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Protestos em Teerão após a morte de Hassan Nasrallah

Anadolu via Getty Images

Protestos em Teerão após a morte de Hassan Nasrallah

Anadolu via Getty Images

Perante sucessos israelitas no Médio Oriente, Irão está "intimidado" e na defensiva. Porquê?

Israel tem enfraquecido "eixo de resistência" liderado pelo Irão. Teerão ameaça, mas mantém-se à defesa: "Não quer envolver-se num conflito que não pode vencer". Telavive "sente a fraqueza" e age.

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O assassínio do líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, em Teerão. A explosão de walkie-talkies e pagers. A morte de vários comandantes do Hezbollah, incluindo a do histórico secretário-geral, Hassan Nasrallah. Uma possível invasão terrestre ao Líbano. Recentemente, as Forças de Defesa de Israel (IDF, sigla em inglês) têm infligido pesadas baixas ao “eixo de resistência” liderado pelo Irão, somando vitórias no Médio Oriente. Do lado do arqui-inimigo geopolítico de Telavive, não faltam os avisos e as ameaças. Contudo, ao contrário do que aconteceu no passado, as autoridades iranianas não reagem e não passam das palavras aos atos.

Em abril deste ano, após o ataque de Israel ao consulado diplomático iraniano em Damasco, que matou sete comandantes da Guarda Revolucionária iraniana, o Irão levou a cabo um ataque com mísseis e rockets. Praticamente todos foram intercetados pelos sistemas de defesa aéreos israelitas e o Ocidente também ajudou as IDF. Apesar de não ter sido eficaz, não deixou de ser uma resposta. Passado cinco meses, Teerão tem revelado uma atitude mais cautelosa. Numa conferência de imprensa, o porta-voz da diplomacia iraniana, Nasser Kanaani, manteve a mesma atitude quando questionado sobre uma possível retaliação diante dos últimos acontecimentos: “O Irão vai continuar os seus esforços políticos e legais e vai continuar a aplicar medidas proporcionais e decisivas”.

Mais: o porta-voz enfatizou que “não havia necessidade de enviar tropas” para o Líbano ou para a Palestina, sugerindo que o Hezbollah e o Hamas possuem meios militares capazes de enfrentar Israel. Ainda assim, prometeu que Israel não ficará sem “uma retaliação ou um castigo” pelos “crimes que cometeu contra o povo iraniano, os seus militares e as forças de resistência”.

"O Irão vai continuar os seus esforços políticos e legais e vai continuar a aplicar medidas proporcionais e decisivas" contra Israel.
Porta-voz da diplomacia iraniana, Nasser Kanaani

Com um novo Presidente mais próximo do Ocidente, o Irão dá sinais de não querer um conflito regional, mostrando que não está interessado em começar uma guerra diretamente contra Israel, que poderia ser devastadora para o Médio Oriente. Por sua vez, Telavive sente que o regime iraniano está mais comedido e na defensiva — e pode aproveitar-se disso para enfraquecer ainda mais o incómodo “eixo da resistência” de que fazem parte o Hamas, o Hezbollah, os Houthis do Iémen e as milícias xiitas na Síria e no Iraque.

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Medo de Israel, um regime tremido e um “eixo de resistência” enfraquecido. Por que é que o Irão não reage?

Após a Revolução Islâmica de 1979, o Irão procurou aliados no Médio Oriente para combater (ou enfraquecer) o seu maior inimigo regional e também, em parte, para assegurar a sobrevivência do próprio regime. Foi assim criado o “eixo de resistência”, que seria uma forma de dissuasão, para gerar receio entre as autoridades israelitas (rodeadas de inimigos como o Hezbollah ou o Hamas) de uma possível guerra regional e das consequências que poderia acarretar.

