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Na infância, Alexander Soros passava grande parte do seu tempo com o irmão mais novo e a ama Ping

Bloomberg via Getty Images

Na infância, Alexander Soros passava grande parte do seu tempo com o irmão mais novo e a ama Ping

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Sentiu-se "indesejado" pelo pai e agora é o seu sucessor. Quem é Alexander, o homem que passou a controlar o império Soros?

O filantropo George Soros passou o controlo do seu império financeiro para o segundo filho mais novo. Aos 37 anos, Alexander diz ser mais "político" do que o pai. Os dois nem sempre foram próximos.

De criança introvertida a uma vida social agitada, marcada por festas nos Hamptons e em Cannes. Fã de hip-hop e adepto da equipa de futebol americano New York Jets, Alexander não foi, durante vários anos, equacionado para suceder ao pai, o bilionário e filantropo George Soros. Porém, acabou por ser o eleito para ficar encarregue da gestão do seu império.

Existiam dúvidas de que George Soros, de 92 anos, fosse ceder o controlo do seu legado financeiro de 25 mil milhões de dólares e da organização Open Society Foundations (OSF) — que financia variados projetos políticos e da sociedade civil — enquanto estivesse vivo. Há alguns anos, em entrevista, o antigo acionista da Tesla chegou a dizer que por uma “questão de princípio” não equacionava que fosse um dos seus filhos a liderar a fortuna. Mudou de ideias e tomou a decisão de passar o testemunho ao segundo mais novo de cinco filhos.

Ao The Wall Street Journal, o ‘chefe’ da família Soros explicou que Alexander “mereceu” ser selecionado para a posição que passou a ocupar. Aos 37 anos, Alex, como é mais conhecido, tem como principais interesses “futebol, filosofia e política”. Os amigos evitam telefonar-lhe em dias de jogo, uma vez que sabem que, se não estiver a viajar em trabalho, estará colado à NFL RedZone, uma emissão de jogos de futebol americano em que é possível seguir os momentos mais decisivos de várias partidas em simultâneo.

Controlo de legado financeiro de Soros já tem um destino: o filho Alexandre Soros

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“Quando o que estás a comer é vichyssoise, queres comer Big Macs como toda a gente”

Do primeiro casamento de George Soros nasceram três filhos: Robert, Andrea e Jonathan. A união com Annaliese Witschak começou em 1960 e terminou em 1983, ano em que se divorciou e voltou a casar. Com o segundo matrimónio, com a historiadora Susan Weber, chegaram mais dois filhos: Alexander e Gregory, o mais novo dos cinco.

Enquanto os pais trabalhavam, Alexander, que era uma criança tímida, passava grande parte do seu tempo com o irmão mais novo e com Ping, a sua ama chinesa. Cresceu com consciência da riqueza da família e de que vivia num meio privilegiado. Por isso, detalha o The New York Times, por vezes dava por si a sonhar viver num sítio onde pudesse jogar futebol na rua com outros rapazes. “Quando és criança, tudo o que queres é ser normal […] Quando o que estás a comer é vichyssoise, queres comer Big Macs como toda a gente”, afirmou.

Até ir para a faculdade, estudou na King Low Heywood Thomas, uma escola particular em Stamford, Connecticut, que recebe alunos da pré-primária até ao 12.º ano. Apesar de, principalmente na adolescência, precisar da proteção de guarda-costas quando viajava para o estrangeiro — porque o apelido que carrega atraía atenção — Alexander passava despercebido na escola, existindo até quem não acreditasse que era filho de um multimilionário.

Uma colega de turma, que falou em anonimato com o New York Post em 2016, disse que Alex não era “nada vistoso”: conduzia um SUV da Lexus em segunda mão e não utilizava roupas de marca. Quando não estava na escola, principalmente durante as férias de verão, trabalhava na sala de expedição do hedge fund (fundo de investimento de alto risco) de Manhattan fundado pelo seu pai, com quem nem sempre teve uma relação próxima.

“Senti-me indesejado. Ele tinha muita dificuldade em comunicar amor”

Quando os dois filhos mais novos estavam a crescer, George era uma pessoa “muito ocupada”. A confissão foi feita por Bill Zabel, padrinho de Alexander e advogado da família, que descreve o filantropo como “o tipo de pai que consegue interagir muito melhor com um rapaz de 15 anos do que com um de dois”.

Desde cedo, George Soros encorajou os filhos a tomarem as rédeas das próprias vidas e a serem independentes, uma mensagem que levou Alexander a ficar “muito irritado”. “Senti-me indesejado. Ele tinha muita dificuldade em comunicar amor e nunca estava realmente por perto”, afirmou, em 2012, ao The New York Times. Quando estava presente estava, sempre, no entanto, a pensar “nos mercados o tempo todo”.

Mas existiam algumas exceções. Por vezes, o pai convidava-o a assistir a conversas que tinha com personalidades conhecidas, como a antiga primeira-dama norte-americana Hillary Clinton, o cantor Bono ou Nelson Mandela. É do relato das experiências do antigo líder sul-africano na prisão, que ouviu quando estava no sexto ano, que se lembra particularmente.

