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Quatro amigos juntaram-se para alugar um espaço nos arredores do estádio Cidade de Coimbra para vender finos e bifanas.
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Quatro amigos juntaram-se para alugar um espaço nos arredores do estádio Cidade de Coimbra para vender finos e bifanas.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Quatro amigos juntaram-se para alugar um espaço nos arredores do estádio Cidade de Coimbra para vender finos e bifanas.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Ruas cortadas, comércio expectante e fãs ao relento: Coimbra está à espera dos Coldplay

Quatro concertos esgotados vão levar mais de 200 mil pessoas a Coimbra até domingo. Até à primeira canção erguem-se negócios e descobrem-se oportunidades. Para os fãs, "ainda não dá para acreditar".

Quem entra na cidade à espera de ouvir “Dream of para-para-paradise” sabe bem ao que vai, porque publicidade nem vê-la. Nas ruas de Coimbra não se avistam cartazes a anunciar os concertos de Coldplay, nem outdoors, nem movimentação que denuncie quem fez esgotar quatro datas dos concertos (17, 18, 20 e 21 de maio) em poucas horas.

“Todos os espetáculos têm um plano de marketing, que funciona para vender bilhetes. A partir do momento em que os bilhetes estão vendidos, suspende-se o plano de divulgação”, responde Álvaro Covões, da Everything is New, promotora responsável pelos concertos da banda britânica em Coimbra quando questionado pelo Observador sobre a ausência de menções aos concertos offline. “Haverá, sim, sinalética de acessibilidade aos parques, à rede de transportes que foi criada, as quatro linhas que vão servir a cidade”, adianta. Enquanto se pratica o verbo no futuro, falemos do presente: na baixa da cidade dos estudantes os únicos condicionamentos prendem-se, por enquanto, com as obras de implementação do sistema de Metrobus (Metro Mondego) ou com as longas filas para comprar o traje de última hora – a Queima das Fitas de Coimbra arranca a 19 de maio.

O fluxo dos fiéis a Coldplay pode parecer discreto, mas está a acontecer. António Pinto, 51 anos, motorista de TVDE, desde segunda-feira transporta fãs da banda britânica. “Pessoal mais novo, que tem cá colegas a estudar, aproveita e vem mais cedo”, conta ao Observador. A procura tem aumentado e a expectativa é grande. “Esperamos que se faça mais [dinheiro] do que nos dias normais. Muito provavelmente vai entrar em [tarifa] dinâmica porque vai haver muitos pedidos e não vai haver TVDE suficiente para atender tantos pedidos”, diz. “Conheço alguns colegas de trabalho que vêm para cá estes dias, de Aveiro, de Lisboa”, relata, tirando partido do facto de, ao contrário do que acontece com os táxis, não existir limitação de distrito para os motoristas deste tipo de veículos. “Ainda”, lança.

"Todos os espetáculos têm um plano de marketing, que funciona para vender bilhetes. Se os bilhetes estão vendidos, suspende-se o plano" — Alvaro Covões, da Everything is New, promotora dos concertos

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

É ao chegar às ruas que desaguam no Estádio Cidade de Coimbra, que se revela, por fim, toda uma operação que vai levar cerca de 200 mil pessoas a entoar cada verso de “Yellow” ou “A Sky Full of Stars”. “Está tudo pronto”, garante Covões. O diretor da Everything is New estima que o número de pessoas a trabalhar no evento chegue às cinco mil. A primeira equipa chegou há um mês. “Em colaboração com a equipa da Câmara Municipal de Coimbra e do estádio estivemos a preparar o estádio para poder receber os 52 mil espectadores que virão por dia”. Preparação essa que inclui a “substituição de centenas de cadeiras que estavam estragadas, umas pelo sol e pelo tempo, outras pela utilização”, a “verificação de todas as casa de banho, substituição de tampas de sanitas” ou a “reparação e manutenção de elevadores e geradores, canalização, eletricidade”, enumera.

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Escusando-se a revelar o valor investido nestes “melhoramentos”, Álvaro Covões diz: “O valor que a Câmara deu foi exatamente para podermos preparar o estádio. Obviamente que depois esses melhoramentos ficam para o estádio e o estádio é pertença da Câmara”. Em abril, soube-se que a Câmara de Coimbra ia atribuir à Everything is New um apoio financeiro no valor de 440 mil euros. “Ainda estamos a fazer trabalhos, mas acho que vamos gastar esse dinheiro todo, seguramente”, diz o responsável pela promotora, que frisa a necessidade de “desmistificar” o quase meio milhão de euros dado pela autarquia. “Todos os grandes eventos têm apoios, todos, de norte a sul do país. E todos os eventos que aconteceram aqui em Coimbra com esta direção tiveram apoios. Neste caso particular, este apoio, foi muito concentrado na preparação do estádio para receber um evento desta tipologia”. A verba, assegura, será gasta “genericamente” nessa preparação.

