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Durante a primeira vizita oficial da Rainha de Inglaterra, Isabel II, a Portugal, foi no Palácio Nacional de Queluz, que Sua Majestade, a Rainha, ficou a dormir. Imagens dos aposentos da Rainha. 31 de Maio de 2022 Palácio Nacional de Queluz TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
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O quarto onde a rainha ficou instalada foi modificado para receber a monarca em 1957. Quem o visitar hoje poderá ver a Cama D. José onde a soberana dormiu nas duas vezes que visitou Portugal

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

O quarto onde a rainha ficou instalada foi modificado para receber a monarca em 1957. Quem o visitar hoje poderá ver a Cama D. José onde a soberana dormiu nas duas vezes que visitou Portugal

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Uma rainha inglesa em Queluz. Entrámos na casa em que Isabel II se instalou quando visitou Portugal

Isabel II foi a hóspede estrela do Pavilhão D. Maria I, uma residência no Palácio de Queluz que, entre 1940 e 2004, foi o local de excelência para instalar as figuras de Estado que visitaram Portugal.

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(Este artigo foi inicialmente publicado em junho de 2022. É atualizado agora após a morte de Isabel II esta quinta-feira, 8 de setembro de 2022)

A graciosa fachada do Palácio Nacional de Queluz esconde, na verdade, duas moradas. Para lá das paredes azuis há o palácio nacional, onde outrora a família real morou, e há também uma residência independente que foi feita a pensar na realeza e, depois de muitas voltas no tempo, se tornou num espaço onde se instalavam chefes de Estado e ilustres convidados de visita oficial a Portugal, o Pavilhão D. Maria I. Reis, príncipes, imperadores e presidentes fizeram desta morada a sua casa durante breves dias, mas nenhuma outra visita revolucionou tanto aquele espaço e o país com a sua presença como Isabel II em 1957.

Depois de décadas a guardar os segredos da intimidade de importantes líderes mundiais, a residência do Palácio de Queluz assumiu o papel de museu e abriu as suas portas ao público no verão de 2021, sob condições especiais. A propósito das comemorações do Jubileu de Platina da rainha Isabel II, Conceição Coelho, há 30 anos conservadora do Palácio Nacional de Queluz e fiel guardiã das suas memórias, guia-nos por essa estadia no final da década de 50.

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Abrem-se as portas de Queluz para Isabel II

O Pavilhão D. Maria I, a residência no Palácio de Queluz, foi a casa de Isabel II durante as suas duas visitas a Portugal, primeiro em 1957 e depois em 1985. Para a primeira visita, o Estado não olhou a gastos e tudo foi aprovado pelo gabinete de Salazar. O espaço sofreu profundas intervenções para se adaptar aos novos tempos e às necessidades da ilustre convidada. As obras começaram com um ano de antecedência, envolveram infraestruturas elétricas, e colocação de casas de banho em todos os quartos que não as tinham — no piso de baixo havia uma única casa de banho. No andar superior os quartos sofreram algumas alterações. A suite presidencial, por exemplo, era constituída por um quarto e uma sala e passou a ser dividida em duas suites, um quarto feminino e um quarto masculino com respetivas áreas de apoio, como casas de banho, antecâmaras e salas de estar. Estas obras terão sido feitas já a pensar em Isabel II e no duque de Edimburgo.

A rainha esteve instalada em Queluz entre 18 e 20 de fevereiro e depois passou mais um dia a título pessoal no Porto. Na residência terão ficado cerca de 40 pessoas, que incluíam membros da segurança portuguesa e seguranças britânicos, o staff de sete pessoas que acompanhava diretamente a rainha, pessoal da presidência da república portuguesa e ainda o pessoal do Hotel Aviz, que ficou encarregue do serviço da residência. Quando chegou, o casal real foi à varanda acenar ao público e a rua encheu-se de populares que queriam ver a rainha. Como profunda conhecedora da história do Palácio de Queluz, Conceição Coelho afirma que a monarca foi a hóspede mais carismática que já passou pela residência.

