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Trabalhadores precisa-se. A restauração e a hotelaria não estão diferentes, os jovens é que já não são os mesmos

Apesar do desemprego, houve hotéis e restaurantes que tiveram de parar, mas porque não tinham trabalhadores suficientes. Muitos jovens já não querem voltar. Série "Trabalhadores precisa-se", parte 1.

Este Especial é a primeira parte de uma série de três artigos sobre o tema “Trabalhadores precisa-se”. Amanhã, leia a reportagem sobre a agricultura.

O ritmo tornou-se frenético. Filipa, 31 anos, ora trabalhava ora dormia. O tempo não dava para mais. Entrava às 10 da manhã num restaurante em Loures e saía às 15h30, para pouco depois voltar a entrar às 18h00 até à 1 da manhã. Sem fins de semana, por vezes só com uma folga durante a semana. “Andava constantemente cansada e emagreci muito, dormia poucas horas, não conseguia ter vida social. Naquelas três horas que tinha a meio do dia muitas vezes o que fazia era vir para casa e sentar-me no sofá ou dormir”, conta ao Observador, a partir da casa de campo do avô, com mais de 40 árvores de fruto, no Cartaxo, para onde foi mudar de vida, e de setor.

“Ninguém consegue permanecer muito tempo a trabalhar naquelas condições. Chegamos a um ponto em que não há vida, não há nada“, diz a jovem, para quem a “melhor amiga” era, na altura em que esteve na restauração, uma pomada fresca para as pernas cansadas. “Aos 22 anos comecei a pedir opinião, porque comecei a ficar com derrames nas pernas. O médico disse logo que isso tinha a ver com o facto de trabalhar mais de oito horas em pé”, refere.

Filipa, 31 anos

“Nós, jovens, estamos a ficar mais conscientes do que merecemos e como é que o nosso trabalho deve ser recompensado. As pessoas dão dinheiro para se formarem, merecem ser recompensadas da mesma maneira, com uma carga laboral que não seja excessiva.”

Nos últimos meses têm-se multiplicado as queixas do setor, que tende a ter uma força de trabalho jovem, quanto às dificuldade em encontrar quem nele queira trabalhar. O problema já vinha de trás, mas a pandemia parece tê-lo acelerado. O que Filipa, outros jovens e profissionais ligados ao setor acreditam é que a mentalidade está a mudar. O problema não é que os jovens não queiram trabalhar, mas têm outras prioridades. “Muitos já não querem um emprego que lhes dê muito dinheiro (no último emprego ganhava 950 euros, antes tinha chegado aos 1.300), mas que não lhes dê vida. Privilegiam outros aspetos, o ter tempo, poder trabalhar em casa”, indica Filipa, que há um mês trabalha remotamente para uma tecnológica financeira, com horários “certinhos” e um salário melhor face à última experiência na restauração.

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Patrícia, rececionista de 26 anos em Lisboa, concorda que os jovens estão diferentes, mas traça um cenário mais positivo do setor, neste caso da hotelaria. Para ela, não ter fins de semana não é um problema — até porque tem folgas fixas no final da semana — e os horários tendem a ser respeitados. Ainda assim, reconhece que nem tudo é perfeito. “Os jovens hoje em dia não se submetem a coisas como terem de ficar só com uma folga ou fazer horários mais tardios, ou abdicar dos fins de semana e das férias. Acredito que precisem de emprego, mas isso já não é o essencial, querem encontrar o emprego perfeito — embora ache que isso não existe. Mas têm muito mais poder de escolha, valorizam mais a qualidade de vida“, argumenta.

João (nome fictício), 26 anos, acrescenta que é a estabilidade que falta ao setor. Depois de uma experiência temporária como rececionista de um hotel no Algarve, no verão, quer dar o salto para o marketing, no qual tem formação e onde acredita ter mais estabilidade. Pelo meio, enquanto não encontra o emprego certo, chegou a ir a uma entrevista para rececionista noutro hotel, mas a proposta era inferior ao que ganhou no verão (cerca de 870 euros líquidos). “Neste momento estou à procura, aceito qualquer coisa, mas não é o que o que eu queria nem aquilo que eu sei que mereço.

Um verão de contrastes: os clientes aumentaram, os trabalhadores diminuíram. “O pessoal andou roto”

No cimo da Praia dos Três Castelos, a caminho da Rocha, descansa A Casa da Rocha, com uma vista panorâmica sobre um dos cartões de visita do Algarve. À hora de almoço, já tardia, tem três mesas ocupadas, melhor do que o habitual. Mas, lá fora, não passa ninguém. Talvez por ser inverno; talvez por ser segunda-feira, um dia tradicionalmente de menor movimento para a restauração, com muitos estabelecimentos a aproveitar para fechar; talvez porque alguns restaurantes não tenham conseguido voltar a abrir portas com o embate da pandemia. “Na minha praceta fecharam dois restaurantes que já não abrem”, diz José Mariano, proprietário da Casa da Rocha, restaurante fundado há 19 anos.

