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Uma utente do lar da Associação de Desenvolvimento Social da Freguesia de A-dos-Negros, recebe a vacina contra a covid-19 no dia em que os utentes e profissionais receberam a primeira dose de vacina, no primeiro dia em que o Agrupamento de Centros de Saúde do Oeste iniciaram a vacinação em lares, Óbidos, 12 de janeiro de 2021. CARLOS BARROSO/LUSA
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As vacinas que utilizam o ARN-mensageiro (como a da Pfizer e da Moderna) "são eficazes" contra as variantes que circulam em Portugal

CARLOS BARROSO/LUSA

As vacinas que utilizam o ARN-mensageiro (como a da Pfizer e da Moderna) "são eficazes" contra as variantes que circulam em Portugal

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Por quanto tempo a vacina é eficaz? Vai ser preciso tomar outra dose? E as variantes? Quatro pontos para entender o que esperar da vacinação

Com vários países a aproximarem-se da imunidade de grupo mas com novas variantes a surgir, os especialistas e as farmacêuticas antecipam uma nova dose da vacina. Será mesmo preciso? Daqui a um ano?

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Desde o início da pandemia de Covid-19 que um dos maiores objetivos da comunidade científica e dos vários países era criar uma vacina para que se atingisse a tão desejada imunidade de grupo. Após inúmeros ensaios clínicos, a primeira vacina contra a doença, desenvolvida pela BioNTech e pela farmacêutica Pfizer, foi aprovada a 3 de dezembro pelas autoridades de saúde britânicas.

Passado quatro meses, o Reino Unido está a dias a atingir a imunidade de grupo, sendo que um estudo da University College London antevê que 73,4% da população britânica estará vacinada com pelo menos uma dose já esta segunda-feira, 12 de abril. Israel também já terá, de acordo com os dados do OurWorldinData, 61% da população completamente imunizada. Os EUA também estão a um bom ritmo e Joe Biden anunciou que todos os adultos estarão elegíveis para a vacina a 19 de abril, antecipando a data inicialmente prevista em cerca de duas semanas.

Covid-19: Reino Unido alcançará imunidade de grupo em 12 de abril

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Os sinais da eficácia das vacinas já se fazem notar. O Reino Unido tem registado um decréscimo de casos diários e de mortes desde janeiro, ao mesmo tempo que avança com um plano de desconfinamento que entrará numa nova fase também nesta segunda-feira, em que pubs e lojas deverão reabrir. Em Israel, os efeitos são ainda mais visíveis: a vida já praticamente retornou ao normal de antes da pandemia.

Mas a União Europeia (UE) ainda não conseguiu pôr em marcha uma campanha de vacinação tão rápida quanto a dos EUA, Reino Unido ou Israel, estando apenas com cerca de 6% da população completamente imunizada e 13% com uma dose da vacina. E há países, como França ou Itália, que voltaram a implementar, no final de março, medidas mais restritivas para fazer face a uma escalada dos números de casos diários, bem como a um aumento nos internamentos, naquela que é vista como a terceira ou quarta onda da pandemia.

Apesar do atraso, é expectável que, no final do verão, todos os estados-membros da UE atinjam a imunidade de grupo. Nessa altura, em que se espera que haja uma diminuição dos casos, das mortes e da pressão hospitalar já em todo o mundo, o cenário do que se segue não é ainda contudo claro, devido às condicionantes que podem vir a surgir. Uma delas, talvez a principal, prende-se com a incerteza dos cientistas em perceber quanto tempo dura a imunidade da vacina. E outra — aquela que talvez preocupe mais a comunidade científica neste momento e que condiciona a primeira –, tem a ver com o surgimento de novas variantes, que poderão colocar em risco os efeitos da vacinação.

Ainda esta semana foi detetada uma nova mutação no Japão, chamada de “Eek”, que pode, de acordo com Lawrence Young, virologista associado à Universidade de Warwick, “enfraquecer a resposta imunitária e também afetar a longevidade da resposta imunológica neutralizadora”.

As empresas farmacêuticas estão cientes destes problemas e a Pfizer começou, em fevereiro, a testar uma terceira dose da vacina. Embora nenhuma das pessoas que se submeteu aos ensaios clínicos no verão tenha contraído Covid-19, a empresa quer estar “um passo à frente do vírus” e, por isso, vai “administrar esta terceira dose do imunizante às pessoas que fizeram parte da fase 1 e 2 do estudo do verão passado”, adiantou à revista Time Mikael Dolsten, diretor científico da farmacêutica, que espera que “os níveis de anticorpos aumentem contra as novas variantes de modo a fortalecer a proteção”.

