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A Petrobras emprega 80 mil funcionários
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A Petrobras emprega 80 mil funcionários

AFP/Getty Images

A Petrobras emprega 80 mil funcionários

AFP/Getty Images

Petrobras. De orgulho do Brasil a espelho do que vai mal no país

Há um ano a Petrobras era o símbolo da força da economia brasileira. Hoje a empresa é a principal imagem de tudo o que está a correr mal no Brasil.

A Petrobras era até há um ano motivo de maior orgulho para os brasileiros. Era a mais prestigiada petrolífera da América Latina, responsável pela maior descoberta de reservas petrolíferas da última década, a campeã mundial da exploração em águas profundas.

Um ano depois, o nome da empresa é sinónimo de corrupção, subornos, prejuízos de dimensão desconhecida, fornecedores falidos e escândalo político. Alvo de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) no Congresso, o escândalo Petrobras está para o Brasil como o caso BES/GES (Banco Espírito Santo/Grupo Espírito Santo) está para Portugal. Mas tem um efeito mais sistémico na economia e ligações proibidas ao mundo da política.

O gigante brasileiro acabou por se tornar num símbolo de tudo o que está a correr mal no Brasil, desde o arrefecimento da economia, o país deverá entrar em recessão este ano, passando pela descida do preço do petróleo e até a seca.

Graça Foster, ex-presidente da Petrobras, e Dilma Roussef

AFP/Getty Images

Já este ano, Dilma Roussef foi forçada a demitir a presidente executiva da Petrobras, Graça Foster, que tinha sido uma escolha sua para o cargo empresarial mais importante do país. Dilma procura escapar aos estilhaços do escândalo que já chegaram ao poder político. Os últimos desenvolvimentos comprometem o partido da presidente brasileira depois da denúncia que de que o tesoureiro do Partido Trabalhista (PT), João Vaccari Neto, teria recebido uma propina (suborno) de 200 milhões de dólares por intermediação de contratos da petrolífera brasileira.

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O caso ainda não atingiu diretamente Roussef, que foi presidente não executiva (chairman) da petrolífera durante o mandato de Lula da Silva. No entanto, e segundo o parecer do jurista Ives Gandra Martins, já existe base jurídica para sustentar um pedido de impugnação (impeachment) da presidente brasileira. O Brasil já afastou um presidente, Collor de Mello, por corrupção. E a palavra volta agora ouvir-se.

É certo que há outras razões para a impopularidade de Dilma e que passam pela crise e pela adoção de medidas de austeridade e aumentos de impostos. Por outro lado, o Partido dos Trabalhadores (PT) está longe de ser o único partido apanhado nas malhas do Lava-Jato, as suspeitas de subornos são transversais aos vários níveis da política brasileira.

Esta sexta-feira, sindicatos, movimentos de estudantes e dos sem-terra e trabalhadores da petrolífera saíram à rua em várias cidades numa manifestação sui generis: contra o impeachmente e a favor da Petrobras. Os protestos mobilizaram milhares de pessoas e abrangeram 20 estado. No domingo o povo vai voltar à rua, desta vez numa manifestação anti-governo, contra a corrupção e o aumento de impostos, onde é esperada muito mais gente.

Lava-jato, doleiro e Petrolão

O caso rebentou há há um ano por via de uma investigação judicial com um nome invulgar, mesmo para padrões brasileiros. O Lava-jato saltou para as primeiras páginas quando a Polícia Federal prendeu, a 20 de março de 2014, Paulo Roberto Costa. O ex-diretor da refinação da Petrobras era suspeito de estar envolvido em operações de lavagem de dinheiro que teriam, segundo números divulgados na altura, movimentado dez mil milhões de reais (três mil milhões de euros). No dia em que foi detido, foram encontrados em casa de Paulo Roberto Costa 700 mil reais (mais de 200 mil euros) e 200 mil dólares em dinheiro. Até ao início deste ano foram detidas cerca de 50 pessoas, entre as quais vários ex-quadros da Petrobras.

