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epa10957592 A swimmer exits the sea as the sun sets in Ashdod, Israel, 04 November 2023.  EPA/NEIL HALL
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Durante a onda de calor foram ultrapassadas temperaturas máximas em cerca de 30% das estações meteorológicas de Portugal

NEIL HALL/EPA

Durante a onda de calor foram ultrapassadas temperaturas máximas em cerca de 30% das estações meteorológicas de Portugal

NEIL HALL/EPA

Onda de calor que se prolongou até ao início de fevereiro acabou. Mas episódios de calor vão ser mais frequentes no inverno

Portugal registou em janeiro a mais significativa onda de calor neste mês desde 1941 e que se prolongou no primeiros dias de fevereiro. Um novo recorde no ano que se prevê ser o mais quente de sempre.

O ano de 2023 terminou como o mais quente de que há registo e deixou uma sucessão de recordes climáticos, entre eles a primeira vez em que a temperatura média global esteve, durante dois dias consecutivos, 2.ºC acima dos valores pré-industriais. A comunidade cientifica desde cedo avisou que 2024 poderia ser ainda mais quente e os primeiros recordes do ano começaram a chegar já em janeiro, com temperaturas anormalmente elevadas em algumas zonas para um mês do ano que deveria ser de muito frio.

Em Espanha, a localidade de Gavarda (Valência) atingiu no dia 27 de janeiro valores na ordem dos 30.7ºC. Segundo a Associação Valenciana de Meteorologia (AVAMET), isso significa que foi batido o recorde de temperatura mais alta na Europa num mês de janeiro. O organismo destacou que foi a primeira vez que se registou uma temperatura tão elevada nesta altura do ano desde que os dados meteorológicos estão disponíveis. Em França, depois de um início do ano marcado por temperaturas geladas, precipitação e neve, janeiro acabou com “temperaturas primaveris” no sul do país — em particular, em torno do Mediterrâneo e perto dos Pirenéus — que agravaram as condições de seca na região, indicou o serviço de meteorologia nacional. Segundo o Météo-France, a marca dos 25.ºC já foi atingida pela primeira vez no ano, no dia 26, nos Pirenéus Orientais (25.8°C em Céret e 25.6°C em Vivès).

Já Portugal registou em janeiro uma onda de calor considerada pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) como a “mais significativa observada no mês de janeiro desde 1941”. Um fenómeno raro para esta altura e detetado por cerca de 30% das estações meteorológicas do continente. “Estes episódios de calor serão sem dúvida cada vez mais frequentes”, diz ao Observador Vanda Pires, do IPMA. “Já têm estado a ocorrer nestes últimos anos e vão continuar com certeza também a existir estes picos e estes episódios de temperaturas, tanto no verão, como no inverno e nas estações de primavera ou outono, que já temos registado também”, refere, acrescentando que não é um fator que se possa dissociar das alterações climáticas.

A onda de calor que marcou o arranque do ano em Portugal

No final da semana passada o IPMA revelou que Portugal continental registou no primeiro mês do ano, em alguns locais do norte e do centro do país, uma onda de calor considerada a “mais significativa” observada em janeiro desde 1941 — os registos começaram a ser feitos um ano antes, em 1940. Segundo a análise do organismo, a partir do dia 22 foram registados valores de temperatura do ar “muito superiores ao valor médio mensal” e que se prolongaram até aos primeiros dias de fevereiro.

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Ao Observador, Vanda Pires refere que esta foi a onda de calor mais significativa desde essa altura pela sua extensão espacial — nunca se tinha verificado um distribuição por tantas estações — e também pelo número de dias em que algumas das estações de monitorização registaram a onda de calor. “Neste momento, Penhas Douradas vai com 15 dias, que já se aproxima muito do máximo que teve, que foi 17 dias em 1976. Mas depois temos outras estações, como Viseu, com 14 dias, e Monte Alegre, também com 13 dias, por exemplo”, refere.

Segundo o histórico do IPMA, o maior número de ondas de calor em janeiro foi registado nas estações de altitude. A de Penhas Douradas registou sete, com a mais extensa a chegar aos 17 dias em 1976 (2 a 18 de janeiro) e a 14 dias em 2015 (1 a 14 de janeiro). Já a de Bragança registou duas ondas, em 1976 e 2022; e Portalegre outras duas, em 1976 e 1983. “As ondas de calor em Portugal no mês de janeiro são muito pouco frequentes. De referir que, das cerca de 60 estações meteorológicas analisadas desde 1941, 75% das estações nunca registaram uma onda de calor neste mês”, segundo explicou o organismo.

