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"Recebemos 120 rolos para revelar por dia": o regresso das câmaras analógicas e como se inserem no mundo digital

Pequenas, portáteis e de rolo. As câmaras analógicas estão de volta e o público jovem é o responsável. Inseridas no digital, são uma tendência e enchem os laboratórios de fotografia com rolos.

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Rodar, enquadrar e disparar para depois revelar o rolo e esperar. Nada de instantâneo podia descrever a sensação de utilizar uma câmara analógica no tempo em que viveram sem que se pensasse que viriam a tornar-se obsoletas. Cerca de 20 anos depois do seu desuso, a moda voltou, como uma tendência em constante crescimento que a cada rolo revelado conquista mais adeptos. Por Lisboa, há laboratórios de fotografia a sentirem esta mudança — com mais de 100 rolos por revelar diariamente — e adeptos da tendência que procuram fugir à instantaneidade e agarrarem-se ao autêntico.

São esses que as tiraram da gaveta e fizeram disparar as vendas. Se em 2012 a Kodak declarou falência, em 2024 vive enquanto um dos fabricantes líderes mundiais no mundo da fotografia analógica. O que aconteceu no entretanto? A era digital cresceu — tornou-se naquilo que hoje conhecemos — e com ela as redes sociais e a realidade de poder tirar mais do que uma fotografia e publicar no momento seguinte, sem esperar. A ideia enraizou-se e abafou a espontaneidade que uma câmara analógica transportava.

Tirar uma fotografia sem se saber de imediato o resultado final? Revelar o rolo meses depois de tantos momentos? Esperar uma semana para saber se, por fim, as fotografias estão boas? Descobrir fotografias que ficaram enterradas nas memórias de um rolo de 39 exposições? Parecem situações longe dos dias atuais, mas, na verdade, não são. Nos últimos cinco anos, com mais foco nos últimos dois, as gerações mais novas têm vindo a descobrir a fotografia analógica e a inclui-la naquilo que conhecem: as redes sociais. Por variadas contas de Instagram há quem partilhe todas as suas memórias captadas analogicamente, colocando de lado a rapidez de resposta que um smartphone oferece. Porquê ligar o analógico ao digital? “É um step further”, dizem.

Uma tendência em crescimento

Todos os anos pensa que não vai aumentar. Que a procura por rolos e câmaras analógicas fica por ali e que o imediatismo que o digital oferece se vai sobrepor. Sócio-gerente da Carmencita, o laboratório de fotografia do LX Factory, Tiago Vilhena explicou ao Observador como, a cada ano, a moda das fotografias analógicas o engana e continua a crescer. De portas abertas desde 2020 em Lisboa, consegue ter uma clara visão de como a fotografia analógica tem vindo a renascer nos últimos anos, com o pico a verificar-se em 2023 e 2024. “Desde há dois anos para cá tem sido a loucura absoluta”, confessa, explicando que, em consequência da pandemia e da Guerra na Ucrânia, a procura foi baixa durante os primeiros anos da abertura da loja mas que bastou a Kodak “começar a produzir como loucos” para descolar.

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Com sede em Madrid, a Carmencita abriu portas em Lisboa em 2020

Carmencita

Totalmente ligados a fotografia, a Carmencita presta o tipo de serviço que tanto um iniciante como um profissional no mundo da imagem analógica precisa: revelação, película, digitalização. Quanto aos rolos e câmaras descartáveis, por lá também há. “Cerca de 90% do nosso serviço é revelação e digitalização mas também fazemos impressões e temos rolos”, acrescenta. Qual tem mais procura, um rolo ou uma câmara descartável? “Diria que são os rolos”, no entanto, o número de descartáveis vendidas é quase tanto como o do primeiro.

São esses rolos que, face aos entraves mencionados anteriormente, aumentaram significativamente de preço nos últimos cinco anos. Com a Kodak enquanto principal produtora de rolos a nível mundial, a clara procura por este material levou a que, de 2019 para cá, o preço tenha aumentado para o dobro: “Foi uma barbaridade, antes os rolos normais estavam entre os 5 e os 6 euros. Agora, o preço médio, está na volta dos 13 e 14 euros. Raramente encontras rolos abaixo de 10 euros”. Perante o aumento, poderia ser expectável que a procura diminuísse, mas não aconteceu.