A Moderna também está a desenvolver estudos para tentar comprovar se uma eventual terceira dose aumenta a imunidade contra a doença e para entender se é eficaz contra novas variantes. “Há um ano tomei a vacina da Moderna para verificar se era segura e tomei uma terceira dose […] que vai revelar se as vacinas aumentam a imunidade contra as novas variantes e se são seguras”, escreveu Ian Haydon, participante no estudo e cientista, na sua conta do Twitter.

Tendo em conta as várias dúvidas que se colocam neste momento, fomos tentar perceber junto a João Manuel Gonçalves, virologista da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, e a Miguel Castanho, bioquímico, quanto tempo dura a imunidade da vacina, qual é o efeito que as variantes podem vir a ter na vacinação e perceber se será necessário uma terceira dose (ou até, eventualmente, mais) e dentro de quanto tempo. Passaremos a ser vacinados anualmente, como acontece com a gripe?

Atualmente quanto tempo dura a imunidade da vacina contra a Covid-19?

É importante primeiro entender no que consiste a imunidade conferida pela vacina. Segundo João Manuel Gonçalves, imunidade pode significar “proteção à doença grave e moderada”, o que faz com que a pessoa contraia a infeção, mas que não desenvolva sintomas tão graves ou até que fique mesmo assintomática. Neste aspeto e até ao momento, os dados mostram que há uma capacidade de proteção de “seis meses”.

"Os dados mostram que a vacina da Pfizer é talvez aquela que consegue ser mais eficaz contra todas as variantes", afirma João Manuel Gonçalves.

A imunidade também se pode relacionar com o facto de os vacinados estarem imunes à doença, mesmo após uma exposição ao vírus. Neste caso, apenas “existem dados preliminares”, mas os que há sugerem que existe apenas uma pequena probabilidade de, após a vacina, alguém imunizado contrair a doença.

Convém ainda sublinhar que estas informações apenas se aplicam às vacinas que utilizam o mecanismo ARN-mensageiro (ou seja, as da Pfizer e da Moderna). Já em relação à da AstraZeneca (que utiliza a técnica do adenovírus), ainda não existem dados suficientes que consigam comprovar a imunidade, mas João Manuel Gonçalves especula que “os dados não sejam muito diferentes daqueles registados com as vacinas ARN-mensageiro”.

Ainda assim, o virologista também salienta que a imunidade difere de pessoa para pessoa, sendo que os dados apresentados pelas empresas farmacêuticas são apenas números médios. “Há pessoas que desenvolvem uma maior imunidade e que conseguem impedir a infeção, enquanto outras não”, assinala.

As novas variantes podem colocar em causa a eficácia da vacina?

Podem, havendo, contudo, uns imunizantes mais eficazes que outros. As vacinas que utilizam o ARN-mensageiro “são eficazes” contra as variantes que circulam em Portugal. Contudo, João Manuel Gonçalves indica que há uma “menor eficácia”, na ordem dos 60%, à variante brasileira de Manaus e à da África do Sul, mas, ainda assim, é apenas “uma perda parcial” da eficácia. Ou seja, “mesmo que as pessoas sejam vacinadas, há um menor risco de contrair a doença e de desenvolver sintomas mais graves”.

"Claramente que vai ocorrer", antecipa João Manuel Gonçalves. "Entre os seis e os doze meses, a quantidade de anticorpos e de resposta imunitária vai diminuindo, por isso estamos a antever uma terceira dose". Miguel Castanho considera, por outro lado, que deverá ser necessário outra dose, mas não terá de ser necessariamente num futuro próximo: "Poderá ser daqui a dois ou três anos, dependendo das variantes que haja nessa altura".

Quanto à vacina da AstraZeneca, “a eficácia parece ser muito menor para a variante sul-africana e para a de Manaus” — mas os vacinados continuam a estar parcialmente imunes à doença.

Miguel Castanho frisa que a vacina da farmacêutica norte-americana Johnson&Johnson, aprovada pela Agência Europeia do Medicamento em março e que é a única de unidose, é também a única que foi testada “numa situação em que as novas variantes já tinham uma ação relevante quer no Brasil, quer na África do Sul”, sendo aquela em que existem “dados seguros sobre a eficácia contra as novas variantes”.

