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Um homem transporta as suas compras de Natal antes do recolher obrigatório do estado de emergência, no âmbito das medidas de contenção da covid-19, em Lisboa, 19 de dezembro de 2020. No fim-de-semana os estabelecimentos comerciais apenas podem funcionar entre as 08:00 e as 13:00 nos concelhos classificados como de risco “extremamente elevado” e “muito elevado”, medida imposta pelo estado de emergência que estará em vigor até às 23:59 de 23 de dezembro. ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA
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Em Portugal, a inflação atingiu máximos de 30 anos

ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

Em Portugal, a inflação atingiu máximos de 30 anos

ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

Portugal não foi dos que mais perderam poder de compra no mapa da UE (onde três países até ganharam)

Mapa do segundo trimestre mostra os efeitos heterogéneos da inflação na UE. República Checa, Estónia e Letónia foram os maiores perdedores. Bulgária, Hungria e Malta seguiram em sentido inverso.

Apesar de a inflação ter chegado aos 8% no segundo trimestre do ano, o que ditou uma perda de poder de compra superior a 2%, Portugal não está na metade dos países da União Europeia (UE) cujos trabalhadores mais perderam rendimento à boleia da acentuada subida dos preços, segundo os cálculos do Observador com base nos dados do Eurostat. Os maiores perdedores foram, de longe, a República Checa (-11,8%), a Estónia (-10,3%) e a Letónia (-10%).

De abril a junho, os dados mais recentes e um período já totalmente marcado pela guerra na Ucrânia, Portugal viu os custos das empresas com salários (excluindo contribuições sociais) subir 5,6%, acima da média da UE de 4,5%. O indicador mede o custo total médio por hora que os empregadores têm com os seus trabalhadores.

Nesse campo, Portugal está ao nível, por exemplo, de países como a Bélgica (+5,5%), onde o aumento dos salários está indexado à inflação, a Alemanha (+5,5%) ou a Eslováquia (+5,7%), que também registaram, na média do trimestre, valores de inflação semelhantes ao nacional. O indicador português dos custos salariais está influenciado pelo aumento do salário mínimo que, em 2022, subiu 6% para 705 euros para à volta de um milhão de trabalhadores.

A conclusão não surpreende João Cerejeira, economista especialista em mercado de trabalho e professor na Universidade do Minho, que salienta como em alguns países, como os do Báltico, a inflação escalou muito mais significativamente e ultrapassou os 16%. É esse o caso da Estónia (20,4%), da Letónia (16,4%) ou da Lituânia (18,5%), três países muito dependentes do estrangeiro — incluindo a Rússia — para o abastecimento de energia, o que os atira para uma posição de particular vulnerabilidade ao aumento dos preços. “Há uma dispersão muito grande entre países“, sintetiza, ao Observador.

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Catarina Martins, economista do think tank Bruegel, também salienta a “heterogeneidade” da inflação pela Europa. E traça diferenças entre França, onde a inflação rondou os 6% no trimestre, e os países Bálticos. “França é de certa forma bastante auto-suficiente em energia porque tem centrais nucleares, produz muito da sua própria energia. Nos países do Báltico são mais dependentes, foram muito afetados com a subida dos preços”, refere, a partir da Bélgica, um país que viu a inflação no trimestre rondar os 10% e que não mexeu na regra que indexa os salários da função pública e de grande parte do setor privado à inflação. Aliás, dará aumentos salariais aos funcionários públicos com base na inflação do conjunto do ano (que também deverá ser de 10%).

Salários ainda não dão sinais de estar a contaminar fantasma da “espiral inflacionista”, mas OE será decisivo

Em Portugal, a inflação não chegou a esses níveis no trimestre terminado em junho, mas ainda assim atingiu históricos de 30 anos. Na média do trimestre, segundo os cálculos do Observador com base no índice harmonizado de preços no consumidor (um indicador que permite comparações à escala europeia), a inflação fixou-se em 8,2% (face ao período homólogo) à boleia dos preços da energia, um valor semelhante, por exemplo, à Alemanha (também 8,2%) e Irlanda (8,4%). Nas projeções de verão, a Comissão Europeia identificava outras forças a alimentar a inflação, mais concretamente no setor dos serviços: a procura que esteve “reprimida”, os efeitos da energia no setor dos transportes e “efeitos de base” no caso dos preços do alojamento e do transporte aéreo, depois da quebra da procura durante a pandemia.

O aumento de custos salariais de, em média, 5,6% permitiu compensar essa perda mas apenas em parte, ditando uma perda de poder de compra de 2,6%. Este valor difere daquele que o Instituto Nacional de Estatística (INE) calculou para Portugal quanto ao segundo trimestre do ano, uma quebra de 4,6% no poder de compra e uma variação salarial, da remuneração brutal mensal média — e não dos custos salariais por hora (como faz o Eurostat) –, de 3,1%.

Esse aumento nominal da remuneração calculado pelo INE é visto pelo economista José Reis, professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, como um efeito da “escassez de mão de obra”. “Num país de salários baixos a elasticidade em situações como estas é maior“, refere ao Observador. Essa escassez de trabalhadores pode estar a cruzar-se com uma “perceção de inflação” que os ajustamentos salariais não têm conseguido mitigar na totalidade. Em conjunto, estas duas forças podem levar a maiores reivindicações salariais, argumenta.

Falta agora saber, diz, “como é que a retração da atividade influencia tudo isto”. José Reis critica o acordo de rendimentos assinado com as confederações patronais e a UGT, e que versa sobre aumentos salariais futuros, que “ignorou” a inflação de 2022 e “estabeleceu balizas que, tudo somado, podem reforçar a penalização dos salários reais”.

