Artigo em atualização ao longo do dia
Ao quinto dia, o PAN teve finalmente um momento clássico de campanha eleitoral na rua. Depois de, durante a manhã, ter sido orador no congresso internacional de vegetarianismo em Paredes de Coura e de ter, após o almoço, visitado a Associação Rio Neiva, em Esposende, a pequena comitiva de André Silva seguiu até Barcelos, onde encontrou um centro histórico repleto de gente. O entusiasmo na caravana do PAN, sobretudo em comparação com as muitíssimo discretas ações de rua dos últimos dias, era visível.
Ao lado do cabeça-de-lista do partido por Braga, Rafael Pinto, André Silva distribuiu panfletos, selfies e beijinhos a muitos. E encontrou uma série de eleitores. Na verdade, uma da primeiras pessoas que abordou foi logo uma eleitora que vota em André Silva porque tem um cão, justificou. Mais à frente, convenceu uma vendedora de pipocas a, pelo menos, arranjar um tempinho nas orações para ler o programa do partido.
— Perca cinco minutos a ler as nossas propostas.
— Eu vejo mal. Tem de ser com os óculos.
— Com os óculos, em casa, à noite, antes de ir dormir.
— Antes de ir dormir tenho de ir rezar!
— Então primeiro reza, depois vê o programa do PAN, para depois ter um voto mais informado e mais consciente.
Na sua primeira grande ação de campanha na rua, André Silva convence uma vendedora de pipocas em Barcelos a arranjar tempo entre as orações para ler o programa do PAN #Legislativas2019 pic.twitter.com/eAAKTqkYfE
— Observador (Eleições) (@OBSEleicoes) September 29, 2019
Mais uns passos e outro eleitor do PAN. “O meu sentido de voto já está muito decidido. Desde que o senhor foi à televisão e disse aquilo que tinha a dizer… é seu”, ouviu André Silva da boca de um dos barcelenses com quem se cruzou. Todos aqueles que foi encontrando e que lhe garantiram o voto fizeram-no pelo mesmo motivo: a proteção dos animais. Mais tarde, aos jornalistas, André Silva desvalorizou a ideia de que o PAN é apenas o partido dos defensores dos animais.
“Para nós é extremamente positivo que toda a gente em Portugal reconheça o PAN, ou quando se fala em proteção dos animais se lembre automaticamente do PAN. Isso é um sinal do reconhecimento e deixa-me bastante contente”, afirmou o porta-voz do partido.
“O PAN quer fazer mais, mas apenas com um deputado não chega. Queremos ter mais deputados, queremos ter mais responsabilidades”, acrescentou.
Santos Silva “reconhece bom trabalho” e por isso não critica o PAN
Depois de o ministro dos Negócios Estrangeiros ter, neste domingo, surgido na campanha do PS para criticar todos à esquerda e à direita do PS — deixando o PAN de fora —, André Silva disse que “se calhar, Augusto Santos Silva, como a maioria dos portugueses, reconhece o bom trabalho que o PAN tem feito e provavelmente não encontra nenhuma crítica a fazer a um partido que tem uma postura construtiva, de pontes, dialogante”.
“Nós estamos muito empenhados, acima de tudo, até sexta-feira, em aumentar o nosso reconhecimento, em informar as pessoas das nossas propostas, para termos mais força, mais responsabilidade, independentemente dos resultados de dia 6 e daquilo que pode sair desse resultado”, acrescentou.
“Comer é um ato político”, diz André Silva em congresso vegetariano
Antes, André Silva tinha estado em Paredes de Coura, distrito de Viana do Castelo, para um compromisso que estava agendado há muito tempo e que não foi pensado enquanto ação de campanha eleitoral — mas, como coincidiu, acabou por ser incluído na agenda oficial. O porta-voz do PAN, André Silva, este no ponto mais a norte do roteiro do partido pelo país nestas duas sezmanas, para participar no CouraVeg, um congresso internacional de comida vegetariana. Aqui, André Silva defendeu a tese de que “comer é um ato político” e deixou críticas à União Europeia por entrar num acordo comercial com o Mercosul.
