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O padre Mário de Sousa é o atual responsável pelo processo de tradução oficial da Bíblia na íntegra para português
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O padre Mário de Sousa é o atual responsável pelo processo de tradução oficial da Bíblia na íntegra para português

ANA MARTINGO/OBSERVADOR

O padre Mário de Sousa é o atual responsável pelo processo de tradução oficial da Bíblia na íntegra para português

ANA MARTINGO/OBSERVADOR

O padre por trás da nova tradução da Bíblia. Interpretar literalmente o Génesis não é apenas um erro académico: é um "pecado"

A Bíblia está a ser traduzida de novo para português, agora com carácter oficial. Em entrevista ao Observador, o padre responsável explica o desafio e alerta para o perigo das interpretações literais.

A Bíblia é o livro mais traduzido do mundo. Com pequenas variações entre as versões usadas por cada confissão cristã, trata-se na verdade de uma coleção de cerca de sete dezenas de livros, escritos por vários autores diferentes ao longo de um período de mais de mil anos (desde antes de 1000 a.C. até ao primeiro século depois de Cristo), que reúne diversos estilos literários, incluindo descrições mitológicas, relatos históricos fundamentais para conhecer a história do Médio Oriente e a civilização europeia contemporânea, cartas de fé, poemas de amor e narrações de milagres e outros episódios extraordinários. Os seus textos foram escritos originalmente em três línguas — hebraico, aramaico e grego — e, editados no seu conjunto, tornaram-se no livro fundamental da maior religião do mundo: são o guia espiritual de mais de 2,2 mil milhões de cristãos em todo o planeta e podem ser encontrados na estante de uma grande parte das casas dos portugueses.

Todavia, até hoje, ainda não existia uma tradução da Bíblia para a língua portuguesa com carácter oficial, feita pela própria Igreja Católica. As traduções que podem ser encontradas nas livrarias nacionais foram feitas por editoras católicas independentes — algumas a partir das línguas originais, como o caso das populares edições da Difusora Bíblica; outras a partir de traduções prévias, como a importante Bíblia de Jerusalém, traduzida do francês.

A inexistência de uma tradução oficial da Igreja explica-se facilmente. É que, ao contrário do que sucedeu na tradição protestante desde a Reforma de Martinho Lutero, para a Igreja Católica, a tradução em massa da Bíblia só se tornou uma realidade a partir da década de 1960, quando o Concílio Vaticano II determinou que as celebrações e as escrituras sagradas dos católicos deixariam o latim de lado para serem traduzidas para as línguas maternas dos fiéis. No caso português, só foram traduzidos os excertos habitualmente lidos nas missas — que estão longe da totalidade da Bíblia. Só em 2012 é que a Conferência Episcopal Portuguesa, órgão máximo da Igreja Católica no país, se lançou no desafio de produzir uma tradução oficial e integral da Bíblia.

O trabalho foi começado pelo antigo bispo de Viana do Castelo, D. Anacleto Oliveira, que morreu em 2020 num acidente rodoviário, e está hoje nas mãos do padre e biblista algarvio Mário de Sousa. Natural de Vila Real de Santo António, este sacerdote português de 50 anos estudou os mistérios bíblicos no coração da Igreja Católica, em Roma, onde se doutorou com uma tese sobre o Evangelho de São João, hoje dá aulas de Novo Testamento no Instituto Superior de Teologia de Évora e é o presidente da Associação Bíblica Portuguesa. É, assim, um dos maiores conhecedores dos textos bíblicos em Portugal — e nesta entrevista ao Observador explica os meandros do complexo processo de traduzir o livro mais famoso do mundo para português, no momento em que os resultados começam a ser gradualmente publicados na internet.

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A nova tradução da Bíblia começou a ver a luz do dia em março de 2019, altura em que a comissão responsável pelo processo publicou um volume experimental que inclui os quatro Evangelhos e o livro dos Salmos. Dois anos depois, a comissão vai começar a publicar na internet a totalidade dos 73 livros da Bíblia católica — ao ritmo de um livro por mês. O primeiro, a Primeira Epístola de São Paulo aos Coríntios, saiu esta semana e já está disponível na página criada especificamente para reunir os novos textos da Bíblia. O objetivo é reunir comentários e opiniões dos leitores, crentes ou não crentes, que permitam melhorar o produto final, que o padre Mário de Sousa espera colocar nas livrarias dentro de cinco anos.

Na entrevista, o sacerdote e estudioso da Bíblia descreve o processo de tradução dos textos sagrados, explica como se chega aos textos originais e adverte para os perigos das interpretações literais do que está escrito nos diferentes textos da Bíblia. É preciso, diz, parar de “manipular a palavra de Deus” — e quem insiste em leituras literais de textos como o Génesis, negando a evolução e apoiando teorias anti-científicas, não comete apenas um erro académico, mas também um pecado teológico, avisa o padre.

