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Dalia Turner implementou toda a estratégia de teletrabalho da startup portuguesa que soma cerca de 82 milhões de dólares em investimento
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Dalia Turner implementou toda a estratégia de teletrabalho da startup portuguesa que soma cerca de 82 milhões de dólares em investimento

Dalia Turner implementou toda a estratégia de teletrabalho da startup portuguesa que soma cerca de 82 milhões de dólares em investimento

Pausas virtuais, aulas e folgas extra. Como a Feedzai geriu mais de 500 pessoas em teletrabalho

Salas virtuais para pausas em diferentes fusos horários, aulas temáticas e canais só para pais ou Covid-19. Foi assim que a Feedzai tentou resolver os problemas de ter 500 pessoas em teletrabalho.

Tem sob sua alçada as mais de 500 pessoas que compõem a equipa da Feedzai nos escritórios de Lisboa, Porto, Coimbra, Nova Iorque, Atlanta, Silicon Valley, Londres, Hong Kong e Sydney (além dos colaboradores que já estavam a trabalhar remotamente). Com a pandemia de Covid-19 a atravessar o mundo inteiro, foi Dalia Turner quem implementou toda a estratégia de teletrabalho da startup portuguesa que soma cerca de 82 milhões de dólares em investimento — e que contou com a implementação de salas virtuais para pausas/cafés, dias de folga extra, flexibilidade nos horários de trabalho e canais específicos de apoio a funcionários com filhos em casa ou que precisassem de esclarecer dúvidas sobre a Covid-19.

A operar no setor do combate ao cibercrime financeiro, Dalia explica que o novo coronavírus não teve muito impacto no negócio da Feedzai, mas teve nas pessoas, que foram trabalhar para casa ainda antes de os governos assim o decidirem. Durante este período a empresa teve de continuar a tomar decisões de negócio, que em alguns casos envolveu despedir funcionários e contratar outros. “As pessoas que tivemos de deixar ir não foram embora por motivos relacionados com a pandemia. Para alguém de recursos humanos, como eu, despedir uma pessoa pelo Zoom é das coisas mais difíceis que já tive de fazer”, afirmou numa videochamada com o Observador.

Com mais de 15 anos de experiência em gestão de talento, antes de entrar para a equipa da Feedzai, Dalia Turner estava na equipa da Microsoft Portugal. Agora, é diretora de recursos humanos global de uma equipa que conta com 65% da força de trabalho em Portugal, 25% nos EUA e 10% nas outras localizações. Com a pandemia de Covid-19, puderam estar todos, pela primeira vez, juntos nas mesmas salas virtuais, ainda que estivessem todos em fusos horários diferentes. A Feedzai foi fundada e é liderada por Nuno Sebastião e foi dele que veio a ideia de dar um dia de folga extra, por mês, aos funcionários, para compensar o facto de poderem estar a trabalhar mais em casa do que o que faziam no escritório.

Antes de liderar os recursos humanos da Feedzai, Dalia Turner esteve na Microsoft Portugal

“Os vigaristas não param só porque têm de trabalhar a partir de casa”

Como é que a pandemia de Covid-19 impactou o negócio da Feedzai?
Sabe, se pusermos as pessoas de parte — porque obviamente houve um grande impacto aí –, se olharmos para o negócio num todo, não houve muito impacto. Na parte de negócio, as coisas têm estado praticamente na mesma, o que faz sentido. Embora se tenha visto um decréscimo relevante de pessoas em sítios como postos de abastecimento e restaurantes, porque não estão a comprar e a sair de casa, a componente de compras online tem crescido drasticamente. Pessoas que não faziam compras online estão a fazê-lo agora. Infelizmente, para todos nós, os vigaristas não param só porque têm de trabalhar a partir de casa. A maioria até já devia trabalhar de casa antes. São muito criativos a trazer novas e antigas formas para tirar partido disso.

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A verdade é que temos assistindo a mais cibercrime por esta altura. Concorda? Na Feedzai, têm assistido a isto?
Sou de recursos humanos. Por isso, não vou ser capaz de confirmar se há mais cibercrime agora ou não. Posso dizer, da pesquisa que temos feito, que há coisas como ataques de phishing — nos quais se enviam coisas [mensagens] como: “Pode, por favor, confirmar os seus detalhes?”. As pessoas que não estão habituadas a trabalhar e a fazer compras online dão estes detalhes, porque não sabem. Os vigaristas estão sempre a criar novas formas para se aproveitarem. Posso dizer que estas coisas estão a acontecer. Sobre se o cibercrime como um todo está a aumentar, não sou a melhor pessoa para responder a isso.

