Politicamente, está mais à direita ou à esquerda? É mais libertário-cosmopolita ou conservador-nacionalista? Qual o seu nível de concordância com os diferentes partidos em temas como a privatização da TAP, a regulação do mercado de arrendamento ou os apoios sociais? E sobre a eutanásia ou a adoção por casais homossexuais? Estes são alguns dos temas que o Votómetro, a nova ferramenta de apoio ao voto informado, permite explorar.
Com a coordenação científica de Jorge Fernandes, investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, e concebida pela equipa de programação do Observador, a nova ferramenta interativa (web e mobile) permite aos leitores compreender qual o partido político que mais se aproxima dos seus valores a partir do seu posicionamento perante 21 afirmações.
A ferramenta baseia-se nas perspetivas políticas dos partidos com assento parlamentar na Assembleia da República, incidindo em sete eixos temáticos: proteção ambiental, segurança e criminalidade, política de emigração restritiva, política financeira restritiva, liberalismo económico, integração europeia e sociedade liberal.
Para ajudar a explicar o que é, ao certo, o Votómetro, como participar e qual a metodologia que orientou o desenvolvimento da plataforma e que tipo de resultados esperar, preparámos um conjunto de perguntas e respostas.
Como é evidente, esta ferramenta e os seus resultados não são, de forma nenhuma, uma recomendação de voto em qualquer partido. De resto, há uns temas em que poderá estar mais próximo de um partido e outros em que poderá estar mais próximo de outro partido. Além disso, pode haver temas não contemplados nesta ferramenta mas que são importantes para decidir o seu voto. O Votómetro é apenas uma iniciativa de apoio à reflexão para um voto informado.
O que é o Votómetro?
É uma ferramenta gratuita e intuitiva de apoio ao voto desenhada para ajudar os eleitores a encontrar o partido que melhor corresponde às suas perspetivas políticas, inspirada noutras plataformas cientificamente validadas como a europeia euandi e a alemã wahl-o-mat. O objetivo é fomentar a discussão e a literacia políticas, bem como ajudar o eleitor a encontrar a sua posição dentro do panorama político nacional.
Se já existem outras plataformas similares, o que traz esta de novo?
O Votómetro “centra-se especificamente nas eleições legislativas do momento”, explica o cientista político Jorge Fernandes, coordenador científico da ferramenta digital. Logo, incidindo nos principais assuntos da atualidade política e respetivo interesse público. Este tipo de plataformas são muito populares, sobretudo na Europa, precedendo as eleições para estimular a discussão política, especialmente entre os mais jovens, e para facilitar a decisão de voto. A maioria das plataformas já existentes centram-se nas eleições de cada país ou no acontecimento político do momento, como foi o caso da euandi, concebida a propósito das eleições ao Parlamento Europeu, em 2019. O Votómetro é a mais atual para o momento político português.
Para que serve o Votómetro?
“Permite aos eleitores posicionarem-se, conseguirem perceber o quão distantes, ou próximos, estão dos partidos políticos”, diz Jorge Fernandes. O investigador tem feito parte de equipas europeias e nacionais de criação de plataformas desta natureza.
Qual a vantagem em participar?
Um dos principais objetivos do Votómetro é aumentar a competência política dos eleitores. Por isso, quer ajudá-los a “adquirirem rapidamente um conjunto de informações” sobre o posicionamento dos partidos em comparação com a sua própria posição. “Sabemos que os eleitores não leem os programas todos dos partidos. Por isso, o que este tipo de plataformas faz é organizar a informação.” No Votómetro, tem uma explicação fundamentada para a classificação de cada partido, o que lhe permite saber mais sobre cada uma das posições.
A plataforma é independente?
Sim. O Votómetro é totalmente independente de quaisquer partidos políticos e candidatos.
Como participar?
Basta entrar no endereço online do Votómetro e escolher o botão “Iniciar”. O teste começa logo de seguida, apresentando a primeira de 21 frases para o utilizador posicionar o seu nível de concordância em relação a ela. Tem seis opções: “Concordo totalmente”, “Tendo a Concordar”, “Neutro”, “Tendo a Discordar”, Discordo Totalmente” e “Sem Opinião”.
Preciso de me registar para responder?
Não é preciso qualquer registo de utilizador. Pode começar a responder de imediato.
A participação na plataforma é anónima?
Sim, a participação é anónima. Ninguém terá acesso às suas respostas. Mesmo que seja um utilizador voluntariamente registado no site do Observador ou nosso assinante, os dados das respostas na ferramenta não ficam associados ao seu utilizador. “A plataforma foi feita de raiz”, diz Leo Xavier, diretor técnico do Observador. “Tudo acontece no próprio browser do utilizador, não acontece nos nossos servidores.”
Preciso de pagar para participar?
Não. A utilização da ferramenta é gratuita.
Que tipo de questões são colocadas?
