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ANA MARTINGO/OBSERVADOR

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Rio "servente" e traidor. Costa com "medo" e à procura do "tacho dourado". Quem foi o maior alvo de Ventura?

Rio foi o maior alvo de Ventura no congresso em que o líder do Chega se quis afirmar como o definidor da direita. Costa e Catarina Martins não foram esquecidos. Sócrates e a família Coxi também não.

“Servente” de António Costa, “submisso” e capaz das maiores traições. Três dias, três momentos, três discursos, o mesmo alvo preferencial: André Ventura apareceu na reunião magna do partido disposto a provar que é e será capaz de se impor ao PSD e que nunca existirá um governo de direita sem ministros do Chega. Resultado: Rui Rio foi o grande saco de pancada de André Ventura no III Congresso do Chega.

Houve mais alvos, claro. António Costa, que foi pintado como o rosto de um PS que quer “mandar em absolutamente tudo”. Catarina Martins, como a líder de um partido que se achava o “arauto da moralidade” e que agora se esconde a cada polémica. Jerónimo de Sousa, secretário-geral de um partido que, no que depender de Ventura, vai ser remetido à sua insignificância política.

família Coxi (“não deixamos de chamar bandidos a quem é bandido”), as “minorias” e os “subsidiodependentes” (“os mamões de sempre que continuam sugar-nos até ao tutano”), as elites (“os meninos bonitos que nos iam salvar”) e até Vasco Lourenço, como líder da “brigada do reumático” que faz “desfiles por Lisboa como se fosse um dia assim tão importante para os portugueses” foram as outras vítimas num Congresso que trouxe Ventura em modo campanha eleitoral.

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Rui Rio: 13 ataques

De todos, no entanto, Rio foi mesmo o mais visado. À renovada ambição de Ventura — em setembro de 2020, Ventura dizia que nunca faria parte de um Governo com o PSD; em dezembro, exigia quatro pastas ministeriais; em fevereiro de 2021, pedia seis Ministérios; este mês já exigiu ser vice-primeiro-ministro — juntou-se um discurso mais dirigido aos sociais-democratas: no total, foram 13 ataques diretos ou indiretos a Rio e ao PSD.

O esticar da corda foi tal que, a horas do encerramento do Congresso, os sociais-democratas enviaram um comunicado às redações a informar que o partido não se faria representar no encontro do Chega. “Há limites para a decência e bom-senso“, queixou-se o PSD, alegando que Ventura tinha “ignorado” as regras do jogo democrático.

No discurso de encerramento do III Congresso, Ventura não resistiu à ironia. “O PSD rejeitou à ultima hora. Nem vou dormir hoje à noite”, começou por dizer, para divertimento dos delegados. “O único limite à decência é não compactuar com António Costa“, atirou.

A hostilidade marcou logo a primeira intervenção do líder do Chega. O contexto estava criado para isso: a direita tinha acabado de sair do congresso do Movimento Europa e Liberdade, inevitavelmente marcado pela discussão em torno da participação do Chega e pela intervenção de Rio nesse encontro (onde disse que “o PSD não é um partido de direita”).

Com os dados lançados, Ventura disse logo ao que vinha. “O líder do PSD, muito mau líder do PSD, Rui Rio, diz que temos de ser mais moderados. Se é para sermos muleta do PSD, não queremos ser mais ponderados, por isso não, Rui Rio, nós não nos vamos moderar.”

Ventura perdeu pouco tempo antes de se atirar à jugular do líder social-democrata. “Nunca passaria pela vergonha de ir a um chamado Congresso das Direitas dizer que não sou de direita e dizer que quero acordos com o primeiro-ministro socialista”. Estava dado o primeiro gancho.

Houve mais: aos olhos de Ventura, sempre muito aplaudido quando criticava Rui Rio, o líder do PSD é “submisso” aos socialistas, “servente” de António Costa e capaz de “traições” inqualificáveis, uma vez que negou (e continua a negar) ter negociado a solução dos Açores. E, pior, capaz da maior das “vergonhas”: “Ir a um chamado Congresso das Direitas dizer que não é de direita e dizer que quer acordos com o primeiro-ministro socialista.”