O padre Mário de Sousa preside à comissão que está a trabalhar na nova tradução da Bíblia para português

DR

Porque é que precisamos de traduzir outra vez a Bíblia? Qual é o problema da tradução atual?
A grande questão é que, de facto, a seguir ao Concílio Vaticano II, naturalmente foi necessário e urgente fazer uma primeira tradução dos textos litúrgicos — ou seja, dos textos que são usados na liturgia. Mas, com essa tradução, que é a que nós atualmente utilizamos, há dois ou três problemas. O primeiro é que apenas estão traduzidos os textos que são usados na liturgia; não é toda a Bíblia que está traduzida. E a orientação da Santa Sé, de facto, é para que cada Conferência Episcopal procure ter a Bíblia toda traduzida, e traduzida a partir dos originais. Ou seja, a partir do hebraico, do aramaico e do grego. Para ser utilizada a mesma tradução, não apenas na liturgia, mas em todas as dimensões da vida eclesial: na catequese, nos encontros de formação, nos documentos oficiais, seja naquilo que for.

Quando diz que não temos toda a Bíblia traduzida, o que é que falta? A ideia que tenho é que temos a Bíblia completa em português…
A Conferência Episcopal não a tem. Naturalmente, há editoras que promoveram a tradução, mas uma tradução que também tem outros critérios. Esta tradução tem, sobretudo, de assentar num critério: trata-se de um texto que, por um lado, tem de ser o mais fiel possível às línguas originais; mas, por outro lado, tem de ter uma outra dimensão, que é a sua finalidade. A finalidade primeira é que é um texto que se destina a ser proclamado. Não é apenas um texto para ser usado na academia, nas aulas de teologia — se bem que também —, mas sobretudo um texto que se destina a ser proclamado. Portanto, é necessário fazer aqui um balanço entre estas duas grandes dimensões. Quando digo que deve ser o mais literal possível, é preciso ter em conta que, embora, por exemplo, o Novo Testamento tenha sido escrito em grego, o substrato, a mentalidade, o esquema mental que está por trás não é a mentalidade grega, helénica. É a mentalidade do homem do Médio Oriente, do homem semita. A mentalidade do Antigo Testamento. Portanto, a tradução, quando se diz ser o mais literal possível, por um lado tem de ter em conta as palavras, mas por outro lado também o facto de apesar de, neste caso concreto do Novo Testamento, as palavras serem gregas, o pensamento, o mundo do texto e o mundo por trás do texto, não ser grego. Dou-lhe um exemplo. Paulo, quando fala do ser humano, utiliza naturalmente palavras gregas. Utiliza a psyche, que traduzimos naturalmente por alma, soma corpo e também pneuma, espírito. Ora, na mentalidade grega, tratam-se de diversos compostos do homem — sobretudo a alma e o corpo. Mas, Paulo, embora utilize palavras gregas, a concepção antropológica que está por trás destas palavras não é a da filosofia grega, ou do pensamento grego. É a ideia unitária, e não compósita, do ser humano. Naturalmente — e volto ao que dizia —, quando se fala em ser literal é preciso ter em conta, por um lado, ser literal, mas por outro lado, ser compreensível.

Antes de entrar nos detalhes da tradução, deixe-me só perceber. A maioria dos portugueses provavelmente tem uma Bíblia em casa. Essa Bíblia, atualmente, poderá ficar desatualizada?
Não digo desatualizada. Esta tradução não entra em concorrência com nenhuma das outras. Não é nesse sentido. Trata-se de uma tradução que brota de uma necessidade da Igreja em Portugal. Naturalmente, haverá outras editoras que a promoveram, embora não seja assim tão habitual termos uma tradução a partir das línguas originais. Em português não há muitas. Por exemplo, temos uma boa tradução, que é uma tradução de referência, que é a Bíblia de JerusalémMas a Bíblia de Jerusalém foi traduzida para o francês. Para o português, é já uma tradução do francês. Não temos assim tantas traduções a partir dos originais.

E a maioria das Bíblias comuns que temos? Por exemplo, as da Difusora Bíblica.
A da Difusora Bíblica, de facto, é uma tradução feita a partir das línguas originais, porque foi feita precisamente por biblistas portugueses. Naturalmente, depois tem uma área de interesse e de utilização que é um bocado diferente desta que a Conferência Episcopal quis promover. Não se trata de traduções que se anulem, mas que se enriquecem. Às vezes há um bocadinho esta conceção. Naturalmente, uma tradução é sempre uma traição, como diziam os antigos. Duas pessoas a traduzir, traduzem sempre de modo diferente. Nós termos a possibilidade de comparar duas ou três traduções, mais do que um conflito, é uma riqueza. Como diz Jesus no Evangelho, a palavra é um tesouro de onde se tiram sempre coisas antigas e coisas novas.

"Uma tradução é sempre uma traição, como diziam os antigos. Duas pessoas a traduzir, naturalmente que traduzem sempre de modo diferente. Nós termos a possibilidade de comparar duas ou três traduções, mais do que um conflito, é uma riqueza."

