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epa10787122 Portugal's President Marcelo Rebelo de Sousa (2-L), accompanied by the Prime Minister Antonio Costa (2-R), and by Lisbon Mayor Carlos Moedas (L), attend the Holy Mass led by Pope Francis on the last day of World Youth Day (WYD) at Parque Tejo in Lisbon, Portugal, 06 August 2023. The Pontiff is in Portugal on the occasion of World Youth Day (WYD), one of the main events of the Church that gathers the Pope with youngsters from around the world.  EPA/ANTONIO COTRIM / POOL
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PS acredita que destaque de Moedas pode agitar tensões internas no PSD

ANTONIO COTRIM / POOL/EPA

PS acredita que destaque de Moedas pode agitar tensões internas no PSD

ANTONIO COTRIM / POOL/EPA

Socialistas de olho na ameaça Moedas, mas sacodem pressão: “É má moeda para Montenegro”

Socialistas reconhecem visibilidade e destaque de Carlos Moedas após a JMJ e acreditam que luta autárquica será feroz. Mas empurram ameaça para Montenegro: "É má moeda para ele".

Correu todos os grandes eventos, sentou-se nas primeiras filas, passeou ao lado do Presidente da República e recebeu elogios em catadupa. O destaque que Carlos Moedas ganhou à boleia da Jornada Mundial da Juventude é reconhecido no PS, onde se constata que o autarca de Lisboa “apareceu loucamente” durante as últimas semanas e até que é um adversário especialmente perigoso para um partido que ambiciona reconquistar a principal câmara do país. Mesmo assim, os socialistas tentam empurrar a pressão para Luís Montenegro: é dentro do próprio PSD que o protagonismo crescente de Moedas deverá causar maior incómodo, atira o PS.

No rescaldo do mega-evento que trouxe o Papa a Lisboa, não há grandes dúvidas no PS: com mais ou menos mérito, com mais ou menos trabalho feito “pela cidade”, Carlos Moedas — que, como noticiava o Expresso, montou uma espécie de task force comunicacional especializada para tratar do assunto — apareceu nas televisões e nos jornais como nunca, esforçando-se por se apresentar como a cara principal da jornada.

“Moedas fez um enorme esforço para se colar a Marcelo. A ministra [Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes] apareceu mesmo muito pouco”, reconhece um dirigente do PS em Lisboa, apontando a ironia de ser um político como Moedas — que publicamente dizia há uns anos ser “um agnóstico convicto” — a destacar-se num evento com esta dimensão religiosa. Com fé ou não, o destaque é inegável, ouve-se entre dirigentes socialistas: “É indesmentível que saiu reforçado da Jornada”, aponta um, “não pelo que tenha feito mas porque apareceu”. “Teve muita visibilidade, ainda que haja uma diferença entre isso e fazer cidade”, aponta outro.

Admitida a avalanche mediática, que “reforçou”, pelo menos em termos de destaque público, o homem que roubou a autarquia de Lisboa a Fernando Medina em 2021, a questão passa agora por perceber o que poderá Moedas fazer com isso. De uma coisa ninguém tem dúvidas: Moedas será o adversário mais perigoso para o PS em vários planos — a começar pela Câmara e, possivelmente, a acabar no país. “É evidente que é um líder com muito mais força, credibilidade e afabilidade do que Luís Montenegro”, aponta um dirigente lisboeta, admitindo que será preciso que o PS coloque “mais atenção” na oposição que lhe faz em Lisboa. “Temos necessidade de o irmos mantendo debaixo de olho”, admite.

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A corrida autárquica de 2025 será especialmente importante para o PS: será essa a primeira oportunidade que terá de tentar recuperar a autarquia após o desaire de 2021, e os planos para a pessoa que encabeçará esse desafio já começam a ser traçados tendo em conta o perfil do próprio Moedas. “Claro que ele seria o nome mais difícil [de derrotar]”, assume um dos dirigentes socialistas já citados, tendo em conta que derrotar um incumbente também costuma ser tarefa mais difícil (embora isso não se tenha aplicado no caso de Medina).

Caso se desse o outro cenário que está na cabeça do PS — ou seja, caso o PSD desse um trambolhão nas eleições europeias do próximo ano e Moedas decidisse abandonar a câmara para tentar uma corrida à liderança do partido — as opções seriam mais fáceis, acreditam socialistas que apostam numa substituição por uma vereadora como Filipa Roseta ou Joana Almeida. Mas esse cenário é altamente improvável — para não dizer impossível — neste momento.