Comércio: oportunidades para uns, limites para outros

Trazer os Coldplay a Coimbra não é visto como um bom negócio apenas por quem labuta no interior do recinto. Fora dele, há quem se tenha antecipado com a enchente de gente que chegará durante os próximos dias. É o caso de quatro amigos que se juntaram para alugar um espaço dentro do perímetro de segurança nos arredores do estádio — só acessível a quem tem bilhete para os concertos — para vender finos e bifanas. Isto porque, ao contrário do que acontece com outros espaços comerciais, como farmácias, clínicas ou livrarias, os cafés e restaurantes dentro deste perímetro de segurança (que afeta as ruas do Estádio, D. Manuel I, D. João III e Jorge Anjinho) vão poder funcionar sem qualquer alteração.

Trânsito, transportes, estacionamento e bilhetes: informação útil para quem vai a Coimbra ver os Coldplay

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  • Para quem é de fora de Coimbra, antecipar a viagem é uma das recomendações recorrentes da autarquia e da promotora, que prevêem que no período da tarde de cada dia se verifique um grande fluxo no trânsito que poderá dificultar e atrasar a chegada a tempo do espetáculo.
  • O perímetro em torno do recinto abre às 16h e as portas do estádio abrem às 17h. O espetáculo tem início a partir das 18h45, com um programa que arranca com as atuações de Bárbara Bandeira, e da cantora britânica Griff. Só depois atuarão os Coldplay. A previsão do final do concerto é à meia-noite.
  • Álvaro Covões, diretor da Everything is New, deixa o alerta para confirmar a data do bilhete: “não saiam de casa sem olhar para o bilhete para ter a certeza que vêm no dia certo. Há quatro datas e é comum”.
  • restrições ao trânsito, que se concretizam em dois perímetros: um junto ao estádio, onde será apenas possível circular a pé com bilhete para o espetáculo. Este perímetro abrange as ruas do Estádio, D. Manuel I (a partir do cais de cargas e descargas do Alma Shopping), D. João III e Jorge Anjinho (entre a Rua D. João III e a Rua João de Deus Ramos). O 2º perímetro, localizado nas imediações do estádio, terá o trânsito interdito a automóveis pessoais, sendo apenas permitidos transportes públicos, TVDEs, Uber Eats e Glovo, bem como viaturas de residentes para acesso a casa, acesso ao Alma Shopping e bicicletas. Há exceções para quem tenha dístico de pessoa portadora de deficiência.
  • A utilização de transportes públicos é aconselhada. A rede da SMTUCH – Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra foi reforçada com quatro circuitos especiais, com origem ou passagem pela Estação de Coimbra-B, a gare rodoviária e a paragem da Flixbus. Haverá uma pulseira especial, com custo de 4€, à venda em pontos móveis e fixos (inclusive junto do início dos percursos e nos autocarros), que permite circular nos transportes públicos ao longo de todo o dia do concerto.
  • Para quem viaja de carro, há 16 parques gratuitos para deixar a viatura e seguir viagem de transporte público, a pé, de bicileta ou trotinete (a rede de bicicletas e trotinetes foi reforçada durante estes dias). Consulte o mapa e localizações dos parques aqui.

“Todos nós somos de áreas diferentes. Um tem uma mercearia, outro tem uma coisa de cosmética, eu tenho uma loja de roupa e o outro senhor tem um restaurante”, conta Cidália Serém. “Tivemos esta ideia de nos juntar, aproveitar um bocadinho também o nosso negócio e ganhar algum dinheiro, claro”, diz a conimbricense de 45 anos. O grupo arrendou um espaço fechado, um antigo café nas imediações do estádio, para todo o mês de maio, “já a pensar nesta semana”. “Não sei se depois vamos abrir ou não para café, mas para já é só para usar esta semana”. Pagaram 700 euros de renda.

Ao longo da tarde, vários homens erguem um balcão vermelho que se deverá manter até domingo. Tiram-se os primeiros finos. Cidália conta 70 barris de cerveja, só para o primeiro dia de concertos (“Temos pré-encomendados 300″, admite). E 30 kg de carne que, pelas suas contas, deverão encher 250 bifanas. A lojista mostra-se contente pela chegada de um evento “que vai trazer benefícios à cidade”. O que diz do facto de Coimbra ter perdido a superespecial do Rali de Portugal, que normalmente acontece nestas datas e que este ano acabou por seguir para a Figueira da Foz? “Prefiro os Coldplay”, responde entre risos. “O rali é de passagem e os Coldplay vêm por mais dias”.