São 21 afirmações sobre “temas clássicos” e “temas mais atuais”, explica Jorge Fernandes, divididos em sete eixos temáticos: proteção ambiental, segurança e criminalidade, política emigração restritiva, política financeira restritiva, liberalismo económico, integração europeia e sociedade liberal. “Falamos da tributação dos rendimentos de capital, por exemplo”, diz Jorge Fernandes. “Falamos ainda – isto é uma coisa mais deste momento – da regulação do mercado de arrendamento. Depois, falamos de apoio aos desempregados e temos, também, um conjunto de perguntas sobre a Europa, como o euro ou a integração europeia.”
Como funciona a participação na plataforma, no geral?
Funciona em duas fases e de forma intuitiva. Primeiro, responde-se ao nível de concordância das 21 frases apresentadas. Depois, atribui-se uma maior ou menor ponderação a cada uma dessas 21 declarações, para analisar o nível de importância de cada tema apresentado – e, depois, comparar com o de cada partido. Quem quiser, pode não fazer a ponderação e seguir diretamente para os resultados finais.
Como funciona a resposta às declarações?
São apresentadas, de forma sequencial, 21 frases relacionadas com temas políticos que definem os vários partidos. Nesta fase, os utilizadores são desafiados a responder ao nível de concordância com cada uma dessas afirmações escolhendo uma das já referidas seis opções: “Concordo Totalmente”, “Tendo a Concordar”, “Neutro”; “Tendo a Discordar”, “Discordo Totalmente” e “Sem Opinião”. Esta metodologia chama-se Escala de Likert – nome do sociólogo norte-americano que a desenvolveu – e é amplamente usada para medir, de forma fiável, comportamentos e opiniões, com um maior nível de nuance, indo além do sim ou não, pois especificam o nível de concordância.
Como funciona a resposta às ponderações?
Depois de responder às 21 afirmações, chega-se à secção “Adicionar ponderadores”, onde são listadas as 21 declarações numa mesma página. No final de cada uma dessas declarações, o utilizador poderá optar por ponderar qual a importância de cada uma delas para si: mais (+), menos (-) ou igual (=) ponderação. Em alternativa, poderá saltar essa secção. “Se saltar, estará a dizer: todas elas são igualmente importantes”, esclarece Leo Xavier.
No final, que tipo de resultados se obtém?
Os resultados são apresentados em três perspetivas detalhadas: “Correspondência” (política), “Radar” (espectro de preferências) e “Bússola” (bidimensional: esquerda/direita, libertário-cosmopolita/conservador-nacionalista).
O que posso ficar a saber na secção “Correspondência”?
A “Correspondência” exibe, por ordem percentual, a ligação do respondente a cada partido, com um gráfico de barras horizontal. Evidencia-se, assim, a proximidade política, de acordo com os pontos de vista, valores e prioridades e o nível de concordância com os programas partidários. Se o utilizador selecionar, na lista do gráfico, a barra de cor de cada partido, terá acesso a uma nova secção informativa, com as camadas das 21 respostas de forma detalhada, que relaciona o que ele respondeu com o posicionamento do partido em relação a essa afirmação. Para cada uma dessas afirmações, existe ainda mais informação sobre elas, conduzindo à fonte de onde se extraiu esse posicionamento/declaração do partido em análise.
O que posso ficar a saber na secção “Radar”?
“Radar” é um espectro de preferências políticas exibido de forma circular, que parte do centro de uma circunferência (parece uma teia de aranha simetricamente circular), e que abarca sete dimensões temáticas presentes nas 21 afirmações respondidas. São elas: proteção ambiental, segurança e criminalidade, política de emigração restritiva, política financeira restritiva, liberalismo económico, integração europeia e sociedade liberal. Este espectro estabelece uma comparação entre a posição do utilizador e a do partido, a partir de uma mancha cromática, ou até mesmo entre partidos, numa sobreposição que confronta os posicionamentos. O espectro com a cor cinzenta corresponde ao posicionamento da pessoa que responde, e o espectro do partido corresponderá à cor atribuída no gráfico de barras com as percentagens. Quanto mais distantes do centro do radar estiverem (quer o utilizador, quer o partido), maior será a proximidade com cada uma das dimensões.
O que posso ficar a saber na secção “Bússola”?
A “Bússola” é um gráfico que evidencia o posicionamento do utilizador numa base ideológica bidimensional. Por um lado, o eixo horizontal identifica a dimensão económica esquerda-direita. Por outro, o eixo vertical identifica a dimensão cultural, considerando posições libertárias-cosmopolitas e conservadoras-nacionalistas. “Esta é mais uma forma de o eleitor comparar a sua perspetiva política, identificando essa proximidade ou afastamento das ideologias subjacentes aos partidos, mapeando o seu espectro político”, elucida Jorge Fernandes. Mas há um ponto a ter em conta: esta análise às respostas é menos exacta do que a análise da “Correspondência” e do “Radar”, pelo que é possível que não fique junto do partido com o qual tem maior correspondência.