No caso de José, 2020 foi um ano de afundanço, de perdas a rondar os 70% a 80% face a 2019. Já 2021 trouxe, no verão, “recordes de 19 anos”. “Ali em baixo temos uma pequena rotunda, os clientes faziam fila e davam a volta. Eu nem ia ver a rua porque stressava, não tinha capacidade para servir tanta gente”, sobretudo portugueses, conta. Só que o ano foi de contrastes: se os clientes aumentavam, os trabalhadores disponíveis diminuíam. Se antes conseguia encontrar colaboradores mais experientes, esses deixaram de aparecer.

Reportagem sobre a falta de mão de obra no sétor da restauração e hotelaria: José Mariano, dono do restaurante "Casa da Rocha", em Portimão. Algarve, Portimão 13 de Dezembro de 2021 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

O verão de 2021 trouxe “recordes de 19 anos” a nível da faturação para José Mariana, dono d'A Casa da Rocha

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

José não podia ser esquisito: a alternativa foram os “miúdos” que vinham sem experiência. Se não fosse isso não tinha como funcionar. Conseguiu arranjar quatro, mas um não se adaptou e ficou com três de primeiro emprego, cada um a ganhar à volta de 900 euros líquidos mais duodécimos dos subsídios de férias e de Natal. Nem isso foi suficiente. “O pessoal andou roto, foi miseravelmente mau. Dormia 4, 5 horas por noite no verão todo, olhava para o meu pessoal a ver se conseguia motivá-los.”

Teria precisado de, pelo menos, mais quatro ou cinco trabalhadores e a escassez foi colmatada com horas extraordinárias — devidamente pagas, garante José, com horários não superiores a 10,11 horas por dia e sem prejudicar as folgas, o que obrigou a uma “ginástica”. O centro de emprego também não ajudou. “Eu até conheço algumas pessoas que estão inscritas, mas depois não aparece ninguém.”

A pandemia pode ter exacerbado um problema que vinha a crescer. Quem o diz é Francisco Figueiredo, da Federação dos Sindicatos de Agricultura, Alimentação, Bebidas, Hotelaria e Turismo de Portugal (FESAHT), que arrisca uma explicação: “Os trabalhadores foram maltratados durante a pandemia, despedidos à força, muitas vezes sem indemnização. Entretanto, encontraram outras funções fora da hotelaria e da restauração, não querem voltar“.

Foi, aliás, isso que aconteceu com Filipa: as restrições implementadas em janeiro de 2021, num dos picos da pandemia, fustigaram a faturação do restaurante onde trabalhava e, pouco antes de fazer os seis meses para entrar nos quadros, foi despedida. Não quis ficar parada e aceitou um trabalho temporário no verão, no estrangeiro, a mapear ruas para o desenvolvimento de uma aplicação de uma gigante tecnológica. Quando voltou, tinha uma certeza: não queria regressar à restauração. “Foram dez anos, saiu-me do pêlo. Esta oportunidade lá fora veio mostrar-me que conseguia fazer outras coisas, que não só trabalhar na restauração ou na hotelaria.”

Jovens, com contratos precários e no setor do turismo. O perfil do desempregado que a Covid-19 criou

Há um mês que mudou de vida. Mudou-se para o Cartaxo, onde trabalha em casa — numa vivenda de campo do avô que está, com o namorado, a reabilitar —, a prestar apoio ao cliente. Embora trabalhe por turnos, não costuma fazer mais do que oito horas, com uma de almoço, e o horário extra, se existir, é remunerado. Tem seguro de saúde, um apoio de cerca de 400 euros para despesas com material de escritório e um salário a rondar os 1.100 euros brutos, mais subsídio de alimentação, prémio de produtividade e um extra por falar outras línguas que não o inglês.

Os jovens, em particular, foram dos mais prejudicados durante a pandemia. Tendencialmente com contratos precários, foram os primeiros a ser despedidos. Medidas como o layoff simplificado, e mais tarde o apoio à retoma progressiva, proibiam despedimentos, mas não protegiam os contratos a prazo que chegassem ao fim. E, no setor, estes contratos precários são muito comuns.

Segundo os dados do INE, só no terceiro trimestre de 2021, mais de 23% dos contratos dos trabalhadores por conta de outrem no setor estavam classificados como “a tempo certo e outros”, enquanto na média da economia esse valor fica em 17%. No mesmo semestre de 2019, um ano sem pandemia, a diferença era ainda maior: 35% no alojamento, restauração e similares e 20% na média da economia.