Sobre o que provocou esta onda de calor, Vanda Pires refere que se verificou um transporte de ar mais quente vindo da África, mas nota que estes períodos quentes estão a registar-se com maior frequência no período do inverno. “Não podemos dissociar realmente das alterações climáticas, porque, sem dúvida, é uma das componentes para estes valores mais altos de temperatura que se têm registado inclusive no inverno“, refere.

Em janeiro, a temperatura mais elevada foi registada em Aljezur, no dia 25, com 26,3°C. Segundo o IPMA, foi o terceiro valor mais alto registado desde 1940 num mês de janeiro. Só em 2003 se tinha alcançado valores mais altos, nomeadamente em Rio Maior (27,3°C) e em Tomar (26,4°C). “Na onda de calor foram ultrapassadas temperaturas máximas em cerca de 30% das nossas estações meteorológicas, que registaram extremos de temperatura e algumas são séries com mais de 60 anos, o que é bastante relevante”, sublinha.

Patrícia Gomes, do centro de previsão do IPMA, refere que a onda de calor ao nível do continente já terminou, apesar de até segunda-feira algumas poucas estações — as de Montalegre, Miranda do Douro, Nelas, Guarda e Lousã — ainda terem contribuído com registos de temperatura elevados. “A nível meteorológico, também falamos de ondas de calor para determinados locais, porque isto é feito estação a estação, dia a dia. E, portanto, estas quatro ou cinco estações, eventualmente, também terão terminado ontem”, explica. “Aparentemente, a partir de hoje e até dia 12, sensivelmente, os valores vão estar dentro do que é normal para a época do ano”, refere, explicando que não se prevê, pelo menos para já, outros episódios de temperaturas elevadas.

O ano de 2024 pode tornar-se o mais quente de que há registo

O relatório anual da Organização Meteorológica Mundial, publicado em meados de janeiro, confirmou que 2023 foi o ano mais quente no mundo desde que há registos. Confirmava, assim, o balanço que já tinha sido divulgado pelo programa europeu de observação da Terra Copernicus e que também foi reforçado pela NASA. Mas são já vários os alertas de que 2024 pode superá-lo, em parte devido à continuação das emissões de gases com efeito de estufa e pelos efeitos da ação humana, mas também devido ao El Niño, um fenómeno climático natural que começou no ano passado e é marcado por temperaturas da superfície oceânica superiores à média no Oceano Pacífico central e oriental.

“Dado que o El Niño normalmente tem o maior impacto nas temperaturas globais após o seu pico, 2024 poderá ser ainda mais quente [do que o ano passado]. Apesar de o El Niño ocorrer naturalmente e ir e vir de um ano para o outro, as alterações climáticas a longo prazo estão a aumentar, e isso é inequivocamente resultado das atividades humanas”, destacava a Organização Meteorológica Mundial. Além disso, de acordo com um estudo citado pela Bloomberg, os extremos entre El Niño e La Niña intensificaram-se em cerca de 30% desde 1960 em comparação com as seis décadas anteriores, apontando-se o aquecimento global como um dos fatores que terá contribuído para a mudança.

NASA confirmou que 2023 foi o ano mais quente de que há registo

NASA

No mesmo sentido, cientistas da agência norte-americana de observação oceânica e atmosférica (NOAA, na sigla em inglês) estimam que há uma probabilidade em cada três de que 2024 seja mais quente do que o ano passado. Apontam ainda para uma probabilidade de 99% de 2024 ser classificado entre os cinco anos mais quentes desde que há registo.

Por agora a questão ainda permanece em aberto, especialmente tendo em conta a incerteza sobre a duração do El Niño. “É muito provável que persista até abril, possivelmente até maio, mas depois disso não sabemos — torna-se mais incerto”, explicou à agência Reuters Christopher Hewitt, da Organização Meteorológica Mundial. Os impactos deste fenómeno atingem, normalmente, o pico durante o inverno no Hemisfério Norte e depois diminuem, mudando para condições neutras ou para uma fase de La Niña, que traz temperaturas mais frias. “Se fizermos uma transição para uma fase de La Niña … talvez 2024 não seja o mais quente de que há registo“, admitiu à mesma agência Carlo Buontempo, diretor do programa de Alterações Climáticas do Copernicus, acrescentando que para já não é possível determinar se assim será.

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