Mas o setor onde a Feedzai opera é o das ferramentas para prevenir o cibercrime e isso é importante por esta altura.
Definitivamente. Para muitas das instituições financeiras a quem prestamos serviços, é crítico terem o nosso serviço ali. Por isso, este tipo de coisas tem de funcionar.

Teve de fazer ajustes à equipa devido a esta pandemia?
Toda a gente tem, obviamente, trabalhado a partir de casa. Até tomámos esta decisão antes e isso foi uma mudança significativa que fizemos. Penso que o facto de a Feedzai decidir ter as pessoas 100% remotamente antes dos governos decidirem isso mesmo permitiu-nos controlar como [o fazíamos] e garantir que as pessoas estivessem preparadas. Foi uma decisão nossa e penso que foi boa, porque estivemos muito focados em garantir que os nossos funcionários estavam saudáveis, seguros em todas as nossas localizações. Acho que o maior impacto foi esse: o facto de estarem a trabalhar a partir de casa e a incapacidade de saírem da casa. O facto de não poderem ver colegas cara a cara.

Têm mais de 500 pessoas a trabalhar a partir de casa agora?
Todas estas pessoas estavam a trabalhar a partir de casa até há uma semana e meia [do momento em que foi a entrevista]. A equipa de Hong Kong já voltou aos escritórios, começou antes de nós. Eles aprenderam com o SARS [síndrome respiratória aguda grave], tiveram as coisas sob controlo. Vimos o que estava a acontecer ali durante algum tempo. Por isso, o escritório de Hong Kong está agora a voltar por turnos. Há pessoas que ainda não regressaram por causa de crianças, escolas e outras coisas. Mas o resto das pessoas, no resto do mundo, continua a trabalhar a partir de casa.

"Vamos começar pelo que fizemos para manter as pessoas ligadas. Diria até: o que é que fazemos para manter as pessoas conectadas? O que fazemos para que as pessoas sintam que têm impacto e o que fazemos para que mantenham os espíritos positivos? São três coisas diferentes"

Tem ideia de quando é que as pessoas noutras localizações voltam ao escritório? Ou o trabalho remoto é algo que ainda vai durar alguns meses?
Atualmente, não temos uma data definida para regressarmos ao escritório. Como disse, a Feedzai foi uma das primeiras empresas a ir para casa. Acho que vai ser uma das últimas a voltar ao escritório, sobretudo, porque as pessoas têm conseguido ser igualmente eficientes a trabalhar a partir de casa. Acho que vamos olhar e aprender com os outros, incluindo com os nossos funcionários em Hong Kong, sobre o que está a funcionar, o que está a correr bem, quais são as coisas que temos de fazer para garantir que mantemos as pessoas seguras. Porque há muita informação a ter em consideração quando as pessoas regressarem.

Podemos ter reuniões por videoconferência, mas que não é o mesmo que estar na mesma sala com uma pessoa. O que é que fez na Feedzai — tendo em conta que é responsável por tudo isto — para manter e dar suporte/apoiar o espírito da equipa e fazer com que as pessoas se sintam unidas e ligadas da mesma forma? Quais foram as vossas preocupações e desafios?
Há muita coisa nessa questão. Vamos começar pelo que fizemos para manter as pessoas ligadas. Diria até: o que é que fazemos para manter as pessoas conectadas? O que fazemos para que as pessoas sintam que têm impacto e o que fazemos para que mantenham os espíritos positivos? São três coisas diferentes. Para manter as pessoas conectadas, fizemos aquilo a que chamámos de “reuniões pontuais”. Cada escritório tem um ID de reunião, como um ID de Zoom, à qual as pessoas podem ir. Aquilo está aberto todo o dia. Por isso, da mesma forma que estava no escritório e queria ir tomar um café com um colega, ir à copa e ver quem está lá, ter uma conversa rápida, pode aparecer aqui neste ID, ver quem está e ter uma conversa rápida também.