Foi apenas aos 18 anos, após a mãe pedir o divórcio, que se começou a aproximar do pai. Na altura, em 2005, era caloiro na Universidade de Nova Iorque, onde estudava história. “De certa forma, [o pai] levou a paternidade mais a sério depois do divórcio”, confidenciou Alexander ao The Wall Street Journal. Como não era grande apreciador de conversas sobre finanças e não conseguia convencer o pai a ver futebol americano, passavam horas a falar sobre política e a debater Karl Marx.

“Dizia que eu tinha uma mente inquiridora”, recordou, acrescentando que aprendeu latim com o pai, que se casou pela terceira vez em 2013. Dez anos depois, George Soros e Tamiko Bolton (que têm uma diferença de idades de 41 anos) continuam juntos.

Apesar de estar mais próximo do pai, na universidade tentava lutar contra as expectativas que os outros depositavam em si por causa do seu apelido. Adam Braun, o seu antigo colega de quarto, relembra que Alexander queria ser conhecido como um “intelectual” e não como o “filho do financeiro”. Nessa altura, era uma pessoa fechada, que detestava “conversa fiada” e que abandonava as festas mais cedo para ir para casa e voltar à leitura de Baudrillard, sociólogo e filósofo francês.

“Licenciou-se em maio, mas certamente não passou o verão à procura de um emprego”

Quando terminou o curso, em 2008, começou a socializar mais. E essa ‘nova vida’ não passou despercebida à imprensa. “Alexander Soros parece estar a ter um ótimo verão! O filho de 22 anos de George Soros (e da sua segunda mulher, Susan), Alex, licenciou-se em maio, mas certamente não passou o verão à procura de um emprego”.

Foi junto a estas frases que o Gawker, um blog de Nova Iorque especializado em notícias sobre figuras públicas norte-americanas, publicou fotografias de Alexander “na casa do pai em Southampton”. As imagens, que já não se encontram disponíveis, mostrariam o jovem a beber enquanto navegava no barco da família e a “curtir com raparigas”.

Só quatro anos depois é que falou sobre o sucedido, confidenciado o que a mãe lhe dissera: “Bem-vindo à vida de um Soros”. Sentiu-se “constrangido” e como se se tivesse tornado “numa caricatura”. Para mudar a forma como o público o via, perdeu peso, pediu ajuda ao fotógrafo Patrick McMullan para saber como “posar para fotografias” e dedicou-se mais à filantropia.

Em 2012 criou a Fundação Alexander Soros, que se dedica à promoção da justiça social e dos direitos humanos. À época, entre os beneficiários da fundação, estava a Aliança Nacional dos Trabalhadores Domésticos, que representa os direitos de milhões de empregadas domésticas nos Estados Unidos.

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Vestido com um fato branco Yves Saint Laurent, Alexander foi considerado a estrela da noite da gala da Global Witness

Bloomberg via Getty Images

O The New York Times revela que, nesse mesmo ano, voltou à ribalta e às colunas de fofocas, mas, desta vez, devido à sua estreia oficial no circuito social de Nova Iorque. Foi anfitrião de uma gala da Global Witness, organização sem fins lucrativos britânica conhecida por expor o comércio de “diamantes de sangue” de África e da qual George Soros é um dos principais financiadores. Vestido com um fato branco da marca Yves Saint Laurent, foi considerado a estrela da noite, que contou com a presença do seu pai e de atores como Jeffrey Wright e Alex Karpovsky.

Só em 2016 o nome de Alexander voltou a ser associado a um estilo de vida composto por festas repletas de modelos e jogadores da NBA. O New York Post (tablóide conservador) deu conta de uma dessas festas, nos Hamptons, onde os convidados se divertiram numa piscina cheia de patinhos de borracha e contaram com um chef privado para lhes cozinhar lagosta.

Dos Hamptons a Cannes, as festas em que participava chamavam a atenção, bem como a companhia. Chegou a ser fotografado com várias celebridades como, por exemplo, o cantor Usher e a modelo Chanel Iman, com quem terá namorado.

“Esperava que Jonathan fosse o escolhido”. Alex, um sucessor improvável

Quando ainda estava na faculdade começou a trabalhar intermitentemente na Open Society Foundations (OSF). Em 2011 passou a integrar o conselho de administração da fundação, algo que também o aproximou do pai. Nessa altura, porém, passava despercebido e nas reuniões “quase não falava”, recordou Aryeh Neier, que foi presidente da OSF de 1993 a 2012.

Após terminar o curso, começou a tirar um doutoramento na Universidade da Califórnia, em Berkeley, com a tese que defendeu a intitular-se “Jewish Dionysus: Heine, Nietzsche and the Politics of Literature” (“Dionísio judeu: Heine [poeta alemão], Nietzsche [filósofo] e a política de literatura”, em tradução livre)”. Nessa altura, os mais próximos pensavam que o sucessor de George Soros seria o terceiro filho: o advogado Jonathan.