Durante a primeira vizita oficial da Rainha de Inglaterra, Isabel II, a Portugal, foi no Palácio Nacional de Queluz, que Sua Majestade, a Rainha, ficou a dormir. Imagens dos aposentos da Rainha. 31 de Maio de 2022 Palácio Nacional de Queluz TOMÁS SILVA/OBSERVADOR Durante a primeira vizita oficial da Rainha de Inglaterra, Isabel II, a Portugal, foi no Palácio Nacional de Queluz, que Sua Majestade, a Rainha, ficou a dormir. Imagens dos aposentos da Rainha. 31 de Maio de 2022 Palácio Nacional de Queluz TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

A varanda da residência onde a rainha acenou ao povo que esperava na rua para a ver.

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Isabel II era rainha desde fevereiro de 1952, quando subiu ao trono com 25 anos de idade. A visita que fez a Portugal em 1957 foi uma retribuição da viagem que Craveiro Lopes, na altura o chefe de Estado português, fez ao Reino Unido em outubro de 1955. A rainha viajou com  antecedência para ter dois dias em privado com o marido. O príncipe Filipe tinha estado a bordo do navio Britannia numa longa viagem por diferentes países do mundo durante quatro meses, a mais longa separação do casal real desde o seu casamento em 1947. Reencontraram-se na Base Aérea do Montijo a 16 de fevereiro e dois dias depois começou a visita oficial de três dias com um preenchido programa desenhado pelo Governo Português que incluía visitas à Nazaré, Alcobaça, Batalha e um almoço na Câmara Municipal de Lisboa.

Depois de entrar em Lisboa pelo Cais da Colunas e ser recebida no Terreiro do Paço com pompa, circunstância e uma nação em êxtase por ver a jovem rainha, Isabel II desfilou em cortejo por Lisboa numa carruagem oitocentista e acompanhada por Craveiro Lopes. Depois rumou ao Palácio Nacional de Queluz para se instalar na residência que seria a sua casa durante os três dias da visita oficial. Durante esse tempo a passagem do casal pela casa foi breve porque havia uma preenchida agenda para cumprir e o príncipe Filipe acompanhou sempre a rainha.

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Ao contrário de qualquer estrela de rock ou de cinema mais excêntrica e também do que se poderia pensar à partida, a comitiva britânica não terá feito pedidos difíceis de concretizar. Foi solicitado que a rainha tivesse nos seus aposentos um pequeno fogão elétrico e uma cafeteira para que pudesse fazer o seu próprio chá, com a recomendação de ter disponível um chá de boa qualidade e uns biscoitos para acompanhar. Na sala do duque de Edimburgo foram colocados whisky irlandês, gin e outras bebidas. O pequeno-almoço à inglesa, no qual não podia faltar “marmalade”, tinha de ser servido em bandeja de prata e com serviços condignos. Os criados portugueses serviam os pequenos-almoços nos quartos e preparavam os banhos. No caso do duque de Edimburgo e da rainha o pequeno-almoço era servido no gabinete de trabalho de Filipe — mesa era posta por dois criados portugueses do Hotel Aviz orientados pelo criado inglês e, assim que essa preparação fosse terminada, os primeiros saíam e o inglês ficava responsável por servir. Foi colocado à disposição tabaco americano da marca Chesterfield e todas as casas de banho tinham pasta de dentes, colónia, e escovas de sapatos — tudo à medida dos gostos da época e de boa qualidade, conta a conservadora do palácio. Todas as tardes era servido chá aos hóspedes da residência que não saíam para as atividades de agenda da rainha.