É uma pausa para café virtual?
É, sim. É uma pausa para café virtual. E as pessoas começaram a dizer: “Hey Ana, estou pronto para um café agora. Queres juntar-te? Alguém mais quer juntar-se a mim?”. E a outra coisa boa é que assim podem ver se há alguém em Londres que também queira beber café. Ou, então, ver se está alguém a trabalhar até tarde em Hong Kong a querer juntar-se, porque pode-se saltar para qualquer um dos escritórios virtuais. Isto foi uma vantagem que não tínhamos antes. Já tínhamos várias canais de chat para pessoas com interesses semelhantes, mas com a Covid, implementámos também um chat de suporte à Covid-19 e um para pais.

O genérico foi para tentar manter as pessoas conectadas, saberem o que está a acontecer. Era onde as pessoas tipicamente iam e era para toda a gente. E o outro para pais, tinha dicas para pais sobre a Covid-19, como fazer a escola em casa, coisas como “estou a dar em doida. Vocês estão também?”, etc. Era este tipo de apoio emocional. Fizemos este tipo de iniciativas e garantimos que toda a gente estava a par. Depois, começámos a ir para a parte do espírito. Uma das coisas que é segura na Feedzai e em todos os nossos escritórios é que às sextas-feiras temos um Wine Down.

Wine Down?
Sabe como Wind [descontrai] um pouco [Down] algo. Tirámos o D e pusemos um E e ficou Wine [Vinho] Down. Nós temos Wine Down virtuais. Tenho muita sorte em ter uma equipa muito criativa, que criou uma data de ideias para a pandemia. Isto é tudo a minha equipa fantástica que faz — tiveram a ideia de fazer um Trivia online, no qual as pessoas podiam responder a perguntas nos smartphones. Tivemos um karaoke virtual também. E um Pictionary virtual.

Mas todas estas coisas aconteceram uma vez por semana? Tinham uma data específica?
Às sextas, à mesma hora em que tínhamos tipicamente o Wine Down. Então, tínhamos o horário asiático para Sidney e para Hong Kong. Tínhamos EMEA Time e tínhamos o horário dos EUA. Era a mesma coisa, três vezes ao dia, com conteúdos diferentes. E foi ótimo. O Wine Down, no horário de Hong Kong, começava às 9h da manhã (em Portugal). Mas tínhamos pessoas que se juntavam e participavam.

"Mantínhamos a conversa sempre a acontecer, para a equipa saber como ter reuniões eficientes, por exemplo, ou para saber mais coisas sobre a Covid, como lidar com estar isolado. Sabe, coisas para as pessoas sentirem que tinham impacto, enquanto estavam em casa. Então, fizemos pontos de situação específicas sobre a Covid-19 em reuniões do Zoom, sobre como manter conversações virtuais de um para um ou como manter as expectativas"

Então, começaram a relacionar-se com outras pessoas noutros fusos horários. Uns estavam à noite, outros de manhã, mas juntos no mesmo espaço virtual.
Exatamente. E no horária EMEA, tínhamos pessoas do escritório de Atlanta a juntarem-se. Então, tínhamos pessoas de todos os sítios a juntarem-se num só espaço. Aconteceram muitas coisas nestes encontros, que agora são piadas da empresa, o que é muito bom. Mantínhamos a conversa sempre a acontecer, para a equipa saber como ter reuniões eficientes, por exemplo, ou para saber mais coisas sobre a Covid, como lidar com estar isolado. Sabe, coisas para as pessoas sentirem que tinham impacto, enquanto estavam em casa. Então, fizemos pontos de situação específicas sobre a Covid-19 em reuniões do Zoom, sobre como manter conversações virtuais de um para um ou como manter as expectativas.

Veja, as expectativas nas empresas não vão mudar. Então, a expetativa que temos dos funcionários também não vai mudar. Contudo, vamos ter de passar a ser mais flexíveis com a forma como as pessoas estão a fazer o seu trabalho. Há exemplo de líderes que estariam no escritório das 9h às 18h, o normal. Agora, como têm crianças pequenas em casa, não começam o dia antes da hora de almoço, porque estão a passar a manhã com os filhos e, à hora de almoço, começam a trabalhar e a mulher ou o marido tomam as rédeas à tarde. E, depois, voltam a ficar online à noite. Ou seja, o dia deles mudou um pouco. Depois, também temos pessoas que continuam a fazer pausas de almoço, mas que agora podem ser um pouco maiores, porque têm de cozinhar o almoço para si e para a família ou porque vão passear um pouco, porque a atividade física ainda é super importante. Por isso, vimos muitas mudanças na forma como as pessoas fazem coisas.

