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Rainha e senhora de todas as ementas, Isabel II escolhe, aprova e, se necessário, faz reparos aos pratos servidos no palácio e nos eventos da Família Real ©Getty Images
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Rainha e senhora de todas as ementas, Isabel II escolhe, aprova e, se necessário, faz reparos aos pratos servidos no palácio e nos eventos da Família Real ©Getty Images

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Rainha e senhora de todas as ementas, Isabel II escolhe, aprova e, se necessário, faz reparos aos pratos servidos no palácio e nos eventos da Família Real ©Getty Images

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'Poulet Reine Elizabeth', scones e caldo do camarão. Do dia a dia aos jubileus, o que come (e não come) Isabel II?

Antes do pudim, duas receitas de frango marcaram os jubileus da rainha. No dicionário gastronómico da Família Real alho não entra. Chocolate, manga, scones e um copo de Dubonnet, já é outra conversa.

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Pedaços de frango desfiado, envolvidos em creme com maionese, damascos frescos, vinho tinto, caril em pó e outras especiarias, moídas no momento. É com este Poulet Reine Elizabeth, também conhecido como Frango da Coroação que arranca a história gastronómica do reinado de Isabel II. Servida a 350 convidados no almoço que se seguiu à coração da rainha, em 1953, a criação de Angela Wood, hoje com 88 anos, continua a ser um dos recheios de sanduíche preferidos do país. Numa entrevista recente à BBC, a cozinheira lembra que o pós segunda guerra mundial continuava a sentir-se no prato dos britânicos, impondo simplicidade nas escolhas e ingredientes maioritariamente locais, mesmo nos banquetes da realeza.

Na altura, o desafio era criar “algo com um pouco de sabor, mas não muito”. Setenta anos depois, a casa real não se afasta do guião, embora dê orientações mais explícitas para a competição que elege o pudim do jubileu de Platina: “simplifique: não tente incluir demasiados sabores diferentes ou texturas”, “aposte na subtileza e na elegância, em vez do espalhafato e de muita complicação”, “para a maioria o pudim é um doce, então faça com que a harmonia dos sabores seja doce”, aconselha o atual cozinheiro chef da cozinha do palácio de Buckingham, Mark Flanagan, na página oficial da Família Real britânica, no Instagram.

O Frango da Coroação foi criado especialmente para assinalar a subida ao trono de Isabel II, em 1953 © Getty Images
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Já nessa altura, os banquetes reais eram celebrados com concentrações nas ruas do país © Getty Images
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Residentes britânicos com oito ou mais anos podem candidatar-se, juntamente com todos os indivíduos, famílias, classes escolares, grupos comunitários, empresas e outras entidades. Além da júri da edição inglesa do Masterchef, Monica Galetti, o cozinheiro chef de Buckingham faz parte do painel de jurados que começa a provar as receitas logo a 7 de fevereiro, quando termina a primeira fase do concurso. A final está marcada para o mês seguinte, a 14 de março. Apenas cinco finalistas participam no concurso que vai ser transmitido em canal aberto.

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Mais do que a seleção de produtos da loja especializada Fortnum and Mason, — que patrocina a iniciativa — o vencedor do Pudim do Jubileu de Platina entra para o pequeno nicho de chefs capazes de incluir um prato no livro de receitas real. Além de presença marcada no Grande Almoço do Jubileu — a 5 de junho – a ideia é que a sobremesa seja replicada nas muitas milhares de cozinhas que, em simultâneo, enchem as mesas das tradicionais confraternizações de bairro que, por ocasião do Jubileu de Diamante, por exemplo, juntaram 8,5 milhões de pessoas, fechando 9.500 estradas por todo o país.

Recorde dos recordes, o chamado Grande Almoço de Greenwich, no sudoeste da capital britânica, reuniu mais de 10 mil. Este ano, as pessoas são encorajadas “a compartilhar amizade, comida e diversão com os vizinhos” na celebração que é um autêntico desfile gastronómico de iguarias. Nesse ano, até o príncipe Carlos e a duquesa da Cornualha, Camila, participaram num dos animados encontros, em Londres. Há duas semanas, o The Sun já falava em 1.400 inscritos para os almoços do Jubileu de Platina.