A investigação já durava desde 2008, na sequência da denúncia de um empresário contra a utilização da sua empresa para branqueamento de capitais. A operação foi batizada de Lava-jato porque um dos negócios usados para lavar o dinheiro era uma rede de postos de combustível com lavagem de automóveis. Mais do que branqueamento de capitais, o que está em causa é origem dos fundos que circulavam no esquema.

O circuito começava na Petrobras, que pagou durante anos valores inflacionados em vários contratos com fornecedores. As empresas contratadas pagavam propinas (subornos) aos gestores da petrolífera que decidiam esses contratos: Os fornecedores desviavam uma parte dos fundos recebidos para intermediários (a expressão usada no Brasil é doleiro). Os doleiros são os operadores que branqueiam os fundos e fecham o círculo. Asseguravam que o dinheiro chegava aos políticos e funcionários públicos, usando para isso offshores e empresas que realizavam contratos falsos. O doleiro mais conhecido nesta operação é Alberto Youssef.

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Para a imprensa brasileira, o escândalo já é maior do que o Mensalão, investigação que envolveu vários dirigentes do PT próximos de Lula da Silva e que serviu de inspiração ao nome Petrolão que também tem vindo a ser usado para designar o caso da petrolífera.

Buraco sem fundo?

Ninguém parece saber ainda a dimensão da cratera nas contas da Petrobras. A empresa não conseguiu quantificar o impacto destes desvios e dos pagamentos extra no valor dos seus ativos e apresentar um número credível ao mercado, o que a obrigou a adiar as contas para além dos prazos legais. A incerteza fez afundar as cotações em bolsa, no Brasil e em Nova Iorque, onde a Petrobras vale um terço do que valia quando em 2010 fez uma oferta de ações. Restaurar a credibilidade e a operacionalidade da Petrobras é a tarefa hercúlea que aguarda o novo presidente, cuja identidade ainda não foi revelada.

O caso Lava-jato abalou também a credibilidade brasileira nos mercados internacionais. Esta sexta-feira, o governo recusou dar uma garantia de Estado para apoiar um financiamento internacional da petrolífera para evitar o contágio da descida dos rating que arrastou a dívida da empresa brasileira para o nível do lixo. A despromoção já contagiou outras grandes companhias brasileiras.

Paulo Roberto Costa chefiou a refinação entre 2004 e 2012, quando este departamento geria o segundo maior orçamento da Petrobras. Entre as operações que desencadearam a investigação está a compra de uma refinaria em Pasadena, nos Estados Unidos, e projetos de construção de refinarias no Brasil que nunca avançaram ou cujos custos derraparam. Alguns destes investimentos foram a resposta a pressões políticas em nome do desenvolvimento regional. Num acordo com a justiça, o antigo gestor confessou que 3% do valor dos contratos por si geridos tinha como destino o financiamento de partidos. O Estado é o maior acionista da empresa que tem sido usada como braço das opções políticas dos presidentes e governos do PT.

Ex-presidente da Petrobras que é administrador na Galp 

O período sob suspeita coincide em parte com a presidência de José Sergio Gabrielli que foi substituído no cargo já por decisão de Dilma Roussef. O gestor, também membro do PT, era muito próximo do ex-presidente Lula da Silva, com quem partilhou os louros das grandes descobertas feitas na costa brasileira nos últimos anos. Gabrielli e Lula foram as duas figuras centrais na cerimónia que assinalou o primeiro óleo (petróleo) extraído das mega-reservas do pré-sal. O presidente da Galp, Ferreira de Oliveira, e o maior acionista da empresa portuguesa, Américo Amorim, também lá estavam. Mais tarde o campo Tupi viria a ser rebatizado de campo Lula.

