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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Pedro Costa: "Marta Temido é inevitável como hipótese para a Câmara de Lisboa"

Pedro Costa, dirigente do PS/Lisboa e filho do primeiro-ministro, diz que o que é "natural" é que o pai não se recandidate em 2026. E que Temido está bem posicionada para enfrentar Moedas em 2025.

Pedro Costa, presidente da junta de freguesia de Campo de Ourique e dirigente no PS/Lisboa, defendeu, em entrevista à Vichyssoise, da Rádio Observador, que Marta Temido deve ser a próxima presidente da concelhia e uma hipótese séria para enfrentar Carlos Moedas na corrida à câmara de Lisboa nas autárquicas de 2025. Também coloca nesse rol o amigo Duarte Cordeiro e a sua antiga professora Alexandra Leitão.

O filho do primeiro-ministro António Costa diz que não faz queixas diretas ao pai, a quem aponta erros de governação — como ter demorado a admitir a importância de elevar a habitação a ministério. Pedro Costa diz que é “natural” que o pai saia do Governo em 2026, embora o próprio António Costa tenha já admitido publicamente continuar.

O autarca em Lisboa diz ser da “ala mais à esquerda do PS” e que é “amigo de Pedro Nuno Santos há muitos anos”, mas não diz diretamente que prefere o antigo ministro das Infraestruturas a Fernando Medina. Apesar disso, não tem pudor em criticar o antigo autarca de Lisboa por não ter feito mais na área da habitação.

[Ouça aqui na íntegra o episódio desta semana da Vichyssoise:]

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Temido candidata a Lisboa e Costa só até 2026

Era o número quatro da lista à concelhia de Lisboa liderada por Davide Amado, que se demitiu recentemente, está disponível para ser candidato à liderança?
Não estou disponível, nem para ser, nem para ser convencido a ser. Diria que o PS vive um momento — e em Lisboa também — que exige de todos um esforço de unidade. E tal como estive disponível no passado para fazer parte dessa solução, estou disponível neste momento e é essa a perceção que tenho de todos os dirigentes da concelhia de Lisboa. Estamos todos na disponibilidade de continuar esse esforço que não é para resolver uma circunstância que vivemos hoje com a saída de Davide Amado — a quem queria aproveitar para deixar a minha solidariedade também –, mas sim resolver a circunstância de ter de reorganizar um partido que tem de recuperar uma cidade depois de quebrar um ciclo de poder, que era longo, e onde o resultado das autárquicas vem fazer um corte muito abrupto.

Marta Temido, que é líder interina, deve candidatar-se ao cargo caso haja eleições?
Os estatutos são muito claros, o que acontece numa circunstância como esta é que Marta Temido é líder da concelhia, não temos a necessidade de lhe somar a palavra “interina”. Já tive oportunidade de falar com ela brevemente e sinalizar-lhe a minha opinião de que deve liderar este processo, deve haver um momento de auscultação dos militantes e o momento natural de auscultação dos militantes é o processo eleitoral. Quando? Sem pressas, sem estados de alma, não há nenhum motivo para que andemos todos a correr e a tentar encontrar uma solução, porque a solução existe, é estável e une o partido na cidade.

Mas quando houver essa eleição, Marta Temido deve candidatar-se?
Acho, acho. A palavra “interina” soma pouco à questão. E tal como entendia que o ciclo do Davide Amado não podia ser de um mandato, teria de passar as próximas autárquicas, tenho a mesma perceção de Marta Temido nestas circunstâncias.

Há um peso político que Temido ganhou por ser ministra da Saúde e num período especialmente importante, durante uma pandemia. Isso faz dela uma boa candidata do PS à CML em 2025?
Não sei se a questão é do peso político, mas das provas dadas. O peso vem da prova, da gestão de um momento muito difícil e o momento do PS-Lisboa parece-me uma brincadeira, ao lado da dificuldade do momento político que a Marta Temido teve de assumir na Saúde, na gestão da pandemia. Há muitos militantes do PS que queriam bons candidatos à Câmara e, naturalmente, Marta Temido seria uma hipótese. A partir do momento em que se posiciona e passa a sua militância para o concelho de Lisboa, é inevitável que seja uma hipótese.