Mas esta nova tradução vai assumir um carácter, digamos, oficial, por ser promovida pela própria Conferência Episcopal — o que as outras não têm.
Exatamente. De facto, a finalidade é essa. Que o mesmo texto que escutamos na liturgia seja o mesmo texto que lemos em casa. Ou, pelo menos, que aparece nos documentos oficiais da Igreja e que é utilizado nas catequeses. A ideia é um bocadinho essa. Mas, por outro lado, além de não termos a Bíblia litúrgica na sua totalidade traduzida, esta tradução que se fez logo a seguir ao Concílio, além de ser bonita, de ter a nível do português uma boa construção e ser bela, apresenta algumas omissões e, às vezes, até alguns erros. Portanto, era preciso ter tudo isto em consideração neste projeto que a Conferência Episcopal iniciou.

Pode dar alguns exemplos de pequenos excertos que as pessoas conheçam e que tenham agora uma formulação diferente?
Uma das diferenças, que deu grande brado na comunicação social — que não é diferença, mas é uma curiosidade —, quando saiu a primeira edição dos Quatro Evangelhos e dos Salmos, foi o facto de se começar a tratar Deus por “tu”. Em lado nenhum da Bíblia se trata Deus por “vós”. Na mentalidade semita e na forma de falar grega, não se diz “Pai Nosso, que estais nos céus, venha a nós o vosso reino”. Isso é a nossa forma cultural de nós, portugueses, nos expressarmos. Trata-se de uma pessoa de reverência. Na Bíblia, não. A Bíblia só utiliza, quando se dirige a Deus, o “tu”, a segunda pessoa do singular. Portanto, aquilo que de facto pareceu uma grande novidade não o é. É a tradução literal do grego.

Nós tínhamos ido buscar a forma de tratar os reis e as pessoas importantes e transpusemos essa forma para tratar Deus.
Exatamente. Trata-se de um tratamento de reverência, que não está mal. Na liturgia, faz parte da nossa cultura. Não digo isso. Digo é que na Bíblia não é assim. Jesus não diz “Pai Nosso que estais nos céus”, diz “Pai Nosso que estás nos céus, venha o teu reino”. É assim que, nesta linguagem mais intimista e relacional, a Bíblia se expressa.

E essa é uma diferença que encontraremos ao longo de toda esta tradução da Bíblia?
Sim, mas que já encontramos noutras. Se estamos a traduzir das línguas originais, não podemos passar para a segunda pessoa do plural aquilo que na língua original está no singular. É uma das características que deu grande brado e que, no entanto, não é novidade nenhuma.

A Bíblia é uma coleção de mais de 70 livros, todos eles feitos em contextos diferentes, em tempos diferentes, com histórias e autores diferentes — e três línguas originais diferentes. Este processo de ir buscar os textos originais, imagino que dê trabalho não apenas do ponto de vista da técnica da tradução, mas também da própria pesquisa. Que textos originais são esses, onde é que estão? Como sabemos qual é a cópia original de uma carta de São Paulo, de um livro do Antigo Testamento?
Quando nós falamos dos textos originais, não falamos propriamente dos livros originais. O que se quer dizer com isto? Nós não temos nenhum original, de facto, da Bíblia. Naturalmente, pelos materiais que eram utilizados, e pela forma como o texto também era transmitido. Em primeiro lugar de uma forma mais oral. Sabemos que a tradição oral tinha um forte peso na transmissão da cultura, e também naturalmente da Bíblia. Por outro lado, a qualidade dos materiais fazia com que a decomposição fosse rápida. Portanto, não temos nenhum texto que possamos dizer que é o original. Não acreditamos que os livros caíram do céu. Ou seja, houve um livro original que Deus entregou ao seu povo — fê-lo, diz o livro do Êxodo, com os Dez Mandamentos. Mas a Bíblia é um processo. É um processo naturalmente inspirado, acreditamos nós que temos fé, em que Deus é verdadeiramente autor enquanto inspirador, mas que também tem um lado humano, do escritor sagrado, que também ele é um verdadeiro autor. Não utiliza apenas essa inspiração que recebeu, mas fá-lo também a partir de tudo aquilo de que é feito: da sua cultura, da sua forma de se expressar e até das suas dificuldades.

Em março de 2019, foi publicado o primeiro volume da nova tradução da Bíblia em português, com os quatro Evangelhos e o livro dos Salmos