Muitos dos jovens foram, assim, atirados para o desemprego. Segundo os números do IEFP, o desemprego registado atingiu um pico durante a vaga mais mortal da pandemia — março de 2021, com mais de 50 mil desempregados inscritos nos centros de emprego, muito acima dos 32 mil um ano antes. Ou seja, num ano, mais 20 mil pessoas do setor inscreveram-se no centro de emprego. Só que muitos jovens não tinham os anos de descontos necessários para aceder ao subsídio de desemprego. A alternativa era a inatividade ou a procura por outras áreas. “A pandemia tirou atratividade ao setor“, resume Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal.

Uma paragem entre viagens

A restauração, segundo os relatos ouvidos pelo Observador, tem sido um trampolim para outras áreas, uma estação de serviço antes de os trabalhadores se voltarem a fazer à estrada. “Um dos que tinha aí a trabalhar já começou na área dele, o outro foi para a universidade. Já não voltam para a área da restauração. Acabei de fazer uma entrevista a uma rapariga que tem feito uns biscatezinhos porque não consegue entrar no curso de desporto”, conta José Mariano, da Casa da Rocha.

Manuel, 19 anos, é um dos jovens que ali trabalha pela primeira vez. Está a estudar para repetir um exame e como para o ano vai para a universidade, ainda não sabe se vai conseguir conciliar o trabalho com os estudos. José Mariano rapidamente responde: “Se eu fosse egoísta dizia para ele ficar cá a trabalhar, vestiu a camisola. Mas costumo dizer-lhes: ‘Vejam isto de maneira a que seja a passagem para alguma coisa que vocês idealizem. A não ser que não tenham nada. Nesse caso fiquem'”.

Reportagem sobre a falta de mão de obra no sétor da restauração e hotelaria: José Mariano, dono do restaurante "Casa da Rocha", em Portimão. Algarve, Portimão 13 de Dezembro de 2021 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
José Mariano, proprietário A Casa da Rocha

“O pessoal andou roto, foi miseravelmente mau. Dormia 4, 5 horas por noite no verão todo, olhava para o meu pessoal a ver se conseguia motivá-los.”

O relato de Vítor Rodrigues, agora com 32 anos, também mostra como o ritmo no setor pode ser frenético. Aos 23 anos, rumou ao Algarve e entrou no “mundo dos extras”, das empresas de trabalho temporário — ora trabalhava neste, ora naquele hotel, às vezes em mais do que um no mesmo dia. “É uma das técnicas para entrar no setor. A certa altura cheguei a estar em três empresas de trabalho temporário ao mesmo tempo”, conta. Era a vontade de aprender, absorver experiência e ganhar dinheiro que o moviam. Conseguia 1.200 euros ao final do mês, mas pouco tempo tinha para a vida pessoal — os horários não eram certos, não tinha folgas e chegava a trabalhar 14 horas por dia.

Acabou por conseguir contrato num hotel, depois noutro, já como barman de primeira e um salário de 770 euros líquidos, um valor que hoje não aceitaria, “revoltado com a falta de reconhecimento que existe no setor”. A ânsia de ganhar mais experiência, e subir o salário, voltou a falar mais alto e Vítor cometeu uma “doideira”, reconhece hoje: acumulou dois trabalhos como barman, um diurno, outro noturno. Trabalhava 16 horas por dia, começava às 9 horas num lado e saía às 4 da manhã no outro. Não aguentou mais do que dois meses com esse ritmo. “Numa noite de regresso a casa quase vi os rails da estrada à frente. Pensei que não valia a pena colocar a minha vida em risco.” Despediu-se de um dos bares.

Mas a incerteza da pandemia trocou-lhes as voltas. No bar onde trabalha atualmente, está a recibos verdes — o dono não arrisca colocá-lo a contrato quando não sabe quando pode voltar a abrir. “Há dois anos que não consigo planear a minha vida com antecedência. A estabilidade financeira é neste momento a minha prioridade”, diz Vítor. Por isso, aceitou um trabalho no setor fabril, que, acredita, será apenas temporário.

João também trabalhou no Algarve, durante o verão. Com um mestrado em turismo e comunicação, viu na oportunidade como rececionista uma forma de ganhar experiência e fazer contactos para que, no futuro, possa aliar o marketing à hotelaria. “Acredito que terei melhor futuro no marketing do que no turismo. O turismo neste momento está muito instável, não me dá certeza de um futuro. Os salários podiam ser melhores, conheço pessoas em Lisboa a ganhar como rececionista de segunda pouco mais do que o salário mínimo. São pessoas com experiência, três, quatro anos, a receber 750 euros brutos.”