Não está a ser irónico, não? É que já houve outro Costa que foi irónico com uma frase sobre Temido…
[Risos] Não, não estou a ser irónico. E há uma coisa que foi muito esclarecedora, Marta Temido decidiu militar em Lisboa. Não é de Lisboa, foi uma escolha para Marta Temido.

O facto de liderar a concelhia deixa-a mais perto de ser candidata?
Todos os presidente da concelhia estão mais perto de ser candidatos à Câmara ou às autárquicas.

Mas isto foi uma coisa pensada? Temido já ia em número dois da lista de Davide Amado. Já estava nos planos esta hipótese ou caiu do céu por causa desta situação de Davide Amado?
Todos os presidentes da concelhia estão próximos de ser candidatos às eleições autárquicas. Há vários papeis a cumprir nas autárquicas. Tivemos presidentes das concelhias que foram candidatos a vereador, poderíamos ter tido candidatos à Assembleia Municipal, ou a presidentes de Junta, Assembleias de Freguesia. Há uma proximidade entre todos os dirigentes das concelhias com as eleições autárquicas. É difícil encontrar quem não seja autarca ou candidato a isso.

"A partir do momento em que Marta Temido se posiciona e passa a sua militância para o concelho de Lisboa, é inevitável que seja uma hipótese."

Mas Davide Amado ninguém falava dele para cabeça de lista pelo PS em Lisboa. Marta Temido é mais facilmente catapultada para isso…
Para mim era claro que Davide Amado teria — e terá — um papel a cumprir nas eleições autárquicas do PS em Lisboa. Provavelmente não como candidato a presidente de Câmara, mas eu também não disse que Marta Temido será candidata à Câmara. É inevitável que possa ser uma hipótese.

Mas quando estamos a falar de candidata à Câmara é como número um da lista do PS nas autárquicas, certo?
Sim, sim, a esse órgão. Mas eu falo da Marta Temido como podia falar de outros nomes, há muitos outros. O Duarte Cordeiro é evidentemente uma possibilidade incontornável, a Alexandra Leitão que também é militante em Lisboa podia também ser uma hipótese. Há muitas hipóteses e soluções. Felizmente o PS-Lisboa tem alternativas, a Marta Temido é evidentemente uma delas. Não dou é por certo que por ser candidata à concelhia seja candidata a presidente de Câmara. De todo. Até porque há uma parte que é posicionamento pessoa e não sei mesmo… e também não estou a ser irónico.

"O Duarte Cordeiro é evidentemente uma possibilidade incontornável [para a câmara de Lisboa], a Alexandra Leitão que também é militante em Lisboa podia também ser uma hipótese."

Davide Amado saiu da concelhia mas não de presidente de junta. Quem não tem condições para continuar á frente da concelhia, tem para ficar à frente de uma Junta de Freguesia?
Davide Amado refuta e desmente as acusações que lhe são feitas e os factos imputados — que não são exatamente os mesmos — pela imprensa e pela acusação. Entendeu que não poderia deixar sobre o PS-Lisboa esse peso dessa acusação. É uma questão que não se põe com a Junta de Freguesia de Alcântara. Para mim é claro, ele tem condições para exercer o cargo, é uma avaliação pessoal, não sinto que tenha legitimidade para opinar. Mas a avaliação dele é muito clara: ele demite-se não por se sentir diminuído por algo que lhe pese na consciência, mas por entender que há um peso da acusação que lhe é feita sobre uma estrutura partidária à qual ele preside. É natural que este entendimento não possa ser feito para uma Junta de Freguesia. Acho mesmo que os planos não se misturam.

Defende que, em Lisboa, todos devem ter condições para morar no centro da cidade e que a câmara até pode investir em habitação pública. E até disse recentemente que não se deve ignorar o debate da construção em altura. Quer fazer habitações públicas em altura em Campo de Ourique?
Já há habitação pública em altura feita em Campo de Ourique. O Vale de Alcântara, em particular na Avenida de Ceuta, onde ficam os bairros de Ceuta Sul e Quinta do Loureiro, são uma parte considerável do processo de realojamento da erradicação das barracas do Casal Ventoso. Portanto, é óbvio que Campo de Ourique tem um problema de habitação.