O que não significa que não pudesse ser bem recebido, no PSD ou fora dele: este domingo, uma nova sondagem da Intercampus indicava que Moedas sai reforçado da experiência da JMJ, mesmo que isso não lhe garanta um passaporte direto para uma corrida à liderança do partido. E no confronto direto com Luís Montenegro, Carlos Moedas sai a ganhar: perante uma pergunta sobre quem daria um melhor presidente para o PSD, a maior fatia dos inquiridos escolheu o autarca de Lisboa em detrimento do atual líder social democrata.

O primeiro-ministro, António Costa (D), cumprimenta a demissionária ministra da Saúde, Marta Temido (E), durante a cerimónia de tomada de posse do novo ministro da Saúde, Manuel Pizarro (ausente da fotografia), no Palácio de Belém, em Lisboa, 10 de setembro de 2022. Manuel Pizarro substitui Marta Temido, de 48 anos, pediu a demissão do cargo de ministra da Saúde no passado dia 30 de agosto, mas António Costa pediu-lhe que se mantivesse em funções mais algumas semanas até à aprovação do diploma que regulamenta o SNS. RODRIGO ANTUNES/LUSA

Marta Temido, atual líder do PS-Lisboa, já disse que está disponível para o que o partido quiser. Falta saber a vontade de António Costa

RODRIGO ANTUNES/LUSA

Temido forte no eleitorado de Moedas

Por agora, os socialistas de Lisboa têm anotado os sinais que o presidente da Federação do PS, o muito acarinhado Duarte Cordeiro, tem dado de querer cumprir até ao fim o mandato como ministro do Ambiente, sem se envolver em lutas autárquicas. Por isso, continuam a olhar para Marta Temido como uma hipótese forte. Particularmente no combate com o próprio Moedas: a campanha seria feroz, com muitas hipóteses de ser uma corrida para perder, e Temido ofereceria pelo menos garantias de travar uma luta renhida, tendo em conta a “notoriedade imbatível” que tem e o “fenómeno” de popularidade que é nas ruas, constata-se no PS.

Por outro lado, o entendimento entre socialistas é que há uma aceitação grande da ex-ministra por parte do eleitorado mais velho, “agradecido” pelo trabalho no Governo durante os tempos de pandemia, e que isto poderia ajudar a combater um Moedas “visto como simpático” na mesma faixa de eleitorado. Ou seja, Temido poderia ser uma boa concorrente para converter eleitores mais velhos dispostos a darem o seu voto a Moedas — que vai avisando os seus mais próximos que Temido, caso seja mesmo candidata, não pode ser subvalorizada.

De qualquer forma, a linha oficial do partido é clara: Moedas não foi o único protagonista político da JMJ — Marcelo Rebelo de Sousa esteve na primeira linha e o Governo até estava “encarregue das pastas mais difíceis”, como a Saúde ou a Segurança, nota um dirigente socialista. E mesmo que tenha sido muito notado, isso não tem uma tradução imediata em termos de votos quando os eleitores forem às urnas, só daqui a dois anos, nem se transforma por si só num “seguro de vida” para o autarca.

Aliás, no PS fazem-se contas e comparações com o histórico da cidade e da organização de mega-eventos — e os seus efeitos para os autarcas ou governantes que então estavam em funções. Como se recorda nos corredores socialistas, a Expo98, que decorreu nos meses de verão desse ano, aconteceu já com o socialista João Soares em funções e não foi por isso que deixou de ser surpreendentemente, e contra as sondagens da altura, derrotado enquanto incumbente por Pedro Santana Lopes, em 2001.

Já no Euro 2004 a conta é mais apertada, uma vez que o evento começou exatamente no mesmo fim de semana em que aconteceram as eleições europeias — eleições que trariam uma derrota estrondosa do governo então liderado por Durão Barroso, que tinha estado ocupado com os preparativos do campeonato europeu. A euforia que se vivia no país, ainda assim, não contagiou os eleitores. Quanto à Câmara Municipal de Lisboa, um ano depois do Euro, Carmona Rodrigues conseguiria manter o poder na autarquia contra Manuel Maria Carrilho, do PS — Pedro Santana Lopes já tinha tido a sua experiência traumática como primeiro-ministro e governava então José Sócrates.

PS agita-se em Lisboa. Cordeiro de saída e Temido faz caminho para a Câmara

O fantasma do “Natal futuro” de Montenegro

O outro cenário que não tem a ver com o futuro de Moedas na autarquia, e que o PS alimenta, é o de que Moedas aproveite o embalo para entrar numa disputa direta com Luís Montenegro pela liderança do PSD. Entre altos dirigentes do PS, essa é a tese que o Observador mais ouviu: “Ele só é má moeda para Montenegro”, ironiza um elemento da cúpula socialista. “A afirmação do Moedas é mais um problema para o Montenegro do que para o PS”, atira outro, enquanto no Largo do Rato se regista que o presidente do PSD chamou os autarcas para se colocarem “atrás dele” — “ou seja, comprometidos com ele” — enquanto fazia declarações sobre a JMJ.

