Um bom livro é capaz de nos impactar para o resto da vida. Uma boa história tem a capacidade de nos fazer sonhar e sentir que somos capazes de tudo. Numa altura em que a liberdade é tão importante – talvez mais do que nunca -, abrir espaço para os sonhos poderá ser o arranque necessário para um futuro melhor. Para um mundo melhor. E tudo começa com os mais pequenos. Promover a literacia infantil é deixá-los sonhar, criar, imaginar. Em última instância, é deixá-los viver.
Criado em 2014, o Prémio de Literatura Infantil Pingo Doce tem abraçado a missão de promover a literacia infantil, através da democratização do acesso a bons livros. Livros esses que surgem das palavras e das ilustrações de novos talentos. Vai já na 10ª edição e, até agora, 10 é também o número de novas histórias que fazem – e farão – parte do imaginário das nossas crianças. E os números falam por si. 170 mil foi o número de exemplares de livros infantis vendidos ao longo desta década de Prémio de Literatura Infantil Pingo Doce, nas mais de 450 lojas.
“De onde vêm as bruxas?”; “Orlando – O Caracol Apaixonado”; “O meu livro tem bicho”; “Há Monstros no Túnel”; “O Narciso Com Pelos no Nariz”; “O Protesto do Lobo Mau”; “Leituras e Papas de Aveia”; “Assim como tu”; e “O Avô minguante” são os títulos dos nove vencedores das edições anteriores. Foi precisamente para descobrir qual o vencedor da 10º edição que, no passado dia 18 de dezembro, o salão nobre do Teatro Nacional de São Carlos se recheou de aplausos e sorrisos. Numa cerimónia conduzida pela apresentadora Sílvia Alberto, houve tempo para recuar ao passado, perceber o presente e percecionar o futuro. Sem nunca esquecer, é claro, os grandes vencedores da 10ª edição.
A tarde começou com uma leitura encenada do livro vencedor da 1ª edição, em 2014, “De onde vêm as bruxas?” por Mariana Simões, vencedora do Concurso Nacional de Leitura promovido pelo Plano Nacional de Leitura, do qual o Pingo Doce é parceiro. E porque depois de ouvir a obra fica a vontade de conhecer os seus autores, Joana Lopes, a escritora, e Luís Belo, o ilustrador, subiram a palco para não só a recordar, e a todo o processo, como para reforçar a importância que o Prémio teve nas suas vidas e carreiras.
“Eu tenho a certeza de que ter sido vencedora deste prémio na categoria de texto, me abriu muitas portas. Acho que é por isso que já tenho tantos livros publicados. Acredito que foi um arranque maravilhoso. Na altura sabia que, com este prémio, ia ao encontro do meu sonho de ser escritora. Porque era uma coisa que imaginava, mas nunca pensei que pudesse vir a concretizar esse desejo”. Palavras de Joana que em muito se assimilaram às de Luís: “É inevitável mencionar o valor do prémio monetário. Permitiu-me sair de casa dos meus pais e, mais do que isso, poder não trabalhar também. Ou seja, não tive de fazer outras coisas para me poder dedicar àquilo de que gostava mesmo. O prémio deu-me uma boa almofada”.
A verdade é que o envolvimento da marca com a área da literatura infantojuvenil tem vindo a ser reforçado ao longo do tempo. Não só através deste Prémio, mas muito também por causa dele. Para Isabel Ferreira Pinto, Diretora Geral do Pingo Doce, é “uma alegria e um orgulho estarmos hoje todos juntos a celebrar os 10 anos do Prémio de Literatura Infantil do Pingo Doce. Este prémio surge em 2014 no seguimento do compromisso do Pingo Doce em promover a literacia infantil, através da democratização do acesso a bons livros, que nos foram chegando através das mãos de novos talentos, nas áreas da escrita e ilustração”.
E a verdade é que muitas são as iniciativas que a marca tem desenvolvido ao longo do tempo, levando os livros para fora das lojas e para “onde estão as crianças – que são as escolas. Levamos para eventos onde se sente e contagia o gosto pela leitura: nas feiras e festivais literários, e ainda os levamos por outros pontos do país, em concursos que distinguem e premeiam outro tipo de talentos”, partilhou Isabel Ferreira Pinto.
Por falar em talento, e porque esta foi a tarde de o premiar e celebrar, foi depois das palavras de Isabel Ferreira Pinto que o nome do 10º livro vencedor foi revelado.