Esses não são exemplos de sucesso.
Mas temos também de recuperar esses e só recuperamos esses se lhes dermos diversidade. Essa é a base do argumento: toda a gente tem o direito a viver em Campo de Ourique não é porque eu entendo que Campo de Ourique precisa de mais eleitores. Mas porque é o exemplo da riqueza de um bairro diverso, é da diversidade social que as cidades evoluem e a humanidade evolui nas cidades. Não é por acaso que ao longo da nossa história como espécie nos fomos agregando nas cidades e foi aí que demos os saltos de criatividade. A densidade das cidades promove essa partilha de experiências e de saber. Essas experiências e saberes são tão mais diferentes como mais diferentes somos nós somos uns dos outros. Essa riqueza das cidades tem de ser preservada nos bairros. A cidade dos 15 minutos não pode ser assim uma coisa que aprendemos numa revista internacional, é mesmo uma realidade.

Mas os 15 minutos que separam o Jardim da Parada da Rua Maria Pia são completamente diferentes e nem sempre se misturam.
Ora bem, mas só misturamos se aumentarmos essa densidade. A habitação pública tem que deixar de ser vista com uma visão assistencialista e unicamente social do Estado, para ser verdadeiramente uma política global e integradora de todos. Nós sabemos que o sucesso da habitação pública está no objetivo de conseguirmos pôr a classe média e a classe média alta a viver em habitação pública. É por isso que o modelo justo é o modelo percentual dos rendimentos para o acesso à habitação. Não só porque garante que não há um esforço excessivo das famílias mais pobres, mas porque garante que todos teremos habitação nos mesmos sítios e isso garante a diversidade.

Mas o plano é ter torres em altura com vários escalões de rendimento…
O plano não pode ser só esse. Eu falei da torres, da subida em altura, na resposta a alguém que me perguntou “onde?”. Há um espaço sobre o onde que é evidente. Há quatro ou cinco quarteirões no centro do bairro que estão fechados porque são um quartel onde existe vagamente uma infraestrutura militar. Era uma escola de saúde militar, compreendemos todos que não há nenhum motivo lógico para que essa escola tenha de ser na Rua Ferreira Borges. E agora é um comando das forças territoriais que projeta forças no estrangeiro. Não deve projetar através da Ferreira Borges. Não era a rua que eu escolheria. Agora estou a ser irónico… Mas não devemos excluir essa hipótese. No espaço onde há espaço para construir, como é o caso do Vale de Alcântara onde a construção pode crescer em altura. A habitação tem muitos problemas e precisa de muitas soluções, não devemos ignorar o debate em altura onde ela fizer sentido.

Já que fala de problemas de habitação, admitiu que Fernando Medina podia ter feito mais como presidente da CML nessa área. Que falhas tem a apontar-lhe?
Há desde logo uma falha na execução e ele mesmo reconheceu isso durante toda a campanha das últimas eleições, porque podia ter construído mais habitação do que construiu — aliás, prometeu construir mais do que construiu e essa é a principal falha que pode ser apontada à Câmara. Acho difícil que se possa fazer esta crítica com seriedade, ignorando que houve uma pandemia no meio do mandato.

Mas a pandemia também tem tido costas largas.
Certo. Façamos a projeção ao contrário: Carlos Moedas disse ontem que há mil fogos em construção. Ninguém põe mil fogos em construção em 17 meses. Portanto esse trabalho tinha de estar feito para trás.

Carlos Moedas tem colhido louros de Medina?
Claro, não tenho nenhum julgamento a fazer sobre isso, acontece a todos. Além disso há outra falha: Medina veio na campanha prometer o fim do licenciamento do alojamento local. Ora o regulamento do alojamento local foi produzido durante o mandato de Medina e tem várias falhas: na construção das zonas homogéneas e em toda a linha. Hoje temos problemas de higiene urbana e de ruído por isso.

Aí há culpa própria de Medina.
Há uma culpa original, diria eu.

"Há uma culpa original de Medina [na insuficiente habitação] em Lisboa"

Tem sido crítico de várias opções de Carlos Moedas. Chocam-no os valores do altar-palco que esteve previsto custar 5 milhões de euros?
É evidente que houve uma desproporção na decisão, o próprio Moedas veio reconhecer isso, quando veio assumir que há erros e dizer que dá o peito às balas por eles — também não tinha alternativa, as balas só podiam ser para ele porque a decisão não é de mais ninguém…

Aí a culpa não é do PS, de ter feito pouco na preparação das Jornadas Mundiais da Juventude?
Não percebo essa teoria de que fez pouco, de que os palcos tinham de estar projetados com dois anos de antecedência, é uma coisa um bocado estranha. Há aqui um traço transversal, e uma diferença transversal entre a governação de Medina e Moedas: a primeira coisa que Moedas faz é pôr um limite ao investimento da câmara. Porque entende que não há uma obrigação da câmara de liderar nos investimentos feitos na cidade. Isto é verdade na Jornada como na Saúde, na Habitação, onde tem passado muita despesa de volta para o Governo, para o PRR. Ele definiu um limite, mas dentro desse limite as escolhas que foram feitas — os dois palcos — são duas más decisões.