Por dia, a Carmencita recebe, em média, 120 rolos para serem revelados. Quando comparado com o ano em que abriram, Tiago Vilhena culpa a pandemia e explica que na época recebiam entre 10 e 15 rolos por dia. “Em 2022 foi quando começou tudo a normalizar e tínhamos cerca de 50 rolos diários. Agora estamos com 120. Começámos com duas pessoas e já somos uma equipa de oito”, revela.

A acompanhar a moda, pela primeira vez em 20 anos, a Pentax lançou uma câmara analógica. Chama-se Pentax 17 e é feita totalmente à antiga. De rolo e bobina, sem ecrã digital ou memória. Recebe rolos de 35 mm e está à venda por 549,99 euros.

A Pentax 17 foi lançada em junho deste ano

Quem tirou as câmaras analógicas da gaveta?

“Gosto de ter sempre uma câmara na mala”. Quem o diz é Sofia Lee, 24 anos, advogada estagiária, que na sua conta de Instagram partilha o resultado dos vários rolos que ao longo dos últimos anos tem revelado. Sempre com uma analógica consigo, vê nesta tendência uma forma de escape e de, ao mesmo tempo, guardar memórias que carregam uma carga mais nostálgica e espontânea. “É aquela coisa de estares numa festa e estás a olhar para os teus amigos e a pensar que aquele momento que estás a viver e do qual estás a gostar tanto está a passar. À medida que eu estou a pensar neste momento ele está a passar. E tu pegas na câmara, olhas para os teus amigos à volta de uma mesa, todos de cerveja na mão, a rirem-se, com música e tiras uma foto”, explicou, em conversa com o Observador, revelando que também os amigos são adeptos da fotografia analógica.

“Vamos a um festival e levamos todos as câmaras. Andamos ali a tirar fotos, e depois é giro ver as diferentes perspetivas. Depois vamos trocando de câmaras também”, descreve, sentindo que a sua geração “decidiu voltar ao antigo”, tanto pelas analógicas como pelo gosto por vinis e gira discos.

Fotografias analógicas captadas por Sofia Lee, advogada estagiária

Sofia Lee

Na mesma linha, Tiago Vilhena explica que a procura aumenta durante o verão e em especial na época de festivais de música, cujo público acaba por optar por câmaras descartáveis. Esse público, assim como Sofia, está entre os 18 e os 35 anos. “É o utilizador do Instagram”, comenta o gerente da Carmencita.

Colocando nas redes sociais alguma da responsabilidade pelo boom da tendência, Tiago Vilhena normaliza a influência que é exercida sobre a população mais jovem que começa a aderir à fotografia analógica. “O interessante é ver quem continua. Quem experimenta porque viu outra pessoa ou porque alguém tem uma câmara e depois vem aqui, semana sim, semana não, trazer mais rolos”, afirmou, acrescentando que significa que “não é só uma questão de hype e de moda”, a pessoa interessa-se a fundo.

É o caso de Sofia que, apesar de se interessar por fotografia desde criança, confessa que um dos fatores que a atraiu para as analógicas foi a pouca ou nenhuma edição que precisam. “Quando quero mesmo captar o momento tiro tanto com a analógica como com a digital mas valorizo mais o que tiro em 35 mm. É tirado com mais amor e carinho”, explica.

Um outro aspeto é o fator surpresa que uma câmara analógica transporta. Sem nunca saber se as fotografias vão ficar bem, os adeptos da tendência são surpreendidos quando, depois de esperarem que o rolo seja revelado, as fotos chegam até si. “Nunca sabes o que pode sair. Às vezes alguém pega na tua câmara, tira uma foto e quando finalmente a vês ficas ‘olha fulano tal tirou esta foto”. “A beleza disto é que tu não vês logo a foto”, acrescentou.