CEP

E do seu talento literário.
E o seu talento literário, naturalmente. É muito diferente. Se olharmos para os primeiros capítulos do livro de Isaías, que são uma pérola da literatura mundial, ou para um outro livro como por exemplo o Génesis, que tem outra beleza, muito mais teológica do que propriamente literária. Isto foi sendo transmitido com as possibilidades que na altura havia. Nós agora temos uma grande facilidade de uniformizar a transmissão das coisas. Naquele tempo, sabemos que não. Portanto, é natural que surgissem diversas cópias. Fazendo cópias, é natural que começassem a surgir erros, a tentação de algum copista de explicitar melhor uma determinada passagem, ou então de saltar linhas quando estava a copiar determinado livro. Isto fez com que chegassem até nós não um original, mas vários daquilo a que chamamos os testemunhos do texto. Então, há, de facto, um trabalho que é importantíssimo, que é estudar cada manuscrito dentro de determinado texto que nos chegou, considerar a sua importância histórica e a que tipo de tradição é que pertence. Embora o texto seja o mesmo, pode ter chegado até nós através de escolas diferentes e a partir de cópias diferentes. Há este trabalho a que se chama a crítica textual: tentar, a partir do estudo dos manuscritos, da crítica interna e da crítica externa — ou seja, da comparação com os outros manuscritos —, tentar compor aquele que parece ser o texto que está na origem de todos estes manuscritos. Para isto, temos duas obras de referência. Para o hebraico, para o Antigo Testamento, aquela a que se chama a Bíblia Stuttgartensia; e depois para o Novo Testamento, o trabalho feito por Nestle-Aland [o volume é conhecido pelos apelidos dos principais editores, Eberhard Nestle e Kurt Aland] e por uma comissão da qual fez parte também o conhecido cardeal [Carlo Maria] Martini, e que são os textos nos quais os biblistas hoje se baseiam para poderem fazer as traduções.

E esses textos estão em hebraico, aramaico e grego.
Exatamente. E o texto sobre o qual nós trabalhamos é esta reconstrução feita pelos especialistas.

Ou seja, hoje quando falamos em ir às línguas originais, não falamos em ir outra vez a manuscritos e a arquivos, mas sim a estes textos já consolidados.
Facilita muito a vida! Não quer dizer que não se possa fazer, mas de facto esse trabalho está feito e, portanto, facilita muito a vida. Estas edições críticas apresentam-nos aquele que, segundo a comissão que fez o estudo, parece ser o texto “original”, mas apresentam-nos também as chamadas variantes do texto. Ou seja, há outras tradições que nos apresentam esta ou aquela leitura.

A Bíblia toda, desde o primeiro texto a ser escrito até ao último, ocupa um espaço de tempo de, mais ou menos, quantos anos? Estamos a falar de largas centenas…
As tradições, naturalmente, são muito antigas. As tradições que os livros apresentam são já tradições orais que, depois, se tornaram uma tradição escrita. Mas isto só pôde acontecer quando o povo de Israel ganhou alguma estabilidade depois da reconquista da terra e depois de uma certa pacificação. Então é que a cultura, como é natural, começa a impor-se e a desenvolver-se. A maior parte dos estudiosos da Bíblia aponta para um grande desenvolvimento na elaboração das tradições e no corpo escrito no tempo do rei Salomão [que liderou o reino de Israel aproximadamente entre 960 e 922 a.C.], embora a Bíblia não nos relate apenas uma tradição. Encontramos várias tradições, inclusivamente uma tradição muito importante, que é uma releitura da História, a partir de um acontecimento que marcou para sempre o povo de Israel, que foi o exílio na Babilónia. Em 587 a.C., o rei Nabucodonosor da Babilónia invade a Terra Santa, destrói o templo e leva deportado para a Babilónia, por um período de mais ou menos cinquenta anos, o povo de Israel. Isto foi um acontecimento traumático, porque, como sabemos, para um israelita, a sua fé assenta em duas promessas que Deus fez a Abraão: uma terra — a Terra Prometida — e uma grande descendência. Ora, no exílio da Babilónia, o povo pergunta-se: “Mas o que é que aconteceu para as promessas de Deus, à primeira vista, terem sido destruídas?” Então, à luz deste acontecimento, o povo começa a reler a sua história. Chama-se a esta história de releitura a escola Deuteronomista, que está muito presente de um modo particular no livro do Deuteronómio [o quinto livro da Bíblia]. O Deuteronómio fala-nos outra vez dos acontecimentos do Êxodo, mas já muito marcados por esta releitura de fé: “O que é que aconteceu? Porque é que tal desgraça sucedeu na nossa vida? Ah, porque fomos infiéis ao Senhor. Não foi ele que nos foi infiel, mas fomos nós.” Também esta tradição se encontra na Bíblia. Isto para dizer que não podemos dizer que a Bíblia foi escrita naquela fase. É um livro vivo porque, acreditamos nós, que temos fé, é a palavra de Deus. E Deus fala sempre através daquela palavra, atualizando-a para iluminar a situação concreta. O hoje, que é o hoje da salvação.

"Uma tradução é pegar no texto, traduz-se e pronto. Uma boa tradução é pegar no texto, mas ter em conta não apenas o texto, mas o mundo do texto e o mundo que está por trás do texto — e que configura e se espelha naquelas palavras e naquela forma de pensar."

