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Os dias de Cunhal em Moscovo

O novo volume da biografia de Álvaro Cunhal, por José Pacheco Pereira, chega agora às livrarias. Leia aqui um excerto onde se descreve a vida e as rotinas do líder do PCP na URSS.

Estamos a 3 de Janeiro de 1960 e Álvaro Cunhal acaba de protagonizar uma fuga espectacular de Peniche, ao fim de quase onze anos de cadeia. É aqui que começa o quarto de cinco volumes da biografia do líder histórico dos comunistas, a que José Pacheco Pereira se dedica há vários anos (o volume termina em Setembro de 1968, quando é divulgada a notícia de que Salazar foi operado na sequência da célebre queda da cadeira).

Álvaro Cunhal, uma biografia política — o secretário-geral chega às livrarias a 4 de Dezembro. Hoje, o Observador faz a pré-publicação de um excerto do terceiro capítulo da obra, relativo ao período que o líder do PCP passou em Moscovo. A saída de Portugal aconteceu em Maio de 1961 e representou uma enorme mudança para Cunhal. Pela primeira vez na vida, teve de se habituar a uma rotina familiar mais próxima do normal: passou a ter uma vida doméstica com a mulher, Isaura, e com a filha pequena, Ana, que tinha idade para ser sua neta. Leia, no excerto que se segue, como tudo se passou.

Cunhal IV (1)

O livro é editado pela Temas e Debates/Círculo de Leitores, tem 480 páginas e custa 24,40 €

“Estilo de vida

Os dirigentes soviéticos proporcionaram a Cunhal boas condições de residência, mobilidade e trabalho, compatíveis com o seu estatuto de dirigente de um partido comunista no exílio. Outros dirigentes comunistas exilados tinham igual tratamento, segundo as regras restritas da nomenklatura, sempre em função do seu lugar na hierarquia partidária. Comunistas espanhóis, gregos (depois de 1968), turcos, incluindo personalidades como Nazim Hikmet, persas (do Tudeh), brasileiros, mais tarde chilenos, e outros recebiam alojamento, um salário, tratamento médico, férias, e facilidades nas instalações destinadas à nomenklatura soviética.

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Um conjunto de decisões administrativas foram tomadas pelo PCUS para garantir a Cunhal essas condições. Cunhal enviou um pedido formal para o Departamento Internacional do PCUS, que, a 14 de Setembro de 1961, o comunica ao CC, sendo aprovado dois dias depois. O objectivo era instalar Cunhal, Isaura e a filha Ana, prestes a chegar. Em 1961, é-lhe atribuído um salário de 500 rublos, mais 150 para a sua secretária (por comparação, Francisco Miguel recebia 180, Margarida Tengarrinha 130 e os participantes portugueses em cursos na URSS recebiam 180, o salário tipo de um operário qualificado), e estava autorizado a frequentar o refeitório do Kremlin reservado aos membros do Politburo. O acesso ao refeitório tinha grandes vantagens porque aí se podiam comprar, a preços muito baratos, géneros que não se encontravam noutros locais. Ocasionalmente recebia prendas do PCUS de elevado valor pecuniário, como a que lhe foi atribuída por decisão do CC do PCUS pelo seu quinquagésimo aniversário, no valor de 200 rublos. Cunhal usava também um carro do Estado para as suas deslocações em Moscovo.

É-lhe atribuído um «apartamento de três assoalhadas», mais um de uma assoalhada para a sua secretária, sendo as despesas com móveis a cargo do PCUS. (...) Ter três assoalhadas colocava Cunhal no topo da hierarquia da "nomenklatura".

Nem sempre é fácil fazer comparações com outros dirigentes comunistas exilados, porque as situações são muito distintas, envolvendo realidades familiares especiais. Era o caso de Luís Carlos Prestes, chegado em 1971. Com uma extensa família, Prestes recebia menos do que Cunhal (300 rublos), mas os seus nove filhos e mulher estavam alojados a expensas do PCUS.

