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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Sebastião Bugalho: "Não posso assumir que não quero ser primeiro-ministro"

Estreante em Estrasburgo, o porta-voz da delegação do PSD avisa que, se Von der Leyen falhar eleição, Costa terá problema de legitimidade. Diz que no país "ninguém quer eleições" e deseja OE aprovado.

Sebastião Bugalho entrou pela primeira vez em Estrasburgo esta terça-feira e, apesar de querer manter o mandato até ao fim, assume que não pode dizer que não quer ser um dia primeiro-ministro. Em entrevista ao Observador, no programa Vichyssoise, o porta-voz dos eurodeputados do PSD no Parlamento Europeu diz que se Von der Leyen não for eleita, Costa não vai ter a mesma legitimidade.

O eurodeputado do PSD pede ainda para António Costa colocar “bom senso” no seu apoiante Viktor Orbán e garante que o PPE vai manter o “cordão sanitário” para o Patriotas pela Europa, grupo do qual faz parte o Chega. Para tudo. Sobre a situação política atual, espera que o Orçamento do Estado passe e diz que “ninguém quer eleições”.

No fim da entrevista com o Observador, Sebastião Bugalho ainda foi até à porta da sala N1.4 para dar um abraço a António Costa, onde este se ia reunir com os eurodeputados socialistas europeus, mas ao fim de três minutos desistiu para ir participar nas votações no hemiciclo. Costa só apareceria 20 minutos depois.

[Ouça aqui o programa Vichyssoise na íntegra:]

As estreias de Temido e Bugalho em Estrasburgo

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“Se Von der Leyen não for eleita, Costa pode sentir que não tem a mesma legitimidade”

O resultado de Roberta Metsola, que teve 80% dos votos na eleição para a presidência do Parlamento Europeu, levam-no a estar otimista em relação à eleição de Ursula von der Leyen na quinta-feira?
Necessariamente que sim. As grandes famílias europeias mostraram que são capazes de consenso quando há figuras que são suficientemente corajosas para enfrentar momentos difíceis. E se Roberta Metsola o fez, nomeadamente com o escândalo de corrupção que assolou o Parlamento Europeu durante o seu mandato, e que nem sequer era da sua família política, apesar dela ter tido o bom senso de o assumir enquanto um desafio para a instituição como um todo, naturalmente que poderemos fazer também esse paralelo com o mandato de Ursula von der Leyen enquanto presidente da Comissão Europeia. Que também enfrentou desafios, certamente de ordem diferente, mais macro, mais ligados e conectados à vida do quotidiano de cada cidadão europeu, mas igualmente consensuais entre as famílias políticas europeias mais representadas nas últimas eleições, o que aliás justifica o acordo tripartido entre essas três famílias. E onde a recandidatura de Ursula Von der Leyen está presumida.

Se Ursula Von der Leyen não for eleita, todo o acordo fica em causa? Esse risco está a ser assumido aqui em Estrasburgo.
Não consigo partir do princípio que Ursula von der Leyen não vá ser eleita. Seria uma demonstração de fragilidade e de fraqueza da parte da União Europeia como um todo, com consequências terríveis na área internacional, face à crise que estamos a viver desde a invasão da Ucrânia por parte da Federação Russa. Portanto, não concebo esse cenário. Sei que há vários ‘ses’ e várias suposições que vão sendo sussurradas nestes corredores. Também ouço os mesmos murmúrios que vocês, alguns até mais altos. Mas não me passa pela cabeça que isso possa acontecer. Tenho a máxima crença que a Ursula von der Leyen vá ser reeleita. Caso contrário, a Europa estaria a entregar de bandeja uma vitória política e simbólica a Vladimir Putin e a todos aqueles que não são democratas.

"Se Von der Leyen não for eleita, a Europa estará a entregar de bandeja uma vitória política e simbólica a Vladimir Putin e a todos aqueles que não são democratas."

Há pouco dizia aos jornalistas, depois da eleição de Metsola, que se Von der Leyen não fosse eleita presidente da Comissão Europeia, António Costa enfrentaria “um cenário politicamente complexo”. O nome do Presidente do Conselho Europeu está escolhido, é público, mas as famílias políticas poderiam recuar?
Do ponto de vista constitucional ou formal, António Costa está eleito. Saiu a deliberação do Conselho Europeu com os votos dos chefes de Estado e de Governo, inclusivamente os da família política do PPE.

