824kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

i

© Jacob Ammentorp Lund/iStockphoto

© Jacob Ammentorp Lund/iStockphoto

Um computador por aluno já em setembro? Promessa de António Costa será difícil de cumprir

Ensino público tem 1,2 milhões de alunos e o arranque do ano letivo está a 140 dias de distância, numa altura em que a produção de maquinaria está comprometida, como já disse o ministro da Educação.

A promessa estava inscrita no Programa de Governo, documento que se estende até 2023, sem precisar datas. Mas António Costa mudou tudo quando se comprometeu a entregar computadores a todos os alunos das escolas portuguesas no início do próximo ano letivo. Em vez de ser uma promessa a cumprir até ao final da legislatura, o Governo tem agora até meados de setembro para fazer valer a palavra do primeiro-ministro. 

Com muitas perguntas ainda sem resposta sobre como todo o processo será conduzido, a resposta oficial quer do Ministério da Economia e Transição Digital, quer do Ministério da Educação, é vaga: o Executivo está a trabalhar no assunto e a seu tempo dará conta do andamento do processo. 

“O Governo está a trabalhar no Programa de Digitalização para as Escolas com vista a começar a sua implementação no próximo ano letivo. O anúncio oficial, com todos os detalhes do programa, será feito no momento oportuno”, respondem os gabinetes de Pedro Siza Vieira e de Tiago Brandão Rodrigues. A medida faz parte do Plano de Ação para a Transição Digital, publicado em Diário da República a 21 de abril.

Mas basta fazer contas, ou relembrar declarações recentes do ministro da Educação, para perceber que o tempo é curto para o tamanho da empreitada.

Só no ensino público estavam inscritos cerca de 1,2 milhões de alunos (no ano letivo de 2018) entre ensino básico e secundário, a que se somam mais 200 mil estudantes da rede privada e cooperativa. O arranque do ano letivo, que deverá acontecer o mais tardar a 15 de setembro, está a menos de 140 dias de distância. Contas feitas, o Governo teria de encontrar um parceiro capaz de produzir à volta de 8.500 computadores por dia, se a produção arrancasse já.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Estou em condições de assumir o compromisso de que no início do próximo ano letivo, aconteça o que acontecer, teremos assegurado a universalidade do acesso em plataforma digital, rede e equipamento, para todos os alunos do básico e do secundário.”
António Costa a 9 de Abril, durante a apresentação do Estudo em Casa

O que se sabe e o que falta saber

Computadores são para todos, mas quem são esses todos?

“Estou em condições de assumir o compromisso de que no início do próximo ano letivo, aconteça o que acontecer, teremos assegurado a universalidade do acesso em plataforma digital, rede e equipamento, para todos os alunos do básico e do secundário.” Foi com estas palavras que, a 9 de abril, António Costa prometeu o que parece ser impossível: ter disponíveis mais de um milhão de computadores em quatro meses.

Na conferência de imprensa em que apresentou o Estudo em Casa, a telescola do século XXI, o primeiro-ministro falou na universalidade do programa. Será então de esperar que a medida abranja todos os alunos das escolas portuguesas, rede pública e privada? Dificilmente assim será, se o exemplo for o de medidas anteriores na área da educação, como a da gratuitidade dos manuais escolares. Nessa altura, a opção do Governo foi abranger apenas a rede de ensino público e alguns alunos de escolas privadas com contratos de associação.

No Programa de digitalização para as Escolas não se faz essa distinção. O que se lê no documento é que uma das dimensões da medida é “a disponibilização de equipamento individual ajustado às necessidades de cada nível educativo para utilização em contexto de aprendizagem”.

Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, enviou uma carta a 17 de abril ao primeiro-ministro a pedir esclarecimentos sobre esta questão. É que, lembra o autarca, em março a câmara autorizou os agrupamentos da cidade a adquirir equipamentos para alunos carenciados.

