Índice
Índice
Há quem já planeie a reabertura — a maioria a partir de junho ou junho — e há quem espere e não se comprometa para já. Mas para todos haverá mudanças. Os “check-in” e “check-out” serão cada vez mais feitos por via eletrónica, nomeadamente por telemóvel. A lotação máxima, pelo menos na ocupação de espaços comuns, deverá baixar, embora, até ver, tal não tenha sido previsto pelo Governo (ao contrário do que aconteceu em Espanha, onde há um gradualismo já anunciado no aumento da lotação permitida em espaços comuns de hotéis). Os ginásios e piscinas passarão a funcionar, provavelmente, de outro modo, com marcações prévias e períodos de encerramento para limpeza ao longo do dia. E há hotéis que planeiam até ter menus descartáveis “e em iPads higienizados” para os clientes pedirem refeições — os buffets, pelo menos por uns tempos, deverão estar fora de hipótese.
Estas são algumas das práticas que se estão a preparar em Portugal para os meses de verão, quando o setor da hotelaria regressar à atividade, segundo apurou o Observador junto de alguns hotéis e unidades de alojamento nacionais que estão a preparar o pós-reabertura.
É certo que, ao contrário de outros setores, como a restauração, a hotelaria não foi forçada a parar por motivos legais e os hotéis não foram obrigados a fechar, nem mesmo durante o estado de emergência. Porém, segundo a Associação Hotelaria de Portugal (AHP), quase todos estavam ainda encerrados no final de abril, com 85% das empresas ainda em lay-off, e só mesmo a partir de julho a oferta deverá voltar a ser significativa. O motivo é simples: até aqui, a procura era tão diminuta que não justificava que a maioria dos hotéis se mantivessem abertos e as próprias unidades hoteleiras precisam de tempo para se adaptar a novas exigências.
Há muitas práticas de funcionamento que vão variar de hotel para hotel depois da reabertura, até por dependerem de vários fatores — da dimensão do espaço ao perfil e tipologia dos hotéis, por exemplo. Mas também há práticas generalizadas que todos terão de aplicar se quiserem obter o selo de confiança “Clean & Safe”, preparado pelo Turismo de Portugal em colaboração com as autoridades de saúde e que atribui selo de qualidade às práticas de higiene, limpeza e segurança sanitária das unidades hoteleiras.
Este selo do Turismo de Portugal não é obrigatório para que hotéis estejam abertos e a receber hóspedes. Para estarem em funcionamento, estão obrigados a cumprir os “procedimentos de prevenção, controlo e vigilância” que a Direção Geral de Saúde elencou em documento publicado em março. Não se sabe ainda se a DGS pretende atualizar estas exigências, que, porém, serviram de base para o novo selo do Turismo de Portugal, como se pode comprovar comparando os documentos (aqui da DGS e aqui do Turismo de Portugal).
A maioria dos hotéis ouvidos pelo Observador revelou que pretende cumprir as exigência do Turismo de Portugal, de modo a obter um selo de garantia de confiança que será importante para atrair clientes, numa altura em que os receios não só são muitos como são o principal entrave à dinamização do setor no verão. Esta segunda-feira, o jornal Eco revelou que o Turismo de Portugal já concedeu mais de três mil selos (3.232) de garantia “Clean & Safe” e que “20% das empresas turísticas já estão certificadas”.
Hotéis com selo do Turismo de Portugal começam a abrir portas
O selo é entregue automaticamente aos hotéis que se comprometam a cumprir uma série de práticas — através de uma “Declaração de Compromisso” —, mas o Turismo de Portugal garante que irá “realizar auditorias aleatórias aos estabelecimentos aderentes”, em “coordenação com as entidades competentes”, para vigiar o cumprimento das normas.
Das limpezas às máscaras e luvas: as obrigações dos hotéis “Clean & Safe”
Para receberem o selo do Turismo de Portugal, os hotéis são obrigados ao cumprimento de várias regras.