“Temos de lhes dar alguma coisa de volta, porque as pessoas estão a trabalhar mais”

Foi uma preocupação vossa pôr os líderes a viverem também este dia-a-dia flexível, para que as equipas não se sentissem culpadas se tivessem de fazer o mesmo?
Foi. E fomos muito deliberados ao dizer, por exemplo, que o responsável X não vai começar o dia até ao meio-dia porque está a passar a manhã com os filhos. Fomos também muito conscientes em dizer: estes não são tempos normais e não podemos baixar as nossas expectativas. Tudo o que podemos fazer é continuar a pedir-vos que façam o vosso melhor e sabemos que todos vão fazer o seu melhor. E, às vezes, isso significa que é preciso falar sobre o que se pode ou não alcançar, mas tudo o que podem fazer é o vosso melhor. E sabíamos que estavam todos a querer ser simultaneamente a melhor mãe, professora, o melhor pai, o melhor Feedzaian, a melhor nora, a melhor… E, por isso, enviámos esta mensagem constantemente, de pedir para que encontrassem formas de trabalhar, que partilhassem no canal dos pais diferentes coisas que estivessem a fazer e que soubessem que é “ok” experimentarem coisas diferentes.

Percebemos que algumas pessoas fizeram a transição de uma forma muito fácil e que, depois de seis a oito semanas, começaram a ficar mesmo, mesmo cansadas. Outras pessoas tiveram dificuldade no início, mas passado o mesmo tempo conseguiram dar a volta. É como se tivéssemos dois grupos de pessoas a passar por isto de diferentes formas.

"O nosso presidente também faz muita investigação e, por isso, veio ter comigo e é isto que adoro nele -- o meu presidente veio ter comigo, não fui eu a ir ter com ele, e disse-me: 'Dalia, li um artigo a dizer que as pessoas estão a trabalhar até 20% mais durante a Covid do que faziam antes'. E eu respondi: 'Sim e estamos a perceber isso nos nossos questionários'. E ele disse: 'Quero dar-lhes um dia de folga'. Eu: 'O quê?'. Ele: 'Acho que eles merecem uma folga'."

Quando trabalhamos a partir de casa podemo-nos esquecer de dar o dia por finalizado. Continuamos a trabalhar, porque temos o computador e estamos sempre online. Como é que fez para conseguir que as chefias percebessem isto? Qual foi a estratégia para evitar que isto acontecesse? 
Tenho muita, muita sorte. E estou muito contente que faça esta pergunta, porque me leva a um exemplo que adoro e que tenho partilhado muito recentemente. O nosso presidente executivo [Nuno Sebastião] tem andado a fazer pontos de situação mensais com os funcionários. Adoro que seja um líder que sabe ligar os pontos. Temos andado a fazer questionários semanais para saber como as pessoas se estão a sentir e a lidar com isto. Algum do feedback que nos chegou é que as pessoas estão a ter dificuldade em lidar com o início e o fim do dia. O nosso presidente também faz muita investigação e, por isso, veio ter comigo e é isto que adoro nele — o meu presidente veio ter comigo, não fui eu a ir ter com ele, e disse-me: “Dalia, li um artigo a dizer que as pessoas estão a trabalhar até 20% mais durante a Covid do que faziam antes”. E eu respondi: “Sim e estamos a perceber isso nos nossos questionários”. E ele disse: “Quero dar-lhes um dia de folga”. Eu: “O quê?”. Ele: “Acho que eles merecem uma folga”.

Então, nos meses de junho e julho, a Feedzai dá a todos os funcionários no mundo todo aquilo a que estamos a chamar o “Dia da Covid”, que significa que podem fazer uma pausa, porque já nos deram todo aquele tempo quando os seus dias se tornaram maiores.

Nuno Sebastião, da Feedzai: “Não tiro férias para aí há 10 anos”

Dão um dia de folga por mês aos funcionários?
Sim, isso. Mas o que adoro é que foi ele [o presidente executivo]. [O Nuno Sebastião] tem estado muito focado nas pessoas e no que andamos a fazer para manter as pessoas interessadas. Adoro que tenha sido ele a dizer: “Temos de lhes dar alguma coisa de volta”. Porque tem razão, as pessoas estão a trabalhar mais.