Enquanto não lhe foi atribuída uma residência, Cunhal viveu em vários hotéis do partido, que também usava para os seus encontros políticos. Mesmo depois, durante toda a sua estadia moscovita, Cunhal continuava a usar os hotéis, em particular o Oktyabrskaya Hotel (Arbat) e o Sovietskaia, onde se encontrava com outros dirigentes estrangeiros, como Amílcar Cabral.

Na resolução do Secretariado do PCUS de 16 de Setembro de 1961, que referimos, é-lhe atribuído um «apartamento de três assoalhadas», mais um de uma assoalhada para a sua secretária, sendo as despesas com móveis a cargo do PCUS. Essa primeira casa, um apartamento num 5.º andar na Avenida Lenine (Leninsky Prospekt), uma das avenidas largas que atravessavam Moscovo, foi descrita por Cunhal a Francisco Ferreira como «um bom apartamento para três pessoas», tendo escolhido a mobília acompanhado por um funcionário do partido soviético. A referência constante ao espaço da casa compreendia-se numa cidade que conhecia uma aguda crise de alojamento, em que o espaço de uma habitação era um dos sinais mais importantes de status social. Ter três assoalhadas colocava Cunhal no topo da hierarquia da nomenklatura do PCUS. Usava para correspondência um apartado como caixa de correio em nome de «António de Sousa».

«Vivi no mesmo edifício na Vorobyovskaya Shossé, num apartamento perto do de Álvaro. Costumava encontrá-lo no elevador, acompanhado da mulher, de uma criança e da secretária. Mas nunca falávamos.»

Só em finais de 1964 é que Cunhal vai habitar um outro apartamento igualmente espaçoso em termos moscovitas, um passo acima do anterior em termos de nomenklatura, com quatro assoalhadas em Vorobyovskaya Shossé, perto da Universidade de Lomonosov. A decisão de lhe conceder este apartamento foi tomada pelo Secretariado do
PCUS em Dezembro de 1964, a seu pedido: «O Comité Executivo do Soviete de Moscovo de pôr à disposição da Direcção de Manutenção do Comité Central do PCUS, na zona de Vorobyovskaya Shossé, no primeiro trimestre de 1965, um apartamento de quatro assoalhadas. Encarregar a Direcção de Manutenção do PCUS de mobilar o apartamento de Álvaro Cunhal.»

Um relato feito por Gendrik Borovik, um jornalista da Novosti com ligações ao KGB, que esteve em Portugal depois do 25 de Abril, e que era vizinho de Cunhal, retrata a normalidade da sua vida como «moscovita muito reservado»:

«Vivi no mesmo edifício na Vorobyovskaya Shossé, num apartamento perto do de Álvaro. Costumava encontrá-lo no elevador, acompanhado da mulher, de uma criança e da secretária. Mas nunca falávamos.»

O exilado

Uma fotografia de Cunhal, nesse primeiro ano soviético, mostra-o muito rejuvenescido, depois da sua fuga, distendido e sorrindo, com ar feliz. O seu fácies facilmente reconhecível, cara angular, sobrancelhas e cabelo dão-lhe o ar de sedução e firmeza que sempre teve. Parece mais jovem do que a sua idade, veste clássica mas sobriamente, e está a fumar, hábito de que tentou escapar várias vezes.

Mas alguns dos seus interlocutores soviéticos na altura notavam-lhe uma sombra depressiva. No seu diário, Anatoly Chernyaev, que ensinara História na universidade e que à data era membro do Departamento Internacional do PCUS, o órgão que substituíra a Internacional, encontrou Cunhal por volta de 1962 a convite de um alto esponsável do mesmo Departamento, V. P. Tereshkin. E recorda a conversa em termos emotivos: «Eu pensei sobre a desesperança da sua causa e o seu heroísmo pessoal. Fez-me grande impressão naquela altura, mas estava desfeito.»

Ter uma família era uma novidade para Cunhal. Era a primeira vez na vida, quase aos cinquenta anos, que Cunhal tinha algo de parecido com uma vida familiar. Tinha família, mulher e filha, casa e algumas rotinas típicas de uma família.