Passes gratuitos para jovens e idosos. A redução do IMT para jovens. A fábrica de unicórnios. O plano de saúde para mais de 65 anos. Discorda das medidas de Moedas, mas admite que as tem cumprido?
A redução do IMT não vejo como, não tem maioria… Admito que tem cumprido muitas coisas, tenho dúvidas sobre o mérito. O caso do IMT é o mais claro: é uma divergência profunda sobre a visão da cidade e da prioridade do investimento. Moedas deve cumprir as promessas que fez muitas vezes em campanha — como deve tentar cumprir a promessa que verdadeiramente mais votos lhe terá valido, ou pelo menos uma inversão da visão de parte da opinião pública sobre o mandato do PS, que é a questão da ciclovia da Almirante Reis. E aí não o vejo perto disso. Sobre os passes: surgem muitas vezes como uma medida de descarbonização e não são. Até posso concordar que é muito importante e tem um impacto social, mas não há nenhum estudo que demonstre que haja qualquer ganho por isso. É uma conquista, mas não tem importância como política de mobilidade.

Concorda com Carlos Moedas quando ele defende a criação de contingentes para imigrantes?
O presidente da junta de Santa Maria Maior, Miguel Coelho, começou por deixar um elogio a Moedas e reconheceu a sua humanidade na visita ao local do incêndio na Mouraria, e a disponibilidade para acompanhar de perto todos os trabalhos das autarquias, da câmara e da junta. É um elogio honesto: ele tem disponibilidade para falar com as pessoas e humanidade para ouvir — depois o que faz com isso é outra coisa.

Ele colocou a questão como uma solução para prevenir a exploração e as condições degradantes a que estão sujeitos muitos dos que chegam a Portugal para trabalhar. Este é o caminho?
Essas declarações vêm na sequência de uma declaração da vereadora Filipa Roseta, de muito mau tom, perguntando “onde é que está o SEF?”. Parece que o que estamos a dizer é que estas tragédias ocorrem por culpa das vítimas e eu discordo profundamente dessa visão. Fico particularmente perplexo quando se soma a isto, no mesmo dia, o cancelamento da construção da mesquita na Mouraria, que o PSD tinha votado favoravelmente. Não concordo com a proposta sobre contingentes e não concordo que a culpa seja das vítimas, nem que o problema seja do SEF. Acho muito cedo para começarmos aos gritos a tentar chutar a culpa para o lado. Diminui-nos a todos.

Mas qual é a solução para estas situações?
A solução final é a construção de habitação pública. Portugal continua a ser o país da UE com menor percentagem de habitação pública. Até lá, há muitos problemas que exigem muitas soluções. Não devemos ser cegamente ideológicos nesta solução, os incentivos fiscais têm um espaço a cumprir, o combate ao alojamento local também, a fiscalização das condições de habitabilidade… Dada a situação de emergência habitacional nas capitais das áreas metropolitanas, passamos grande parte do tempo a discutir acesso à habitação — e bem. Mas não nos devemos esquecer de que há um problema de pobreza habitacional, também em habitação municipal. O problema não nasceu com as eleições autárquicas — mas não melhorou. Passaram 17 meses e a solução não avançou. Culpar os imigrantes e somar a isto o cancelamento de uma mesquita, como se houvesse alguma relação entre os factos, no mesmo dia, é uma coisa que me deixa muito assustado.

