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Foi na Nunciatura que António Costa e Augusto Santos Silva se encontraram com o Papa.
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Foi na Nunciatura que António Costa e Augusto Santos Silva se encontraram com o Papa.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Foi na Nunciatura que António Costa e Augusto Santos Silva se encontraram com o Papa.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

"Queremos ver o Papa". Francisco não foi à janela mas há já quem espere nova oportunidade

António Costa e Santos Silva encontraram-se com o Papa na Nunciatura esta quarta-feira. Dezenas de pessoas juntaram-se nas laterais do edifício. Mas não era o primeiro-ministro que queriam ver.

A loja de costura está de portas abertas. Como tem estado toda a semana. Tem vista privilegiada para a Nunciatura Apostólica. Dimpal Carsane espera conseguir ver novamente o Papa. De manhã já tinha espreitado quando Francisco, num improviso, se acercou da população. E à tarde, enquanto António Costa e Augusto Santos Silva não chegam, o aglomerado começa a adensar-se. “Queremos ver o Papa!”, gritam na sua juventude um grupo de mexicanos, ao qual se juntará um outro do mesmo continente, que voou desde a Guatemala.

Dimpal Carsane voltará a ver o Papa, mas desta vez tem de se contentar com uma imagem de longe. Depois da reunião de cerca de meia hora com António Costa, Francisco sai pela número 18 da Rua Luís Bívar, beija uma criança, acena, mas já não se chega ao pé da pequena multidão que ali se encontra. Tem novo compromisso — próxima paragem? Os Jerónimos.

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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

À frente da Nunciatura há juventude — “esta é a juventude do Papa”, gritam. Mas também há menos jovens. Ana está ainda a convalescer de uma operação recente — “a mesma que o Papa fez” (Francisco foi operado em junho a uma hérnia intestinal) —  e tem marcas. Mas aguenta a espera. Pela televisão assistiu na terça-feira, 1 de agosto, à missa de abertura da Jornada Mundial da Juventude. Ouviu as palavras do cardeal-patricarca Manuel Clemente: “De longe ou mais perto, pusestes-vos a caminho. É muito importante pôr-se a caminho. Assim devemos encarar a própria vida, como caminho a percorrer, fazendo de cada dia uma nova etapa”.

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E Ana, que, ao contrário do primeiro-ministro, foi “bafejada pela fé”, pôs-se a caminho. Chegou à Nunciatura desde Massamá. “Foi fácil”, conta ao Observador, para dizer que moveria mundos e fundos para ir até ali na tarde do dia em que o Papa chegou a Portugal. Ligeiramente afastada das grades, Ana quer ver o Papa. “Espero que venha à janela”. Isabel, moradora em Telheiras, junta-se à conversa. Também é a fé que a move. Confessa não ser praticante. Mas é crente. E, neste momento, precisa da ajuda espiritual. O irmão está doente, internado no Hospital Santa Maria, onde “há médicos com um autocolante a dizer que estão em greve mas a atender os pacientes”, incansáveis, destaca. Confessa que é um momento na sua vida que precisa desta experiência. Da bênção, mesmo que ao longe, do chefe da Igreja Católica.

António Costa nesta conversa é secundário. Ana não o quer nem ver. Isabel gosta do primeiro-ministro. Um prós e contra que se dissipa rapidamente quando falam do Papa Francisco. “É especial”, atira Isabel, com Ana a concordar.

A loja de costura está de portas abertas. Chega uma cliente. Por ali consegue-se passar. O mesmo não acontece na rua Latino Coelho, onde a Tozzi está impossibilitada de receber clientes. A rua está fechada. E, por isso, Heitor Américo, brasileiro de Porto Alegre, que trouxe a Tozzi para o centro de Lisboa em agosto de 2020 contorna a situação. Com um cartaz gigante passeia-se entre a pequena multidão que espera pelo Papa mostrando a ementa. Tem esperança de conseguir clientes, mesmo os jovens que se diz procurarem locais baratos. “Vendemos à fatia”, por isso, “é acessível”, contesta Heitor Américo, enquanto mostra a ementa que pode ser experimentada no estabelecimento mesmo em frente à Nunciatura.