“Trata-se de uma medida que, no atual contexto e contingência, faz especial sentido, se aplicada de forma eficaz e equitativa, não fornecendo a quem já tem e não precisa, e se for acompanhada das ferramentas adequadas ao nível do software que o Ministério da Educação deve escolher, licenciar e impor”, escreve. Rui Moreira defende que todos estes equipamentos devem ter bloqueios para que apenas os alunos os possam utilizar.

Fechando o universo na escola pública, outra pergunta se impõe, semelhante à que é feita pelo autarca do Porto: haverá computadores para todos os alunos, apenas para os que têm ação social escolar (o apoio estatal dado aos alunos mais carenciados) ou para aqueles que comprovadamente não têm equipamento? E que provas serão essas, se for esse o caso? Essa foi uma das perguntas enviadas pelo Observador ao Governo e que ficou sem resposta.

No entanto, a 9 de abril, António Costa acabaria por dizer que a medida talvez não fosse imediatamente universal para o secundário, não entrando em mais detalhes, mas deixando essa porta entreaberta. Mas não será por deixar o secundário de fora que será mais fácil de reunir equipamento: só no básico há 813.052 estudantes que poderão precisar de igual número de computadores.

“O Governo está a trabalhar no Programa de Digitalização para as Escolas com vista a começar a sua implementação no próximo ano letivo. O anúncio oficial, com todos os detalhes do programa, será feito no momento oportuno.”
Resposta do Ministério da Economia e da Transição Digital ao Observador

Computadores são dados ou emprestados?

Tudo leva a crer que os computadores estarão sempre na posse dos alunos, embora a Resolução de Conselho de Ministros, onde se detalha o Programa de Digitalização para as Escolas, não entre nesse pormenor. É, por isso, possível que o equipamento venha a ser propriedade da escola e cedido aos estudantes durante o ano letivo. O Observador questionou o Governo sobre a modalidade escolhida, mas não obteve resposta.

No entanto, para além de esclarecer que serão disponibilizados “equipamentos individuais”, ou seja um por aluno, o programa para as escolas prevê “a garantia de conectividade móvel gratuita para alunos” e acesso de qualidade à internet na escola e “em qualquer lugar”.

Acrescenta-se que os estudantes terão acesso “a recursos educativos digitais de qualidade” — manuais escolares, cadernos de atividades, aulas e testes interativos —, a “ferramentas de colaboração em ambientes digitais” que “permitam o acompanhamento à distância da sala de aula (sobretudo nos casos de doença ou de necessidades especiais)”.

Questionado sobre a possibilidade de o Estado apoiar os alunos para a compra deste equipamento, o ministro da Educação afastou essa possibilidade. A justificação, dada em entrevista à Antena 1, é clara: “Haverá disponibilização de equipamento para todos os alunos do ensino obrigatório, não precisando eles de apoio financeiro.”

Costa diz estar a trabalhar com a indústria. Mas como e com quem?

Mais perguntas enviadas pelo Observador ao Governo ficaram sem resposta: de que forma vão ser adquiridos os computadores — concurso público, ajuste direto ou parcerias — e até que ponto já começaram a ser feitos contactos com empresas do setor?

No entanto, em entrevista ao Observador, a 14 de abril, António Costa avançava que esses primeiros contactos já tinham sido feitos. Questionado sobre se há garantias de que os equipamentos serão todos entregues no arranque do ano letivo, o primeiro-ministro respondeu: “Temos de trabalhar para isso, é esse o objetivo a que nos propusemos.”

António Costa. “Não deixem de planear as férias de verão… cá dentro”

“E é com base nisso que estamos a trabalhar com a indústria, com os editores e produtores de conteúdos pedagógicos, com os agentes comerciais de forma a garantir o número de equipamentos suficiente”, precisou, dizendo ainda que o Executivo está também em conversações com as operadoras de forma a assegurar um reforço da cobertura de internet do espaço escolar.