A perda de 2,6%, com base nos dados do Eurostat, é menor do que a média da União Europeia, de 4,3% no segundo trimestre. Quem perdeu mais foi a República Checa (uma inflação de 15%, com aumentos médios tímidos de 3,2%). Nas projeções de verão, a Comissão Europeia já mencionava como a inflação estava a aumentar desde o início da retoma da pandemia. E como as disrupções das cadeias de abastecimento causadas pela guerra na Ucrânia “contribuem para estas pressões inflacionistas”, afetando não só os preços da energia e de matérias-primas, como dos bens alimentares. Já na altura antecipava “efeitos de segunda ordem por exemplo sobre os salários, que contribuem para o pico e a persistência da inflação”.

Na altura, Bruxelas estimava que a inflação chegasse ao pico no terceiro trimestre de 2022, para 16% em termos homólogos. A partir daí deveria baixar “quando o impacto da perda de rendimento real e a eficácia da política monetária mais restritiva se sobrepusessem”.

Quase todos perderam poder de compra, só dois setores escaparam. Quem perde mais e menos com a inflação

Entre os mais afetados esteve também a Estónia, onde as subidas salariais médias ligeiramente acima de 10% — impulsionados pelos setores da informação e da comunicação, e do alojamento e restauração — não foram suficientes para compensar uma inflação estrondosa de 20,4%. “Desde o início da guerra, as condições económicas pioraram consideravelmente por via das restrições do comércio, aumentos persistentes nos preços da energia, commodities industriais, fertilizantes e alimentação, e a incerteza elevada”, refere a Comissão Europeia.

As exceções búlgara, húngara e maltesa

Mas houve países que, perante taxas de inflação estrondosas, responderam com aumentos salariais médios de tal ordem que permitiram compensar os trabalhadores: é o caso da Hungria, da Bulgária e de Malta.

João Cerejeira lembra que a Bulgária “está com taxas de crescimento económico bastante elevados”. “Pode ter a ver com isso, tem um mercado de trabalho muito mais ‘aquecido’ do que o nosso”, explica. No relatório com as projeções de verão, a Comissão Europeia salienta como o país assistiu, no arranque do ano, a um crescimento do consumo privado que foi “suportado por condições favoráveis no mercado de trabalho e o aumento significativo nos salários no setor privado”. “O forte aumento salarial em 2022 deverá conduzir a mais aumentos de preços, particularmente no setor [de bens] não transacionáveis”, antecipava, na altura.

No segundo trimestre, a inflação na Bulgária chegou aos 13,4%, mas os custos salariais subiram mais: 14,6%, impulsionado também pelo forte aumento do salário mínimo em 9,2%, no início do ano, para 363 euros. Feitas as contas, significa que houve um ganho de poder de compra em 1,2%.

St. Alexander Nevski Cathedral in Sofia, Bulgaria

No segundo trimestre, a inflação na Bulgária chegou aos 13,4%, mas os custos salariais subiram mais

Getty Images

Na Hungria, esse valor sobe para 3,9%, resultado de uma inflação de 11%, mas um incremento dos custos salariais em quase 15%. “A Hungria estava a seguir uma política de aumentos de salários mínimos também bastante mais forte do que a portuguesa”, refere João Cerejeira.

Numa análise do BNP Paribas sobre a Hungria, o banco explica como, no início de 2022, os bons indicadores no consumo se explicavam por medidas tomadas pelo governo do país em vésperas das eleições de abril, que incluíam a suspensão temporária dos preços de energia e nalguns alimentos. Além de que “o aumento salarial médio nos últimos meses tem sido superior à inflação, assim contribuindo para apoiar o poder de compra dos rendimentos das famílias contra um contexto de inflação crescente”.

O aumento salarial também é salientado pela Comissão Europeia, no relatório com as projeções de verão: “Além de um aumento forte no emprego e dos salários no setor privado, o rendimento das famílias foi reforçado por uma redução pontual do imposto sobre o rendimento e por aumentos dos salários da função pública e das pensões no início do ano”. Essa subida salarial foi, a par de uma procura interna “forte”, um dos impulsionadores da inflação elevada também no país.

Quanto a Malta, a Comissão Europeia sublinhou, no verão, como o país limitou o aumentos dos preços energéticos em 2022, mas ainda assim assistiu a um aumento forte da inflação fruto dos impactos do aumento dos preços da energia nas cadeias mundiais, assim como dos preços das commodities.

Segunda metade do ano acentua trajetória de perda

Para Portugal, na segunda metade do ano, João Cerejeira não acredita que a situação venha a melhorar face ao trimestre anterior, até porque os salários tendem a ser negociados no início do ano. Há, sim, ajustes salariais, que decorrem “naturalmente do processo de contratação, de entradas e saídas”, mas não deverão ser suficientes para alterar a tendência de degradação do poder de compra na segunda metade do ano.

“Os ajustamentos salariais por contratação coletiva tendem a ser feitos no início do ano. Vamos observar, por motivos de procura, uma abrandamento na atividade económica, que já foi visível no segundo trimestre, mas que depois acabou por ser um pouco mais camuflada pelo bom mês turístico de agosto”, indica.

§Só que, tirando isso, “as restantes atividades já estão a começar a sentir uma quebra na procura por causa do crescimento dos preços, e isso vai limitar a capacidade de as empresas aumentarem salários. A partir do momento em que estão a sentir que estão a perder mercado, vão ser mais contidas em relação a aumentos salariais”. Os dados da Eurostat para o terceiro trimestre do ano só serão revelados em dezembro.

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