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

CDS e IL: 1 ataque cada

Parte da estratégia de Ventura passa, precisamente, por tentar esvaziar os adversários à direita — CDS e IL — e afirmar o Chega como o grande partido definidor da direita, o único capaz de condicionar verdadeiramente os sociais-democratas.

Curiosamente, os dois partidos só foram referidos uma vez cada um. Sobre o partido de Francisco Rodrigues dos Santos, uma frase: “Se é para sermos uma espécie de CDS 2.0 nós não nos vamos moderar”. Estava dito.

Para a Iniciativa Liberal, que também decidiu não se fazer representar no Congresso, sobrou  esta referência: “Os betinhos da IL ficaram fora do arco da governação [nas presidenciais]”. Tantas referências como o PAN e NOS Cidadão.

Claro que existiram outras referências vagas à direita que tem vergonha de ser a direita que o Chega idealiza (e onde podem caber PSD, CDS e Iniciativa Liberal). Mas estes foram os mimos que Ventura reservou diretamente para os seus adversários — e que um dia podem virar aliados.

António Costa: 10 ataques

Se Rui Rio foi o inimigo à direita, António Costa foi, naturalmente, o principal alvo à esquerda. Foram 10 ataques diretos ou indiretos ao primeiro-ministro socialista, o homem responsável pela “venezualização” do país, que o está a conduzir um estado de “humilhação” e que quer “mandar em absolutamente tudo”, afastando a  procuradora-geral da República, o juiz do Tribunal de Contas e o diretor da Polícia Judiciária, elencou Ventura.

[Vamos] encostar António Costa às cordas que era como devia estar há muitos anos em Portugal”, prometeu Ventura, já depois de ter deixado outros mimos: “Parece uma piada falar de PS e de corrupção”; “o Governo quer perdoar penas aos corruptos que confessam”; “não podemos ter António Costa a esbanjar dinheiro na Europa”.

Um primeiro-ministro que, se já sonha com a “sua cadeira dourada na Europa“, tem “medo” deixar o cargo de primeiro-ministro porque o “delfim” Pedro Nuno Santos está com dificuldades a lidar com a TAP, sugeriu o presidente do partido. Mais: Costa está com “medo” porque sabe que o Chega vai aproveitar a crise no PS para chegar ao poder.

A ideia desta suposta tensão — entre o alegado “medo” de António Costa deixar o poder por causa do Chega e a vontade de “agarrar” um “tacho dourado” — foi várias vezes explorada por Ventura nos seus discursos.

Até a mais recente controvérsia sobre a casa do primeiro-ministro mereceu uma referência de Ventura. “Não concebo que um primeiro-ministro que tem casas em Lisboa diga que não tem conta bancária”, gritou o líder do Chega a partir do palco — ainda que o primeiro-ministro já tenha esclarecido essa questão.

Também houve referências a linhas concretas da governação socialista (na Economia, na Saúde, na Educação, na Justiça ou na Imigração), mas foram, em alguns casos, ataques distribuídos por outros ministros (Marta Temido ou Eduardo Cabrita) e por vários governos PS (de Mário Soares a José Sócrates).

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

José Sócrates: 3 ataques

Não raras vezes, as críticas a António Costa e ao PS vinham acompanhadas por referências a José Sócrates. Nos três discursos que fez, Ventura atirou-se três vezes ao antigo primeiro-ministro.

Um: “A justiça condena-me em quatro meses e José Sócrates está há anos para condenar pelo que quer que seja. Não é justiça, é vergonha.” Dois: “Assistimos a um Tribunal de Instrução Criminal a limpar os crimes de um ex-primeiro-ministro como se não houvesse amanhã.”

E, finalmente, três: “Alguém que recebe e lava dinheiro da mãe… temos de salvaguardar a presunção de inocência.” Apesar de José Sócrates ser o alvo direto, o objetivo era mesmo atingir o PS e António Costa.

A determinado momento do discurso, o líder do Chega chegou mesmo a dizer. “Se com Pedro Passos Coelho houve um ex-primeiro-ministro preso, com André Ventura talvez houvesse mais dirigentes de esquerda presos.”