Uma sala foi preparada para acomodação das malas e do guarda-roupa da soberana onde foram instaladas tábuas de passar a ferro e ferros elétricos. Por aqui encontrava-se sempre Miss McDonald, a criada inglesa de Sua Majestade responsável pelo guarda-roupa, e até tinha uma mesa onde lhe eram servidas as refeições mais leves e onde os criados principais se podiam juntar para partilhar esses momentos. Este espaço é onde está hoje montada a sala de jantar.

Uma das particularidades desta residência é ser uma mistura entre hotel e museu, porque recebe hóspedes e, até determinada altura, a decoração era pensada para cada um deles. Entre 1957 e a década de 1980 a residência era decorada com objetos vindos de museus nacionais, como por exemplo, o próprio Palácio de Queluz, o Palácio da Ajuda, o Museu Nacional de Arte Antiga ou o Museu Condes de Castro Guimarães. As pessoas encarregues desta decoração eram os diretores do Palácio de Queluz e do Palácio da Ajuda e escolhiam o mobiliário, pinturas ou tapeçarias. Para receber Isabel II em 1957, o mote era mostrar o melhor que havia por cá. Peças da baixela Germain adornaram o toucador e a mesa da rainha, às quais se juntaram mesas do Museu Nacional de Arte antiga e peças que vieram do Palácio da Ajuda, como também é o caso da Cama D. José. Foi nela que a monarca dormiu também em 1985 e ainda é esta peça que hoje pode ser vista na suite feminina.

Os serviços de loiça e faqueiros vieram do Palácio da Ajuda e do Palácio das Necessidades. No que toca à comida servida aos hóspedes, o serviço na residência já ficou a cargo das Pousadas de Portugal, do Hotel Tivoli ou da Cozinha Velha (o restaurante do Palácio de Queluz que tem lugar nas antigas cozinhas do palácio e está associado às pousadas de Portugal, era até das diferentes pousadas que vinha o pessoal que dava a apoio à residência). Para a rainha Isabel II, em 1957, o serviço foi feito pelo Hotel Aviz, que era o mais emblemático, luxuoso e caro da época. Talvez baste referir que foi o hotel onde Calouste Gulbenkian viveu.

Durante a primeira vizita oficial da Rainha de Inglaterra, Isabel II, a Portugal, foi no Palácio Nacional de Queluz, que Sua Majestade, a Rainha, ficou a dormir. Imagens dos aposentos da Rainha. 31 de Maio de 2022 Palácio Nacional de Queluz TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
O quarto onde ficou instalado o príncipe Filipe, com a cama onde o marido da rainha dormiu quando visitou o país em 1973.
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Durante a primeira vizita oficial da Rainha de Inglaterra, Isabel II, a Portugal, foi no Palácio Nacional de Queluz, que Sua Majestade, a Rainha, ficou a dormir. Imagens dos aposentos da Rainha. 31 de Maio de 2022 Palácio Nacional de Queluz TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
O quarto da rainha Isabel II, com a Cama D. José onde a soberana dormiu nas duas vezes que visitou Portugal.
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Uma visita guiada, três pisos e muitas relíquias

As visitas a esta residência estão disponíveis no site da Parques de Sintra com datas e horas pré-definidas, contudo é possível agendar outras datas e horários, mediante consulta.  Há uma lotação máxima de 10 pessoas por cada grupo, são sempre acompanhados por um guia e é necessário fazer uma inscrição online.

O périplo começa com uma introdução histórica. Depois percorre-se uma “casa” com três pisos (não visitámos o último) cuja configuração já foi várias vezes alterada. Pela escadaria acima podem ser apreciados azulejos vindos de um edifício religioso de Lisboa que deixou de existir e que depois foram recuperados com o objetivo de adornar a residência. No primeiro piso abriram-se as janelas para que pudéssemos ir à varanda onde a rainha saudou os seus fãs.