Qual foi a metodologia para chegar às declarações?
“A plataforma é absolutamente transparente”, certifica Jorge Fernandes, “na medida em que nós posicionamos o partido e mostramos evidência [nos resultados] de uma afirmação [fonte] que mostra por que é que o posicionamos dessa forma”. Essas declarações foram retiradas com base numa “hierarquia de fontes”, clarifica o cientista político, enunciando-as: “programas eleitorais”; “programas eleitorais de 2019”; “websites dos partidos” e “comunicados de imprensa”; “notícias com declarações das lideranças políticas dos partidos”; e “manifestos das eleições europeias de 2019”.
Posso mudar as minhas respostas e as ponderações?
Sim. Nesta fase de análise dos resultados, o utilizador tem a opção de “alterar respostas” e analisar como isso influenciaria os resultados.
Posso voltar a responder?
Sim. Basta voltar à homepage da plataforma.
Posso partilhar os resultados?
Sim. Se desejar partilhar os resultados, basta selecionar essa opção. Poderá fazê-lo quer através de uma hiperligação que é gerada, por e-mail, ou através das redes sociais Facebook, Twitter, LinkedIn e WhatsApp. A decisão de partilha é exclusivamente sua.
Quando se escolhe um posicionamento “neutro” para todas as 21 afirmações, o algoritmo incide o resultado no Chega. Como deve este resultado ser interpretado?
Como explica Jorge Fernandes, trata-se de uma questão técnica e que tem uma explicação que decorre puramente do cálculo matemático. Na secção “Correspondência”, faz-se um cálculo da distância entre a posição de um utilizador numa pergunta e a posição do partido nessa mesma pergunta. Isto é, calcula-se o quanto as posições do utilizador e do partido se sobrepõem. O Chega é o partido que mais vezes responde “Neutro” ou “Tende a…” às perguntas colocadas, pelo que alguém que responda sempre “Neutro” terá uma maior sobreposição com as posições do Chega.
Há um detalhe importante: responder “Neutro” a todas as perguntas não significa que a pessoa seja do “centro” político ou que seja um eleitor mais moderado.
É preciso ainda ter em atenção que a plataforma não está desenhada para as pessoas escolherem todas as respostas em “Neutro”, mas sim para se posicionarem genuinamente em relação a cada pergunta. Se um utilizador quer responder “Neutro” a todas as perguntas, não haverá qualquer sentido útil em fazer o inquérito. Tem tanto sentido responder “Neutro” a todas as perguntas como responder “Concordo totalmente” (o que dá como partido mais aproximado o PAN) ou responder a todas as perguntas “Discordo totalmente” (o que dá como partido mais aproximado a CDU).
Não há manipulação nenhuma nestes resultados. O Votómetro não dá simplesmente a correspondência percentual com cada partido, mas permite explorar outras formas de proximidade, nomeadamente num espaço político de 7 dimensões (radar) e num espaço político de 2 dimensões (bússola). Além disso, todas as fontes de informação para o posicionamento de cada partido são apresentadas de forma transparente, precisamente para poderem suscitar o debate — basta clicar na barra do partido na secção “Correspondência”.
Esta plataforma está desenhada de acordo com as melhores práticas internacionais e à semelhança das plataformas elaboradas no contexto do projecto “euandi”, mais concretamente de acordo com a metodologia descrita no documento que pode ser consultado aqui.
Se escolher “Concordo Totalmente” em todas as opções, o partido mais aproximado é o PAN; se escolher “Discordo Totalmente”, é a CDU. Como é que se explica isto?
Trata-se da mesma explicação matemática, diz Jorge Fernandes. A questão é que quem optar por responder a tudo com a mesma classificação acabará por concordar com coisas que em termos políticos são opostas. Essas pessoas não estão preocupadas em assumir um posicionamento, por isso perde-se o objetivo do instrumento.
É possível explorar os resultados com base na “Correspondência”, com 21 questões; no “Radar”, com 7 eixos temáticos; e na “Bússola”, com 2 dimensões. Esta triagem é simplista?
A “Bússola” é uma ideia geral e menos exata do ponto de vista do posicionamento, mas muito intuitiva, explica Jorge Fernandes. Se quiséssemos fazer uma análise absolutamente rigorosa, teria de ser feita uma medição muito mais complexa e que seria muito difícil de captar de forma simples. Mais uma vez: o Votómetro não é, nem pretende ser, uma recomendação de voto — é apenas uma iniciativa de apoio à reflexão.
Artigo atualizado a 17 de janeiro de 2022 às 16h53.
Este artigo faz parte de uma série sobre eleições, cultura democrática e participação dos jovens na política. A iniciativa é uma parceria entre o Observador e Ben & Jerry’s.