No caso dele foi ligeiramente acima, nos 870 euros, mais subsídio de almoço, um “subsídio de caixa” (cerca de 40 euros ao qual é descontado sempre que faltar dinheiro na caixa) e comissões de vendas. Agora, envia candidaturas, vai diretamente aos locais, usa o Linkedin e sites de vagas de empregos, já que o centro de emprego “não fez nada, nenhuma proposta veio de lá”. Tem várias opções em cima da mesa e, por isso, um regresso à receção de um hotel não está nos planos.

Paulo, 39 anos, saiu do setor meses antes da pandemia chegar, mas depois de mais de 10 anos na área. Apesar de o salário ser apelativo (geria apartamentos turísticos em Cacilhas), queria ter tempo para a filha, que acabara de nascer. “O problema de estar a gerir um espaço é que se tem o telefone da empresa, pode tocar a qualquer hora, por qualquer motivo, não se fecha a porta. Muitas vezes não tinha fins de semana nem feriados, não passava o Natal com a minha mulher”, conta. Já com a pandemia em força, aceitou um contrato temporário nos CTT, que viu a atividade crescer. Agora, trabalha numa empresa de tecnologia, com horários estáveis que lhe permitem ir buscar a filha à escola.

A realidade na hotelaria é, porém, diferente da da restauração, diz o sindicalista Francisco Figueiredo. Se nos restaurantes o trabalho, pelo menos no verão, é caracterizado pelas jornadas de 10h, 12 horas por dia, muitas vezes sem direito a pagamento de horas extra nem fins de semana ou épocas festivas, com uma folga semanal, na hotelaria os horários são mais certos. Há turnos que tendem a ser cumpridos, refere, e os trabalhadores que fazem sábados e domingos costumam ter dois dias de folga na semana. Mas, e aqui à semelhança da restauração, há uma instabilidade de horários — só sabem o horário da semana seguinte na quinta ou na sexta-feira anteriores.

"Os trabalhadores foram maltratados durante a pandemia, despedidos à força, muitas vezes sem indemnização. Entretanto, encontraram outras funções fora da hotelaria e da restauração, não querem voltar."
Francisco Figueiredo, da Federação dos Sindicatos de Agricultura, Alimentação, Bebidas, Hotelaria e Turismo de Portugal (FESAHT)

“O problema da hotelaria é que as empresas reduziram o número de trabalhadores por secção já antes da pandemia”, descreve. Ainda assim, acredita que, “se houver condições, as pessoas podem realizar-se no setor com bons salários e condições de trabalho“, até porque “há contacto com outras culturas e nacionalidades“. Mas também os hotéis assistem a uma escassez de trabalhadores que piorou com a pandemia.

Negócios parados por falta de trabalhadores

No caso do chef Hugo Brito, a falta de trabalhadores inviabilizou a rentabilidade de um restaurante recém-aberto na Ericeira. Para as vagas para dois cozinheiros com menos experiência — oferecia 850 euros líquidos  — não houve candidatos com as qualificações pretendidas. Resultado: em vez de seis dias, só funcionavam cinco, o restaurante não pôde abrir para almoços e à noite via-se obrigado a recusar 30% da capacidade. “As pessoas que estavam não podiam trabalhar 14 horas por dia. Apesar de haver afluência, isso fez com que, no fim, não fosse possível cumprir os objetivos financeiros e o espaço fosse inviabilizado”, conta ao Observador. Abriu em maio, fechou no final de outubro.

Esse sonho está agora em standby, mas o Boi Cavalo, restaurante de gama alta de que é proprietário, e chef, em Lisboa, “está estável”, embora também aí Hugo note dificuldades em contratar. No verão passado, o chef quis encontrar um estagiário para formar, ao abrigo de uma bolsa do IEFP que pagaria 730 euros líquidos a uma pessoa sem experiência. Só que… “não conseguimos colocar ninguém”. Meteu anúncios nas redes sociais, em grupos de especialidade, procurou na base de dados do IEFP. “Mas os que ofereciam não tinham a formação que precisávamos, só tinham formação básica.”

Hugo tem uma visão crítica sobre as condições do setor. Discorda da tese de que é o subsídio de desemprego a segurar os trabalhadores e a desincentivá-los a encontrar trabalho. “Muita gente saiu voluntariamente ou foi forçada a sair do mercado, chegou um momento em que tiveram de arranjar um emprego e sair da área. Perceberam que a sua taxa de esforço era menor noutra área, tinham horários mais reduzidos, fins de semana, uma vida com maior equilíbrio entre o trabalho e a família“, sugere.