Depois, pelos corredores, é possível entrar no quarto onde o príncipe Filipe ficou instalado nas três vezes que veio a Portugal (além das duas visitas oficiais da rainha Isabel II, o marido esteve por cá em 1973, quando foi convidado a participar nas comemorações da aliança luso-britânica), decorado em tons de azul e seguido de uma pequena sala de trabalho. Segue-se o quarto onde ficou instalada a rainha, decorado em tons de rosa e com vista para os jardins do palácio. As casas de banho são todas em mármore, mas com cores diferentes. Mais adiante, uma sala onde a partir de 1974 passaram a existir audiências de Estado. Eram ali recebidos Primeiros Ministros e Ministros, porque, afinal, este espaço funcionava como uma espécie de embaixada durante a estadia dos convidados.

A visita continua com uma sala de estar e a sala de jantar e a passagem para uma ala onde ficavam acomodados os criados e onde se encontra uma copa que existe desde os anos 40, com um pequeno elevador para transportar os pratos da cozinha. As comitivas não tinham por hábito trazer o seu próprio chef, mas podia acontecer, para que preparasse o jantar de retribuição no qual eram cozinhadas comidas típicas do país de origem, e depois o jantar era servido no palácio, na sala do trono. No piso térreo, vários quartos onde ficavam instalados, por exemplo, os seguranças da GNR, e membros da comitiva visitante. Destaque ainda para “o quarto do protocolo”, só para o representante do protocolo português, e “o quarto do INEM”, onde ficavam instalados os profissionais médicos que acompanham sempre as comitivas.

A frequência de convidados nesta residência está sempre relacionada com o momento que a política portuguesa está a viver. Por exemplo, a conservadora do palácio explica que depois do 25 de Abril houve uma série de visitantes vindos das ex-colónias portuguesas. E que também todo o movimento diplomático para a entrada de Portugal na União Europeia se refletiu num aumento de visitas de importantes figuras.

Novo século, nova vida

Entre 1940 e 2004 ficaram instaladas neste espaço 117 comitivas, mas a partir desse último ano a residência deixou de receber convidados. A distância de Lisboa e a normalização de outras possibilidades, como embaixadas e hotéis, fizeram com que este deixasse de ser o espaço de eleição para instalar os mais ilustres convidados da nação, mas ainda hoje podem receber visitas, se assim for necessário. Desde então serviu como gabinete de presidentes eleitos. Primeiro por Aníbal Cavaco Silva, que ali instalou o seu gabinete entre a primeira vitória nas eleições presidenciais e a tomada de posse. Nas eleições do primeiro mandato de Marcelo Rebelo de Sousa, Cavaco ofereceu o espaço para que pudesse fazer o mesmo. Para tal foi necessário esvaziar a residência toda porque os quartos e salas deram lugar a gabinetes de trabalho.

Durante a primeira vizita oficial da Rainha de Inglaterra, Isabel II, a Portugal, foi no Palácio Nacional de Queluz, que Sua Majestade, a Rainha, ficou a dormir. Imagens dos aposentos da Rainha. 31 de Maio de 2022 Palácio Nacional de Queluz TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
A sala onde a partir de 1974 passaram a existir audiências de Estado. Os hóspedes recebiam aqui Primeiros Ministros e Ministros.
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Durante a primeira vizita oficial da Rainha de Inglaterra, Isabel II, a Portugal, foi no Palácio Nacional de Queluz, que Sua Majestade, a Rainha, ficou a dormir. Imagens dos aposentos da Rainha. 31 de Maio de 2022 Palácio Nacional de Queluz TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
Sala de estar no primeiro piso.
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Durante a primeira vizita oficial da Rainha de Inglaterra, Isabel II, a Portugal, foi no Palácio Nacional de Queluz, que Sua Majestade, a Rainha, ficou a dormir. Imagens dos aposentos da Rainha. 31 de Maio de 2022 Palácio Nacional de Queluz TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
Sala de jantar.
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Durante a primeira vizita oficial da Rainha de Inglaterra, Isabel II, a Portugal, foi no Palácio Nacional de Queluz, que Sua Majestade, a Rainha, ficou a dormir. Imagens dos aposentos da Rainha. 31 de Maio de 2022 Palácio Nacional de Queluz TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
A copa no primeiro piso que existe desde os anos 40, com um pequeno elevador para transportar os pratos da cozinha.
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Vários diretores tiveram a ideia de abrir esta residência ao público e foi já sob a gestão da Parques de Sintra (desde 2012) que o projeto avançou e se desenvolveu durante o período da pandemia. O ponto de partida foi investigar a história da residência no período pós monarquia, com especial foco nas intervenções que teve, e destacam-se três grandes momentos: em 1940, 1956 e 1988, cada uma com características próprias da sua época.