Catarina Martins: 5 ataques

Outro dado transversal aos três discursos de Ventura: mais do que o PCP ou referências genéricas à esquerda e à extrema-esquerda, o foco especial do líder do Chega foi o Bloco de Esquerda. Todas as mais recentes controvérsias em que os bloquistas se viram envolvidos serviram de arma de arremesso.

As moradas falsas no Parlamento e o caso da deputada Sandra Cunha, a especulação imobiliária e o processo que envolveu Ricardo Robles, e as acusações de violência doméstica que recaem sobre Luís Monteiro foram referências recorrentes.

Exemplo: “São falsos moralistas. Temos de chamar os bois pelos nomes. Quando têm um deputado envolvido em violência doméstica, ele é que é a vítima e não o agressor. Nós para isso temos uma palavra: vergonha. E vamos enfrentá-los no terreno deles, onde dói mais.”

Depois houve referências menos diretas, mas igualmente violentas à extrema-esquerda, onde cabem Bloco e PCP, que segundo Ventura querem transformar o país “num esgoto a céu aberto”.

Jerónimo de Sousa: 1 ataque (0,5 + 0,5)

Por oposição, os comunistas raramente foram nomeados isoladamente. Quando apareceram nos discursos de Ventura, foram ou incluídos na família da “extrema-esquerda” ou referidos lado a lado com o BE.

No caso, houve uma referência ao PCP que se fazia vender como “arauto da moralidade“, não o sendo. E uma espécie de aviso aos comunistas:

“Esta mobilização vai dizer-lhes, aos senhores do BE e do PCP que não é dizer da boca para fora que vão acabar connosco. Para acabarem connosco, têm de nos comer os ossos. E nós não vamos permitir.”

Esta diferença de tratamento pode sugerir uma leitura política: o Chega e André Ventura elegeram o Bloco como principal adversário na esquerda à esquerda do PS porque entendem que esse confronto tem mais potencial de mobilização do que um embate direto com o PCP, um partido com características diferentes — eleitorado mais conservador, perfil menos mediático e bases mais fiéis.

Família Coxi: 3 ataques

A família Coxi acabou por tornar-se uma das protagonistas deste congresso. Ventura tentou provar várias vezes de que a Justiça, o regime, o “politicamente correto o estava a perseguir e a censura.

Ventura usou a foto da família que vive no Bairro da Jamaica num debate televisivo com Marcelo Rebelo de Sousa para sugeri que o Presidente da República preferia posar com “bandidos” e não com as forças da segurança — o líder do Chega foi, entretanto, condenado em primeira instância.

No entanto, Ventura aproveitou o caso para tentar capitalizar politicamente, insistindo, sem grande hesitação, em repetir o termo “bandido”.

Com ligeiras variações, foi essa ideia que Ventura repetiu uma, duas e três vezes. “Para mim ou é dia ou é noite. Se há bandidos, bandidos são. E nós não deixamos de chamar bandidos a quem é bandido. São bandidos e devem ser chamados de bandido. Um bandido é um bandido.

Críticos internos: 5 ataques

Ainda que nunca tenha concretizado exatamente quem são os seus críticos internos, André Ventura falou do mais do que uma vez para os seus adversários dentro do partido, que, segundo o líder, vão exigindo que o partido deixe cair uma parte da agenda mais radical e se modere.

Ao ponto de o líder do Chega ter dedicado largos minutos do último discurso do congresso a falar para dentro. “No dia em que quiserem moderação não será com este homem que têm aqui hoje. Será com outro“. Um aviso. “Aqueles que pensam que devemos moderar para conseguir mais uns lugares… Não me peçam para me pôr de joelhos perante o PSD”. Dois avisos. Haveria espaço para um terceiro:

“Este partido não se vende, nem cede a jogos de bastidores contra a sua direção. Este partido não se faz com projetos de líderes nem cópias de outros”, estava consumado o ataque (ou o contra-ataque) aos críticos internos. Próxima viagem: autárquicas de setembro.

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