderno, que não divide, que une os espanhóis. Um dia destes haverá em breve um Governo que não olha para a esquerda ou para a direita, mas sim em frente. Um Governo que olha para o futuro e não para o passado. Em breve terão esse Governo. Para isso é preciso continuar e acreditar em Espanha e na vitória. Vamos, Ciudadanos, vamos, Espanha! Obrigado.
Pablo Iglesias, líder do Unidas Podemos
Em primeiro lugar, quero agradecer aos espanhóis pela participação numas eleições que foram históricas. Quero também felicitar os trabalhadores e trabalhadoras públicos que facilitaram o desenvolvimento deste dia eleitoral.
Já felicitei o candidato do Partido Socialista pelo resultado e creio que há duas chaves fundamentais para ler estes resultados eleitorais: o primeiro é que o peso parlamentar do bloco progressista é superior ao do bloco das três direitas. E a segunda chave para entender este resultado eleitoral é algo que temos dito muito e ficámos sozinhos: Espanha é plurinacional e basta ver os resultados em Euskadi e na Catalunha para entender que esta afirmação é óbvia.
Sobre o nosso resultado, não foi o melhor, mas é suficiente para cumprir os dois objetivos com que começámos esta campanha eleitoral: o primeiro era travar a direita e a extrema-direita, o segundo era formar um Governo de coligação com as esquerdas.
A partir daqui é preciso trabalhar muito, trabalhar com muita discrição. Temos de ter muitas reuniões de trabalho, é preciso fazer um programa de Governo e cumpriremos o mandato que nos deram os cidadãos que nos apoiaram para que em Espanha haja um Governo de esquerdas capaz de pôr em prática políticas que defendam as maiorias sociais.
[Em resposta a uma pergunta de um jornalista] Transmiti-lhe [a Sánchez] o mesmo que vos disse, que há que trabalhar para um Governo de coligação das esquerdas. Ficámos de falar e isto levará muito tempo, peço-vos que sejam pacientes e percebam que nas reuniões para formar um Governo é necessária alguma discrição.
[Em resposta a uma pergunta sobre se Sánchez demonstrou vontade de caminhar para um governo de esquerdas] Façam essa pergunta ao candidato do Partido Socialista. Às perguntas para Pedro Sánchez responde Pedro Sánchez, não respondo eu.
Está tudo em aberto, é preciso falar de um programa e de muitas coisas. A primeira coisa a fazer é sentarmo-nos para conversar. Pedi-vos que sejam pacientes. Nós gostávamos de ter tido um resultado melhor e há uma auto-crítica que temos de fazer. Acho que um dos problemas fundamentais do Podemos nos últimos tempos é dar uma imagem da nossa situação interna que creio não estar à altura dos nossos eleitores. Isso notou-se e espero que no futuro isso não volte a acontecer.
Por outro lado acho que é claro que ocorreu em Espanha uma mobilização eleitoral sem precedentes. E, volto a dizer, as forças progressistas no seu conjunto têm mais força parlamentar do que as direitas; e quem não entende que este país é plurinacional, sinceramente não entende Espanha.
[Em resposta a outra pergunta] Há que falar de um programa de Governo e muitas coisas, adiantar acontecimentos não faz sentido. Peço-vos paciência e discrição. Claro que gostaríamos de ter tido um resultado melhor, mas é suficiente para cumprir os nosso objetivos. Desde o último ano que as eleições em Espanha não são tanto sobre vencer, mas sobre convencer. Não são tanto sobre ganhar, mas sim somar. E nós somos uma força política imprescindível para que haja um Governo das esquerdas em Espanha.
Santiago Abascal, líder do Vox
Iniciámos uma reconquista.
Muito obrigado aos milhares de espanhóis que nos deram o mais importante: a sua confiança. Aos intervenientes, aos delegados, aos 50 mil afiliados do Vox que apoiaram este projeto nos últimos anos — um projeto que não tem os meios dos restantes partidos — obrigado a todos eles porque nos permitiram chegar aqui. Não vamos desiludir-vos.
[Gritos de “Espanha unida jamais será vencida” da multidão] Espanha unida jamais foi vencida. Quero agradecer aos espanhóis de Almería, de Cádis, de Córdoba, de Granada, de Vila Real, de Toledo, de Valladolid, de Barcelona, de Madrid, de Alicante, de Valência, de Badajoz, das Baleares, das Astúrias, de Múrcia, de Sevilha e de Málaga, que terão deputados do Vox no Congresso.
Mas quero também dizer uma coisa mais importante do que este agradecimento: todos os espanhóis que votaram em nós nas províncias que não nos elegeram têm de saber que também estarão representados no Congresso, porque nós viemos para representar toda a nação e criar uma imagem de unidade nacional que contrasta com a dos restantes partidos.