- Unidades hoteleiras têm de criar “protocolo interno relativo ao surto de coronavírus Covid-19”, que tem de ser transmitido aos trabalhadores e hóspedes. E têm de informar clientes sobre “como cumprir as precauções básicas de prevenção e controlo da infeção relativamente ao surto”;
- Os hotéis são obrigados a ter kits com equipamentos de proteção individual. Kits para clientes têm de incluir pelo menos uma máscara e um par de luvas descartáveis e kits para funcionários devem ter também “outros artigos de proteção, conforme a função do colaborador, como por exemplo viseiras ou avental”. Devem existir em “número suficiente para todos os trabalhadores” e disponíveis para clientes em função da “capacidade máxima do estabelecimento” (calculada a partir do número total de camas à exploração). Não é obrigatório que o fornecimento a clientes (hóspedes) seja gratuito;
- É obrigatório existirem, nos pontos de entrada/saída dos hotéis, “dispensadores de solução antissética de base alcóolica ou solução à base de álcool”. Estes, “sempre que aplicável”, devem também existir “por piso” e “à entrada do restaurante, bar e instalações sanitárias comuns”;
- No interior dos hotéis é obrigatória “limpeza, várias vezes ao dia, das superfícies e objetos de utilização comum (incluindo balcões, interruptores de luz e de elevadores, maçanetas, puxadores de armários)”. E nas ações de limpeza deve ser dada “preferência à limpeza húmida, em detrimento da limpeza a seco e do uso de aspirador de pó”;
- Nas salas e espaços fechados dos hotéis, a “renovação de ar” — ventilação — tem de ser “feita regularmente”;
- Em espaços de “piscina ou outros equipamentos existentes em SPAs/áreas wellness”, quando existirem, deve ser feita “desinfeção (…) como definido em protocolo interno”;
- Se o hotel tiver jacuzzi, este deve ser desinfetado “regularmente”. Primeiro deve ser despejada “toda a água”, a que se seguirá “lavagem e desinfeção”. Posteriormente, deve encher-se o jacuzzi com água limpa e “desinfetada”, com “cloro na quantidade adequada, de acordo com o protocolo interno”;
- Nas zonas de restauração e bebidas impõe-se “o reforço da higienização dos utensílios, equipamentos e superfícies” e deve ser “evitada ao máximo a manipulação direta dos alimentos por clientes e colaboradores”;
- Nas casas de banho é necessária a existência de “equipamento para lavagem de mãos com sabão líquido e toalhetes de papel”. Mesmo que as casas de banho tenham secadores, os toalhetes em papel são obrigatórios;
- É obrigatória a “lavagem e desinfeção” de acordo com o previsto nesse protocolo interno, em especial “das superfícies onde colaboradores e clientes circulam”;
- Na “limpeza dos quartos” e na “troca de roupa de cama” devem existir “cuidados específicos”, “privilegiando dois tempos de intervenção espaçados e com proteção adequada conforme Protocolo Interno”;
- O stock de materiais de limpeza “de uso único” tem de ser “proporcional” às dimensões do espaço. Neste stock obrigatório inclui-se “toalhetes de limpeza de uso único humedecidos em desinfetante, lixívia e álcool a 70º”, para utilização exclusiva de funcionários durante as limpezas;
- Impõe-se que exista sempre “um colaborador responsável por acionar os procedimentos”, mediante o aparecimento de uma “suspeita de infeção”. Tem assim de ser designada uma pessoa para “acompanhar a pessoa com sintomas ao espaço de isolamento [que o hotel tem de criar], prestar-lhe a assistência necessária e contactar o Serviço Nacional de Saúde”;
- Se surgirem “casos positivos de infeção”, deve ser feita posteriormente “a descontaminação da área de isolamento”. Se existir algum doente suspeito de infeção, é obrigatório o “reforço da limpeza e desinfeção, principalmente nas superfícies frequentemente manuseadas e mais utilizadas pelo mesmo, conforme indicações da DGS”;
- Se existirem “doentes suspeitos de infeção”, a unidade hoteleira tem de proceder ao “armazenamento dos resíduos produzidos pelos doentes suspeitos de infeção em sacos de plástico que, após fechado (ex: com abraçadeira), deve ser segregado e enviado para operador licenciado para a gestão de resíduos hospitalares com risco biológico”;
- A farda dos trabalhadores e a roupa de cama e atoalhados dos hóspedes têm de ser lavados “em separado”, “à máquina” e “a temperaturas elevadas”, nomeadamente “a cerca de 60ºC”.
Da “monitorização” de sintomas a novas formas de contacto: o que muda para funcionários de hotéis “Clean & Safe”
As regras também se estendem ao funcionários — da distância com colegas e clientes à forma como transportam as roupas de cama.