Mas também considera que não estão a ser criadas as condições para que os restaurantes possam pagar mais. “As pessoas estão à espera de comer refeições por oito ou dez euros ao almoço e não percebem que é impossível, atendendo às margens dos restaurantes e às despesas fixas, e que isso implica que se esteja a usar mau produto e a pagar mal às pessoas.” Entre despesas com salários, impostos, renda, água, luz, seguros e inspeções, uma refeição de dez euros pode acabar por dar ao restaurante um lucro que não chega aos dois euros, calcula. Isso dá azo, acrescenta, a que os restaurantes recorram a trabalhadores sem formação, por vezes imigrantes sem a situação legalizada.

Segundo os Quadros de Pessoal de 2019 (dados mais recentes), base de dados administrativa que faz uma distinção dentro do setor, os “diretores de hotelaria, restauração, comércio e de outro serviços” auferiam (incluindo subsídios), em média, 1.688 euros. Mas, no total do setor, a média ficava em 851 euros, sendo maior no Algarve (948 euros) e menor no Centro (769 euros).

Contactada pelo Observador, a AHRESP, que representa os empregadores da hotelaria e da restauração, reconhece que o setor tem um caminho a fazer de valorização dos salários. Mas defende que, para que seja possível pagar mais, é preciso diminuir a carga fiscal e outros custos sobre as empresas e investir na qualificação. E dá um exemplo: para um trabalhador receber cerca de 770 euros líquidos, a empresa tem de pagar mais de 1.200 euros. Por isso, assumem fontes do setor ao Observador, uma das formas das empresas contornarem o elevado peso dos impostos é com os subsídios — de refeição, mesmo quando o restaurante oferece almoço ou jantar —, ajudas de custo, isenção de horário.

Na hotelaria, também houve estabelecimentos com a atividade prejudicada pela falta de trabalhadores. Jorge Beldade, diretor regional de operações da Minor Hotels, que detém os hotéis Tivoli, diz ao Observador que, em agosto, hotéis do grupo tiveram mesmo de parar as reservas sempre que a ocupação chegava aos 80% porque simplesmente não tinham pessoal. Aliás, em 2021 “não conseguimos nem recrutar 50% das (250) pessoas que precisávamos”.

Reportagem sobre a falta de mão de obra no sétor da restauração e hotelaria: Jorge Beldade, Director Regional de Operações – Resorts, Southern Europe – da Minor Hotels Algarve, Vila Moura 13 de Dezembro de 2021 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Jorge Beldade, diretor regional de Operações da Minor Hotels, diz que, em agosto, hotéis do grupo tiveram de parar as reservas quando a ocupação chegava aos 80% porque não tinham pessoal suficiente

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

“Normalmente supríamos estas necessidades com recurso a empresas de trabalho temporário que este ano [2021] também não conseguiam responder. A concorrência era de tal modo grande que para conseguir trabalhadores as empresas pagavam mais do que os preços contratados. Nós chegámos a oferecer 25%, 30%, 40% acima do valor normal. Pedíamos 15 trabalhadores e apareciam quatro ou cinco. Está num nível a que nunca se tinha chegado“, observa.

Segundo os dados do INE, a população empregada no setor do alojamento e da restauração atingiu o valor mais baixo da pandemia em abril de 2021 (250 mil), menos 46 mil do que no mesmo mês de 2019. Há uma recuperação em curso, pelo menos até setembro, mês em que atingiu o valor máximo do ano (292 mil), ainda assim muito aquém dos 324 mil do mesmo mês de 2019.

Também já faltam os menos qualificados

Jorge Beldade explica que a escassez já se vinha a notar há cinco ou seis anos. Mas se até então a dificuldade era em encontrar trabalhadores mais qualificados, o problema agora estendeu-se aos menos qualificados. “Chegámos a ter empregadas de andar que não sabiam trabalhar com aspirador“, indica, acrescentando que muitos trabalhadores podem ter sido desviados para áreas como a construção civil, que não parou e até cresceu com a pandemia. À semelhança da AHRESP, também critica o prolongamento automático dos subsídios de desemprego.

A alternativa tem sido recorrer a trabalhadores estrangeiros. Mas muitos ficaram desempregados durante a pandemia, mudaram de área ou saíram do país, e ainda não voltaram. Eram “largos milhares de trabalhadores que ajudavam a suprir as necessidades da indústria hoteleira e desapareceram“. Outra opção foram os trabalhadores do grupo. No verão passado, a Minor Hotels trouxe cerca de 20 trabalhadores de Espanha, Itália e França para colmatar algumas lacunas. Este ano, essa rede será expandida e a ideia é irem buscar colaboradores, já formados, aos hotéis que têm na Ásia, quando lá for baixa estação e aqui alta. Também vão tentar recrutar no Brasil, uma janela que poderá ser aberta com o novo acordo de mobilidade com os países da CPLP, já ratificado pelo Presidente da República, mas ainda não em vigor.