Estamos a falar desses primeiros livros escritos nessa época — ou pelo menos uma tradição consolidada nessa época —, e depois a Bíblia inclui até ao Novo Testamento escrito já no primeiro século. Quais são os principais desafios de pegar num texto tão variado e diverso, com tantos estilos, feito ao longo de séculos, e criar um volume que oriente a fé dos católicos?
Penso que é o que distingue uma tradução de uma boa tradução. Uma tradução é pegar no texto, traduz-se e pronto. Uma boa tradução é pegar no texto, mas ter em conta não apenas o texto, mas o mundo do texto e o mundo que está por trás do texto — e que configura e se espelha naquelas palavras e naquela forma de pensar. É por isso que quem traduz o livro do Génesis não pode estar a traduzi-lo na mesma perspetiva de quem traduz, por exemplo, o livro de Isaías. O livro do Génesis é muito simbólico, vive muito de uma linguagem evocativa e não informativa. Não ter isto em conta vai fazer com que de uma leitura teológica se possa cair numa leitura fundamentalista, que interpreta a linguagem que é densamente oriental, que fala das realidades que nos ultrapassam a partir da experiência, mas de uma experiência que é envolvida numa dimensão simbólica, como se fosse linguagem jornalística. Naturalmente, quando o fazemos podemos estar a traduzir bem a nível das palavras, mas não a nível do mundo do texto e do mundo que está por trás do texto.

Da mensagem que ali está, no fundo.
É preciso ter em conta essa mensagem. Senão, perdemos a alma das palavras e a alma daquele texto.

Já que tocou nesse ponto: enquanto estudioso da Bíblia, preocupa-o uma leitura literal e fundamentalista da Bíblia, sobretudo dos capítulos mais antigos, por parte de correntes religiosas mais fundamentalistas, que pegam no texto e dizem “isto é mesmo assim”?
Essa leitura, na minha perspetiva, além de ser academicamente errada, é teologicamente um pecado. Porque se trata de manipular a palavra de Deus. Há duas situações na Bíblia que acho que nos podem ajudar. Várias, mas dou dois exemplos. A Bíblia diz: “Deus não existe.” Diz! Se eu disser isto a alguém, a pessoa fica espantada. Como é que é possível a Bíblia dizer que Deus não existe? Estou a ser literalista, mas também estou a tirar a palavra do contexto, porque antes diz assim: “Diz o ímpio no seu coração.” Portanto, posso fazer uma leitura literalista, que é sempre tendenciosa, e que normalmente é feita para justificar conceções ideológicas. Não posso ser eu a impor-me ao texto e a querer que o texto diga aquilo que quero.

Até estava a pensar mais numa interpretação demasiado mais literal do Génesis, que durante algum tempo foi usada — e ainda hoje é usada por algumas correntes mais radicais — para negar pressupostos científicos que já temos como mais ou menos consensuais, como a teoria da evolução. Para um estudioso da Bíblia há a preocupação de produzir hoje um texto que não deixe que as pessoas caiam nesse erro?
Por isso é que dizia que é o que distingue uma tradução de uma boa tradução. A boa tradução tem de ter em conta o mundo do texto e o mundo por trás do texto. Por exemplo, nós encontramos no livro do Génesis uma serpente a falar. Ora, as serpentes nem falam agora nem nunca falaram. Não estamos numa linguagem jornalística, informativa, descritiva. Estamos numa linguagem evocativa, que utiliza naturalmente símbolos, imagens figuradas, para nos falar de realidades que são muito mais profundas do que aquilo que a descrição pode dizer. Quando se diz que a serpente se aproxima e começa a falar com Eva, fala-se de quê? Da tentação, que é assim, que se aproxima, que sem darmos por isso se insinua, e que começa a criar na nossa cabeça racionalizações. Isto é o nosso esquema psicológico que a Bíblia explica daquela forma tão bonita. Por exemplo, quando a Bíblia diz que a mulher foi criada a partir de uma costela do homem, naturalmente que nenhum homem que conte as suas costelas tem a falta de uma, penso eu. O que pretende significar — e isto é revolucionário ser afirmado tantos séculos antes de nós —, é que a mulher tem a mesma dignidade do homem, mas que, por outro lado, o homem fica incompleto enquanto não encontrar aquela que lhe falta, e a mulher exatamente a mesma coisa: está incompleta enquanto não encontrar aquele que lhe dá plenitude. Então, termina o episódio dizendo: “O homem deixará pai e mãe para se unir de novo à sua esposa e serão os dois uma só carne.” Ou seja, um só projeto de vida, um caminhar em conjunto e em profunda comunhão. Isto é tão bonito quando temos a capacidade de perceber que se trata de uma linguagem evocativa, que é muito mais bela e muito mais profunda do que a linguagem descritiva.

"O livro do Génesis é muito simbólico, vive muito de uma linguagem evocativa e não informativa. Não ter isto em conta vai fazer com que de uma leitura teológica se possa cair numa leitura fundamentalista."

Mas há, de facto, o risco, que nós identificamos em algumas correntes, de cair nas leituras literais.
Isso é sempre um risco.