É dirigente concelhio do PS na sua mais influente concelhia, portanto tem um olhar sobre o país também: o Governo maioria do PS tem respeitado menos as estruturas do partido?
Não. O que temos tido, em particular nas matérias que mais tocam a cidade de Lisboa, tem sido grande disponibilidade do Governo para articular os vários pontos. Tenho passado grande parte do meu tempo com a expansão da linha vermelha do metro e tenho tido a maior disponibilidade do ministro do Ambiente. Em relação à habitação, onde finalmente o PS reconhece a centralidade orgânico-política do problema…

Finalmente porquê? Demorou, foi um erro?
Não foi um erro, mas para mim é evidente que já devia ser ministério. Há uma centralidade orgânica e até um apoio ao processo de decisão que exigia que a habitação fosse já ministério.

Não o tinha sugerido ainda ao primeiro-ministro, suponho.
Não sou dirigente nacional do PS.

Como dirigente concelhio, quando tem um problema aborda diretamente o secretário-geral?
Não, não. Tenho uma hierarquia para respeitar. Mas da ministra da Habitação também tenho tido a maior disponibilidade para articular, ouvir e construir soluções, como dirigente concelhio e autarca.

Dizia que quando tem um problema não aborda diretamente o secretário-geral do PS. Qual é que é o maior erro que cometeu nestes sete anos de governação?
(Pausa)

Não tem erros? 
Tem, tem. Se reposicionarmos a conversa na questão dos erros e das lacunas, diria que há uma necessidade de olhar de forma diferente para o mercado em matéria de habitação. Esta sexta-feira é capa do Expresso, e não vi mais do que a capa, que dá conta de uma alteração quanto aos vistos gold.

Que já tinha acontecido .
Já tinha acontecido para a cidade de Lisboa e do Porto. Mas há muito tempo que os números dos vistos gold na questão do emprego são marginais, por exemplo. A concentração de imóveis para investimento, sem nenhuma outra justificação lógica, não me parece que tenha tido um bom impacto. Essa medida já devia ter sido tomada há mais tempo.

Chegou a ter dúvidas sobre o posicionamento ideológico durante a faculdade apesar de ser próximo do PS desde os 14 anos. Já resolveu definitivamente esse assunto? Há uns anos publicámos um perfil que dizia que estava à direita do pai, ainda está? 
Tenho para todas as convicções da minha vida um sistema de dúvida sistemática constante que me obriga a pensar e repensar o que acho e a forma como me intitulo. Durante a faculdade afastei-me da JS, para a qual entrei aos 14 anos. Não fui militante do PS, só me filiei no PS em 2016 já com 26 anos e depois de me ter afastado da JS aos 20 ou 21 anos. Para além disso, são sabidas as minhas amizades com dirigentes ou ex-dirigentes da direita.

Francisco Rodrigues dos Santos ou o Francisco Laplaine Guimarães 
Por exemplo, são amizades que são públicas. Já não são é dirigentes da direita mas meus amigos continuam a ser.

Mas já está resolvido? 
Sim, quando me filiei no PS, filiei-me na sequência desse processo.

E no PS já se posicionou se é mais da ala de Pedro Nuno Santos ou de Fernando Medina? 
No PS eu diria que estou mais à esquerda. Não sei quem é o dono dessa ala.

Dizem que é Pedro Nuno Santos. Não se assume um “Pedronunista”?
Eu sou amigo do Pedro Nuno Santos há muito tempo. Não percebo muito bem a utilidade desse rótulo. Vejo com muito bons olhos o regresso de Pedro Nuno Santos ao debate público a partir de setembro.

"No PS eu diria que estou mais à esquerda. Não sei quem é o dono dessa ala (...) Eu sou amigo do Pedro Nuno Santos há muito tempo."

Vai assistir ao comentário na SIC? 
Vou, mas também assistia ao de Fernando Medina. Não é nas audiências que isto se resolve.

E acha importante que nesse comentário Pedro Nuno Santos vinque as divergências e críticas face ao Governo de que fez parte ou isso não faz falta ao PS?
Espero, como espero de todos os dirigentes e militantes destacados do PS, que contribuam para o debate. O PS é um partido democrático na sua participação. O secretário-geral já teve oportunidade de explicar e de falar do seu passado e de como a unidade muitas vezes se forjou da discordância. Há espaço para a discordância no PS.

Pedro Nuno Santos com Pedro Costa

Gosta mais de ouvir Alexandra Leitão do que Ana Catarina Mendes? Alexandra Leitão discorda muito mais .
Gosto muito de ambas. A Alexandra Leitão, que foi minha professora, é de facto um contributo para o debate interno.