Teria legitimidade para recuar esses líderes políticos?
Atenção que eu disse que António Costa é que estaria numa posição política complexa, não quem votou nele. Porque quem votou nele cumpriu com a sua palavra. Agora, António Costa poderia sentir que não carregava a mesma legitimidade porque um acordo a três em que só é cumprida uma parte, naturalmente é um acordo fragilizado.

Mas ele próprio poderia preferir repetir o processo?
Não lhe perguntei isso e não creio que alguém lhe tenha perguntado isso. Como lhes digo, tenho toda a esperança e expectativa que isso não venha a acontecer e que António Costa possa desempenhar as funções de presidente do Conselho. Tenho toda a esperança e expectativa que vá desempenhá-las com muito mais aptidão e sucesso do que teve como primeiro-ministro. E que Ursula von der Leyen possa prosseguir em funções depois de um mandato que foi muito desafiante, mas que também teve sucessos que todos os europeus reconhecem, nomeadamente os portugueses. Dez anos depois da troika, em que havia claramente um sentimento de alguma hostilidade entre o povo alemão e o povo português, eu vi à minha frente, numa arruada, famílias portuguesas a furarem um cordão de segurança para estarem ao lado de uma ex-ministra da Angela Merkel. Isso não só prova a resiliência do europeísmo português, como também prova a popularidade do Ursula von der Leyen nos sítios mais improváveis e que têm as memórias menos felizes do que é ter uma liderança alemã que felizmente aprendeu com os erros.

Não sei se para ela será uma memória feliz essa da cidade de Porto.
A Ursula von der Leyen certamente ficou com uma memória feliz da cidade de Porto.

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“Von der Leyen conversou com os conservadores e reformistas, não negociou com eles”

Voltando a Roberta Metsola. Disse há pouco que Ursula von der Leyen até preferia não conseguir os mesmos 90% para não contar com os votos da extrema-direita. Que significado é que tem esta votação dessas famílias políticas em Metsola?
Bem, compreendo que a extrema-direita não tenha querido votar na candidata da esquerda unida.

Podia não ter votado em nenhuma.
O meu ponto é: foi-me colocada uma pergunta pelos jornalistas que foi se que Ursula von der Leyen consegue ter os mesmos 90% que Roberta Metsola conseguiu no Parlamento Europeu. É bastante mais difícil, por várias ordens de razão, até porque os desafios que enfrentaram foram diferentes. Mas tenho a certeza que a Ursula van der Leyen quer é ser reeleita. Não há uma questão de percentagem nem de orgulho.

Mas o significado de ter os votos da direita radical seria diferente?
Como sabe, o voto é secreto.

Mas percebe-se pela percentagem de votos.
A Ursula von der Leyen, e sou testemunha disso, privilegiou as reuniões com as famílias europeias fundadoras, com a sua, o Partido Popular Europeu, com os socialistas, com os quais reuniu em primeira mão, e com os liberais. Portanto, com o ECR, por exemplo, nada foi negociado. Houve uma reunião em que a Ursula Von der Leyen apresentou a sua candidatura, não fez cedências. Há uma grande diferença entre ter um diálogo e uma negociação. Ela negociou com os socialistas e negociou com os liberais. Conversou com os conservadores e reformistas, não negociou com eles. São coisas diferentes e vale a pena deixar ao claro aos nossos ouvintes.

O eurodeputado do Chega disse que o voto a favor do Patriotas pela Europa foi decidido após uma reunião entre Jordan Bardella e Roberta Metsola e que um dos compromissos era mesmo ajudar a desbloquear o cordão sanitário com a extrema-direita. Tem conhecimento de algum acordo entre Metsola e Bardella neste sentido?
Não. A política que está decidida dentro do Grupo PPE é que o cordão sanitário é o Patriotas para a Europa para manter. Esse acordo, se foi feito, foi feita à margem do Grupo PPE. A política que foi definida pelo presidente do Partido Popular Europeu e que será mantida – seja do ponto de vista de ligações, seja do ponto de vista de comissões – é que não haverá interferência legislativa desse grupo que se torne relevante para o dia-a-dia das instituições europeias.

