894kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

bispo das Forças Armadas e de Segurança, Rui Valério
i

Rui Manuel Sousa Valério nasceu a 24 de dezembro de 1964, em Urqueira, no concelho de Ourém

Manuel Almeida/LUSA

Rui Manuel Sousa Valério nasceu a 24 de dezembro de 1964, em Urqueira, no concelho de Ourém

Manuel Almeida/LUSA

Rui Valério: o primeiro missionário monfortino português a tornar-se bispo vai ser patriarca

Foi com "temor e tremor" que Rui Valério, um "pobre e humilde servo do Senhor", aceitou "o chamamento" para patriarca. O bispo das Forças Armadas, "simples e direto", vai suceder a Manuel Clemente.

Um exemplo de “fé, esperança e caridade” e um “pastor cordial e próximo”. É assim que aqueles que têm trabalhado de perto com Rui Valério descrevem o novo patriarca de Lisboa e atual bispo das Forças Armadas. Com 58 anos, o sacerdote tem desenvolvido a sua ação pastoral sobretudo em paróquias de Beja e Lisboa, tendo também trabalhado em várias ocasiões junto dos militares. Enquanto bispo das Forças Armadas e de Segurança — uma função que lhe foi confiada em outubro de 2018 pelo Papa Francisco —, conseguiu que as missões no estrangeiro passassem a ser acompanhadas por capelães militares para prestarem apoio espiritual.

Na primeira mensagem enviada após o anúncio de que vai substituir Manuel Clemente como patriarca, divulgada esta quinta-feira pelo Patriarcado de Lisboa, o bispo referiu-se ao tema dos abusos sexuais na Igreja, assumindo a luta contra estes crimes como a sua bandeira e garantindo “tolerância zero” contra os mesmos. “Vamos prosseguir, com esperança, no caminho da cura total do vosso e nosso sofrimento”, afirmou, dirigindo-se diretamente às vítimas.

O novo patriarca de Lisboa escolheu como lema episcopal a expressão “In manibus tuis’ (“Nas tuas mãos”), algumas da últimas palavras proferidas por Cristo, que evocam “o abandono nas mãos de Deus”. As armas de fé vão incluir referências a Nossa Senhora de Fátima e ao carisma da família religiosa monfortina, junto da qual Rui Valério fez a sua formação. Membro da comunidade missionária monfortina, Rui Valério foi o primeiro monfortino português a ser ordenado bispo.

O padre da Urqueira que se tornou bispo das Forças Armadas e de Segurança

Rui Manuel Sousa Valério nasceu a 24 de dezembro de 1964, em Urqueira, no conselho de Ourém. Depois de completar o primeiro ciclo de ensino numa escola local, entrou no Seminário de Monfortino, em Fátima, onde permaneceu até terminar o ensino secundário.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Fundada a 2 de fevereiro de 1703 por S. Luís de Montfort, um missionário francês que se destacou pela sua devoção à Virgem Maria, os Missionários Monfortinos propõem, com base na experiência do seu fundador, “a consagração a Jesus Cristo através de Maria como a forma mais segura de viver os compromissos do batismo”, refere o seu site. A congregação está presente nos cinco continentes, onde desenvolve a sua atividade missionária junto dos mais desfavorecidos.

O novo patriarca de Lisboa frequentou o noviciado em Santeramo in Colle, em Bari, e depois a Universidade Pontifícia Lateranense, em Roma, onde obteve o bacharelato em Filosofia. Continuou os estudos de Teologia na Universidade Pontifícia Gregoriana, na mesma cidade italiana, onde se licenciou em Teologia Dogmática. Fez depois uma pós-graduação em Espiritualidade Missionária no Centre International Montfortain, em Lovaina, na Bélgica.

Rui Valério no Bairro do Barruncho, em Odivelas, em 2015

TIAGO PETINGA/LUSA

Em 1996, regressou a Portugal, dando entrada na Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa. “Por motivos pastorais”, não pôde concluir a tese de doutoramento, com o tema “Cristologia Sapiencial e Sabedoria Cristológica em S. Luís de Montfort”.

Rui Valério foi ordenado sacerdote a 23 de março de 1991, em Fátima, tendo nas décadas seguintes exercido funções em diferentes dioceses e junto das forças militares.

Logo após a sua ordenação, tornou-se capelão militar no Hospital da Marinha, onde permaneceu um ano. A partir de 1993, foi coadjutor e depois pároco no concelho de Castro Verde, “dedicando-se particularmente aos jovens e à lecionação da disciplina de Educação Moral e Religiosa nas Escolas do Primeiro Ciclo”, refere a biografia divulgada pela Conferência Episcopal Portuguesa, citada pela Agência Ecclesia.

De 2004 a 2007, foi responsável pelo conjunto de paróquias de Almodôvar e, entre 2008 e 2011, capelão militar na Escola Naval. De 2011 a 2018, foi pároco da Póvoa de Santo Adrião. Em 2016, durante o Jubileu da Misericórdia, foi um dos 1.071 sacerdotes enviados pelo Papa Francisco como “missionários da misericórdias” às comunidades de todo o mundo.

A 27 de outubro de 2018, foi nomeado bispo das Forças de Armadas e Forças de Segurança de Portugal pelo Papa Francisco, cargo que desempenha até hoje. Foi ordenado bispo cerca de um mês depois, numa cerimónia presidida pelo cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, no Mosteiro dos Jerónimos. Rui Valério foi o primeiro membro português dos Missionários Monfortinos a tornar-se bispo.