Fora das muralhas da realeza, o Grande Almoço costuma reunir milhares em todo o país ©Getty Images
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Carlos e Camila não faltaram ao Grande Almoço de Londres, mostrando-se próximos dos súbditos ©Getty Images
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Em junho, voltamos a atualizar os números. Por agora, juntando as peças do puzzle incompleto que são as preferências alimentares da governante mais antiga em exercício — e senhora de todos as refeições servidas no palácio — seguimos viagem pelas ementas reais, ingredientes proibidos, relatos dos cozinheiros da realeza, mitos e até a declarada paixão do príncipe William pela cadeia de frango no churrasco Nando’s. Chá? Também. Às 17h, com scones e geleia.

Ouro e Diamante: dos banquetes às 160 mil xícaras

Apesar da conhecida preferência da rainha pelas saquetas Earl Grey da popular Twinings, no último Grande Almoço do Jubileu, em Windsor, serviu-se o chá de Ceilão que o próprio Duque de Edimburgo plantou, em 1954, durante a primeira visita oficial do casal ao Sri Lanka. Ao contrário do que acontece com os banquetes servidos nos Jubileus de Prata e Ouro, a ementa do mais recente Jubileu de Diamante foi amplamente divulgada pelos meios de comunicação social. Vindos de mais de 26 países, incluindo do Kuwait, Liechtenstein, Marrocos, Tonga ou Abu Dhabi, a realeza mundial convidada brindou aos 60 anos de trono de Isabel II com o espumante britânico Nyetimber Classic Cuvée 2007 e Cidra de Maça.

"Todos levantados", os convidados só têm ordem de voltar ao lugar quando a rainha se acomoda © Getty Images
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Seguindo a preferência da monarca pelas verduras e pelos produtos sazonais os pratos principais foram Salmão Marinado da Ilha Uist com Caranguejo Lyme Bay, Salada de Ervas Frescas com Molho de Soja com Limão, Espargos Grelhados da Ilha de Wight, Costeleta de Cordeiro da Montanha Cambriana Galesa com Ombro de Cordeiro e Batatas Reais Jersey com Molho Jubileu. A acompanhar os vinhos franceses Sancerre Sauvignon Blanc, Bué Loire Valley de 2011 e Château Cap de Faugères, Côte-de-Castillon de 2007. Para finalizar, Delícia de Chocolate, Pudim de Pão e Manteiga, Frutos Vermelhos com Cidra de Maçã.

Dez anos antes, quando se assinalavam os 50 anos da coroação de Isabel II, no Jubileu de Ouro de 2002, outro prato de frango haveria de entrar para a lista de criações gastronómicas, especialmente pensadas para a data. Acompanhado do molho branco, polvilhado com salsa e limão, o Frango Jubileu de Ouro recria, e acrescenta alguns detalhes, ao primeiro Frango Jubileu de todos os tempos, preparado para assinalar os 25 anos de reinado do rei Jorge V, em 1935. A versão cozinhada para a atual chefe da casa real britânica teve tanto sucesso que também foi servida às centenas de convidados que celebraram o Jubileu de Platina nos jardins do Palácio de Buckingham, dez anos depois.

Voltando às comemorações do Jubileu de Ouro, a página oficial da Casa Real recorda que, à data, também nos jardins do Palácio, cerca de 28 mil cestas de piquenique foram oferecidas a todos os trabalhadores e artistas envolvidos nos dois dias de concertos com que a soberana presenteou os britânicos.

Salmão fumado, champanhe, a receita especial de frango daquele ano, guloseimas e morangos, vinham no cabaz. Só nesse ano, serviram-se 160 mil xícaras de chá, 54 mil miniaturas, 48 mil fatias de bolo de chocolate e outras 48 mil de bolo de limão nas festas e banquetes que encheram os palácios de  Buckingham, Balmoral e Sandringham, apenas na temporada de verão. Sobre as ementas das comemorações do Jubileu de Prata, em 1977, marcado pelas sucessivas viagens do casal real aos estrangeiro, incluindo todos os países da Commonwealth pouco se escreveu. Sobre as exigências da rainha noutras deslocações, já correu muita tinta.

Estima-se que tenham sido servidas 160 mil xícaras de chá e 54 mil miniaturas aos, durante o Jubileu de Ouro ©Getty Images
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Ao todo, 28 mil cestas de piquenique foram distribuídas pelos trabalhadores do Palácio, no Jubileu de Ouro ©Getty Images
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Alho, não

Quando viajou para Roma e Milão, há 22 anos, Isabel II pediu expressamente que alguns dos elementos mais tradicionais da culinária italiana ficassem de fora do cardápio, como o molho de tomate, a massa ou o detestado alho. Na altura, a BCC escrevia que os chefes da residência oficial do então Presidente Carlo Azeglio Ciampi foram instruídos a excluir ingredientes pesados e das refeições da rainha e do príncipe Filipe. Com recomendações que vão desde os materiais dos lençóis às flores permitidas nos dormitórios, as listas incluem as paragens obrigatórias para o chá da tarde da rainha. Independentemente da latitude, serve-se às 17h.