No entanto, mesmo com a da Johnson&Johnson, podem surgir novas variantes que podem colocar em causa a eficácia das vacinas atualmente existentes. Isso dependerá do “quão rápido progride a vacinação à escala global e das oportunidades que dermos ao vírus de se multiplicar livremente”, aponta o bioquímico, que considera que, enquanto a transmissão da Covid-19 se mantiver alta em países como o Brasil — que nas últimas semanas tem registado entre 80 mil a 100 mil casos diários e 4 mil mortes –, “a probabilidade de aparecerem novas variantes é alta”, o que pode “comprometer mais a duração da proteção” dos imunizantes.

Vai ser preciso reforçar a vacinação numa terceira dose?

“Claramente que vai ocorrer”, antecipa João Manuel Gonçalves. “Entre os seis e os doze meses, a quantidade de anticorpos e de resposta imunitária vai diminuindo, por isso estamos a antever uma terceira dose”. Miguel Castanho considera, por outro lado, que deverá ser necessário outra dose, mas não terá de ser necessariamente num futuro próximo: “Poderá ser daqui a dois ou três anos, dependendo das variantes que haja nessa altura”.

Ainda não é claro quando é que terá de haver um reforço da vacina, mas João Manuel Gonçalves, por exemplo, espera que ocorra “um ano depois” da segunda dose. E também não é certo se o imunizante terá de ser modificado devido às novas variantes que poderão “estar em circulação”. “Pode acontecer que as vacinas que temos até ao momento tenham uma eficácia parcial, que não sejam tão boas”, sendo por isso necessário um imunizante diferente.

A ser administrada, a terceira dose também não deverá ser “para toda a gente”, de acordo com a opinião de João Manuel Gonçalves. É preciso então “identificar certos grupos”, como os “idosos” ou as pessoas “com doenças auto imunes”, que precisarão, em princípio, de mais uma dose da vacina. “Claramente 60 a 80% da população gera uma imunidade ao vírus”, sendo necessário apenas “identificar aqueles que estarão mais vulneráveis”.

Miguel Castanho não é tão otimista, sendo da opinião que as vacinas vão ter ainda de ser modificadas durante alguns anos quer por perderem eficácia, quer devido às novas variantes que deverão surgir. Portanto, a vacinação periódica poderá ser uma opção.

Quando se fala em modificar a vacina, as vacinas da Pfizer e da Moderna estão em vantagem, dado que quais é mais fácil introduzir alterações à substância ativa do imunizante, devido ao mecanismo do ARN-mensageiro. João Manuel Gonçalves também sinaliza que do “ponto de vista regulamentar”, a EMA flexibilizou o processo, não sendo necessário realizar “outro ensaio clínico”. “Será muito mais rápido”, diz o virologista.

Porque é que demora tanto produzir em escala uma vacina como a da Pfizer?

Contudo, Miguel Castanho alerta que, embora seja mais fácil, “não devemos subavaliar as problemas associados à sua produção, porque uma coisa é adaptar a vacina e modificá-la, outra é introduzi-la na cadeia dos planos de vacinação, o que não é imediato nem trivial”. “A produção em massa não está a ser fácil, com as farmacêuticas a falhar, atualmente, os prazos”, lembra o bioquímico, que acrescenta: “Iniciar o processo de produção em massa de uma vacina adaptada não é assim tão rápido”.

Vai haver uma vacinação periódica, como a da gripe?

“Provavelmente não”, avança João Manuel Gonçalves, que acredita que não deverá ser necessário “uma vacinação como a da gripe, que é um vírus que, ao contrário do coronavírus, até se modifica mais”. E, apesar de se estar “constantemente a ouvir falar sobre o aparecimento de novas variantes, comparativamente com o vírus da gripe, a Covid-19 é um bebezinho”.

Para mais, a “imunidade gerada pelas vacinas e pelas reinfeções vai fazer com que este vírus se vá tornando endémico”. Ou seja, “vai continuar a circular na população”, mas terá associado sintomas mais ligeiros, como aqueles relacionados com a gripe. “Temos neste momento três tipos de coronavírus que provocam as constipações”, explica João Manuel Gonçalves, sinalizando ainda que “aquele que provoca a Covid-19 vai adaptar-se. Algumas pessoas vão ficar com alguma doença porque têm pouca imunidade, mas não será tão perigoso“.

Miguel Castanho não é tão otimista, sendo da opinião que as vacinas vão ter ainda de ser modificadas durante alguns anos quer por perderem eficácia, quer devido às novas variantes que deverão surgir. Portanto, a vacinação periódica poderá ser uma opção, pelo menos num futuro próximo.

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