Está a dizer-me que uma série de imagens que estão nos textos da Bíblia não podem ser lidas de modo literal, mas que nos passam uma mensagem que temos de interpretar. Mas onde é que desenhamos a linha entre o que é obviamente uma imagem que temos de interpretar e aquilo que é, por exemplo, milagre? Há coisas que a Igreja considera dogmas, como a virgindade de Maria ou alguns milagres feitos por Jesus. Aí também não podemos dizer que, se calhar, é uma imagem — já que contraria a ciência — e que há uma mensagem a interpretar? Ou aí já é uma interpretação literal?
Esse é, de facto, o trabalho de um biblista. Ou seja, de alguém que estuda não apenas o texto, mas o mundo do texto. Esta é sempre uma questão à qual volto porque, para mim, é fundamental. É essencial para não se cair nos fundamentalismos. Os milagres de Jesus, por exemplo, já que falou neles, são para um biblista dados históricos. Não foram invenções dos apóstolos, porque ninguém daria a sua vida por uma invenção. Trata-se, de facto, de dados históricos, mas nos quais os apóstolos conseguiram sempre ver a intervenção salvífica de Deus. Quando Jesus faz um milagre, nunca é para dar espetáculo. Jesus nunca faz um milagre para chamar as atenções sobre si. Jesus faz sempre um milagre como sinal dessa libertação que Deus, através dele, quer trazer ao ser humano. Na Bíblia, as doenças e tudo aquilo que diminui a dignidade humana são manifestações do poder do mal. Portanto, as curas de Jesus não são para nos libertar daquilo que é a contingência da nossa biologia, daquilo de que somos feitos, mas para manifestar um acontecimento muito mais importante, que é a finalidade da sua vinda, resgatar o homem de tudo aquilo que o diminui para o levar a essa plenitude para a qual Deus o criou. Portanto, por um lado temos o dado histórico — é diferente daquilo que estávamos a falar ainda há pouco, que é uma linguagem que não se destina a relatar acontecimentos, mas realidades e verdades. Aqui é diferente. Mas mesmo atrás destes acontecimentos, e por isso é que eles foram escritos, porque Jesus fez muitas outras coisas, há uma catequese. O evangelista escolheu aquele sinal precisamente para nos transmitir essa catequese, esse sentimento mais profundo, que aquele sinal ou milagre traz consigo.

Ou seja, é uma diferença entre relatos históricos e mitos fundadores: histórias que não são exatamente relatos.
Sim, mas por outro lado é preciso termos cuidado com esta distinção. Os mitos não são mentiras. A linguagem mitológica é uma forma de falar sobre a verdade. Às vezes, na nossa forma de distinguir, podemos estar a excluir, a assumir que o relato é verdadeiro e o mito é qualquer coisa de construído. O mito, de facto, tem uma base, segundo nós, histórica, que depois se desenvolve numa linguagem que lhe é própria, para através dela transmitir uma verdade. Uma verdade que é objetiva, não é subjetiva. O relato também não é completamente verdade. Vou dizer de outra maneira: o relato também é uma interpretação da realidade. Mesmo na linguagem científica, mesmo na linguagem de um historiador, trata-se sempre de uma interpretação da realidade. Não é por isso que deixa de ser verdade, mas é uma verdade que, naturalmente, acaba por ter um bocadinho de subjetividade.

Daí que a Bíblia inclua quatro Evangelhos, e muitos episódios da vida de Jesus são relatados várias vezes, com pequenas diferenças. Mas imagino que seja um equilíbrio — o tal equilíbrio da boa tradução, a que vai voltar — difícil de manter, não só para os biblistas, mas para os católicos e para a hierarquia católica no geral, entre aquilo que se considera ser matéria de fé, mesmo que contradiga a ciência, e aquilo que tem de ser interpretado. Ainda por cima, está tudo no mesmo volume. Por isso é que há um argumento frequente entre os mais literalistas: porque hei de interpretar literalmente o que está numa parte da Bíblia e não o que está noutra parte? Há, de facto, subtilezas na Bíblia.
Até porque a Bíblia, naturalmente, é feita de vários géneros literários — e nós sabemos que o género literário condiciona a forma como se apresenta, às vezes, até a mesma verdade. Um acidente visto e relatado por um polícia é relatado de uma maneira. Por um jornalista, é relatado de outra maneira. Por um humorista é relatado de outra maneira. E por um popular ainda é relatado de outra maneira. Algum destes géneros literário é falso? Não. Todos eles são verdadeiros. Agora, todos falam da mesma realidade a partir de esquemas mentais e de esquemas de construção de descrição da realidade que são diferentes. E a Bíblia, naturalmente, porque é também obra verdadeiramente humana — divina, mas também verdadeiramente humana, os escritores são seres humanos —, utiliza estes esquemas, estas formas de falar. Portanto, é preciso termos em conta que quando falamos do género literário “milagre”, não estamos a falar do género literário “parábola”. São formas de construir, de relatar e de transmitir diferentes.

A Bíblia é o livro mais traduzido do mundo

Getty Images

E o papel do tradutor também é pôr-se no lugar do tal jornalista, do polícia… quando vai escrever o texto.
Exatamente. Sobretudo, perceber que tipo de género literário é aquele, porque isso é muito importante para poder extrair o sentido profundo do texto.