Já o ministro da Educação, nas suas declarações públicas, tem sido mais contido, lembrando que “não há soluções imediatas”. A 13 de abril, no Fórum TSF, deixava claro que a medida demorará o seu tempo a concretizar-se: “Mesmo que quiséssemos dotar agora [as famílias e as escolas de equipamentos] há limites de máquinas no mercado, de capacidade de instalação, de literacia na utilização.”

A primeira meta, admitiu o ministro, foi arrancar com o processo e isso “implicava romper com uma inércia enorme”.

Uns dias mais tarde, a 20 de abril, aos microfones da Antena 1, Tiago Brandão Rodrigues lembrava que a produção de equipamentos informáticos está a meio gás um pouco por todo o mundo na sequência da pandemia de Covid-19. E sendo uma “empreitada de grande magnitude”, todos os passos são dados “com a cautela necessária para chegarmos a bom porto”.

“É preciso entender que a produção deste tipo de maquinaria um pouco por todo o mundo está comprometida. É preciso dar passos firmes para podermos assegurar aquilo que queremos assegurar no próximo ano letivo”, sublinhou o ministro da Educação.

Esta poderá mesmo ser a maior dificuldade de todo o processo: encontrar, em tempo útil, equipamento informático suficiente para honrar a promessa do primeiro-ministro.

“É uma empreitada de grande magnitude, nesse sentido todos os passos são feitos com a cautela necessária para chegarmos a bom porto. Por outro lado, é preciso entender que a produção deste tipo de maquinaria um pouco por todo o mundo está comprometida. É preciso dar passos firmes para podermos assegurar aquilo que queremos assegurar no próximo ano letivo.”
Tiago Brandão Rodrigues, 20 de abril, entrevista à Antena 1

Vem aí o Magalhães 4.0? Costa quer ir mais longe e acabar a viagem

A pergunta foi direta. Vem aí o programa Magalhães 2? “Para sermos generosos com os nossos vizinhos espanhóis até podemos dizer que é um programa Elcano, porque completa a viagem iniciada”, respondeu António Costa durante uma entrevista à agência Lusa. Juan Sebastián Elcano foi o navegador espanhol que completou a primeira circunavegação ao mundo iniciada pelo português.

Mas sobre uma espécie de Magalhães 4.0, o primeiro-ministro deixou claro que quer ir muito mais longe do que o programa do Governo de José Sócrates.

“É muito mais do que ter um computador ou um tablet. É ter isso e possuir acesso garantido à rede em condições de igualdade em todo o território nacional e em todos os contextos familiares, assim como as ferramentas pedagógicas adequadas para se poder trabalhar plenamente em qualquer circunstância com essas ferramentas digitais”, adiantou.

O meu filho vai voltar à escola? Vai ter de ir de máscara? Como é que vai entrar na universidade? O que vai acontecer em 48 respostas

Por enquanto, também não é claro se os equipamentos informáticos a distribuir serão computadores portáteis ou tablets e que tipo de características precisarão de ter.

E os custos? Avultados, mas ainda por definir

“Neste momento ainda não temos [ideia de custos]. Estamos a fazer esse levantamento. Mas este era um programa que tínhamos para desenvolver ao longo da legislatura, temos obviamente de o acelerar”, explicou Costa durante a entrevista ao Observador.

Apesar disso, em declarações à Lusa, o primeiro-ministro assumiu que o investimento é avultado, mas essencial. “É preciso garantir a necessidade de que, aconteça o que aconteça do ponto de vista sanitário durante o próximo ano letivo, não se assistirá a situações de disrupção, porque houve outra face da moeda que esta crise demonstrou”.

 
Assine o Observador a partir de 0,18€/ dia

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Apoie o jornalismo. Leia sem limites. Apoie o jornalismo. Leia sem limites.
Desde 0,18€/dia
Apoie o jornalismo. Leia sem limites.
Apoie o jornalismo. Leia sem limites. Desde 0,18€/dia
Em tempos de incerteza e mudanças rápidas, é essencial estar bem informado. Não deixe que as notícias passem ao seu lado – assine agora e tenha acesso ilimitado às histórias que moldam o nosso País.
Ver ofertas