"Cordão sanitário ao Patriotas pela Europa é para manter"

O ECR está fora desse cordão sanitário?
O cordão sanitário que é a política definida pela liderança atual do Partido Popular Europeu é que não há qualquer tipo de inclusão política ou definidora de políticas do novo grupo Patriotas pela Europa, onde está o partido Chega.

Então não há problema em Ursula von der Leyen conversar com Giorgia Meloni e com o ECR, porque não está dentro desse cordão sanitário.
Não haveria nenhum problema. Não estou a reportar suposições, estou a reportar aquilo que aconteceu. E o que aconteceu foi que houve negociações para a recandidatura de Ursula von der Leyen com as famílias que compuseram o acordo das três principais famílias políticas europeias, e no caso do ECR houve uma reunião onde houve diálogo sem negociação. É essa a informação que eu tenho, foi essa a informação que me foi dada enquanto apoiante e porta-voz da delegação portuguesa da AD no Parlamento Europeu e eu não tenho razões para desconfiar dela.

E a negociação que foi feita ainda antes das europeias diretamente entre Ursula von der Leyen e Georgia Meloni não entra para estas contas?
Como sabe, eu antes das eleições europeias não tinha estas funções.

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“Acho que ninguém quer eleições”

Aqui no Parlamento Europeu os consensos entre PS e PSD são muito comuns. Era bom para o país que PS e PSD se entendessem no Orçamento do Estado?
Sobre o Orçamento do Estado há governo, governantes, ministros e líderes da oposição para responder a essa pergunta. Eu o máximo que posso dizer é que acho que os portugueses valorizam a estabilidade política como ativo e que querem que esse orçamento passe. É a minha opinião.

E deve passar com o apoio do PS?
Mas sobre os consensos entre PS e PSD, se me permite só ficar aqui na Europa mais um bocadinho, depois não me importa nada de ir ao terreno nacional. Hoje há uma notícia dentro do discurso de vitória da Roberta Metsola, que foi o facto de termos uma grande protagonista do Partido Popular Europeu, que é a própria Metsola, que foi hoje eleita com a maior votação de sempre para a presidência do Parlamento Europeu, a dizer, finalmente, tem que haver uma solução para a habitação e essa solução tem que ser europeia. dizer, finalmente, tem que haver uma solução para a habitação e essa solução tem que ser europeia. Como sabem, dentro da família do PPE, esse tema não é nada unânime. A habitação como temática europeia e a procura de soluções europeias para a crise habitacional na Europa, é um tema que dentro da família do PPE, portanto da nossa, da minha família política, tem opiniões muito díspares. Mas no caso da Aliança Democrática, a habitação foi protagonista. Portanto, o facto de ver uma presidente do Parlamento Europeu tão legitimada por toda a câmara a promover a habitação como tema para os próximos cinco anos, e de saber que Marta Temido se comprometeu durante a campanha eleitoral a votar ao nosso lado caso nós conseguíssemos avançar com a elevação do direito à habitação na Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, leva-me a dar-lhe razão: sim, dizer que é possível que a consciência entre o PS e o PSD no que toca a temas fundamentais para a vida dos portugueses aconteça neste Parlamento e não só neste Parlamento.

O porta-voz da delegação portuguesa do PSD no Parlamento Europeu certamente quer ajudar, através da legislação, a melhorar a habitação no país e a que algumas reformas sejam feitas.
O consenso neste caso é em promover a habitação como prioridade dentro da discussão europeia. Não é um consenso para as soluções. Nas soluções certamente podemos discordar.

E relativamente ao Orçamento do Estado, é ou não desejável que também aí o PS e o PSD se entendam?
Tenho uma opinião como cidadão, sou independente, portanto não vou falar em nome da delegação sobre esse assunto, até porque a delegação tem um presidente de que é vice-presidente do PSD e o PSD tem uma posição oficial sobre isso. Naturalmente espero que o Governo continue em funções e apresente um Orçamento que seja capaz de dialogar com os partidos democráticos e europeístas, que sirva aos portugueses e que o país não se precipite numa crise política. Acho que ninguém quer eleições.