O Livro que não sabia o que queria ser
Escrito por Márcio Martins e ilustrado por Cláudia H. Abrantes, o 10º livro vencedor conta uma história de possibilidades, passando a principal mensagem de que não há limites para os sonhos, para as vontades e para a imaginação.
Para Márcio Martins, este livro é um verdadeiro desejo tornado realidade, mas não só: é um desejo que deixa também para os futuros pequenos leitores. “Espero que as crianças, quando se tornarem adultas, não percam a curiosidade infantil. Ou melhor, que deixemos de lhe chamar curiosidade infantil e que lhe chamemos apenas curiosidade. Que não percam a curiosidade. A curiosidade não tem de ser uma coisa exclusiva da infância, é algo que devemos ter ao longo da vida. Nunca devemos deixar de perguntar porquê, porque não, de questionar as coisas. Não devemos aceitar as coisas cegamente como elas são. Muitas vezes, as coisas como as conhecemos são assim porque alguém decidiu. E depois ninguém questionou e acabamos a fazê-las porque alguém nos disse que era assim. Esse questionamento é fundamental. Depois, uma mensagem paralela é o poder da criatividade e da imaginação para a vida. As pessoas podem ser o que quiserem e fazer o que quiserem”.
E porque Márcio sempre quis contar as suas histórias, também ele encontrou neste Prémio o passaporte para essa liberdade. “Espero que este seja o primeiro de muitos livros. A vontade é a de continuar a criar”, partilhou, acrescentando: “Nunca serão demais iniciativas como esta. Nunca serão suficientes. Quanta mais arte na vida, mais rica será”.
Também Cláudia partilhou com o colega o sentimento de missão cumprida. Apesar de ganhar o Prémio ter sido uma surpresa, “foi uma boa surpresa. Gostei muito. Gostei muito do resultado e sabe muito bem”, afirma, aproveitando a oportunidade para deixar um conselho aos futuros participantes: “Participem. Às vezes não é à primeira, também não é à segunda…mas se gostarem do texto, participem. Porque vale a pena. Por todo o processo”.
10 livros, e agora?
Com um júri composto por Afonso Cruz, escritor e ilustrador; David Machado, autor; Violante Magalhães, autora e professora; Sara Rodi, escritora; Sara Miranda, Diretora de Comunicação do Grupo Jerónimo Martins; Marta Madureira, professora e ilustradora; André Carrilho, ilustrador; Bernardo Carvalho, ilustrador; e Eduardo Côrte-Real, professor e ilustrador, este é o maior prémio de literatura infantil em Portugal.
E se até aqui foram 10 edições de sucesso, é nas palavras de Pedro Soares dos Santos, Presidente do Conselho de Administração do Grupo Jerónimo Martins, que percebemos que a vontade é a de continuar. “Quando olhámos para isto, percebemos a importância da liberdade. E a liberdade começa na escrita. E este Prémio foi feito exatamente para as pessoas terem oportunidade de poder vir a público com as suas obras e poderem expressar-se novos talentos”, reforçou, partilhando ainda: “Confesso que, em 10 anos, foi surpreendente o número de histórias que encontrámos. Nenhuma sociedade pode ser forte se não tiver uma cultura estabelecida e um pensamento livre. Quando dissemos que este Prémio era para continuar, era mesmo para continuar. E vai continuar. Acreditamos que este Prémio possa significar, para os autores, um fator de motivação e de merecido reconhecimento”.
Os 10 anos são um marco digno de celebração e uma base sólida para construir o futuro. As novidades ficaram a cargo do Presidente do Conselho de Administração do Grupo Jerónimo Martins a quem coube o encerramento do evento. Ficámos a saber que 2024 trará importantes novidades. Após uma década a lançar novos talentos, a partir de agora ao Prémio de Literatura Infantil do Pingo Doce vão passar a concorrer apenas autores e ilustradores já com obra publicada. Além disso, vai-se instalar minibibliotecas infantis nas áreas dedicadas aos colaboradores das lojas Pingo Doce, que poderão levar emprestados livros para os seus filhos, e serão oferecidas bibliotecas semelhantes a todas as alas de internamento pediátrico dos hospitais públicos do país.
A tarde terminou com a certeza de que nada ficará por aqui e que, afinal, 10 anos são apenas o começo de tudo. De livro na mão, os sonhos foram levados para casa e o resto da história continuará a ser contada depois. Seja de dinossauros, reis ou cavaleiros, ou até de livros que não sabem o que querem ser. Afinal, as possibilidades são infinitas e os livros servem precisamente para o mostrar. Porque não?