A maioria das Bíblias que as pessoas têm em casa têm introduções históricas, de contexto, sobre a vida do autor, antes de cada livro. Isto é algo que planeiam manter nesta nova tradução?
Sim. Numa primeira fase, de facto, quando o projeto começou em 2012, e levou algum tempo a arrancar, a ideia era traduzir apenas o texto bíblico, sem qualquer tipo de notas ou de introduções. Depois, numa segunda fase, considerou-se importante inserir notas que justificassem as opções de tradução. Porque é que se traduziu daquela maneira e não de outra. Depois — e, penso eu, muito bem — foi decidido que era importante seguir a nossa tradição católica, que é ajudar o leitor a entender o mundo do texto através das introduções e das notas. Os primeiros a entregar o trabalho das suas traduções não tinham tido isto em consideração logo no início. Por isso, foi preciso rever outra vez os livros e introduzir-lhes essas anotações, que são importantes para entender o mundo do texto e o mundo por trás do texto. Por exemplo, os protestantes não têm esta tradição; normalmente, traduzem o mais literal possível e sem qualquer introdução ou sem qualquer nota. A tradição católica é diferente. Basta comparar uma Bíblia e outra. O texto é o mesmo, mas com critérios diferentes.

Há uma equipa por trás disto, muitas horas de trabalho, imagino. Como tem sido feito este trabalho?
No princípio considerou-se convidar não apenas biblistas da Associação Bíblica Portuguesa, mas também dos PALOP. Porque esta tradução, um dia mais tarde, vai destinar-se também aos países de língua oficial portuguesa, exceto o Brasil, porque tem outra tradição e outra forma de se expressar. Mas os livros litúrgicos que vão usar esta tradução, e aquilo que dela resultar, vão ser usados em Angola, em Cabo Verde, na Guiné, em Moçambique…

É uma parceria das Conferências Episcopais?
É uma tradição, tem sido assim. O missal que se utiliza em Portugal é o missal que também todas estas Conferências Episcopais utilizam nos seus países. Assim também como lecionário [livro com os textos para serem lidos durante a missa]. O mesmo que acontece neste momento é aquilo que, porventura, acontecerá também no futuro. Além disso, o senhor D. Anacleto [Oliveira], que era o presidente da comissão, responsável da Conferência Episcopal por este projeto, considerou importante convidar-se também biblistas do Brasil. Isto fez com que o conjunto dos biblistas fosse de 34. Além de sermos 34, cada um com a sua sensibilidade e a sua forma de se expressar, éramos biblistas de Portugal, do Brasil, de Angola e de Moçambique. Com culturas diferentes e formas de expressão diferentes. Quando as traduções chegam, é preciso fazer uma harmonização dos textos. Em primeiro lugar, ver se os textos correspondem a estes dois critérios de que falámos no início: por um lado, ser o mais literal possível, mas não literalista ao ponto de se tornar incompreensível. Portanto, o segundo critério é a sua compreensibilidade. Há a comissão coordenadora, mas dentro desta comissão há duas subcomissões científicas, a do Antigo Testamento e a do Novo Testamento, que fazem a revisão das traduções e procuram fazer uma harmonização. Por exemplo, que a mesma palavra em Paulo seja, preferencialmente, sempre traduzida da mesma maneira, para que quem não tem acesso às línguas originais possa perceber, pela tradução, que se trata, no original, da mesma palavra.

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Como foi feito esse trabalho? Dividiram os textos pelos vários biblistas? Ou criaram grupos em que várias pessoas traduzem o mesmo texto e depois confrontam versões?
Os biblistas foram consultados e questionados sobre, dentro da sua área de especialidade, qual o livro para o qual sentiam maior apetência e melhor preparação para poderem participar e traduzir. Essa informação chegou-nos e, a partir daí, os livros foram entregues aos diferentes biblistas. Depois dessa tradução, que cada biblista fez do livro que lhe foi entregue, então há este trabalho das subcomissões respetivas, de tentar ter em conta que a tradução siga estes dois critérios — a literalidade e a compreensibilidade —, e por outro lado que aquela tradução seja harmónica com todas as outras traduções similares. Nos Evangelhos sinópticos [como são conhecidos os de Marcos, Mateus e Lucas, que têm muita informação em comum; deste grupo não faz parte o de João] foi um trabalho imenso, porque cada biblista traduziu um Evangelho e depois foi necessário uniformizar e harmonizar os textos que são iguais nos três Evangelhos. Além disto, também as palavras. Obviamente, isto é um trabalho que exige muito tempo e que, por isso, também prolonga os trabalhos.

"Os mitos não são mentiras. A linguagem mitológica é uma forma de falar sobre a verdade. Às vezes, na nossa forma de distinguir, podemos estar a excluir, a assumir que o relato é verdadeiro e o mito é qualquer coisa de construído."

