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Até esta terça-feira, foram recebidos pedidos de 4725 nacionais que querem voltar ao país (JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)
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Até esta terça-feira, foram recebidos pedidos de 4725 nacionais que querem voltar ao país (JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Até esta terça-feira, foram recebidos pedidos de 4725 nacionais que querem voltar ao país (JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Portugueses retidos no estrangeiro. Dos 4725 que pediram ajuda, já 654 regressaram

Há mais de 4443 portugueses e 282 estudantes erasmus espalhados pelo mundo a quererem regressar a Portugal. Alguns até já conseguiram voltar. Mas têm em comum a demora de resposta do MNE.

Com o encerramento de bares e restaurantes devido ao surto do novo coronavírus, Francisco Donas-Botto ficou sem emprego. Aos 33 anos, já está na Austrália há dois, onde está a terminar o segundo ano do curso de gestão em hotelaria e restauração, ao mesmo tempo que se encontra a trabalhar na área, como bartender. Num país com um “custo de vida elevado”, paga renda, contas, estudos e, de há uns dias para cá, voos “em vão”, lamenta em conversa com a Rádio Observador.

Francisco Donas-Botto é um dos mais de 4 mil portugueses que pediram ajuda ao Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) para regressar a Portugal, devido ao surto da Covid-19. Dá voz a outros cerca de 115 jovens que estão “todos na mesma situação” e com quem partilha um grupo de Facebook onde conversam e partilham as adversidades que têm vivido nos últimos dias. “São todos jovens portugueses que vieram trabalhar para a Austrália — alguns também para a Nova Zelândia — na área de hotelaria e restauração que, infelizmente, sofreu um grande rombo. Todos nós perdemos o emprego“, conta à Rádio Observador, dias depois de ter feito também um apelo na sua página do Facebook.

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Todo o grupo decidiu que, dadas as circunstâncias, mais valia regressar a Portugal. “A situação tornou-se impraticável e o regresso absolutamente inevitável”, conta. Encetaram uma jornada sem sucesso de arranjar voos que os levassem em segurança. “Os nossos voos têm sido cancelados. Pior do que isso: as companhias aéreas não nos têm reembolsado o valor dos bilhetes. Apenas nos dão a possibilidade de usar como crédito, mas para viagens futuras. Andamos a comprar voos sem critério, sem grande garantia, em vão e a gastar os nossos recursos”, explica, acrescentando que o grupo já gastou “milhares e milhares” em voos.

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Francisco Donas-Botto explicou que ele e os restantes membros do grupo têm vindo a contactar a Embaixada Portuguesa em Camberra “sucessivamente”: além das chamadas telefónicas, cada um deles já escreveu um email individual a expor a sua situação e o grupo já enviou também uma carta conjunta. “O único feedback que temos tido é sempre o mesmo: dizem-nos para esgotarmos todas as alternativas de voos comerciais, como se tivéssemos dinheiro e orçamento para andar a comprar voos todos os dias”, relata.

"O único feedback que temos tido é sempre o mesmo: dizem-nos para esgotarmos todas as alternativas de voos comerciais, como se tivéssemos dinheiro e orçamento para andar a comprar voos todos os dias"
Francisco Donas-Botto, português retido na Austrália

De acordo a lista disponibilizada pelo MNE sobre os cidadãos nacionais que se encontram no estrangeiro e necessitam de ajuda, há 48 portugueses na Austrália e 1 na Nova Zelândia cuja situação está a ser acompanhada— apesar de Francisco Donas-Botto garantir que cada um dos cerca de 115 portugueses que estão no continente australiana ter enviado pedidos de apoio individuais. No entanto, fonte oficial do MNE faz uma ressalva ao Observador que pode justificar a discrepância: “Os dados são alvo de atualização diária e reportam-se à situação no dia anterior”.

No site da Embaixada portuguesa na Austrália, o último alerta publicado para pessoas retidas é de esta quarta-feira e anuncia que, “ciente das enormes dificuldades para encontrar voos de regresso a Portugal neste momento, a Qatar Airways montou um programa especial de apoio”. Em que consiste? 10% de desconto nas passagens aéreas. Noutra nota publicada também esta quarta-feira, a embaixada alerta para os “tempos históricos sem precedentes” que se vivem atualmente. E faz um apelo: “Mais do que nunca, o momento é de solidariedade e de ajuda mútua, apelando-se a todos que mantenham a serenidade possível nestas horas difíceis”.