Outros notam-lhe uma exagerada sisudez. O carácter self-righteous de Cunhal surpreendia muitas vezes alguns dos seus interlocutores moscovitas, que tinham um modo mais ligeiro e irónico de tratar os problemas. Um relato de um dos seus encontros moscovitas com um dirigente brasileiro revela essa diferença:

«Um companheiro que viera a Moscou em companhia do secretário-geral do PCB, Giocondo Dias, contou-me que encontrara, no hall do hotel onde estavam hospedados, o secretário-geral do Partido Comunista Português, Álvaro Cunhal. Ao saber que Giocondo, também ali hospedado, deveria descer dentro de instantes, decidiu esperá-lo.
‘Como vai a luta revolucionária no Brasil, camarada?’, perguntou efusivo e grave o dirigente português ao cumprimentar Giocondo Dias.
‘Aquilo está uma merda, companheiro’, respondeu Giocondo, para desapontamento de Cunhal.»

Por muito exaltante que fosse a vida pública de Cunhal este era um exilado na URSS. Tinha o peso da sua própria função nacional, a direcção do PCP à distância de milhares de quilómetros de comunicações muito difíceis, e o peso de uma vida familiar que não era isenta de problemas.

Ter uma família era uma novidade para Cunhal. Era a primeira vez na vida, quase aos cinquenta anos, que Cunhal tinha algo de parecido com uma vida familiar. Tinha família, mulher e filha, casa e algumas rotinas típicas de uma família. Não era uma vida familiar comum: entre Cunhal e Isaura havia uma diferença de idades muito significativa, a sua filha podia ser sua neta, e estavam a milhares de quilómetros, numa terra que tinha de lhes parecer estranha, com um clima muito diferente, hábitos domésticos muito diversos, formações e necessidades culturais distintas, experiências muito díspares. Cunhal tinha quinze anos de clandestinidade, mais de dez anos de cadeia, e mesmo em Moscovo levava uma vida muito especial, em nada comparável a um cidadão soviético. Nem Cunhal, nem Isaura tinham alguma vez tido um emprego, se exceptuarmos algumas actividades remuneradas de Cunhal no Colégio Moderno ou no Jornal do Foro.

«Fazia compras na loja de lacticínios perto de casa. Comprava leite para a companheira e para a filha Ana e kefir para si, uma espécie de iogurte típico do Cáucaso.»

É Cunhal que molda o espaço da casa no qual se traduz o seu quotidiano quando está presente. Isaura Moreira descreveu assim o apartamento moscovita, bastante mais amplo do que o costume na cidade:

«A sala de jantar do apartamento moscovita onde viveram na década de 60 foi transformada em escritório de trabalho. Sobravam dois quartos, uma sala de estar, duas casas de banho, uma delas transformada num pequeno estúdio de revelação de fotografias, e a cozinha.»

Cunhal lia e escrevia na maior parte do tempo que estava em casa, mas tinha hobbies e «ajudava nas tarefas de casa para se libertar dessa intensa actividade intelectual». Ajudava também nas compras:

«Fazia compras na loja de lacticínios perto de casa. Comprava leite para a companheira e para a filha Ana e kefir para si, uma espécie de iogurte típico do Cáucaso, mas com um processo de fermentação diferente e de maior facilidade digestiva por ser processado por um elevado número de microrganismos.»

Dois dos seus passatempos são conhecidos: um é cozinhar, o outro a fotografia. Praticava ginástica sueca e gostava de jogar xadrez. Cunhal fazia também alguns pequenos trabalhos de marcenaria. O seu estilo de vida é muito espartano. Levantava-se muitas vezes às cinco horas da manhã e lia e escrevia o dia todo. Muitas vezes era ele que preparava a sua própria comida.

A sua aptidão e gosto para cozinhar começou a revelar-se nesta altura e durou o resto da sua vida. É ele que ensina Isaura a fazer doces e sopas, e alguns dos pratos que confeccionava suscitaram a admiração dos seus camaradas no partido: mioleira com ovos mexidos, salsichas com molho, pato, pastéis de bacalhau. Mesmo que possa haver algum exagero de camaradagem, Cunhal conhecia a comida tradicional portuguesa e era um bom cozinheiro e, de Moscovo a Praga, e, mais tarde, Lisboa, existem vários testemunhos dessa capacidade culinária.