Acordo de mobilidade com CPLP facilita ao Turismo trazer trabalhadores, aponta Siza Vieira

Também o presidente do grupo Vila Galé já anunciou à Lusa que, devido à falta de trabalhadores na hotelaria, construção e agricultura, planeia contratar 300 jovens à procura do primeiro emprego e trazer 150 trabalhadores do Brasil, mas que para isso ainda havia um trabalho a fazer com os ministérios da Economia e Trabalho.

Jorge Beldade, do grupo Minor Hotels, pede que o processo burocrático para a vinda de imigrantes seja facilitado e expedito, nomeadamente a partir de países como o Nepal, a Índia, Cabo Verde — que “tem boas escolas hoteleiras” —, o Brasil. Essa necessidade de desburocratização é também apontada por Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal, mas em relação às escolas dessa entidade: cerca de 120 alunos deixam de vir estudar para Portugal por questões burocráticas de vistos.

Os acordos de mobilidade a caminho

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Segundo uma resposta do Ministério dos Negócios Estrangeiros ao Observador, além do acordo entre a CPLP, está “em fase de negociação avançada” a celebração do acordo de cooperação sobre permanência de cidadãos marroquinos para a prestação de trabalho em Portugal. O acordo pretende “criar as condições para o emprego e a permanência de cidadãos marroquinos em Portugal”, com autorização de residência permanente e não apenas em trabalho sazonal.

Portugal também assinou, em abril, uma convenção para a promoção da circulação do talento no espaço ibero-americano. Aprovada em setembro, em Conselho de Ministros, vai “facilitar a mobilidade” de quadros qualificados, particularmente jovens, como estudantes, mas também professores, investigadores, empreendedores e investidores.

Já a 13 de setembro, Portugal assinou com a Índia um acordo sobre recrutamento de cidadãos indianos para trabalho no nosso país. O instrumento vai “facilitar os fluxos de migração laboral legal e segura entre os dois países, estabelecendo os procedimentos para a admissão de cidadãos indianos para o desempenho de uma atividade profissional, sob contrato de trabalho, em Portugal”. Mas ainda não está no terreno.

A AHRESP, que tem feito inquéritos aos associados, indica que, em setembro, 56% das empresas de restauração e 31% das empresas de alojamento disseram ter de adiar investimentos no negócio pelas dificuldades em contratar recursos humanos. Desta forma, a sustentabilidade e a recuperação dos negócios está “comprometida”, diz a associação. O problema não é pontual, mas “estrutural”, e pode ter “reflexos negativos na oferta ao nível do nosso produto turístico”, o que “pode comprometer a imagem” de Portugal, argumenta.

A associação chama ainda a atenção para o “problema dos desencorajados”, ou seja, indivíduos sem emprego que, embora estivessem disponíveis para trabalhar, não procuravam ativamente emprego: segundo o Banco de Portugal, a proporção média de novos desencorajados provenientes do alojamento passou de 10,7% no segundo trimestre de 2019 para 13,8% no segundo trimestre de 2021.

Sara Pimpão, diretora geral da Eurofirms, empresa de trabalho temporário que contrata para setores como a hotelaria, a indústria e call centers, descreve a escassez de mão de obra como “geral”. Se antes uma vaga poderia rapidamente ser preenchida por um recrutador, “agora precisamos de mais gente para procurar pessoas”. No caso da hotelaria, o primeiro passo costuma ser contactar os trabalhadores que já estão na base de dados e perguntar-lhes se estão disponíveis ou se querem voltar ao setor, mas poucos aceitam. Isso levou a Eurofirms a procurar canais alternativos, como a distribuição de flyers [panfletos] junto a estações do metro ou comboio. Ou a reforçar a procura junto das escolas. Mas não foi suficiente.

Os riscos do setor

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Um estudo de 2012 financiado pela Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT) já identificava vários fatores de risco na restauração e na hotelaria, como os longos períodos de pé e de trabalho, que podem levar a lesões musculares, varizes e má circulação; o transporte de cargas, a exposição a substâncias químicas potencialmente perigosas, como produtos e líquidos de limpeza, ou a emissão de vapores de cozinha e fumo passivo e a substâncias nocivas. Os empregados de quartos nos hotéis estão, lia-se na altura, “mais expostos ao risco de alergias”, proveniente do “contacto com roupas, limpeza e higienização das instalações sanitárias”. O documento também apontava para situações de “violência e assédio (intimidação, assédio moral ou violência psicológica) por parte de clientes, colegas ou superiores”.