O líder do PS já disse, na entrevista a Francisco Pinto Balsemão, que uma recandidatura em 2026 não era de atirar fora. Há condições políticas para se recandidatar em 2026?
É muito cedo para essa observação. Eu não tenho a responsabilidade partidária de fazer essa observação, não sou dirigente nacional.

Mas uma questão tipo Angela Merkel, embora cá não seja tão frequente. Por exemplo, Cavaco Silva ficou muitos anos, mas ir para além de 2026 era possível? 
Cavaco Silva ficou muitos anos mas haja o que houver ao fim desta legislatura o primeiro-ministro já terá ultrapassado largamente esse tempo. Mas não é uma coisa que me ocupe o espírito, fazer essa reflexão.

É natural que saia? 
É natural que saia sim, acho que aliás foi o que o próprio já disse várias vezes sobre o assunto. Mas esse não é o centro da minha ação política.

"Cavaco Silva ficou muitos anos, mas haja o que houver ao fim desta legislatura o primeiro-ministro já terá ultrapassado largamente esse tempo."

É amigo de Duarte Cordeiro. É justo que seja uma figura vista como a terceira via para o PS? 
A idade de todos eles torna inevitável que a determinada altura da sua vida sejam chamados a lugares de responsabilidade no topo do partido.

O Pedro Costa também está disponível para pensar nisso? 
Não, não estou sequer disponível para discutir ou pensar nisso. Tenho uma ideia muito clara do que é o meu papel e interesse na ação política. A minha dedicação à política é principalmente um compromisso e uma paixão pela cidade de Lisboa. É esse o meu espaço e o meu interesse. Digo isto com a maior das honestidades. Há temas que marcam a política nacional, por exemplo a habitação. É um tema que me é muito caro, que tem uma grande centralidade na minha ação mas também nos problemas do país. Não projeto nada parecido com nada disso. É mesmo com perplexidade que respondo a esta pergunta.

É mais comum ser abordado na freguesia de Campo de Ourique com pedidos para o presidente da junta ou com pedidos por interposta pessoa para chegar ao primeiro-ministro? 
Obviamente sou abordado mais vezes por fregueses para resolver problemas da freguesia.

Não por Carlos Moedas, que também é seu freguês? Já lhe fez alguma reclamação?
Ele a mim? Já.

Pedro Costa com Carlos Moedas e outros membros do Executivo camarário

E era competência sua ou da câmara municipal?
Já aconteceu perguntar-me sobre um terreno que era municipal mas foi no primeiro mês de mandato, podia ter acontecido a qualquer um. Mas de vez em quando faz-me aquela maldade de mandar uma foto de um saco à volta de uma papeleira que eu devolvo. Quando tenho que recolher mais lixo que a câmara não recolhe também me queixo.

"[Carlos Moedas] de vez em quando faz-me aquela maldade de mandar uma foto de um saco à volta de uma papeleira que eu devolvo. Quando tenho que recolher mais lixo que a câmara não recolhe também me queixo."

Agora passamos ao seguimento do Carne ou Peixe, onde tem de escolher uma de duas opções. Vamos supor que reabria o bar Winston em 2026 e o recém-eleito Presidente da República fazia questão de estar na inauguração. Preferia que fosse inaugurado pelo presidente António Costa ou pelo presidente Carlos César? 
Mantendo-me dentro do reino das possibilidades reais, Carlos César negou menos vezes do que António Costa. 

Quem é que colocava como CEO de uma das empresas que lançou: Fernando Medina ou Pedro Nuno Santos? 
O Pedro Nuno Santos parece-me mais disponível neste momento para aceitar o convite. 

E preferia ser vice-presidente da Câmara de Lisboa na presidência de Duarte Cordeiro ou de Marta Temido? 
Esta é muito maldosa. Tenho uma proximidade de sempre com o Duarte Cordeiro, uma identificação política e pessoal que não permite outra resposta que não seja o Duarte Cordeiro. 

Se um dia fosse primeiro-ministro preferia ter como ministro o seu amigo Francisco Rodrigues dos Santos ou o ex-líder do PS, António José Seguro? Há exemplos de dirigentes do CDS que acabaram em governos do PS 
Acho que o Francisco Rodrigues dos Santos pode iniciar o seu caminho. Não sei se era isso que ele queria dizer quando em entrevista ao Goucha disse que tem mais para dar ao país. Mas não será num governo meu, do PS talvez. 

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