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Segundo dia de debate e votação do Orçamento do Estado (OE) para 2022, na Assembleia da República. O Primeiro Ministro António Costa, o Ministro das Infrastruturas e da Habitação Pedro Nuno Santos, e Fernando Medina Ministro das Finanças Lisboa, 29 de Abril de 2022 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
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Até dezembro, Costa teve no Governo parte dos nomes de que se fala para lhe sucederem no PS.

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Até dezembro, Costa teve no Governo parte dos nomes de que se fala para lhe sucederem no PS.

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

PS de Costa sonha com sucessão pacífica. Mas atento a Pedro Nuno

História socialista é pesada em desavenças e conspirações para liderar e a esperança é que isso possa não acontecer para o pós-costismo (seja ele quando for). Por agora direção tenta blindar conversa.

Fez este mês dez anos que António Costa enfiou (provisoriamente) no saco um desafio à liderança de António José Seguro, deixando frustrados os jovens turcos apressados com uma mudança no PS por mais abrupta e fratricida que pudesse ser — entre eles estava Pedro Nuno Santos, o socialista de quem tanto se fala para o pós-costismo. A luta acabou por chegar pouco mais de um ano depois e — como se previa — foi feroz. Já quanto à sucessão que se segue, no topo do partido deseja-se que se inspire noutros tempos, o do acordo de “barões” de 2002, sem guerras. Sobretudo quando um dos proto-candidatos está à solta e na televisão já a partir de setembro.

Será um programa a centrar as atenções socialistas. “Vamos estar sempre com o coração nas mãos, porque o Pedro Nuno tem outro peso e o que ele dirá escreve-se”, atira um deputado do PS. Mas António Costa não ficou surpreendido com a decisão do seu ex-ministro assumir um posto de comentador semanal na SIC Notícias já depois deste verão, segundo sabe o Observador. “Não é um regresso para ser hostil”, garante-se no círculo de Pedro Nuno que não tenciona ser “um Pedro Siza Vieira ou uma Alexandra Leitão”. “Não ganha nada com isso”, avança outro socialista na mesma linha. Estes dois ex-governantes não saíram do Governo em paz com António Costa e nos espaços de comentário que assumiram depois disso não poupam críticas à ação do Executivo.

Pedronunistas admitem que vão andar "de coração de mãos" a ouvir os comentários do ex-ministro na televisão. E avisam que o tempo não é de provocar choques frontais com António Costa: “Nunca ninguém ganha eleições com críticas ao primeiro-ministro do seu partido”

Mas é sempre o regresso de um socialista de peso e ambição, com cada entrelinha a ser lida. Pedro Nuno Santos terá de fazer essa delicada gestão entre “o respeito” que quer ter “pelo Governo, sobretudo pelo António Costa” e a expressão “livre” do seu “pensamento”. “É um compromisso de elevado risco”, diz um deputado. Mas no partido espera-se que Pedro Nuno consiga esse equilíbrio. “Nunca o PS vai ganhar uma eleição nos próximos anos sem que o candidato tenha o apoio do António Costa”, comenta um dirigente do partido.

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“Nunca ninguém ganha eleições com críticas ao primeiro-ministro do seu partido”, continua a mesma fonte argumentando sobre as desvantagens de um futuro líder travar guerra com o atual, ainda mais quando esse é o primeiro-ministro em funções.

“Ele sabe que a força que tem é o carinho que os militantes têm por ele”, considera um socialista que acredita que Pedro Nuno Santos pode até tornar-se — e em contraponto com outros ex-ministros-comentadores — “o campeão da defesa do PS”.

Pedro Nuno volta ao ativo no Parlamento em julho e na SIC em setembro

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Mas também há socialistas que alimentam a expectativa de ver Pedro Nuno a assumir discordâncias. Ainda há duas semanas, em entrevista ao programa Vichyssoise, na rádio Observador, o dirigente concelhio (em Lisboa) Pedro Costa revelou esperar que Pedro Nuno “contribua para o debate”.

“O PS é um partido democrático na sua participação. O secretário-geral já teve oportunidade de explicar e de falar do seu passado e de como a unidade muitas vezes se forjou da discordância. Há espaço para a discordância no PS“, disse o socialista amigo de Pedro Nuno (e filho do líder António Costa).

Caso TAP fragiliza ambição de Pedro Nuno (e não só)?

Há, no entanto, um problema que se coloca a esse (como a outro) proto-candidato: o peso do caso que levou à sua saída do Governo, ou seja, a indemnização volumosa a uma ex-gestora da TAP que se nomeou para a NAV e, mais tarde, Fernando Medina levou para o Governo.

A comissão de inquérito já arrancou no Parlamento e no topo do partido há quem acredite que essa mancha naquele que é o arauto da consciência da esquerda do PS pode mudar o xadrez do pós-costismo, fragilizando as ambições de Pedro Nuno.

Tal como também há no partido nervosismo q.b. com a polémica nomeação feita por Fernando Medina (outro nome de que se fala para a sucessão) na Câmara de Lisboa, escolhendo Joaquim Morão para gerir as obras públicas da autarquia. Morão está a ser investigado num suposto esquema de viciação das regras de contratação pública nessas funções e o nome do ministro das Finanças já foi referido — e Medina teve de vir a público defender-se.