Antigo chef pessoal da monarca, o homem que também cozinhou para a princesa Diana e para os filhos, no Palácio de Kensington, sublinha isso mesmo. “Onde quer que estivesse, ela sempre tomou o chá da tarde. Uma vez voámos para a Austrália, eram cinco horas da manhã, mas para a rainha eram cinco da tarde, então a minha primeira tarefa foi preparar scones”, escreve Darren McGrady no livro ‘Eating Royally: Recipes and Remembrances from a Palace Kitchen’, onde revelou muitos dos segredos mais bem guardados dos menus reais.

Noutra ocasião, numa série de vídeos de perguntas e respostas publicados no Youtube, o cozinheiro pessoal da rainha entre 1982 e 1993 diz que nas quatro refeições diárias, Isabel II já comia pequenas porções de cada vez, seguindo todas as recomendações para manter uma alimentação o mais saudável possível, sem excessos ou nutrientes desnecessários. Longe do imaginário de um pequeno almoço com direito a panquecas, ovos mexidos, fruta e fatias de bolo, a rainha “normalmente, começa o dia com uma simples xícara de chá, biscoitos e uma tigela de cereais”. Ao almoço ou ao jantar, a opção pode ser peixe grelhado com espinafres e abobrinhas ou um simples peito de frango com salada. Hidratos de carbono é que não. Na mesa onde todos têm de parar de comer quando sua alteza arruma os talheres, batata, massa e arroz, só em raras ocasiões. Vejamos o menu do Jubileu de Platina. Foi preciso a coroação fazer anos para a batata real ter lugar à mesa.

Receita da terra, o fish and chips das sextas-feiras também é exceção. “Toda a gente adorava peixe com batatas fritas, inclusivamente todos os 300 trabalhadores do Palácio de Buckingham também comiam fish and chips ao almoço. Mas esqueçam o molho de tártaro ou o ketchup. Fazíamos um molho de salada. Um molho de salada naquelas batatas”, recorda o chef Darren MacGrady, num trecho citado pelo The Independent. Ainda assim, para manter o conceito saudável da família, o peixe da rainha é preparado com farinha de rosca panko, em vez da farinha de trigo tradicional.

Proibido, proibido só o alho. “A rainha não gosta e não podemos usá-lo no Palácio de Buckingham”, confirma MacGrady. “Enquanto a rainha come para viver, o príncipe Filipe vivia para comer. Adorava assados com alho e especiarias como um verdadeiro foodie, mas como não podemos cozinhar dois pratos diferentes para a mesma refeição, toda a gente come o que a rainha come”, revela sobre a intimidade do casal que, pela primeira vez desde a coroação, não vai surgir lado a lado no Jubileu, depois da morte do príncipe em abril do ano passado.

Apresentada há anos como uma verdade absoluta, a ideia de que a Família Real não come marisco é um mito. Não só um dos pratos favoritos da rainha é Caldo de Camarão com pão torrado, como a regra só se aplica a visitas ou deslocações oficiais onde os membros da realeza britânica não se podem dar ao luxo de contrair uma intoxicação alimentar. Regra revelada pelo antigo mordomo Grant Harold.

“Absolutamente chocaholic”

Tanto os bombons da Charbonnel et Walkel, como os quadradinhos de chocolate e menta Bendicks ou a vasta variedade da mais antiga chocolataria de Londres — a Prestat — , carregam o chamado Mandado Real. Com brasão assinalado, estas casas abastecem o Palácio e refletem o gosto especial de Isabel II pelo cacau. “É absolutamente chocaholic”, atestava o antigo chef pessoal à Revista Hello. “Se tivesse chocolate, a Rainha escolhia, especialmente se fosse uma Torta Perfeição de Chocolate — com camadas de chocolate branco e negro e aparas de chocolate de leite.”