Quero dizer aos 2,5 milhões de espanhóis que nos apoiaram, quero pedir-vos que continuemos a caminhar juntos. Não pelo Vox, mas por Espanha. Dissemos desde o início que não viemos para eleger estes que aqui estão, nem por esta palavra verde [aponta para o nome ‘Vox’ escrito no púlpito], que achamos totalmente dispensáveis. Viemos sim e estamos sim por Espanha, que é a nossa pátria, é a herança dos nossos pais e o futuro dos nossos filhos — e isso nunca vai mudar. Vocês cumpriram a vossa função e graças a isso agora há uma voz no Congresso, uma voz que não havia, uma força política que em três anos passou de 40 mil votos em toda a Espanha para 2,5 milhões de votos.
Quero também lançar uma advertência aos que estão numa rua ali mais acima e que já estão a tentar culpar-nos pelas suas incapacidades, pelas suas traições e pelos seus medos. A “direitita cobarde” já começou a responsabilizar o Vox pela sua incapacidade de vencer a esquerda. A única responsabilidade que têm é que tiveram 186 lugares e não foram capazes de travar a esquerda. E a responsabilidade que têm é que entregaram as televisões, os meios de comunicação e a educação à esquerda. Isso nunca mais vai voltar a acontecer, graças a 24 deputados que vão representar a vossa voz com a dignidade e a valentia que outros nunca tiveram.
Mas não estamos aqui para a complacência. Sabemos que queríamos tanto ter esta voz no Congresso e vocês queriam tanto ter esta representação, por isso é um momento de alegria — mas também de preocupação. Alegria pelos 24 deputados e os seus 2,5 milhões de compatriotas, mas de preocupação porque não foi possível expulsar a Frente Popular. Nós não ganhámos: hoje a Espanha está numa situação pior do que ontem, mas isso também significa que o Vox é mais necessário hoje do que ontem. Mas já há uma garantia, porque o Vox já está dentro do Congresso.
Agradecemos estar aqui e estabelecemos de novo o nosso compromisso.
24 deputados nas Cortes assumirão a sua responsabilidade ao serviço de Espanha.
24 deputados representarão o orgulho de ser espanhol e não permitirão que um deputado rasgue a Constituição ou se ria da nossa bandeira ou tente destruir a unidade nacional.
24 deputados dirão que a unidade de Espanha não se debate nem se discute, mas sim que se defende até às últimas consequências.
24 deputados não permitirão que trocem em Barcelona e que se riam em Bruxelas.
24 deputados dirão que as nossas fronteiras têm de ser defendidas da imigração ilegal e que quem entra ilegalmente na nossa casa tem de ser expulso.
24 deputados perguntarão todos os dias sobre as coisas que preocupam tanto os espanhóis e que já nenhum deputado perguntava ao Governo.
24 deputados nacionais defenderão a liberdade de educação dos pais para que os nossos filhos não sejam doutrinados pelos “progre”.
24 deputados defenderão a liberdade económica do povo espanhol e impedirão com a sua voz que a esquerda e a “direitita” cobarde e a social-democracia de todos os partidos continuem a aplicar duríssimos golpes à classe média, através de impostos abusivos e confiscatórios.
24 deputados não permitirão que se cale metade do povo espanhol, nem que se imponha uma memória falsa, nem que se estabeleçam as “comissões pela verdade”.
24 deputados defenderão o direito à vida nas Cortes.
24 deputados defenderão os interesses e as preocupações da “Espanha vazia”: a tauromaquia, a Semana Santa e o modo de vida de tanta gente.
Por isso, apesar da preocupação, quero que tenham muito claro que o Vox chegou para dar-vos voz no Congresso.
Uma voz, aliás, que o poderá fazer com muito mais nitidez, porque tem chegado distorcida. No Parlamento nacional haverá uma resistência nacional às posições liberticidas.
Quero manifestar o nosso profundo respeito pelo resultado eleitoral. Mas nenhuma maioria absoluta habilita uma reforma constitucional que permita um referendo a uma independência. Nenhuma maioria habilita a indultar os golpistas que tentaram destruir a unidade nacional. Nenhuma maioria habilita à rotura da união nacional. Nenhuma maioria habilita a que se realizem eleições para impor uma ditadura progre [progressista, de esquerda]. Utilizaremos todas as armas do Estado, defendendo a ordem constitucional, o Estado de Direito e império da lei que alguns querem que se mude.
Como última reflexão: apesar da demonização da mensagem do Vox, apesar dos insultos sistemáticos que nos foram lançados — e que vos foram lançados por sentirem e pensarem conforme os vossos valores e como vos ensinaram em casa —, apesar da manipulação sistemática da nossa mensagem, por parte dos meios de comunicação, da “direitita” cobarde e do cata-vento laranja e por parte da esquerda, que manipularam a nossa mensagem sem nenhum escrúpulo, apesar da violência que se produziu por todo o território contra o Vox, apesar das pressões à porta das nossas reuniões, apesar de sermos um partido sem mais recursos do que aqueles que vocês nos dão (ao contrário dos outros partidos), apesar de termos sido excluídos dos debates eleitorais dos quais nunca mais poderemos ser excluídos, apesar disso aqui estamos com 24 deputados e produziu-se um milagre. É incrível que com tudo isto chegámos onde chegámos. É o princípio e como diz o nosso companheiro Javier Ortega, Bem-vindos à resistência. Seguimos em frente, sem medo de nada nem de ninguém. Viva Espanha!