Depois colocou-se uma grande questão: como seria decorada a residência nesta sua nova fase de museu? Chegou a ser colocada a hipótese de decorar o espaço de acordo com a primeira visita da rainha Isabel II, mas tal não seria viável porque as peças da altura estão espalhadas por diferentes museus e algumas estão mesmo emprestadas à embaixada britânica para integrarem uma exposição comemorativa do Jubileu de Platina, por esta altura. Então a opção foi uma decoração que passa por diferentes épocas. Hoje, o que se vê “é o resultado de uma vivência de 82 anos”, afirma Conceição Coelho.

De casa da família real a residência para membros de outras famílias reais

Em 1784, o Palácio da Ajuda sofreu um incêndio, o que motivou a mudança da família real para Queluz, que nesse mesmo ano tinha entrado em obras — tanto a modernização como a proximidade de Lisboa, fizeram dele a morada ideal. As intervenções visavam a ampliação com a criação de novos espaços, entre eles a tal residência. A conservadora do palácio conta que os documentos da época se referem a este espaço como “as novas acomodações para assistência da família real”. Foi pensada para ser a casa do herdeiro da coroa da época, o príncipe D. José, mas este morreu de varíola com apenas 27 anos e não chegou ali a morar. A primeira residente deste espaço foi a mãe do príncipe, a rainha D. Maria I. Além do filho já tinha também morrido o marido (D. Pedro III) dois anos antes e, entre a saúde fragilizada e a tristeza, a rainha fez deste espaço a sua morada na corte, mantendo-se, no entanto, um pouco mais resguardada. É em homenagem à sua primeira moradora que esta residência se chama Pavilhão D. Maria I.

Na linha de sucessão seguiu-se o segundo filho que viria a ser o rei D. João VI e a família ficou a viver em Queluz até partir para o Brasil a 20 de novembro de 1807, para apenas regressar em 1821. Foi lá que morreram a rainha Carlota Joaquina e o rei D. Pedro IV, imperador do Brasil. O palácio havia perdido o esplendor de residência real e a relevância de outros tempos e seria deixado ao abandono. Apesar dos reis D. Amélia e D. Carlos terem decidido fazer algumas obras no palácio, foi preciso que figuras importantes do meio artístico português alertassem para o seu estado de degradação  e para a necessidade de o recuperar, no início do século XX.

Foi assim que, em 1908, o rei D. Manuel deu o palácio, a residência e os jardins à fazenda pública (o ministério das finanças da época) e nos anos que se seguiram este esteve para ser academia de belas artes dedicada ao entalhe, hotel e museu de artes decorativas do século XVIII. Acabou por converter-se em escola agrícola até que em 1939 o Palácio Nacional de Queluz abriu ao público como museu no âmbito das comemorações do seu bicentenário, que aconteceu no ano seguinte. O Pavilhão D. Maria I foi alvo de várias obras para trazer para o século XX este espaço do século XVIII e tornou-se a casa de chefes de Estado estrangeiros convidados em visita oficial a Portugal, uma função desempenhada desde outubro de 1940.