Essas pessoas com experiência não estão disponíveis, não as estamos a encontrar. Se for a um restaurante ou a um hotel verá que, provavelmente, o serviço não será o mesmo, as pessoas não têm experiência”, defende. Sara acredita que as empresas de trabalho temporário estão a “concorrer com o subsídio de desemprego”. “As pessoas fazem contas entre deslocações, almoço, e consideram que se calhar é melhor para elas ficar em casa do que ir trabalhar”, indica. Essa foi, garante, a resposta dada por vários trabalhadores contactados. Segundo os dados do Governo, o prolongamento do subsídio de desemprego teve, em novembro, menos 692 processamentos (uma redução de 1,6%), abrangendo 41.359 pessoas.

Também há, naturalmente, quem aceita “porque pensa: ‘subsídio de desemprego até quando? Tenho aqui uma oportunidade, é melhor agarrar”. A expectativa de Sara é que, à medida que a renovação automática do subsídio de desemprego chegue ao fim (no final do ano que agora terminou), estas pessoas regressem progressivamente ao mercado de trabalho.

A diretora geral da Eurofirms traça um cenário de razia que o setor viveu: antes da pandemia, a empresa tinha cerca de 1.000 trabalhadores temporários colocados na hotelaria, mas com o embate da Covid-19, em março de 2020, ficou apenas com uma pessoa. No final de 2021, estavam a recuperar, iam em cerca de 650, mas com as novas restrições, como a obrigatoriedade de testes, está a descer para as 300 pessoas. Os hotéis hesitam em contratar à medida que os cancelamentos aumentam.

Os salários das posições abertas variam entre o salário mínimo para uma empregada de bar, a mais cerca de 50 euros no caso de um empregado de mesa, ou até 100 no caso dos rececionistas, enquanto os cozinheiros, consoante a experiência, recebem entre 800 e 1.000 euros brutos.

“Os colaboradores também precisam de comer no inverno”

Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal, ressalva que o problema não é só português e que já se colocava antes da pandemia. Atribui três motivos para a falta de trabalhadores. Em primeiro lugar, a demografia: o setor tende a ser mais procurado por jovens num país a envelhecer. Em segundo lugar, a formação: em 2017, quase 60% dos trabalhadores do setor tinha o ensino básico, uma percentagem que, em 2018, estava nos 54%, enquanto sobe a formação com o ensino secundário ou profissional.

"Essas pessoas com experiência não estão disponíveis, não as estamos a encontrar. Se for a um restaurante ou a um hotel verá que, provavelmente, o serviço não será o mesmo, as pessoas não têm experiência."
Sara Pimpão, diretora geral da Eurofirms

Depois, há a falta de atratividade, sem salários ou benefícios que chamem as pessoas, nem perspetivas de carreira. “Não é claro que um rececionista possa chegar a diretor de hotel. Há um sentimento de estagnação“, nota, defendendo a definição de planos de carreira em conjunto com os empregadores para que não se veja a hotelaria ou a restauração como uma etapa provisória. E a automatização de alguns processos de forma a ‘libertar’ os trabalhadores para o que não pode ser feito por máquinas: o contacto humano.

O setor é também fortemente caraterizado pela sazonalidade, a causa da fuga de muitas pessoas do turismo, que procuram maior estabilidade. O problema é mais grave no Algarve. Luís Araújo adianta que a taxa tem descido e atingiu o valor mais baixo em 2019: 36,7%, o que quer dizer que “dos 365 dias do ano, há 36,7% que não são utilizados”. Como pode ser reduzida? Apostando no turismo literário, no enoturismo, no turismo religioso, de arquitetura, opções que podem ser feitas ao longo do ano e em todo o território.

Para contornar os problemas da sazonalidade, Ricardo Gomes encontrou uma solução, que lhe traz menos rentabilidade ao negócio, mas mais estabilidade. O proprietário do Restaurante F, com vista para a praia da Rocha, explica ao Observador que prefere manter uma equipa mais composta o ano inteiro (14 pessoas), mesmo que não tenha muito trabalho na época baixa, para que, quando chegar o verão, não tenha de procurar tantas pessoas. “O mal é que não se criam condições para as pessoas que trabalham connosco e depois esperamos milagres no verão“, diz.

A lógica de Ricardo é uma: se o restaurante investe tempo a formar pessoas, deve conseguir manter esse conhecimento dentro de portas. E mais: “Os colaboradores também precisam de comer no inverno”. Ainda assim, são necessários alguns reforços no verão, mas Ricardo acaba por optar por jovens com menos experiência — o filho do amigo que faz dois ou três meses, por exemplo. “Agora, um pai de família… não vou contratá-lo para ficar dois meses, não é justo. Uma pessoa tem de ter consciência do que está a fazer.”