Cerimónia do primeiro petróleo extraído do campo Lula. Grabrielli está à direita de Lula

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Entanto presidente da Petrobras, Gabrielli negociou a entrada no capital da Galp, um negócio acarinhado pelos governos de Lula e José Sócrates, mas que Dilma Roussef deixou cair. O gestor acabou por estar ligado à empresa portuguesa por outra via, ao entrar para o conselho de administração da Galp Energia, cinco meses depois de abandonar funções na Petrobras, em julho de 2012. Enquanto administrador não executivo, Gabrielli deve reunir em Lisboa uma vez por mês, mas a sua principal função é a de secretário de planeamento do governo do Estado da Bahia.

O mandato de Gabrielli terminou em dezembro, tal como do resto da gestão da Galp e fontes próximas da empresa admitem que os acontecimentos no Brasil poderão condicionar uma eventual recondução. O gestor brasileiro não está a ser investigado, pelo menos publicamente, mas o seu nome já apareceu ligado a alguns negócios como a compra da empresa petroquímica Suzanom em 2007, alegadamente por um preço bem superior ao fixado pela Petrobras e seus assessores. Gabrielli foi ouvido esta semana na comissão de inquérito onde afastou um cenário de corrupção sistémica.

“Eu não acredito na tese que está sendo construída de que há uma corrupção sistémica na Petrobras. Eu não posso afirmar que não há corrupção. Você tem uma empresa de 80 mil funcionários que chegou a investir 40 mil milhões de dólares por ano. Dizer que não tem corrupção seria uma ilusão”.

Para o ex-gestor, cujo depoimento durou 11 horas, trata-se um “problema individualizado”. Gabrielli acrescenta ainda que só tem uma conta bancária fora do país, é no Banco do Brasil em Portugal.

Cá fora, assegurou que nunca se apercebeu da existência de um cartel, apesar das empresas tentarem aumentar os preços, e lembrou os tempos de prosperidade que o Brasil vivia então. “Você tinha um aquecimento no mercado, o país aumentou o investimento em vários setores, você tinha os fornecedores trabalhando para vários setores. Você começa a perceber que os preços vêm mais do que você espera, você tenta fazer retomada das licitações e redefinir a estrutura do projeto para minimizar os custos”.

As relações entre as empresas, a portuguesa e a brasileira, são muito boas e o presidente da Galp não perde uma oportunidade para elogiar o profissionalismo e competência da parceira no Brasil. Para Ferreira de Oliveira, “o que está à acontecer à Petrobras é uma tragédia. Há executivos da Petrobras que já vi chorar à minha frente”, por causa da incerteza que se vive na empresa. O gestor português defende que a culpa é de “um conjunto de ovelhas negras que está a destruir a reputação da melhor empresa do mundo de exploração em águas profundas”.

"O que está à acontecer à Petrobras é uma tragédia. Há executivos da Petrobras que já vi chorar à minha frente", por causa da incerteza que se vive na empresa. O gestor português defende que a culpa é "de um conjunto de ovelhas negras que está a destruir a reputação da melhor empresa do mundo de exploração em águas profundas".
Manuel Ferreira de Oliveira, presidente executivo da Galp Energia

Apesar de acreditar que a empresa vai sair mais forte destas dificuldades, a verdade é que a Galp já teve de fazer contas à vida por causa do efeito Petrobras. Alguns dos maiores projetos de exploração em águas brasileiras, como Júpiter e Carcará, estão atrasados pelo menos um ano, o que reduz o investimento previsto até ao final da década em 20%. Os problemas do gigante brasileiro têm um efeito em cadeia que afeta dezenas de fornecedores, alguns envolvidos no Lava-jato. Há empresas na cadeia petrolífera brasileira que estão a falir.

Não obstante a confiança pública demonstrada por Ferreira de Oliveira, o sentimento na Galp é de alguma apreensão. A exploração e produção de petróleo no Brasil tem sido a galinha de ovos de ouro da empresa portuguesa que apostou forte nos projetos que são liderados pela Petrobras. Ainda na semana passada, num encontro com analistas e investidores internacionais, quase todas as perguntas foram parar ao Brasil. O país representa quase 90% das reservas petrolíferas da Galp.

 

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