Isaura ajudava-o na dactilografia e nos recortes, mas na vida quotidiana da família Cunhal a existência de uma criança é pesada. Cunhal é pai de uma menina que chega a Moscovo com menos de um ano, e que exigia a atenção de uma criança dessa idade.

Quanto à fotografia, Cunhal usava um quarto de banho suplementar como laboratório fotográfico e tirava e revelava as suas fotografias. Algumas das suas fotografias familiares são de sua autoria. Mais tarde ensinou à filha os rudimentos da fotografia, continuando em Bucareste e Paris o que iniciara em Moscovo.

Isaura ajudava-o na dactilografia e nos recortes, mas na vida quotidiana da família Cunhal a existência de uma criança é pesada. Cunhal é pai de uma menina que chega a Moscovo com menos de um ano, e que exigia a atenção de uma criança dessa idade. Cunhal ajudava nos trabalhos domésticos quando podia e, como pai, preocupava-se com a alimentação da filha, que tinha algumas fragilidades de saúde e que teve inclusive de ser hospitalizada. Isaura Moreira refere que Ana Cunhal era muito difícil de alimentar:

«A nossa filha alimentava-se muito mal e ele fazia desenhos para a distrair e aproveitava para lhe colocar a comida na boca […]. Era muito paciente e dedicado

Há vários testemunhos de que Cunhal usava esta prática de desenhar para tentar acalmar as crianças dos seus amigos e companheiros, nem sempre com sucesso.

Várias fotografias desta época revelam a proximidade afectiva de Cunhal com a sua filha, que com dois, três, quatro anos, aparece várias vezes ao colo do pai (e numa, tirada no interior, ao colo da mãe) nos jardins de Moscovo. Cunhal levava-a habitualmente a passear e nada distingue essas fotos das de uma família vulgar, a não ser que o pai é mais velho do que o costume.

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Álvaro Cunhal com a filha, Ana, em Moscovo

Mas a sua família moscovita não era isenta de conflitos pessoais. Com a vinda de Dorília para viver com a sua irmã, havia momentos de tensão, que incluíam também a sua secretária desses anos, Margarida Tengarrinha, cujas relações com Dorília eram más.

Pouco a pouco, Cunhal adaptava-se à sua nova experiência soviética. Cunhal falava um russo de autodidacta, que tinha estudado sozinho, e que teria agora oportunidade de desenvolver e praticar. Falava ou lia também alemão, francês, espanhol e algum inglês. No entanto, é o russo a língua que mais utiliza e foi em Moscovo, onde teve aulas de dicção, que aprendeu a falar para as câmaras de televisão. Mas a língua permanece um obstáculo para Isaura e Cunhal arranja-lhe uma professora de russo. Mais tarde, Margarida Tengarrinha e Francisco Miguel ajudam à formação da filha.

A diferença de idades e de condição social pesava entre os dois. A actividade e as sucessivas viagens de Cunhal implicavam que tinha pouco tempo para a vida em comum e mesmo quando estava em Moscovo muitas vezes residia nos hotéis do partido onde tinha encontros políticos. Isaura era muito jovem para ter os mesmos interesses de Cunhal. Queria divertir-se e sair e Cunhal só cedia ocasionalmente (uma vez levou-a a um concerto; outra a um jogo de futebol). Isaura sente-se muito isolada em Moscovo.

A correspondência entre Isaura e a sua família mostra o adensar da distância e do afastamento e, em particular, as cartas de seu pai reflectem a situação de separação familiar.