Aníbal Cavaco Silva dizia que era possível o Orçamento não ser aprovado e o Governo continuar em funções. Mas não era dramático?
Dramático era o Orçamento não passar e o país precipitar-se numa crise política. Mas como lhe digo, fui eleito deputado europeu, se quisesse fazer política nacional julgo que teria tido essa oportunidade, digo com alguma falta de humildade, mas é assim que as coisas são. Escolhi estar aqui, ou fui escolhido para estar aqui, os portugueses confiaram em mim, na minha equipa e no meu programa para estarmos aqui, tencionamos honrar esse programa, foi por isso que também chamei a atenção da questão da habitação. Mas que gostava de falar de algo que está a acontecer neste momento: António Costa acaba de chegar ao Parlamento Europeu e acho que o ex-primeiro-ministro tem uma responsabilidade, e neste caso não é uma responsabilidade só enquanto democrata e português, tem uma responsabilidade enquanto futuro presidente do Conselho Europeu. Se há alguém que tem capacidade de fazer pontes, e que teve em Portugal capacidade de fazer pontes, é António Costa. Se há alguém que aqui na Europa tem essas relações muito diversas e plurais, é António Costa. Portanto, espero que António Costa, como futuro presidente do Conselho Europeu, seja capaz de imprimir algum bom senso a alguém que precisa necessariamente desse bom senso, que é Viktor Orbán, que está a transformar a presidência do Conselho da União Europeia da Hungria num espetáculo de horror, em que basicamente utiliza essa prerrogativa de estar a presidir o Conselho da União Europeia para promover as alianças comerciais, os acordos comerciais que visam apenas o interesse do seu próprio país e para se sentar à mesa com o senhor Putin sem estar mandatado para isso. Espero que António Costa, que agora tem esta pesada responsabilidade de ser o futuro presidente do Conselho Europeu, que neste momento já está eleito para tal, seja capaz de imprimir o bom senso democrata e europeísta no qual os portugueses tanto se identificam ao ponto de terem dado uma soma de votos tão grande ao PS e ao PSD nas últimas europeias.

“Não faria sentido tornar-me militante como Jesus transformou água em vinho”

Luís Montenegro voltou a dizer no Conselho Nacional que Sebastião Bugalho ainda não é militante do PSD. O agora líder da JSD, semanas antes de ser eleito, desafiou-o na Vichyssoise a filiar-se. Vai filiar-se ou não?
Na JSD, julgo que não.

No PSD.
Confesso que, tendo sido eleito como independente há tão pouco tempo, não faria grande sentido, depois de os portugueses elegerem um independente, esse independente transformar-se num militante, como Jesus Cristo nas Bodas de Caná transformou a água em vinho. Há tempo para fazer outros milagres.

Consegue dizer: “Eu não quero ser primeiro-ministro um dia”?
Não, não posso assumir isso. Mas só para ficar claro que acho que neste momento estamos bem servidos.

"Espero que António Costa, como futuro presidente do Conselho Europeu, seja capaz de imprimir algum bom senso a Viktor Orbán"

“Preferia renunciar ao mandato do que negociar com Bardella ou Montero”

Vamos passar ao segmento do Carne ou Peixe. O Presidente da República, quando inicia um mandato, costuma vir discursar ao Parlamento Europeu em Estrasburgo. Em 2026, preferia aplaudir no hemiciclo Marques Mendes ou Paulo Portas?
Aplaudiria os dois com igual entusiasmo.

Foi um político na rua por pouco tempo durante a campanha. Se tivesse de escolher um estilo para seguir numa próxima campanha, preferia o de Cavaco Silva ou o de Marcelo Rebelo de Sousa?
Preferia o estilo que a AD conseguiu nestas europeias.

Tem de negociar um diploma aqui no Parlamento Europeu. Preferia fazê-lo com Jordan Bardella ou com Irene Montero?
Preferia renunciar ao mandato.

Para comer uma gaufre em Bruxelas, preferia convidar Tiago Moreira de Sá ou João Cotrim Figueiredo?
João Cotrim de Figueiredo, apesar de gostar muito de Tiago Moreira de Sá.

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