“Ele é o fantasma do Natal futuro de Montenegro”, graceja um dirigente socialista, lembrando que, embora António Costa também tenha futuros-sucessores em campo — Pedro Nuno Santos à cabeça –, a situação pode ser mais difícil de gerir para Luís Montenegro: no caso do PSD, não sendo Montenegro primeiro-ministro, é mais fácil colocar os dois protagonistas no mesmo plano e entrar em comparações (nas quais o PS acredita que Montenegro perde). “Quanto mais Moedas se afirma, mais nervos estimula no PSD”, atira outro socialista já citado.

A questão é que também há no PS faça contas de cabeça e acredite “apesar de não haver ninguém melhor” do que Moedas para assumir a liderança do PSD, “este não é o tempo dele”. Basta agarrar num calendário para perceber porquê: se Montenegro não ganhasse a um Governo cansado nas europeias, Moedas até poderia chegar-se à frente, mas abandonaria a autarquia num estado vulnerável e a meses das autárquicas de 2025, tornando a reconquista fácil para o PS. Além disso, desistiria da “desforra” e de confirmar o sucesso do seu próprio mandato, depois de ter vencido Medina por uma margem curta, numa das maiores surpresas da noite eleitoral.

Mas se saísse da Câmara de Lisboa apenas depois das eleições autárquicas de 2025, sairia ou derrotado, e portanto com pouco capital político para apresentar aos militantes do PSD, ou vitorioso, o que significa que meros meses depois teria obrigatoriamente de abandonar a autarquia que acabara de vencer para se instalar na sede da São Caetano à Lapa, uma vez que haverá eleições legislativas em 2026. Assim, seria presidente reeleito por poucos meses.

Carlos Moedas vai mantendo o tabu sobre o seu futuro político. A 7 de agosto, na ressaca da JMJ, o autarca garantia aos microfones do Observador não ter qualquer decisão tomada sobre o assunto. “Não quero ser o tipo de político que a meio do mandato já está está a pensar o que é que vai fazer no futuro, se se vai recandidatar… Não estamos na altura, não vou falar nada sobre isso”, começava por dizer, antes de concluir: “Estou apaixonado por ser presidente da Câmara de Lisboa. Adoro ser presidente da Câmara, adoro resolver os problemas às pessoas no imediato, tratar com as pessoas na rua… É isso que quero ser e quero fazer o mandato”.

Nesse mesmo artigo, o Observador explicava como era quase impossível o calendário de Moedas. Realisticamente, qualquer candidatura à liderança do partido teria de ficar fechada no segundo semestre de 2024; as eleições autárquicas acontecem sensivelmente um ano depois, em 2025, sendo que as legislativas acontecem em 2026.

Politicamente, seria muito difícil gerir os três objetivos e não seria razoável esperar que os eleitores de Lisboa revalidassem a confiança num candidato que, dali a um ano, estivesse a lutar pelo cargo de primeiro-ministro. A alternativa mais séria – deixar a Câmara de Lisboa no final do primeiro mandato para se dedicar ao PSD e às eleições legislativas – seria sempre uma aposta de alto risco, até porque se arriscava a perder ambas.

“É demasiado apertado“, concordam fontes socialistas. Não que fosse um cenário inédito. Aliás, se tivesse essa ambição, Moedas até poderia imitar os passos de António Costa, que em 2014, quando liderava a autarquia de Lisboa, deixou esse cargo para desafiar o então líder socialista, António José Seguro. Fê-lo precisamente à boleia dos resultados das eleições europeias desse ano, que considerou “poucochinhos”, apesar de terem dado a vitória ao PS.

Os militantes e simpatizantes do partido deram-lhe razão e elegeram-no como novo líder dos socialistas. Mas havia uma diferença substancial: Costa estava no terceiro e último mandato autárquico; Moedas, além da JMJ, ainda não deixou um legado na autarquia digno desse nome. Apesar de tudo, o que é certo é que o presidente da Câmara Municipal de Lisboa é cada vez mais visto como uma potencial ameaça — para o PS, que sonha com Lisboa, e para Montenegro, que sonha ter um passeio no parque até às próximas legislativas.

Ultrapassada a “prova” da JMJ, Moedas mantém tabu sobre futuro político

 
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