O novo patriarca de Lisboa é atualmente delegado da Conferência Episcopal Portuguesa para as Relações Bispos/Vida Consagrada e membro da Comissão Episcopal Missão e Nova Evangelização. Durante dois períodos, integrou o Conselho da Delegação Portuguesa de Missionários Monfortinos. Ainda trabalhou no âmbito da Formação, enquanto responsável do Postulantado Monfortino de Portugal.

Rui Valério com o Papa Francisco no Vaticano

Divisione Produzione Fotografica; Francesco Sforza

Um homem “simples, direto”, de “superior inteligência”, que tem sido uma “grande fonte de inspiração”

Em dezembro de 2021, foi condecorado pelo chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, o general José Nunes da Fonseca, com a Medalha Cruz de São Jorge, de 1.ª classe. Na altura, foi destacada a “grandeza do seu caráter” e a “elevada estatura espiritual, que se têm constituído grande fonte de inspiração, nomeadamente no que respeita à motivação de bem servir”, citou a Ecclesia.

Numa mensagem publicada esta quinta-feira no site da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa agradeceu a Rui Valério “a dedicação constante e qualificada com que exerceu as suas funções nos últimos cinco anos” junto das Forças Armadas e de Segurança.

Mais tarde no mesmo dia, em declarações aos jornalistas no Algarve, o Presidente descreveu o bispo como “uma “pessoa muito dedicada”. “É muito simples, direto, frontal, muito terra a terra”, disse Marcelo, desejando “todas as felicidades possíveis numa missão que é muito difícil, que é ser patriarca de Lisboa”.

Em declarações ao Observador, o chefe de gabinete do chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, o major-general Rui Ferreira, descreveu o novo patriarca como uma pessoa jovial, cheia de energia e de “superior inteligência”, afirmando que “a ideia que os militares guardam de D. Rui Valério pode ser sintetizada em três palavras: espiritualidade, humanidade e proatividade”.

“A espiritualidade tem muito a ver com o conferir um sentido humano às missões”, explicou o major-general, recordando uma visita realizada pelo novo patriarca de Lisboa às tropas portuguesas na República Centro-Africana. “Além do profissionalismo, sentiu que era necessário cultivar e manter vivo o lado humano. É algo importante, de tal forma que pediu ao almirante que aquelas missões passassem a ser acompanhadas por capelães. E passámos a integrar capelães militares naquelas forças”, afirmou, destacando a importância de manter “o lado ético e moral” num cenário hostil.

Relativamente à humanidade, trata-se de “um homem que sente a humanidade num sentido de solidariedade com o próximo”, tendo procurado realizar atos de solidariedade usando para isso os meios das Forças Armadas. Proativo por natureza, Rui Valério “está em todo o lado”.

Isto tudo “acompanhado de um carisma (…) marcado por uma simplicidade como pessoa, nos atos”, à qual se associa o dom da palavra. O bispo prepara todas as suas intervenções com especial cuidado, “mas ao mesmo tempo com uma simplicidade desarmante”, constatou o major-general Rui Ferreira, que destacou ainda “o espírito solidário” do bispo e a disponibilidade para ouvir os outros.

Rui Valério com o ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, na tomada de posse como bispo das Forças Armadas e de Segurança, em 2018

Manuel Almeida/LUSA

“Partilho da vossa dor e, juntos, vamos prosseguir, com esperança, no caminho da cura”

Na nota publicada no site do Patriarcado de Lisboa, Rui Valério, referindo-se a si próprio como um “pobre e humilde servo do Senhor”, confessou aceitar “o chamamento” para patriarca com “temor e tremor” e ciente da sua fragilidade e da “pequenez” dos seus “remos”, com que terá de guiar a “Barca imensa repleta de vida, de serviço, de santidade e de história missionária”.

Mostrando-se disposto a “escutar”, com “alegria no serviço”, o bispo saudou, numa mensagem tornada pública pela Conferência Episcopal Portuguesa, “os irmãos e irmãs vítimas de abusos por membros da Igreja”. “Partilho da vossa dor e, juntos, vamos prosseguir, com esperança, no caminho da cura total do vosso e nosso sofrimento, da tolerância zero.”

Nuno Caiado, subscritor da carta que impulsionou a criação da comissão para estudar os abusos na Igreja, considerou à Lusa que a mensagem do novo patriarca é “muito positiva” e que o tema “não é o único desafio que [Rui Valério] tem pela frente: há longos anos que a diocese permanece perdida, sem liderança e sem estratégia, pelo que a tarefa que tem pela frente é enorme”.

“Os católicos precisam de se repensar como Igreja e refletir seriamente sobre qual o seu papel na sociedade, e espera-se muito que se mobilizem nesse sentido”, afirmou. “O novo patriarca terá aqui um papel relevante, ou não, dependerá dele mesmo e de quem ele convocar como colaboradores e conselheiros: gente nova e fresca que pensa para além da sacristia e dos rituais, ou a própria sacristia. No fundo, tudo depende disto”, acrescentou Nuno Caiado.

Já quanto ao bispo escolhido para suceder a Manuel Clemente, o subscritor considerou que “parece obedecer a um critério relevante: não ter anticorpos na comunidade eclesial, ao invés do que sucedia com outros nomes; por outro lado, trata-se de alguém pouco conhecido na diocese. Esta conjugação pode favorecê-lo na sua ação pastoral, dar-lhe espaço de manobra, em especial no rescaldo da Jornada Mundial da Juventude”, que decorreu na semana passada, em Lisboa.

“Diria também que a sua mensagem inicial é de esperança, parece abrir caminho para o diálogo.”

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça até artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.