Há outras coisas que andamos a fazer para nos mantermos conectados. Já havia uma atividade que acontecia em São Francisco e, no momento em que isto aconteceu, o nosso diretor de RH nesse escritório disse: “Dalia, quero fazer isto a nível global”. Uma das coisas que andamos a fazer chama-se Coffee Roullete. As pessoas inscrevem-se e, no início da semana, recebem um email que diz: “Cara Ana, caro Igor, esta semana vocês os dois estão conectados, por favor, arranjem tempo para terem um café virtual”. Então, tivemos pessoas em toda a empresa a terem conversas que não teriam de outra forma.

O stress tem sido muito intenso e estamos muito preocupados com o facto de as pessoas continuarem ativas, comerem de forma saudável. Todas essas coisas. Fizemos uma semana virtual de bem-estar, em que em cada dia nos focávamos numa coisa diferente. Havia um dia em que falávamos de stress e fazíamos mindfulness. Outro em que nos focávamos na saúde financeira e havia alguém a falar de poupanças. E depois sobre ser-se ativo, onde fizemos aulas de dança.

No dia em que falámos de se comer de forma saudável, tivemos um chef com uma estrela Michelin a dar uma aula online. Depois, no final do evento, falámos de burnout, de como a Covid está a trazer todas estas emoções e o que está a acontecer na nossa cabeça e no nosso corpo, bem como as coisas diferentes que se podem fazer. Isso foi uma coisa muito reconhecida pelos nossos funcionários. Temos criado coisas para manter a nossa cultura. Por isso, temos um livro de cultura.

"Comecei a ficar muito preocupada com as pessoas que não estavam a responder e como é que elas estariam. E, aí, o departamento de Recursos Humanos telefonou a cada um dos funcionários, eram quase 500 no mundo todo, e perguntou: 'Como estás? Estás a adaptar-te? A ter o apoio de que precisas?'"

Encontrou resistência de alguns colaboradores?
Nesses questionários semanais que estávamos a fazer, percebi que a participação não era tão grande quanto o que gostaria. Comecei a ficar muito preocupada com as pessoas que não estavam a responder e como é que elas estariam. E, aí, o departamento de Recursos Humanos telefonou a cada um dos funcionários, eram quase 500 no mundo todo, e perguntou: “Como estás? Estás a adaptar-te? A ter o apoio de que precisas?” e tenho duas histórias fantásticas sobre essa semana.

Estava a falar com um dos nossos funcionários e ele contava como se estava a sentir, que estava um pouco stressado e que não sabia porquê, e eu disse que ele devia ouvir uma das sessões que tínhamos feito, porque ficam todas gravadas. E ele respondeu: “Oh, sim, a minha mulher viu essa e disse que era fantástica, que eu devia ver”. Ou seja, também estivemos a ajudar a comunidade mais alargada. Noutro check-in que fiz, a um dos nossos engenheiros de software, quando lhe perguntei se estava a ter o apoio de que precisava, respondeu-me que tinha sempre achado que o mindfulness era tonto, mas que tinha ido a uma das nossas sessões e que agora estava a investigar muitas coisas sobre o midfulness.

Por isso, sim, nem toda a gente tem participado, mas acho que há muito boa vontade por termos disponibilizado estas coisas e por elas serem relevantes. O facto de saberem que elas estão lá, mesmo que não possam ir, as pessoas sabem que podem aceder a elas noutras alturas do dia. Mas sim, temos pessoas que resistem. Vou ser honesta, eu não fiz a aula de dança, não era para mim, mas há estas coisas… Temos tentado chegar quase a todo o lado. Nem tudo vai agradar a toda a gente.

Por termos estado a oferecer isto para os diferentes fusos horários, acho que enquanto empresa e comunidade estamos, na verdade, mais fortes. Tem havido uma experiência partilhada de todos nós estarmos juntos. Mas não se trata apenas de fazer jogos divertidos. Quando telefonámos a estas pessoas todas, percebemos que havia pessoas que não estavam muito bem. Temos funcionários que estão sozinhos em casa e que não estão a ter estímulo nenhum, não falaram ou viram ou abraçaram alguém em meses. E isso também é muito, muito difícil. Temos pessoas que estão em casa com crianças pequenas e isso é muito desafiante. Isto não é a situação ideal para ninguém, mas há muitas para quem isto está a ser muito, muito mais difícil.