No seu caso, Francisco Donas-Botto diz ter dinheiro para sobreviver ainda mais uma semanas, mas já antevê um problema: “Daqui a pouco vão fechar as fronteiras todas e vamos ficar aqui retidos sabe-se lá por quanto tempo, sem dinheiro”. Mais, alerta: “Uma possível hospitalização no caso de contaminação iria encarregar-nos de custos absolutamente incomportáveis”.

Há 3250 estudantes erasmus em 32 países, mas apenas 282 solicitaram ainda ajuda formalmente (JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Francisco Donas-Botto diz ainda ao Observador que não se trata só de uma questão monetária — até porque, clarifica, não está a pedir um repatriamento gratuito ou uma viagem de graça: “Estamos dispostos a pagar por um avião. Apenas queremos a certeza e garantia que esse voo vai ser realizado”. É também uma questão de segurança: “Pelo menos, em Portugal não somos apenas mais um: estamos no nosso país, com a nossa família e podemos esperar em paz e na segurança das nossas casas. Só queremos chegar a casa em segurança”.

É a voz de outra centena de jovens retidos da Austrália, mas podia muito bem ser a voz de centenas de português espalhados pelo mundo que não conseguem voltar ao seu país. Apesar de em países diferentes, partilham entre eles o facto de não obterem resposta do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) ou essa reposta ser tardia. Como Francisco Donas-Botto, muitos deles também recorrem às redes sociais ou aos meios de comunicação para pedir ajuda.

Já 4443 portugueses e 282 estudantes erasmus pediram ajuda. Mais de 85% ainda esperam por regressara

Foi exatamente para ajudar e dar apoio a estes portugueses, como Francisco Donas-Botto, que o MNE criou a linha de emergência Covid-19: acessível através de e-mail (covid19@mne.pt) ou de número telefónico (+351 217 929 755). “Esta linha de emergência para viajantes estará disponível em dias úteis, entre as 9h e as 17h, e, fora deste horário, será complementada pela atividade do Gabinete de Emergência Consular em funcionamento 24 horas por dia”, anunciou o MNE a 13 de março. Segundo é explicado no site, o objetivo é “prestar informações relativas ao regresso a território nacional no caso de ocorrerem dificuldades de circulação no país onde se encontrem”.

É precisamente em relação a esta linha que os portugueses retidos no estrangeiro se queixam: ou é a demora até que alguém atenda ou a ausência de respostas úteis. O MNE admite os problemas. Em resposta ao Observador, reconheceu que, apesar de ter havido um reforço nas linhas telefónicas e o endereço de email de apoio, “o volume de pedidos (muitos deles que não se enquadram nos objetivos para os quais as linhas e o email foram criados) pode dificultar a celeridade nas respostas”.

"O volume de pedidos (muitos deles que não se enquadram nos objetivos para os quais as linhas e o email foram criados) pode dificultar a celeridade nas respostas"
Ministério dos Negócios Estrangeiros

Apesar das queixas, já houve casos resolvidos. Qual é o ponto de situação?

Até esta terça-feira, foram recebidos pedidos de 4725 nacionais. Destes, 282 são estudantes erasmus, apesar de haver, segundo o MNE, 3250 jovens nesta situação em 32 países. Isto porque apenas esses 282 solicitaram ainda ajuda formalmente: os restantes estão a ser contactados por email pelo gabinete da Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, Berta Nunes, com o apoio do gabinete do Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e da Agência Nacional Erasmus. Do total dos portugueses que pediram ajuda, só ainda 653 conseguiram regressar — 72 são estudantes erasmus.

Angola (260) — onde vários portugueses se queixam da falta de respostas das entidades portuguesasBrasil (223, sendo 6 estudantes erasmus), Cabo Verde (210), Cuba (250), EUA (275), GuinéBissau (264), Índia (201), Maldivas (206) e Marrocos (284) foram os países de onde chegaram mais pedidos. Destes, a partir dos dados mais atualizados da tabela, ainda só foram concluídos pedidos de dois nacionais em Cabo Verde, 10 nos EUA, um na Índia, seis nas Maldivas e 275 de Marrocos — o país de onde foram concluídos mais pedidos de ajuda.