Isaura sente também falta da sua família e de Portugal. O destino da família de Isaura, cujos pais nunca mais irá ver, permanece um elo quebrado no qual pesa a saudade e a distância e, em breve, também o drama, um drama muito peculiar que muitos comunistas sentiram na clandestinidade. A correspondência entre Isaura e a sua família mostra o adensar da distância e do afastamento e, em particular, as cartas de seu pai reflectem a situação de separação familiar. O pai pede-lhe para recriar na criança uma memória ausente:

«Querida filha, vou fazer-te um pedido para ensinares a nossa menina a dizer o nome do avô e da avó. Visto que não nos poderá conhecer em breve, ao menos que nos conheça o nome…»

Nessa correspondência há referências à disposição errática, nem sempre feliz, de Isaura. Numa carta, seu pai escreve-lhe:

«Querida filha. Desejo que estejas tão bem-disposta como no dia em que escreveste esta última que eu recebi. Segundo as tuas informações, estavas tão bem-disposta que tinhas boa disposição para tudo, para trabalhar, para comer e até para passear algumas horas. Não é verdade, minha filha? É bom que não se acabe essa boa disposição, que é com boa vontade que se consegue fazer muita coisa.»

Mas sucedem-se as más notícias que chegam de Portugal. O seu irmão Adelino (Pereira da Silva), funcionário do PCP, é preso em Janeiro de 1963, quando do desmantelamento do Comité Local de Lisboa. O pai, António João, escreve-lhe dando-lhe a notícia:

«Agora tem andado um pouco desorientada com a prisão do nosso querido Adelino e mais três camaradas, todos eles entregues à PIDE pelo pirata Pedro Manuel Santos, que tinha sido preso dez dias antes. Esse miserável traidor já está em liberdade, tornando-se um patife muito perigoso ao serviço da PIDE, mas este e todos os canalhas como este não está longe o dia em que tenha de dar contas.»

Isaura fica a saber da prisão de seus pais António João e Corália e das circunstâncias dramáticas da sua situação. Sua mãe, que permaneceu sempre fiel ao partido, não deixou de se queixar como mãe, que lhe tinham «levado os filhos todos».

Em 6 de Maio de 1963, António João e Corália Maria Pereira são presos na casa em que davam apoio a Blanqui Teixeira, que também é preso. António João faz declarações à polícia, colocando-se assim fora do partido. Uma Circular da Direcção Regional de Lisboa do Partido Comunista Português, datado de Junho de 1963, reafirmava a linha de intransigência do partido:

«Levantam-se dúvidas sobre a possibilidade de um bom porte na polícia perante a violência das sevícias ou o uso de ‘métodos científicos’, como drogas, gases, etc. Procura-se arrastar a discussão sobre o porte fora de uma perspectiva política revolucionária. Assim surgem as concepções mais fantasistas: a ‘análise da medicina’ (‘psiquiátrica’, ‘neurológica’ e ‘psicossomática’, etc.), a concepção dos ‘heróis’, únicos capazes de se portarem bem na polícia; a posição ‘não dogmática’, que duvida por sistema e tão vulgar no intelectual; a da ‘traição congénita’, que afirma que já se nasce traidor; a da necessidade de se possuir uma grande experiência, etc.
O porte na polícia é uma questão política e é nesta base que toda a discussão se deve processar. Um militante ideologicamente forte, um revolucionário consciente jamais falará na polícia, qualquer a tortura usada, física, moral, drogas, gases, etc. Pretender encontrar uma explicação fora duma análise política e ideológica é já um sintoma de fraqueza que deve ser combatida com toda a energia.»

Nas declarações que António João fez, ocultou a situação de sua filha Isaura, considerando que todos os seus filhos, Adelino, Isaura e Dorília, são funcionários do partido e estão na clandestinidade, nada sabendo deles. Nada diz de Cunhal, que esteve em sua casa a viver com a filha, e nada diz de Isaura.

Isaura fica a saber da prisão de seus pais António João e Corália e das circunstâncias dramáticas da sua situação. Sua mãe, que permaneceu sempre fiel ao partido, não deixou de se queixar como mãe, que lhe tinham «levado os filhos todos». Entretanto, a irmã de Isaura, Dorília, vem viver com o casal Cunhal em Moscovo.

Com o tempo, as relações de Cunhal e Isaura deterioraram-se e acabaram numa separação em que Isaura teve a iniciativa, manifestando a vontade de abandonar a vida em comum.”

Nota: Para facilidade de leitura, foram retiradas as notas de pé de página deste excerto do livro.

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