Durante a primeira vizita oficial da Rainha de Inglaterra, Isabel II, a Portugal, foi no Palácio Nacional de Queluz, que Sua Majestade, a Rainha, ficou a dormir. Imagens dos aposentos da Rainha. 31 de Maio de 2022 Palácio Nacional de Queluz TOMÁS SILVA/OBSERVADOR Durante a primeira vizita oficial da Rainha de Inglaterra, Isabel II, a Portugal, foi no Palácio Nacional de Queluz, que Sua Majestade, a Rainha, ficou a dormir. Imagens dos aposentos da Rainha. 31 de Maio de 2022 Palácio Nacional de Queluz TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

A escadaria que conduz ao primeiro piso e um dos corredores da residência.

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Em 1973 a residência recebeu as duas últimas visitas antes da revolução de 1974. A década de 1980 trouxe uma série de novos hóspedes, impedindo a decoração personalizada que se fazia antes, e em 1988 a residência voltou a ser alvo de profundas intervenções. Tinha, mais uma vez, chegado a um estado limite. As visitas frequentes foram atrasando as obras até que fechou portas durante um ano para, entre outras manutenções, renovar o sistema elétrico, bem como as casas de banho. Foram encomendados tapetes específicos e os cortinados e colchas das camas também foram atualizados.

Entre a realeza e a República, outros ilustres convidados

Quis a ironia do destino que a primeira personalidade convidada da era republicana a instalar-se nesta residência tenha sido a princesa D. Filipa de Bragança, tia de D. Duarte Pio e neta de D. Miguel, o rei absolutista. Marcelo Caetano viveu no piso térreo durante dois anos, entre 1971 e 1972, enquanto o Palácio de S. Bento estava em obras. Para a decoração do espaço foram feitas réplicas pela Fundação Ricardo Espírito Santo (FRESS) que acabaram por ficar na residência e ainda hoje fazem parte da decoração.

Mas há outros famosos, reais e inesquecíveis convidados, como por exemplo os príncipes de Gales, que visitaram Portugal em 1987 e fizeram da sua passagem um acontecimento que captou a atenção da imprensa e do público. No mesmo ano foi a primeira de três vezes que o rei Juan Carlos de Espanha ficou ali instalado. A conservadora do palácio lembra que o príncipe Naruhito do Japão, o príncipe Felipe de Espanha, o príncipe Philippe dos belgas e a princesa da Tailândia ou o duque de Edimburgo em 1973 são exemplos de pessoas que não eram chefes de Estado, mas foram convidados a ficar na residência. Conceição Coelho confessa também que guarda uma memória muito especial da visita dos imperadores do Japão, Akihito e Michiko. Além do contraste de culturas, destaca a humildade dos hóspedes. Assistiu à receção oferecida à comunidade japonesa em Portugal e no fim da visita os imperadores quiseram despedir-se do pessoal do palácio.

Também inúmeros presidentes passaram por esta morada. O general Eisenhower e o Presidente Ronald Reagan dos EUA. Juscelino Kubitschek e José Sarney, ambos presidentes do Brasil, Nicolae Ceausescu da Roménia, Samora Machel de Moçambique, Sukarno da Indonésia e o General Franco de Espanha. De França, por exemplo, vieram figuras como François Miterrand e Giscard d’Estaing, que esteve na residência em 1978 e viu-a decorada com mobiliário da FRESS (Fundação Ricardo Espírito Santo Silva) que pertencia à Caixa Geral de Depósitos.

Isabel II regressou a Portugal em 1985 para uma visita de três dias e voltou a instalar-se na residência do Palácio de Queluz. Para celebrar, a direção do monumento na época decidiu fazer uma exposição sobre a visita da monarca em 1957. Desta estadia o palácio guarda, no entanto, muito menos memórias, uma vez que, por esta altura, as visitas de Estado eram muito mais comuns e eram também tratadas pelos gabinetes da Presidência da República e do Ministério dos Negócios Estrangeiros, através do protocolo de Estado.

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