- Devem saber “como cumprir a auto monitorização diária para avaliação da febre (medir a temperatura corporal e registar o valor e a hora de medição), verificação de tosse ou dificuldade em respirar”;
- É-lhes requisitado que adotem novos comportamentos na “conduta social”, em específico: “Alterar a frequência e a forma de contacto” entre si e com clientes, “evitando (quando possível) o contacto próximo, apertos de mão, beijos, postos de trabalho partilhados, reuniões presenciais e partilha de comida, utensílios, copos e toalhas”;
- Estão obrigados a “lavar frequentemente as mãos com água e sabão, durante pelo menos 20 segundos ou usar desinfetante para as mãos que tenha pelo menos 70º de álcool, cobrindo todas as superfícies das mãos e esfregando-as até ficarem secas”
- Têm de cumprir medidas de “etiqueta respiratória”. Nomeadamente: “Tossir ou espirrar para o antebraço fletido ou usar lenço de papel, que depois deve ser imediatamente deitado ao lixo; higienizar as mãos após tossir ou espirrar e depois de se assoar; evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos”
- A “remoção da roupa de cama e atoalhados” nos quartos deve ser feita “sem a agitar ou sacudir, enrolando-a no sentido de fora para dentro, sem encostar ao corpo e transportando-a diretamente para a máquina de lavar”
De iPads a serviço “cashless”: seis alojamentos nacionais a preparar o futuro
O Observador inquiriu alguns hotéis nacionais que estão ou a preparar a reabertura ou que se mantêm abertos desde o início da pandemia, para perceber o que mudará no funcionamentos de algumas unidades de alojamento na sequência do surto do novo coronavírus.
Ritz Four Seasons Lisboa
No início deste mês de maio, antes do lançamento do selo de garantia “Clean & Safe” do Turismo de Portugal para o setor, o hotel lisboeta de luxo Ritz Four Seasons detalhava ao Observador que estava “a aguardar mais indicações por parte da DGS e outras instituição nacionais”. Porém, revelava já algumas das intenções e expectativas para o funcionamento após a reabertura, que nunca acontecerá antes de 1 de junho:
- Os espaços de restauração “terão maior distanciamento entre mesas”, cumprindo as exigências das autoridades. É algo “fácil de fazer” em unidades hoteleiras como esta, devido às “dimensões” superiores de área e ao “extenso espaço exterior e terraços”
- Passarão a existir “menus descartáveis e em iPads higienizados”, havendo ainda uma “aposta forte no take away” das opções gastronómicas localizadas no interior do hotel. Esta aposta no take-away começou em julho de 2019, com o lançamento do serviço Ritz Delicatessen. “Brevemente os nossos clientes poderão novamente vir ao Hotel ou receber em casa os nossos famosos mil-folhas do Chef Fabian Nguyen, alguns dos best-sellers d’O Japonês, o Robalo do Ritz, opções vegetarianas e os plateaux repas, para quando as pessoas voltarem aos seus escritórios”, referem os responsáveis
- Os serviços de spa e fitness do hotel “vão obedecer a normas de distanciamento social e irão privilegiar as marcações prévias”. Isto apesar de no centro de fitness já ser natural não estarem “muitas pessoas a treinar ao mesmo tempo”. No spa, será intenficada a “higienização de todo o equipamento e espaço”
- Os serviços de higiene alimentar e pública do hotel “já eram dos mais exigentes do país”, segundo os próprios, mas serão reforçados com “equipamentos que estejam preparados para garantir a ausência de vírus e bactérias”
Ritz Lisboa. Brunch de domingo? Sai uma mariscada cinco estrelas
- Haverá “formação complementar” para o staff do hotel. Estas ações formativas já começaram “antes do estado de emergência” mas serão reforçadas, segundo o hotel
- Haverá ainda controlo “da temperatura” dos funcionários, será imposto “uso de máscaras e luvas” no interior e “por todo o hotel” haverá disponibilização de desinfetantes em gel e de toalhetes
The Art Gate
Também a unidade hoteleira de luxo lisboeta The Art Gate quer garantir a segurança e higiene para reabrir em segurança. O espaço, porém, tem uma particularidade, dado que pela dimensão pequena — tem apenas cinco quartos — conta fazer uma adaptação muito particular a um tempo novo:
- O hotel tem “apenas cinco quartos”, o que faz com que seja “um ambiente altamente controlado”, segundo os responsáveis. Acresce que “quatro dos cinco quartos têm sala individual, o que é uma vantagem”
- “A cada duas horas”, haverá “medição de temperatura a todo o staff”
- O The Art Gate funcionará sobretudo em modelo cashless, ou seja, sem pagamentos em numerário
- Aos hóspedes, será enviado, aquando da reserva, um e-mail com “todas as regras e medidas sanitárias”
- Há garantias de soluções desinfetantes “em todas as divisões” e serão providenciados “kits de higiene individuais nos quartos”
- O pequeno-almoço poderá ser “tomado no quarto”
- Os funcionários no front office, que terão mais contacto com clientes, vão estar “equipados com máscara”
- O The Art Gate, além de hotel, tem também uma galeria artística e os responsáveis planeiam restrições no acesso a essa sala. “Visitas só por marcação e com restrição de número de pessoas em simultâneo”. Já a programação da galeria será anunciada “em live ou em gravação nas redes sociais”
- O restaurante do The Art Gate funcionará “apenas para hóspedes ou, no limite, para grupos em exclusividade”. Funcionará com “limite de oito pessoas”
- Toda a mercadoria recebida no hotel será “desinfetada” e há promessa de “desinfeção das áreas comuns com regularidade”
Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo
Outro dos espaços que detalhou ao Observador alguns dos planos para a reabertura foi a quinta de vinho e enoturismo Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, da região do Douro. Este espaço de alojamento, que tem ao todo 11 quartos, planeava voltar a abrir no início de junho, mas ainda não tinha “uma data definida” para reabertura.
A Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo foi um dos espaços de alojamento que já aderiu ao selo Clean & Safe do Turismo de Portugal. “Isto implica cumprir uma lista de regras, a nível de protocolos de limpeza e higienização mas também de compra de equipamentos de proteção individual (para funcionários e clientes), dispensadores de solução à base de álcool e termómetros para auto medição”, por exemplo, notaram os responsáveis do espaço.
O contacto “com o Governo e Turismo de Portugal” tem existido e uma das apostas fortes da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo passará pela formação de “funcionários, colaboradores e fornecedores para garantir o cumprimento de todas as precauções básicas de prevenção e controlo”.
Martinhal
Também o Martinhal, cadeia de alojamentos de luxo com espaços em Lisboa (Chiado), Cascais, Sagres e Quinta do Lago (em Almancil, Loulé), revelou ao Observador que tem estado em contacto com o Governo e que aderiu ao selo Safe & Clean do Turismo de Portugal, pretendendo cumprir escrupulosamente as exigências sanitárias. Porém, haverá medidas concretas e uma articulação de implementação nas quatros unidades da cadeia que ainda está a ser ultimada.
A data de reabertura “ainda está por decidir” e há duas hipóteses em cima da mesa: abrir as unidades de alojamento em junho “se houver reservas que justifiquem” ou abrir apenas em julho. Mas em julho, abre “de certeza”.
Craveiral
Quem também adiantou ao Observador alguns dos planos para a resposta à pandemia do novo coronavírus em Portugal foram os proprietários do complexo de alojamento rural Craveiral, de 38 casas, que emprega mais de 20 pessoas. A diferença face à maioria dos espaços de alojamento turístico em Portugal é que o Craveiral “nunca fechou nem pôs ninguém em lay off”, tendo oferecido “as casas para as autoridades de saúde”.
Desde aí tem havido uma distribuição de refeições “porta a porta”, casa a casa, com um “custo simbólico de três euros”, sendo que “apenas parte das casas podiam ser ocupadas”. Neste momento, o Craveiral continua a “servir os pequenos almoços nas casas”, mas tem mais medidas em vista:
- “Vamos fazer os check-ins e check-outs por telecomunicação ou meios eletrónicos, podendo as pessoas ir diretamente para as suas casas, recebendo a sua chave eletronicamente no seu telemóvel”
- “Vamos ter em funcionamento as nossas três zonas de piscina, com uma área total de espelho de água de 290 m2 (rácio de entre 6,5m2 por pessoa ou 4m2 por pessoa, considerando a ocupação das 22 casas na sua capacidade mínima e máxima)”
- “Vamos ter em funcionamento a nossa zona de bem estar com sauna, banho turco, ginásio e piscina interior, com quatro períodos de limpeza por dia”
- “Vamos ter o restaurante em funcionamento de acordo com as regras, [mas] continuando a servir refeições nas casas”
- “Vamos continuar a ter a nossa horta para utilização própria e dos hóspedes, e os nossos animais”
Companhia das Culturas
Foi o único espaço contactado pelo Observador que fechou portas e que tenciona reabri-las ainda em maio — e a meio do mês, já no dia 15, ou seja, no final desta semana (sexta-feira).
O alojamento de turismo rural de Castro Marim fica na zona serrana do Algarve e, além dos apartamentos, dispõe de uma propriedade de 40 hectares com piscina. No início de maio, os responsáveis do espaço explicavam ao Observador que o protocolo de segurança interno e a forma de o implementavar estavam ainda a ser estudados, mas que a ideia passava por seguir “as diretivas da DGS e do Turismo de Portugal”, que estiveram concertados.
Contando já na altura que iriam “aderir ao selo Safe & Clean” — o mesmo anunciou, por exemplo, o Bairro Alto Hotel, em Lisboa — , os responsáveis da Companhia das Culturas lembravam precisamente a dimensão da propriedade, mas também das “áreas sociais”, com mais de 200m2, para defender que “haverá muito espaço livre para lazer e práticas desportivas e de bem estar, permitindo o distanciamento de segurança”. Um exemplo: “As aulas de ioga serão dadas no exterior”.