Desenhámos este programa de assistência aos nossos colaboradores para nos certificarmos de que temos apoio para estas pessoas. Como disse, os RH telefonaram e fizeram follow-up a algumas destas pessoas, falaram com elas, encorajámos algumas pessoas a marcarem consultas com médicos, para puderem ter baixa e ter um tempo off, para que não estivessem a trabalhar, porque estava a ser tudo demasiado para algumas pessoas.

Tiveram infetados com Covid-19 na Feedzai?
Tivemos apenas um caso nos EUA. Já tivemos várias pessoas que foram testadas, mas este foi o único positivo.

Houve alguém na equipa em burnout ou com muita ansiedade?
Sim, como disse, tivemos algumas pessoas a quem encorajámos a tirar uns dias, a estarem de baixa ou para usarem a licença anual, porque precisavam de parar e de permitirem a si próprios pensar. No inicio, havia muita preocupação de que ninguém estaria a tirar dias de férias porque estavam em casa, mas quando o nosso CEO falou sobre o Dia Covid, disse também que um dia não era suficiente [para descansarem]. Pediu para se assegurem de que estavam a fazer pausas e os líderes partilharam como tirar uns dias era importante, porque, mesmo que estejas na tua casa, não estar no computador durante um dia é refrescante. As pessoas estão a fazer fins de semana prolongados, ou dois ou três dias aqui, seja para ajudar as crianças, para fazerem uma pausa, o que é muito importante paras as pessoas se manterem em alerta. Mas sim, tivemos alguns funcionários que tiveram dificuldades.

"Continuámos a recrutar pessoas e continuámos a ter de despedir, de deixar algumas pessoas irem embora, sobretudo, por causa de desempenhos ou ajustes à cultura, ou seja, seriam decisões que seriam tomadas em qualquer dia e em qualquer altura"

Tiveram de despedir pessoas?
Sim, continuámos a recrutar pessoas e continuámos a ter de despedir, de deixar algumas pessoas irem embora, sobretudo, por causa de desempenhos ou ajustes à cultura, ou seja, seriam decisões que seriam tomadas em qualquer dia e em qualquer altura.

Então, não se deveram à pandemia?
Não, as pessoas que tivemos de deixar ir não foram embora por motivos relacionados com a pandemia. Para alguém de recursos humanos, como eu, despedir uma pessoa pelo Zoom é das coisas mais difíceis que já tive de fazer. Sempre quis que fossem situações de cara a cara e é tão difícil quando toda a gente está nas suas casas e têm de fazer isto, não foi fácil, mas quer dizer… O negócio precisa de continuar. E agora há decisões que precisam de ser feitas, independentemente de haver Covid ou não, infelizmente. Nenhuma destas situações teve a ver com a Covid. Isto aconteceu porque tivemos de tomar decisões de negócio, que continuam a ser tomadas.

Foi difícil tomar estas decisões? As pessoas ficarem desempregadas nesta altura é mais difícil…
Acho que tivemos de ter essa conversa com cada uma destas pessoas: contratos a termo que estavam a chegar ao fim e a pessoa não estava a ter um bom desempenho e, então, não íamos renovar. Conversámos sobre não ser a melhor altura para não renovar o contrato, mas o negócio precisa de continuar e não podes … Precisamos que a empresa saia disto mais forte, devemos isto a todas as pessoas que estão com a empresa. Magoa, porque estás a fazê-lo por Zoom e nesta altura, mas, infelizmente, há decisões que continuam a ter de ser tomadas.

Por outro lado, também tentámos recrutar pessoas e algumas rejeitaram as nossas ofertas, não porque não achassem o trabalho bom, mas por causa da incerteza da Covid. Há muita incertezas nas empresas agora, porque onde estás parece mais seguro do que experimentar uma coisa nova e tens de adicionar o stress de uma coisa nova ao stress da Covid.

Talvez não tenha sido assim tão fácil contratar pessoas.
Há duas coisas que estão a acontecer agora no mercado de recrutamento. O nosso processo tem sido, eu diria 75% em trabalho remoto. Ao longo do tempo fomos fazendo muitas coisas em trabalho remoto com pessoas diferentes, em locais diferentes, mas em algum momento teríamos sempre uma ligação cara a cara. Não houve grande coisa que tivesse mudado dessa perspetiva, para nós, em relação ao talento.