Descrita como uma "chocaholic", Isabel II raramente resiste a um bolo coberto ©Getty Images
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Durante as comemorações do Jubileu de Prata, uma criança oferece à rainha o seu doce favorito ©Getty Images
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Além do cálice de Dubonnet, Isabel II costuma beber uma taça de champanhe às refeições ©Getty Images
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Outro dos pecados da monarca é o croque monsier com queijo gruyère derretido. Na prática, uma tosta mista com queijo suíço. Produtos frescos do castelo de Balmoral, na Escócia também engrossam o leque de favoritos da rainha. Ao The Telegraph, John Higgins, outro cozinheiro, revelou que uma das frutas favoritas de Isabel II é a manga. “Ela sabia quantas mangas havia no frigorífico do Palácio”. Ao que tudo indica, todos os natais, o próprio príncipe André costuma entrar cozinha adentro para ir buscar as suas. Peixe favorito do príncipe Filipe, o salmão protagoniza muitos dos almoços e jantares da realeza britânica. Herdado da mãe, Isabel II mantém o hábito do cálice de gin Dubonnet, servido a seco, antes de dormir. O do champanhe é só dela. Bebe uma taça à refeição — pelo menos até eventuais restrições trazidas pela idade avançada.

Diana — e a obsessão pela magreza — também seguia uma dieta maioritariamente saudável, enquanto o príncipe Carlos é um assumido amante de produtos orgânicos, mantendo a própria horta e negócio. No livro de recordações sobre os tempos que passou ao serviço da família, o chef Darre MacGrady lembra que tanto William como Harry “sempre adoraram hambúrgueres e pizza”. As escapadelas às cadeias de fast food dos príncipes têm sido fotografadas ao longo de décadas. Em 2018, o duque de Cambridge revelou a sua paixão pelo frango no churrasco do Nando’s. Apresentado a um dos sócios da cadeia luso-africana por um dos elementos da segurança pessoal assumiu-se como “o maior fã” da receita.

À revista Hello, William e Kate mostraram-se impressionados com o sushi do Japan House London. De resto, Kate é a autora de muitos dos pratos que a família come em casa. Tal como a matriarca da família prefere vegetais a qualquer outro acompanhamento. Entre as refeições favoritas destacam-se a salada de melancia e a salada búlgara de couscous com salsa picada, tomate, hortelã, cebola e temperada com azeite, sumo de limão e sal e pimenta, que dá pelo nome de Tabbouleh. Ceviche também entra na lista.

Corgi menu, a la carte

Se pudesse escolher, o antigo chef da rainha, Darren McGrady, gostaria de reencarnar num corgi real. Estima-se que ao longo dos últimos 95 anos, Isabel II tenha criado mais de trinta exemplares da raça. Que se saiba, Willow, Holly, Candy e Vulcan vivem com a monarca. Vieram aqui parar porque é impossível falar da gastronomia real sem referir os menus e chefes exclusivos a que estes cães reais têm direito, ad infinitum. Gourmet, os peitos de frango, os lombos de vitela ou os preparados de coelho, borrego ou pato são servidos à hora do chá, pontualmente às 17h.

Atualmente, Willow, Holly, Candy e Vulcan vivem com a rainha que, por onde passa, não resiste a agraciar outros exemplares da mesma raça ©Getty Images
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Pensada para variar todos os dias, proporcionando a alimentação mais rica e natural possível aos melhores amigos da rainha, a ementa semanal dos corgi passa pelos mesmos procedimentos e requisitos da ementa do palácio. É Isabel II que aprova e faz reparos, se for necessário. “Isto não”, escreveu a matriarca da Família Real num bilhete que obrigou o então chef de cozinha John Higgins a “fazer tudo de novo”, quando, por uma única vez arriscou moer a carne de coelho num moedor elétrico, em vez de a desfiar com as mãos.

“Um dia era carne de vaca, no dia seguinte frango, no dia seguinte cordeiro, no dia seguinte coelho e assim sucessivamente. A carne entrava, nós cozinhávamos, picávamos em pedaços muito fino. Escalfávamos a carne e voltávamos a cortar em pedaços muito pequenos para garantir que não havia ossos para que os cães não se engasgassem”, detalha, por sua, McGrady. “Uma das coisas que realmente me chocou quando consegui um emprego como chef da Família Real foi que eu não estava a preparar banquetes para reis, rainhas e presidentes. Na verdade, eu estava a cortar carne, fígado e frango para os corgis. Mais tarde, aprendi que era uma das refeições mais importantes do dia quando se tratava da rainha”.

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