Indiferentes a Heitor Américo os jovens chegam em grupos. As bandeiras denunciam-nos. Encostam-se às grades. “O Papa vem cá fora?”, perguntam quando percebem que estão ali jornalistas. Por aquela altura ninguém sabe ao certo. Os imprevistos podem acontecer. A polícia deixa um pequeno grupo aproximar-se mais do número 18.

Costa e Santos Silva entram e saem. Sem declarações. Mas para quem assistia é indiferente. “Queremos ver o Papa”, continuam a gritar, em jeito de explicação, os jovens.

Não eram mesmo as figuras principais nesta zona de Lisboa. Ana e Isabel mantêm-se na firme intenção de ver o Papa Francisco. Recordam-se de visitas anteriores a Lisboa de outros pontífices. João Paulo II e Bento XVI. Também Dimpal se recorda da passagem de Bento XVI pela Nunciatura.

Margarida Pires está acompanhada pela mãe e pela filha. Acolhe em casa alguns peregrinos e é voluntária paroquial no Passos Manuel, onde estão 700 franceses. No primeiro dia da Jornada Mundial da Juventude, Margarida foi ministra extraordinária da comunhão na missa celebrada no Parque Eduardo VII. Agora, ao segundo dia foi até à Nunciatura onde espera ver o Papa e é uma das que consegue passar para um local mais próximo. Pendura-se nas grades. E consegue o que queria, quando o Papa deixa a Nunciatura em direção aos Jerónimos. Não esconde a alegria, que é partilhada por Sandra Sousa, que mora por perto. “Vou de coração e alma cheia”, assume quem se diz católica não praticante. Mas aplaude a iniciativa de se ter trazido para Portugal a Jornada Mundial da Juventude. “É grandiosa, não é para todos. Uma oportunidade que não podíamos deixar de aproveitar. Na Expo 98 também era tudo um abuso de dinheiro e de gastos e agora é o que é”, admitindo haver sempre o reverso da medalha.

Esse reverso é referido por Isabel, que preferiria que o dinheiro público tivesse sido utilizado na ajuda às pessoas carenciadas. Mas Ana deixa-lhe a dúvida: “Sabe lá onde é que seria gasto, ao menos assim…”

As prendas trocadas pelo Papa Francisco com Marcelo, Costa e Santos Silva

Na pizzaria Tozzi, por estes dias, o movimento parou. Mas em Lisboa estão milhares de jovens. Do México e da Guatemala são os mais barulhentos ao pé da Nunciatura. O grupo de guatemaltecos atropela-se nas respostas. Viram o Papa. “Tão perto… é extraordinário”. É uma parte de um total de 42 elementos da Guatemala que dizem estar alojados em Oeiras. Já na terça-feira estiveram no Parque Eduardo VII e assim que o Papa saiu da Nunciatura preparam-se para ir para outras paragens. “Agora vamos a um concerto”. O dia ficou feito. Mas a tarde continua. Já não ficam ali à espera que o Papa regresse. A Jornada Mundial da Juventude continua.

Algumas pessoas (poucas) insistem na espera, na expectativa de o Papa, no regresso, ir à janela. “O Papa não gosta de janelas grandes”. Um aceno. Uma bênção. É só o que estas pessoas querem. É tudo o que a maior parte destas pessoas quer.

Dimpal Carsane está quase a fechar a loja. Amanhã é um novo dia. O Papa Francisco pernoita na Nunciatura, mas manhã cedo irá para Cascais. Por regra abre as portas às 9 horas, mas esta quinta-feira “devo vir mais cedo”.

O Papa Francisco vai pernoitar na Nunciatura Apostólica

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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