Quanto custa revelar, onde fazê-lo e quanto tempo demora

Se o preço dos rolos duplicou, era de esperar que também a revelação seguisse o mesmo caminho. Sofia Lee dá o exemplo da loja de fotografia e vídeo Colorfoto, com um espaço em Lisboa e outro no Porto, onde tem por hábito ir entregar os rolos das suas câmaras analógicas. Recorda que, em 2019, para revelar em qualidade normal, o valor rondava os sete e os oito euros, comentando que “hoje em dia é dez”. Na loja em Alvalade, atrás do balcão, José Oliveira revela ao Observador que também ali, tal como na Carmencita, a média de rolos recebidos por dia é de 100 a 120, e que a revelação e digitalização tem o valor de 10 euros. Com impressão, acresce cinco euros e em alta resolução fica nos 19,50. Face à procura, o tempo de entrega das fotografia aumenta, com a média no final de setembro a rondar uma semana de espera para os clientes.

Já na Carmencita, a média está nos oito dias úteis, cerca de duas semanas. “Somos os piores porque demoramos imenso tempo”, comentou Tiago Vilhena. No entanto, o motivo está na forma como tratam as fotografias: “Como trabalhamos com muitos profissionais, temos uma abordagem um pouco diferente dos restantes laboratórios. Tratamos quase individualmente cada uma das fotografias”. Quanto aos valores, fixam-se nos seis euros (apenas revelação do negativo), 14 euros (revelação e digitalização na resolução base) e nove euros (impressão). “Diria que tudo junto fica à volta dos 20 euros”, conclui.

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E os negativos? Ficam esquecidos?

Tentam educar ao máximo os clientes para que voltem à loja e recuperem os negativos. Há quem o faça, há quem os deixe por lá. De todas as vezes, Tiago Vilhena confessa que faz o melhor para convencer o cliente ao explicar-lhe a importância que os negativos têm. “Até pode ser uma coisa que nunca mais vai dar uso, mas nunca se sabe. Podes perder as imagens, podes querer fazer uma coisa diferente, podes querer ampliar as imagens“, explicou.

“Diria que, em especial, aquele target mais jovem são os que menos querem saber dos negativos. Querem mesmo é publicar as imagens no Instagram”, comentou. É nesse target que Sofia Lee se insere, no entanto, a advogada estagiária de 24 anos parece sair daquilo que seria expectável e faz questão de guardar os negativos.

“Tenho uma caixinha cheia, cheia, cheia de rolos negativos”, comentou, acreditando ser importante manter essa cópia física. “Um dia quando tiver a minha própria casa posso fazer uma moldura gigante com retalhos dos negativos. Nunca se sabe”, confessou.

Desde criança que Sofia Lee tem interesse em fotografia. Atualmente, revela um rolo a cada três meses

Sofia Lee

Apps de edição analógica

Ao mesmo tempo que as câmaras analógicas faziam o seu caminho de regresso enquanto tendência, o mundo do digital dava um passo em frente e lançava aplicações móveis que, esteticamente, têm o mesmo efeito que o analógico. Tanto com a funcionalidade de câmara como de edição, a Dazz Cam é um desses exemplos. Com várias câmaras disponíveis, tanto de fotografia como de vídeo, permite uma maior oferta do que uma habitual câmara analógica e mantém a instantaneidade do digital, ficando a fotografia pronta no momento.

“Com apenas um toque, pode capturar as fotos ou vídeos vintage mais autênticos, permitindo que aproveite o momento sem distrações”, pode ler-se na descrição da aplicação na App Store.

Para quem é adepto das câmaras analógicas, faz sentido ter uma destas apps? “Só em casos extremos”, responde Sofia. Falando em termos estéticos e na forma como gosta que o feed da sua conta de Instagram se apresente, a jovem de 24 anos explica que apenas edita as suas fotografias de forma mais analógica quando gostou “muito da fotografia digital” e queria publicá-la junto das reveladas no rolo. “Eu gosto de planear as coisas para que fiquem esteticamente bonitas no Instagram. Ligarmos a fotografia analógica à realidade que vivemos, que são as redes sociais, é aquele step further, não é?”, acrescentou.

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