Margarida Ramos veio de Braga e assentou arraiais à porta do Estádio Cidade de Coimbra às 14h desta terça-feira. Justifica a antecedência assim: "Estamos no relvado, que é a zona de lugares não marcados. Já foi a luta que foi para os bilhetes, portanto calculamos que seja o mesmo para o relvado. Queremos ficar o mais à frente possível".

Se para estes amigos esta é uma oportunidade de negócio, para outros a chegada da banda de Chris Martin impõe limitações. É o caso da Livraria Almedina, por exemplo, que vai estar encerrada nos dias dos concertos, “por motivos a que somos alheios”, lê-se no papel exposto do vidro da loja do Estádio Cidade de Coimbra. Os barris de cerveja à porta denunciam, porém, os únicos planos possíveis: as autoridades permitem que a parte da cafetaria permaneça aberta.

“É um sonho mesmo. Ainda não dá para acreditar”

Se a cidade aparenta ainda estar despida de fãs de Coldplay, cinco já se conhecem pela postura de pernas cruzadas no chão, uma órbita de mochilas em seu redor e um enorme sorriso estampado no rosto. Margarida Ramos, 21 anos, foi a primeira a chegar. Veio de Braga e assentou arraiais à porta do Estádio Cidade de Coimbra às 14h desta terça-feira. Justifica a antecedência assim: “Estamos no relvado, que é a zona de lugares não marcados. Já foi a luta que foi para os bilhetes, portanto calculamos que seja o mesmo para o relvado. Queremos ficar o mais à frente possível”. Esta quinta-feira, às 17h, quando as portas do recinto se abrirem para o primeiro concerto de quatro, “é correr o mais rapidamente possível e chegar o mais à frente possível”.

De cima para baixo, da esquerda para a direita: Diana Figueiredo, Maria Lemos, Margarida Ramos, Gonçalo Germano, Raquel Rosa foram os primeiros a chegar ao estádio Cidade de Coimbra.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

“É o salve-se quem puder”, acrescenta Diana Figueiredo, 19 anos, que, com Maria Lemos, 18, também já ali está sentada na calçada, em frente à porta 5. Vêm ambas da Póvoa de Varzim e chegaram de autocarro não eram ainda 18h. “A esta hora já estaríamos a pensar que estaria uma fila gigante, mas afinal chegámos aqui e só tinha três pessoas”, nota Diana. “Fomos as primeiras na Póvoa [a comprar os bilhetes]”, recorda com orgulho. “Ficámos na fila a noite toda e conseguimos. É uma cidade pequena. Foi a nossa sorte”, dizem as poveiras que garantiram o bilhete depois de 12 horas na fila. Em agosto, bastou-lhes algum cartão para dormir às portas da loja Worten. Desta vez preparam-se para quase 24 horas ao relento. Têm cobertores, almofadas, mudas de roupa, comida: sandes de atum, batatas fritas, pizza. E a bateria do telemóvel? “Powerbanks!”, respondem sem hesitar. “Estamos prevenidos”.

É para todos uma estreia a ver a banda favorita cujas letras e canções sabem de cor. As emoções estão à flor da pele. “Era um concerto que estava à espera há imenso tempo e nunca pensei que fosse acontecer. Ainda não estou bem ciente. Acho que só amanhã é que vou conseguir perceber. Toda a gente diz que é um concerto muito marcante”, diz Margarida, que não faz discos pedidos nem se atreve a exigir uma música em particular, mas que espera “qualquer coisa dos quatro primeiros álbuns”. “O meu tipo de Coldplay, de que mais gosto, é o inicial, mais acústico, mas gosto de todas as músicas deles. Qualquer música será uma felicidade.” Os colegas da calçada — que conheceu há umas horas, mas com quem partilha, pelo menos, o gosto musical — ouvem-na atentos. “Não tenho nada a acrescentar, é exatamente o que ela disse. É um sonho mesmo. Ainda não dá para acreditar”, sublinha Diana. “Esta semana tenho-me arrepiado e até chorado assim algumas vezes quando ouço algumas músicas deles. É inacreditável”.

Ninguém se ri quando questionado sobre a mais previsível das precipitações. Na dúvida, Margarida sabe onde cai a lágrima fácil: “Toda a gente consegue chegar a um acordo quando dizemos que uma das músicas mais emocionantes vai ser a ‘Fix you’. É aquele momento que toda a gente espera nos concertos”.

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