Portugueses em Angola desesperam com falta de respostas para sair do país

No entanto, os números relativos aos pedidos concluídos podem aumentar. Desde logo os números deverão ser atualizados com o facto de terem chegado esta quarta-feira 140 portugueses vindos da Polónia. “Em relação à Polónia, responderam cerca de 80% dos alunos contactados, tendo a maioria indicado que não necessita de apoio. Destes, 20% já se encontra em Portugal ou tem alternativas de regresso definidas e 47% informaram que pretendem permanecer na Polónia“, explicou o MNE numa resposta por escrito enviada ao Observador. O ministério adianta que “as restantes situações estão a ser acompanhadas tendo em vista encontrar opções para o regresso a Portugal dos alunos que manifestaram essa vontade”.

Do total dos portugueses que pediram ajuda, só ainda 653 tiveram apoio — 72 são estudantes erasmus (JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Não só em relação a estudantes, mas também nacionais. Isto porque o MNE garante que está “junto das autoridades de diversos países” a tentar “desbloquear autorizações”. O MNE adianta ainda que se encontram previstos outros voos operados pela TAP para os próximos dias. Um deles virá do Peru para trazer cerca de 60 portugueses do Peru, assim como outros cidadãos de 17 nacionalidades, apesar de terem sido feitos 106 pedidos de apoio, de acordo com a tabela do Governo.

“Vem um barco uma vez por semana que atira comida”. Casal retido nas Honduras deverá voltar em breve

O caso de Bernardo Gavião e da namorada é um dos que em breve poderá estar resolvido. Estão na ilha Útila, nas Honduras. Ali nem sequer há hospital, “já não há dinheiro nos bancos, as mercearias quase não têm comida e água e eletricidade são racionadas”. “Vem um barco uma vez por semana que atira comida”, conta ao Observador. E dali tentam sair desde dia 13 de março.

A primeira tentativa de pedir ajuda foi para a linha de apoio telefónica. “Só depois de dois ou três dias de chamadas consecutivas é que atenderam. Reencaminharam a chamada para uma agência de viagens, a Barceló. Dali, a resposta foi: se não há aviões a sair do país,  que é que podemos fazer?”, relatou.

https://www.facebook.com/duarte.gaivao.dg/videos/10219101499782707/

Como não existe representação diplomática portuguesa nas Honduras, Bernando Gavião acabou por contactar a embaixada do México — como aliás recomenda o MNE no seu site. Só uma semana depois é que chegou uma resposta. Informaram o casal que o tinham colocado numa lista para o caso de ser organizado um voo de repatriamento. “Sublinhamos que de momento não há indicações nesse sentido”, lê-se no email ao qual o Observador teve acesso, onde o MNE alertava: “Recordamos que o MNE não é uma agência de viagens, mas conta com a colaboração de um operador e da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo para o efeito”.

Esta quarta-feira — 12 dias depois de ter começado a reunir esforços para sair das Honduras — Bernardo Gavião recebeu um email da Embaixada portuguesa no México, enquanto conversava com o Observador, a informá-lo de que iria sair um voo espanhol na manhã de sexta-feira que os ia levar até Madrid. “Vamos tentar garantir os vossos lugares e tratar com os nossos colegas em Madrid da ligação a Portugal“, lê-se ainda.

Santos Silva garante que “é falso que os portugueses são os últimos a partir: são fake news”

Cerca de quatro mil foi também o balanço que fez o ministro dos Negócios Estrangeiros, na comissão Parlamentar dos Negócios Estrangeiros, na terça-feira, dos portugueses que pediram apoio para regressar a Portugal. Augusto Santos Silva explicou que os casos “mais fáceis” de resolver “são os no interior da UE porque continua a vigorar a livre circulação, em relação a estes as fronteiras estão abertas e nas rotas aéreas em curso e vigorar o princípio da mobilidade”.

Os “mais difíceis” são aqueles em que, por decisão unilateral dos países, as ligações com a “Europa ou alguns países europeus foram cortadas ou o espaço aéreo fechado ou a lei marcial imposta”. Nesses casos, o MNE tem pedido “às autoridade exceções para o regresso”. “Há países que têm sido extremamente cooperativos: países africanos de língua portuguesa”, esclareceu Santos Silva.

Questionado sobre a “falta de apoio” do Governo que tem sido denunciada por alguns nacionais, o ministro dos Negócios Estrangeiros diz que “é falso que os portugueses são os últimos a partir: são fake news que circulam no submundo das redes sociais”. O ministro aproveitou ainda para dar um raspanete aos nacionais que fizeram pedidos agora e que partiram de férias para a Ásia há menos de 15 dias. “Entenderam partir em viagens de aventura há muito poucos dias, desafiando qualquer bom senso”, disse falando mesmo em “irresponsabilidade”.

*Com João Alexandre

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