Reportagem sobre a falta de mão de obra no sétor da restauração e hotelaria: Ricardo Gomes, dono do Restaurante F, em Portimão. Algarve, Portimão 13 de Dezembro de 2021 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Ricardo Gomes prefere manter uma equipa mais composta o ano inteiro para que, quando chega o verão, não tenha de procurar tantas pessoas

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

No ano passado, essa procura não foi fácil. Com a incerteza da pandemia, “tivemos algum receio de contratar na altura certa”. Só que em julho, com o levantamento das restrições, essa mão de obra já não estava disponível. Ricardo conhece bem o setor e reconhece a falta de atratividade. “Aqui na rua somos o único restaurante que dá sempre dois dias de folga, no verão e no inverno. Por isso é que as equipas também são maiores. Privilegiamos que consigam ter vida. No verão se calhar fazem 9, 10 horas mas de inverno não as fazem.”

Uns números à frente, na pastelaria Docefinus, Elsa Tuta tem a esplanada e o interior vazios. Ao balcão, um português, o único, além dela e do marido. “Não costumo conseguir arranjar portugueses. Enquanto vêm 50 indianos pedir trabalho, portugueses não aparece ninguém”. Antes da pandemia eram três: mas um reformou-se e o outro saiu.

O espaço existe há 18 anos e Elsa Tuta sente-se “saturada” com o setor. Ainda há dias em que pensa que deveria ter emigrado, como alguns familiares fizeram, para a Suíça ou a Alemanha. “Surgiu a oportunidade, mas não fui. Teria aberto um café também, tenho lá família. Nesta área estão melhor do que eu. Na Suíça há malta que preferiu estar fechada que abrir porque tinha apoios. Em cinco meses fechada recebi 1.200 euros, a pagar 600 euros por mês de Segurança Social, renda, luz e água. As minhas economias foram todas.”

Elsa lembra que a convivência com os clientes nem sempre é pacífica. As pessoas “estão stressadas”, o que também afasta os trabalhadores. E recorda uma vez em que um casal de clientes, ao ver uma mesa por levantar, “pegou na loiça e pô-la diretamente no lixo”. “Muita gente cansa-se. Já tive pessoal que não aguentou trabalhar aqui nem um dia.”

Faltam milhares de trabalhadores

Antes da pandemia, a AHRESP estimava que faltavam 40 mil trabalhadores à restauração e ao alojamento. O Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC, na sigla original) tem outros números: o país precisa de 85 mil trabalhadores no turismo e viagens e 53 mil vagas vão ficar por preencher em 2022. Em Portugal, refere o estudo, em cada seis ofertas, uma fica por preencher.

O problema está também na formação, acredita Jorge Beldade, do Minor Hotels, que, por si só, “já não tinha capacidade de suprir as necessidades da hotelaria”. Luís Araújo revela, aliás, que das 12 escolas técnico profissionais do Turismo de Portugal, não há vagas para cursos mais “reconhecidos”, como chef de cozinha e outros “mais técnicos”, enquanto ficam por preencher lugares para cursos como receção, bar, serviço de sala.

“Precisamos de valorizar todas as profissões por igual e obviamente também a nível salarial”, defende Luís Araújo. O Turismo de Portugal tem em marcha vários programas de intercâmbio de estudantes — o último anunciado foi com a Arábia Saudita — para a partilha de formação, que podem, eventualmente, atrair estudantes que acabem por ficar em Portugal.

Jorge Beldade pede maior flexibilidade na legislação laboral, com a possibilidade de bancos de horas que permitam a um colaborador trabalhar mais no verão e compensar no inverno. “Se estiver na Suíça e quiser trabalhar 15 horas posso. Aqui não porquê? Temos trabalhadores no hotel que, como não podem fazer mais horas aqui, vão trabalhar três ou quatro horas para o hotel do lado”, exemplifica. Também sugere um modelo inspirado no espanhol, em que os trabalhadores, no inverno, recebem subsídio de desemprego, mas mantêm o vínculo à empresa, que quando retoma atividade é obrigada a readmitir os trabalhadores e a pagar-lhes.

Já as soluções defendidas pela AHRESP passam pela formação de curta duração, “para que pessoas de outras áreas possam facilmente ingressar nestas profissões”, programas de redefinição de carreiras profissionais e pela “valorização e dignificação”, para que “comecem, de uma vez por todas, a ser vistas como profissões atrativas e que proporcionam carreiras de futuro”.

A AHRESP considera que ainda há “muito preconceito” que “já não corresponde à nossa realidade atual”. Mas, pela frente, parece ainda haver um difícil trabalho de convencer os mais e menos jovens — pessoas como Filipa, João e Paulo, que abandonaram a área —, a regressar a um setor que ainda enfrenta os ziguezagues da pandemia.

 
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