Eu esperava que Jonathan fosse o escolhido”, afirmou Aryeh Neier em declarações ao The Wall Street Journal. E o próprio pensava o mesmo, embora “sempre” tivesse sabido que o pai “poderia mudar de ideias”.

Descrito como alto e atlético, Jonathan jogava ténis com o pai, trabalhou durante alguns anos na Open Society Foundations e ajudou a estabilizar o hedge fund de Soros quando este atravessou um período complicado. Foi uma discussão sobre duas opções de contratação e as diferenças que mantinham — o mais velho “impulsivo”, o mais novo “analítico” — que o terão afastado da linha de sucessão.

A revista Fortune indica que não se sabe ao certo o motivo pelo qual os outros três filhos de George Soros — Robert, Andrea e Gregory — não foram equacionados para assumir o controlo do império. O mais velho fundou uma empresa de gestão de património em 2017, tendo passado por um “divórcio complicado” três anos antes. A única filha do filantropo é membro da direção da Open Society Foundations. O mais novo é escultor.

“Quando tudo o que estás a comer é vichyssoise, queres comer Big Macs como toda a gente."
Alexander Soros

Devido às divergências com o pai, Jonathan saiu da empresa em 2011. Quatro anos depois, Alexander já tinha total confiança do progenitor e trabalhava com os seus conselheiros de longa data para melhorar a sua oratória. Até que se tornou o braço-direito de George Soros, no momento em que levou a OSF a aumentar investimentos em causas como a proteção da vida indígena nas Américas.

Em dezembro do ano passado, foi eleito chairman da Open Society Foundations, substituindo o pai na organização que destina cerca de 1,5 mil milhões de dólares por ano a grupos que apoiam os direitos humanos em todo o mundo e que ajudam a construir democracias. Universidades também estão entre as organizações que recebem dinheiro da fundação. A maior parte dos seus 25 mil milhões de dólares será direcionada para a OSF nos próximos anos, de acordo com o que disse um porta-voz da família ao The Wall Street Journal.

Um sucessor “mais político” do que o pai

Alexander Soros autodenomina-se um pensador de centro-esquerda e planeia continuar a utilizar os recursos da família para apoiar políticos norte-americanos que partilhem os seus ideais. Na primeira entrevista que deu após ser selecionado para suceder ao pai afirmou que os dois pensam “da mesma forma”, sendo, entre outras coisas, defensores do direito ao aborto e da igualdade de género. Ainda assim, Alex garante ser “mais político” do que o pai.

O The Wall Street Journal escreve que os Soros têm cerca de 125 milhões de dólares, do total de 25 mil milhões, reservados para um “super PAC” (political action committee) promovido por Soros, denominado Democracy PAC, que tem apoiado campanhas eleitorais de procuradores e promotores legais que procuram reduzir o preconceito racial no sistema judicial norte-americano.

Alexander é o presidente deste “super PAC” e recentemente disse estar preocupado com a possibilidade de Donald Trump regressar à Casa Branca. Apesar de admitir que gostava de “tirar o dinheiro da política”, afirma que isso não será possível enquanto “o outro lado [partidos de direita]” continuar a fazê-lo.

Ao longo dos últimos meses encontrou-se com funcionários do governo Biden e chefes de Estado, como Lula da Silva, Presidente do Brasil, ou Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá.

Desde outubro de 2021, ano em que Biden tomou posse como Presidente norte-americano, visitou a Casa Branca pelo menos 18 vezes para reuniões com altos funcionários do governo, segundo os registos da Casa Branca, consultados pelo Observador. A Fox News noticiou, citando o Post, que Alexander esteve na residência oficial do Presidente dos Estados Unidos no mesmo dia em que Biden ofereceu um jantar ao Presidente francês, Emmanuel Macron, e a sua mulher, Brigitte. Terá estado nesse mesmo jantar, uma vez que os registos da Casa Branca indicam a saída às 23h59.

Fonte: Registos de presenças na Casa Branca

Desde o ano passado um dos seus principais motivo de interesse é o que se passa na guerra na Ucrânia. Ao The Washington Post, Mark Leonard, diretor do Conselho Europeu de Relações Externas, think tank que recebe financiamento da OSF, afirmou que “desde o início do conflito que Alexander revela um conhecimento extraordinário” acerca do que se está a passar em território ucraniano. Além disso, acrescentou, o filho de George Soros manteve “contacto diário com a Fundação Soros na Ucrânia, falando com diversos governos sobre as suas políticas” em relação ao país invadido pela Rússia.

O jornal norte-americano explica que a Open Society Foundations se descreve como o maior financiador independente da sociedade civil ucraniana e que, desde fevereiro do ano passado, quando começou a guerra, apoiou a retirada de civis, entregou material médico de emergência e apoiou o trabalho dos jornalistas e a investigação de crimes de guerra.

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