Ao New York Times, Ali Alfoneh, especialista no Instituto Arab Gulf States, realça que nunca se soube quais seriam as capacidades reais desse eixo. “Foi mais ou menos uma ficção propagandística criada para fortalecer a República Islâmica”, frisou, acrescentando que os proxies têm obtido algumas vitórias militares. Porém, quando comparado “com alguns adversários mais sérios ou atores estatais como Israel”, tudo muda — e esta aliança dá sinais de não conseguir responder eficazmente.

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Milhares manifestam-se em Teerão em memória do secretário-geral do Hezbollah

AFP via Getty Images

No caso do Hamas, aquele grupo sunita entrou em território israelita no dia 7 de outubro de 2023, matando cerca de 1.200 pessoas e sequestrando centenas. Mas desde esse dia que a Faixa de Gaza tem sido bombardeada ininterruptamente e as Forças de Defesa israelitas têm eliminado a elite política e militar dos seus inimigos na Faixa de Gaza, região que ficou dizimada. Com o Hezbollah, já tinha havido uma guerra em 2006, mas o conflito durou 34 dias e a situação na região ficou igual.

Para além de não se saberem quais são as verdadeiras capacidades militares das milícias pertencente ao “eixo de resistência”, o Irão receia perder um conflito direto contra Israel. E isso teria consequências devastadoras para o regime teocrático. “O Irão será instado a responder, com um coro de críticos a pedirem vingança”, diz, à revista Time, Dina Esfandiary, especialista no think tank International Crisis Group, indicando que a liderança política iraniana “não quer envolver-se num conflito que não pode vencer”.

À mesma revista, Jonathan Lord, antigo responsável do Pentágono, corrobora a mesma tese. Afirma que o Irão “não luta pelos proxies e que são os seus proxies lutam por ele” e salienta que o regime iraniano “está mais interessado em preservar a sua sobrevivência do que a colocar-se conscientemente em risco”. Principalmente nesta altura: o ex-Presidente iraniano, Ebrahim Raisi, morreu em maio de 2024, na sequência de um acidente de helicóptero. Foi substituído por Masoud Pezeshkian, que tomou posse em julho e está há pouco tempo no cargo.

epa11598593 Iranian President Masoud Pezeshkian speaks during a press conference with Iraqi Prime Minister Mohammed Shia al-Sudani (unseen) at the government palace in Baghdad, Iraq, 11 September 2024. Pezeshkian is leading a high-ranking Iranian delegation on a visit to Baghdad, the first trip abroad since he took office in July.  EPA/AHMED JALIL / POOL

Novo Presidente do Irão, Masoud Pezeshkian

AHMED JALIL / POOL/EPA

Numa fase de transição de poder, o Irão enfrenta “sérios desafios internos”, como refere o analista Amer Al Sabaileh, num artigo no Jordan Times. “Existe frustração social e económica”, aponta o especialista. Na base de vários destes problemas, estão as sanções aplicadas pelo Ocidente a Teerão. No discurso na Assembleia-Geral das Nações Unidas, Masoud Pezeshkian pediu mesmo o levantamento da política de sanções, sublinhando que isso “beneficiaria o povo iraniano”.

Amer Al Sabaileh assinala também que as autoridades iranianas ainda se recordam dos “protestos que tomaram contas das ruas” do país entre 2022 e 2023. Na sequência da morte da jovem Mahsa Amini, que foi detida pela polícia da moralidade e depois morta na prisão, por alegadamente violar as rígidas regras de indumentária impostas às mulheres no Irão, milhares manifestaram-se e enfrentaram o regime, que foi obrigado a reagir.

Em parte por conta dos desafios internos e por temer manifestações que possam colocar em causa o regime, Teerão sente-se encurralada. “O Irão não tem nenhuma boa opção nesta nova realidade”, constata ao jornal Le Monde Hamidreza Azizi, investigador no think tank alemão Stiftung Wissenschaft und Politik Institute, acrescentando que “Israel está ir cada vez mais longe para enfraquecer o ‘eixo de resistência’ sem estar preocupado com as possíveis repercussões das suas ações”.