Fernando Medina é outro dos nomes sempre apontados para a sucessão, mas tem menos peso no partido

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Nesta frente, entre apoiantes de Pedro Nuno, aponta-se, no entanto, uma vantagem ao ex-ministro nesta fase. “A televisão é uma máquina de lavar” e Pedro Nuno Santos vai ter a oportunidade, a partir de setembro, de “fazer a reabilitação da sua imagem”, argumenta um socialista.” Vai-lhe permitir outra gestão da notoriedade e dos temas de que quer falar”, acrescenta outro socialista.

Por agora, a única intenção da direção socialista tem sido manter afastada a questão da sucessão. Quando Costa empurra para 2026 decisões sobre o seu futuro político, não só o faz para fintar as suspeitas sobre as suas intenções de saltar para um cargo europeu depois das Europeias de 2024, como aplaca a discussão sobre quem a ele se seguirá no partido.

“Não é do interesse de ninguém. É cedo. Para quê discutir agora a sucessão?”, questiona um dirigente remetendo para o histórico do partido em que a liderança foi sempre disputada nos períodos de oposição. “O PS nunca esteve no poder a fazer a transição”, aponta.

O sonho do acordo de barões

A história das sucessões socialistas não tem um padrão: já saíram líderes derrotados em legislativas, já ficaram depois de perderem, já foram desafiados em pleno mandato, já existiram pactos tácitos de não agressão.

O próprio José Sócrates assumiu, em 2006 numa entrevista à Sábado, que entre ele e Costa “ficou claro que no dia em que a questão da liderança se pusesse” para aquela geração, “o tema nunca poderia transformar-se em palco de confronto”. E assim foi, em 2004, quando Ferro Rodrigues se demitiu (em desacordo com Jorge Sampaio que não convocou eleições depois de Durão Barroso ter saído para a Comissão Europeia), Costa apoiou Sócrates. Alinharam-se mais dois candidatos nessa corrida pela liderança socialista, Manuel Alegre e João Soares, mas era Sócrates quem reunia mais condições (entre apoios da máquina do partido e capital político).

Mas há outro momento de sucessão que é visto na direção como modelo desejável: o que se passou depois do pântano de António Guterres, o tal “escolha de barões”, como descreve um socialista. Nessa altura, para a sucessão alinhavam-se várias figuras. António Vitorino era sempre candidato a candidato — dando até voz ao desabafo político antológico do “não há festa nem festança sem a Dona Constança” –, mas estava (mais uma vez) indisponível.

A memória divide-se, no PS, sobre quem seria o primeiro dessa lista, se Vitorino, se Jaime Gama, o que é certo é que o açoriano avançou (convencido por Ferro e Costa), para recuar logo de seguida invocando questões familiares. Sobrou para Ferro Rodrigues, que foi empurrado por Guterres, Almeida Santos e Jorge Coelho. Se tivesse recusado, o nome seguinte da lista era António Costa.

O sonho alimentado nesta altura é que na geração que se segue possa acontecer um acordo entre proto-candidatos, para que estes se entendam sobre aquele que reúna as melhores condições para liderar o partido. Mas Pedro Nuno não é adepto de combinações de sucessão

O sonho alimentado nesta altura é que também na geração que se segue possa acontecer um acordo do género, em que os proto-candidatos se entendam sobre aquele que, na altura em que a questão se colocar, reúna as melhores condições para liderar o partido. Sem necessidade de disputas dilacerantes — e que até possam arrancar enquanto o PS ainda governa.

Pedro Nuno Santos não é, no entanto, um adepto de combinações de sucessão de qualquer espécie, como o Observador já explicou. E neste momento mantém a convicção de que tem caminho para fazer, mesmo com um caso bicudo às costas.

Pedro Nuno Santos dá passo atrás, mas prepara novo ciclo e quer ir a votos

Peso da história de conflitos internos

Depois há a história a pesar sobre os ombros do PS e a mostrar que no capítulo das sucessões houve intensos confrontos pela liderança — por mais que o partido tente centrar-se sobretudo no lado solar dessa memória. As tensões sobre líderes e entre possíveis sucessores não se resumem à luta interna de 2014, que opôs António Costa a António José Seguro.

Em 1991, depois da segunda maioria de Cavaco Silva, António Guterres gelou o PS liderado por Sampaio ao declarar-se “chocado” com o resultado eleitoral socialista. O desafio à liderança estava lançado, com Jorge Sampaio a resistir e a ir a congresso, que perdeu para Guterres em 1992. E a luta aí era dupla: existia a questão ideológica, da esquerda sampaísta contra um guterrismo mais centrado, e ao mesmo tempo a rutura geracional. A guerra foi intensa, embora tenha acabado com Guterres a incluir no seu Governo socialistas que tinham estado do lado de lá da barricada.

Os dois (entre outros), como tinham estado juntos, no início da década de 80, nas conspirações contra o então líder Mário Soares no famoso sótão da casa de Guterres em Algés. E na génese dessa frente ativa de oposição interna tinha estado, por sua vez, a rutura fraterna mais dura: entre Soares e Zenha, nas eleições Presidenciais de 1980, divididos pelo apoio do PS a Ramalho Eanes.

Foi já muito depois disso, em 1987, após a primeira maioria de Cavaco, que o PS viveu mais um momento de tensão interna, com o líder Vítor Constâncio a vir até queixar-se publicamente de ter no Palácio de Belém um opositor ativo, o fundador do partido Mário Soares. A sua liderança estava ferida de morte e, na hora da saída, Constâncio queixou-se na “intriga subterrânea e sem rosto”. Uma marca de água na política partidária a que o PS não tem conseguido escapar, por mais que a negue.

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