Ou seja, isto numa primeira fase é um trabalho individual: o biblista vai com o texto para casa e traduz. Só depois, numa segunda fase, é que há um trabalho que imagino que também inclua o tradutor, em que o texto vá andando para cima e para baixo para haver essa harmonização.
Depois dessa revisão, então a subcomissão faz chegar ao tradutor as suas anotações e considerações. Porque às vezes o tradutor pode dizer que é importante que certa expressão se traduza de determinada maneira — e fundamenta. E a subcomissão depois terá isso em conta. Agora, como é um trabalho de muita gente, não podemos ter uma tradução que acaba por não ter uma certa harmonização. O trabalho destas subcomissões é sobretudo esse. Depois disto, o texto é entregue a um especialista em língua portuguesa, para que se possa pronunciar, e finalmente a um liturgista, para que também possa fazer considerações sobre o uso litúrgico daquele livro ou daquela passagem. No meio disto tudo, e penso que será a grande inovação do projeto, fazemos uma primeira edição, ou uma primeira publicação ad experimentum, como foi chamada aquela que foi física dos quatro Evangelhos e os Salmos, para que o povo de Deus — ou mesmo as pessoas que não são crentes, mas que tenham interesse em conhecer e aprofundar — se possa pronunciar, naturalmente não sobre a tradução em si, no sentido de se o grego ou o hebraico estão bem traduzidos, porque a maioria das pessoas não tem essa possibilidade, mas sobretudo sobre a compreensibilidade. Nós já estamos tão habituados ao texto, depois de o termos trabalhado tanto, já estamos habituados a uma certa linguagem que para nós é natural. Mas pode ser academicamente irrepreensível e, pastoralmente, não funcionar porque não é compreensível. Então o que é que pedimos às pessoas? Que nos digam isso. Que nos digam “olhem, esta expressão em português não funciona”, “não conseguimos perceber muito bem o que se pretende dizer com esta construção”. Tendo esta sensibilidade, a subcomissão respetiva procurará reformular, mantendo a literalidade e o respeito literal pelos originais, e integrar esta dimensão, que é tão importante quanto a primeira. Para nós, cristãos, a Bíblia não é apenas um livro ou um conjunto de livros. Na Bíblia, encontramos aquela que para nós é a palavra de Deus. Ou, dito de outra maneira, através daqueles escritos, Deus continua a falar. Se a tradução não for compreensível, como é que Deus pode fazer-se ouvir através de um português que não funciona? Portanto, esta é uma questão importantíssima, a nível não apenas académico, mas a nível da fé.

Ou seja, é fundamental que tenha utilidade e sirva para alguma coisa. Vi que criaram um email através do qual as pessoas podem enviar sugestões. Têm recebido muitas? Pode dar algum exemplo de alguma coisa que tenha sido mudada?
Recebemos várias, bastantes. Algumas muitíssimo válidas, mas outras muito generalistas. “Gosto muito desta tradução” ou “esta tradução não me agrada”. Este tipo de comentários não ajuda. O que ajuda é um outro tipo de comentários que recebemos. Alguns apontam gralhas que existem no texto. Outros pronunciam-se precisamente sobre esta questão fundamental que é a compreensibilidade: “Academicamente está muito bem, mas o que é que isto significa verdadeiramente em português? Não conseguimos entender.” Há muitas considerações deste género, que são importantíssimas não só para envolver o povo de Deus em algo que a todos diz respeito, mas sobretudo para aprimorar, para melhorar a compreensibilidade do texto. Tendo feito esta primeira experiência, que foi positiva, pensámos que seria também muito importante e interessante alargar a todos os outros livros da Bíblia. Daí este projeto de publicarmos um livro por mês — porque publicar um grande conjunto de livros pode ser desmobilizador e desmotivador.

O primeiro volume já saiu há dois anos. A partir deste mês vão publicar um livro da Bíblia por mês na internet, para ir recolhendo feedback. Quando é que vamos ter a nova Bíblia finalizada? Há um prazo para ter o novo livro nas livrarias?
A partir do processo que lhe expliquei, é muito temerário da minha parte estar a apontar já uma data que esteja no horizonte. Pensamos que no final do próximo ano teremos o Novo Testamento pronto e que dentro de mais dois ou três anos teremos o Antigo Testamento também pronto. Apontava para mais uns quatro ou cinco anos até o processo estar concluído. Mas pronto, tudo isto depende de muita gente e de conjugações de agendas, o que nem sempre é fácil.

Porque ninguém está nisto a tempo inteiro — ou está?
Temos, por exemplo, o professor José Ramos, que é o coordenador do Antigo Testamento. É catedrático emérito da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e, portanto, está a dedicar-se a tempo inteiro aos livros do Antigo Testamento. No Novo Testamento, o coordenador sou eu — já o era antes de ter substituído o D. Anacleto nesta presidência da equipa coordenadora —, mas os outros dois são dois leigos, são professores da Faculdade de Teologia do Porto. Um é classicista, outro é biblista, e além de serem professores e terem as atividades académicas inerentes, são pais de família. São limitações a nível temporal, mas que são uma riqueza, porque também aportam muitas sensibilidades.

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