Diogo Lacerda Machado é, assumidamente, o “melhor amigo” de António Costa, de quem foi padrinho de casamento. A relação entre os dois remonta aos tempos da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e prolongou-se nas décadas seguintes – foi com Diogo e a mulher, Teresa Alvarenga, que António Costa e Fernanda Tadeu celebraram o casamento, num copo-de-água numa hamburgueria na baixa de Lisboa. O socialista nunca prescindiu dele, apesar da resistência deste em entrar na política. Esta terça-feira, foi detido.
Lacerda Machado faz parte do grupo dos “meninos de Macau”. Em 1988, Magalhães e Silva, advogado no escritório dos socialistas José Vera Jardim e Jorge Sampaio, onde Costa estagiara, seria nomeado secretário-adjunto para a Administração e Justiça de Macau. Precisava de assessores e pediu conselhos a António Costa, que indicou três nomes: Lacerda Machado, Eduardo Cabrita e Pedro Siza Vieira – estes dois últimos seriam mais ministros em governos de Costa.
Regressado de Macau, Lacerda Machado ainda faria uma curta incursão na política. Foi secretário de Estado de António Costa no Ministério da Justiça, no segundo governo de Guterres (1999-2002). Foram dois anos em que continuou a ser discreto, mas terá sido ele a lançar as primeiras sementes do Cartão de Cidadão e da informatização dos registos.
Apesar desta experiência política, preferiu sempre um caminho alternativo, nas empresas. Antigo colaborador de Stanley Ho, foi novamente chamado para a Geocapital. Mais tarde, chegou a membro do Conselho Geral e de Supervisão da EDP (em julho de 2006) e à administração de várias sociedades participadas pelo empresário macaense, como o Moza Banco (em Moçambique) e o Banco da África Ocidental (na Guiné-Bissau).
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Nunca quis ser ministro
Quando tomou posse como primeiro-ministro, Costa tentou convencer Lacerda Machado a entrar no Governo, mas o empresário e advogado resistiu sempre. Ainda assim, Costa não prescindiu dele: logo no início do mandato como primeiro-ministro, Lacerda Machado foi peça-chave nas negociações com os lesados do BES, no diferendo entre Isabel dos Santos e o Caixabank e na renacionalização da TAP.
Foi este último dossiê, aliás, que causou a primeira controvérsia, com a oposição a criticar a informalidade com que Lacerda Machado estava a gerir todo o processo. António Costa recuou e decidiu fazer um contrato de “consultadoria estratégica e jurídica, na modalidade de avença, em assuntos de elevada complexidade e especialização” para as negociações com a TAP, tendo conseguido fechar a renacionalização da TAP nos tais 51%.
Em 2017, chegou a ser apontado como a primeira escolha de António Costa para chairman da TAP, mas o primeiro-ministro terá recuado. Lacerda Machado acabou por ser nomeado administrador não executivo da companhia aérea — e foi tendo uma relação muita tensa com Pedro Nuno Santos, que tinha a tutela política da companhia aérea. Lacerda Machado demitiu-se da TAP mesmo antes do seu mandato acabar e antes de ser conhecida a atual administração. Mas seria um dos protagonistas da comissão parlamentar de inquérito à companhia aérea.
Nessa altura, aliás, teve oportunidade para falar sobre sua relação com o primeiro-ministro. Garantiu que nunca foi alvo de pressões de Costa e que a relação entre os dois era de “respeito e consideração” e “não de subordinação”. “Acho que vai ser assim até sempre, especialmente quando deixar de ser primeiro-ministro e pudermos beneficiar da companhia que prezamos muito”, diria, antes de acrescentar sobre o amigo: “O António é um extraordinário advogado. Sempre lhe disse que se fosse advogado ficaria rico, mas ele escolheu ficar pobre….”.
Ainda como administrador não-executivo da TAP, foi consultor da Pioneer Point Partners — uma das empresas do consórcio que vai investir 3,5 mil milhões de euros num megacentro de processamento de dados em Sines. Foi nessa qualidade que terá mantido várias conversas com membros do Governo como os secretários de Estado Eurico Brilhante Dias, João Galamba, Hugo Santos Mendes, o autarca de Sines, Nuno Mascarenhas, o presidente da CDDR do Alentejo, António Ceia da Silva, e com representantes da AICEP. Tudo com o objetivo de, alegadamente, impulsionar o projeto. Esta terça-feira foi detido.