Durante a palestra de cerca de 20 minutos, a expressão “comunidade científica” foi uma das mais repetidas por André Silva, que tem insistido na ideia de que o PAN representa a voz da comunidade científica no que toca à redução do consumo de carne — quer pelas alterações climáticas, quer pelas questões de saúde. Começando por considerar que é “manifestamente impossível sobrevivermos neste momento se deixássemos de um dia para o outro de usar combustíveis fósseis”, André Silva apelou a uma “transição o mais urgente possível” para uma economia menos “petrodependente” — , mas também criticou quem acha que o inimigo é o capitalismo.
A ideologia predominante em países de direita e de esquerda é, considerou, “a do extrativismo e do produtivismo”. O que se faz com a riqueza gerada é que alimenta as diferenças entre campos políticos. “Mas o que está na base é o mito do crescimento ilimitado”, acusou, lembrando que “há 10 mil anos, no advento da agricultura, quando enquanto civilização nos começámos a sedentarizar, representávamos cerca de 1% da biomassa animal”. “Hoje, nós e todo o gado que criamos para consumo representam cerca de 98% da biomassa animal. Os outros 2% correspondem aos animais livres na natureza.”
Além da pegada carbónica, André Silva lembrou a pegada hídrica da produção de carne e disse a um auditório composto, mas não cheio, que atualmente 80% da água em Portugal é direcionada para a agropecuária. “Quando falamos em poupar água, todos nos falam em desligar a água quando estamos a lavar os dentes ou poupar na água do autoclismo. Claro que temos, mas nunca ninguém fala do elefante que está dentro da sala”, disse, para depois criticar os outros partidos por aquilo que tem considerado ser o aproveitamento mediático dos assuntos ambientais: “Hoje em dia vemos todos os líderes políticos muito preocupados com as alterações climáticas, mas veem-se poucas ações concretas”.
“Não devíamos celebrar acordos comerciais que não garantem standards europeus de proteção ambiental e direitos humanos, por exemplo com o Mercosul. É importante passar mensagens a líderes como Bolsonaro”, afirmou André Silva, acrescentando que “não faz sentido” que o erário público contribua para estes acordos. O porta-voz do PAN aproveitou ainda a conferência para esclarecer uma das medidas mais mediáticas do programa eleitoral — a de que as refeições oficiais dos eventos de Estado passem a ser, por defeito, vegetarianas. “Não há aqui nenhuma imposição”, garantiu. “Há sempre opção de carne ou de peixe.”
No fim da conferência, aos jornalistas, André Silva esclareceu que “não faz sentido termos standards europeus ao nível da proteção do ambiente relativamente à produção de qualquer matéria, seja ela qual for, e depois fazermos acordos comerciais com qualquer país ou bloco geopolítico que faça essa produção de qualquer bem sem qualquer proteção ambiental, com níveis muito reduzidos com impactos enormes ambientais”.
“Acho que os portugueses devem ser informados sobre o impacto que a produção do consumo tem nos ecossistemas. E deviam ser informados de que todo o gado que é produzido também em Portugal se alimenta de cereais que são produzidos na Amazónia e noutras zonas altamente pressionadas. De facto, entendo, como entende a ONU, como entende a comunidade científica, que devemos informar as pessoas e a população da pegada carbónica e hídrica do impacto que a carne tem para começarmos a reduzir animal em detrimento de uma alimentação mais baseada em proteína vegetal. E isso faz-se também através de políticas fiscais. Parece pouco sensato que se esteja a utilizar dinheiros públicos, de todos os nossos impostos, para produção de bens que são altamente impactantes, como é o caso da produção de carne”, explicou o porta-voz do PAN.
No final da conferência, André Silva ainda teve tempo para uma visita rápida às bancas da feira que acompanha o congresso internacional. Levou umas alheiras vegetarianas, experimentou umas sapatilhas ecológicas (e encomendou um par) e tirou fotografias com fãs e apoiantes. Olhando aos últimos dias de campanha eleitoral, o congresso vegetariano de Paredes de Coura foi mesmo o local onde André Silva foi abordado por mais apoiantes. À tarde, a caravana começa a descer, com ações de rua em Esposende e em Barcelos, antes de seguir para o Porto.
Artigo corrigido ao final da tarde. O candidato que esteve ao lado de André Silva chama-se Rafael Pinto e não Ricardo Arieira, como aparecia na versão originalmente publicada.