"Israel está ir cada vez mais longe para enfraquecer o eixo de resistência sem estar preocupado com as possíveis repercussões das suas ações."
Hamidreza Azizi, investigador no think tank alemão Stiftung Wissenschaft und Politik Institute

Neste momento, nesse mesmo eixo, Israel sabe que o Hezbollah está numa situação de indefinição complexa, ainda a delinear quem sucederá a Hassan Nasrallah e qual será a sucessão de vários comandantes mortos nas últimas semanas. O Hamas também não tem capacidade para responder, pois está a tentar sobreviver na Faixa de Gaza. Apenas os Houthis podem retaliar, mas a distância física face ao território de Israel é uma desvantagem, conformando-se a ataques aéreos, muitos deles intercetados pelos sistemas de defesas israelitas.

“Sem os grupos que compõem o eixo, Teerão não pode começar uma guerra contra Israel”, afirma Hamidreza Azizi. Geograficamente, o Irão não partilha fronteiras com território israelita e terá, tal como os Houthis, de se conformar com ataques aéreos. Mas as dificuldades são muitas, como foi provado em abril; Telavive tem tempo para reagir e possui serviços de defesa aéreos sofisticados. “O stock de mísseis longo alcance do Irão não é grande o suficiente”, destaca ainda o investigador no think tank alemão Stiftung Wissenschaft und Politik Institute.

Por todas estas razões, o Irão está “intimidado”, como escreve John Sawers, antigo chefe do MI6 — pertencente aos serviços de informações britânicos — e antigo representante do Reino Unido na Organização das Nações Unidas. Segundo o diplomata, falta a Teerão a “vontade e a capacidade militar para responder” a uma possível guerra com Israel. Num artigo para o Financial Times, nota ainda que o regime “não está preparado para enfrentar instabilidade em termos domésticos, tendo entrado numa altura incerta da transição de liderança” .

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Sem milícias dos proxies, é difícil para o Irão responder a Israel

AFP via Getty Images

Para o Irão, é importante que o “eixo de resistência” continue a ser um importante dissuasor para evitar um ataque direto de Israel contra o território do país, principalmente se for dirigido para locais onde Teerão desenvolve o seu programa nuclear. Mas o regime iraniano não está, por agora, disposto a fazer tudo para o proteger.

Israel “sente a fraqueza de Teerão” e deve avançar para o Líbano

A falta de reação iraniana gera uma reação em Telavive. John Sawers sugere mesmo que a”Israel cheira a fraqueza em Teerão” e está a tirar proveito disso. O antigo líder do MI6 fala mesmo numa “mudança substancial na balança do poder no Médio Oriente” — que “favorece Israel” à “custa do Irão”. Ainda que uma guerra regional não esteja descartada, as Forças de Defesa de Israel veem no Irão um inimigo aparentemente conformado.

Assim sendo, Israel deverá iniciar, muito em breve, uma operação terrestre no sul do Líbano, região onde o Hezbollah mantém a maioria das suas bases militares. “Vai ser um fator significativo na mudança da situação de segurança e vai permitir-nos cumprir a nossa importante missão de permitir o regresso dos residentes às suas casas”, argumentou o ministro da Defesa, Yoav Gallant.

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Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro, e Yoav Gallant, ministro da Defesa de Israel, sentem a "fraqueza" no ar e deverão avançar com operação terrestre no Líbano

Anadolu Agency via Getty Images

Segundo a imprensa norte-americana, será uma “operação terrestre limitada” e não terá uma proporção comparável à guerra entre o Hezbollah e Israel em 2006. Terá como objetivo eliminar alguns postos militares do grupo xiita, ao mesmo tempo que o enfraquece.

A rede que o Irão foi montando ao longo de décadas para enfrentar o seu maior inimigo enfrenta um momento de vulnerabilidade. O regime iraniano enfrenta um momento conturbado, numa altura de transição de poder e temendo manifestações que o podem fazer tremer. Israel sabe que pode avançar contra os seus inimigos — e uma resposta de Teerão é improvável.

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