Há muito talento no mercado disponível que não estava antes e há talentos que estão disponíveis para falar connosco que, provavelmente, não estariam antes. Quando, por exemplo, uma empresa faz um grande layoff, as pessoas ficam um bocadinho preocupadas. Por isso, as pessoas que antes disto estavam muito confortáveis com a sua empresa, agora que esta decidiu que 25% da equipa não é precisa, começam a pensar: “Então e eu?”. E pensam: “Ok, a Feedzai está a correr bem, deixa-me conversar com eles”. Temos candidatos que podiam não o ser antes. Há muitas empresas que cortaram no Marketing, por exemplo, então, há muito talento de Marketing bom agora no mercado. Por isso, se quiseres contratar alguém em Marketing, há algumas pessoas mesmo muito boas, que estão disponíveis apenas por causa da Covid.

"Perceber que as pessoas têm vidas é uma coisa muito positiva, mas, tal como disse mais cedo, nada -- nem o Zoom -- é melhor do que uma ligação cara a cara. E há momentos em que desejava pôr alguém numa sala e olhá-lo nos olhos, porque não podes realmente olhá-los nos olhos [no Zoom] para ver toda a linguagem corporal"

Já passaram três meses desde que estão em teletrabalho, quais são os prós e contras do trabalho remoto? Que conclusões tiram?
Acho que a maioria das pessoas diria que trabalhar a partir de casa, às vezes, é bom. Muito poucas pessoas diriam que trabalhar a partir de casa sempre é bom e, definitivamente, diria que trabalhar a partir de casa sempre, quando estás a ser obrigado e não podes sair de casa, não é definitivamente bom. Acho que os prós da nossa perspetiva foram a comunidade crescente, a crescente comunicação. As ligações foram reforçadas, porque toda a gente está no Zoom e todos estão no mesmo campo/plano. Pensa nas últimas reuniões. Se tiveres uma equipa dispersa, terias as pessoas na sala e as pessoas no Zoom e isso seria sempre assim. E as pessoas no Zoom teriam uma voz mais baixa porque não estariam na sala. Com todas as pessoas no Zoom, toda a gente está num campo plano e estás a ver toda a gente. Acho que as pessoas se tornaram muito mais relaxadas em termos de reuniões… Ninguém vai dizer nada se aparecer um cão ou uma criança na sala.

Acho que perceber que as pessoas têm vidas é uma coisa muito positiva, mas, tal como disse mais cedo, nada — nem o Zoom — é melhor do que uma ligação cara a cara. E há momentos em que desejava pôr alguém numa sala e olhá-lo nos olhos, porque não podes realmente olhá-los nos olhos [no Zoom] para ver toda a linguagem corporal. Agora, por exemplo, não consigo ver se estás nervosa pelas tuas mãos, porque só te estou a ver do peito para cima. E isto são pequenos sinais que são muito úteis para mim e para muitas pessoas. Sem dúvida que houve coisas positivas e acho que vai ser muito positivo para o mercado de trabalho no futuro. Mas é preciso haver uma conexão cara a cara.

Quais são os objetivos da Feedzai ate ao fim do ano?
Acho que as coisas se vão manter como estão agora, vamos continuar a ter pessoas a trabalhar a partir de casa de uma forma ou outra. Já começámos a olhar para aquilo que o regresso ao trabalho poderia ser e deixa-me dizer-te que há muitas coisas a considerar. Vão ter de ser feitas mudanças nos escritórios e a forma como estamos a aproximar o nosso regresso ao trabalho… Vamos começar por perceber quem pode voltar ao escritório e aí vais ter pessoas que não vão poder voltar, porque são de risco, vivem com alguém de risco ou têm crianças pequenas em casa. E depois também tens pessoas que não estão disponíveis para voltar, porque não confiam na segurança dos transportes públicos, não confiam que quando chegarem ao escritório vai ser seguro ou acham que o risco potencial em que se estão a pôr valha a pena. E esta é a primeira coisa que tens de perceber.

Depois, começas a olhar para coisas como os sítios onde se vão sentar, se continuas a ter café ou não, porque muitas pessoas carregam no botão para tirar café. Depois: quantas pessoas podem estar na sala de descanso? Vão ter de usar máscara? Quem vai monitorizar toda a gente? Vais tirar temperaturas?, etc. Não é fácil e acho que vamos continuar a ter o trabalho remoto e que cada vez mais pessoas vão escolhê-lo. Mas também acho que toda a gente quer voltar a uma espécie de normalidade.

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