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F1 Grand Prix of The Netherlands
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O piloto neerlandês, que tem apenas 25 anos, leva agora dois títulos mundiais consecutivos na Fórmula 1

Formula 1 via Getty Images

O piloto neerlandês, que tem apenas 25 anos, leva agora dois títulos mundiais consecutivos na Fórmula 1

Formula 1 via Getty Images

Uma rivalidade de outros tempos, a quebra da Ferrari, um culto inesperado: Verstappen conseguiu outra vez. Mas como?

Piloto da Red Bull sagrou-se bicampeão de Fórmula 1 no Japão e venceu novamente a competição da Mercedes e da Ferrari. Verstappen voltou a conseguir – e existem três fatores que explicam como.

Vinte e cinco anos, dois títulos. Max Verstappen tornou-se bicampeão mundial de Fórmula 1 este domingo, no Grande Prémio do Japão, e revalidou o troféu conquistado na derradeira corrida da época passada. O piloto da Red Bull confirmou a hegemonia da equipa, confirmou a sua própria hegemonia enquanto piloto e confirmou a hegemonia de uma era que acabou com a era da Mercedes. Mas como?

Duas horas de paragem, duas semanas de espera? Não, dois minutos que mudaram tudo: Verstappen é bicampeão mundial de Fórmula 1

O jovem neerlandês é o protagonista da rivalidade da Red Bull contra a Mercedes, que viveu o seu arquétipo no final da temporada anterior mas que continua acérrima, e beneficiou da quebra de rendimento de uma Ferrari que chegou a prometer mundos e fundos em março. Pelo meio, é também o ídolo de uma mancha laranja que tem levado um inesperado hooliganismo para a Fórmula 1.

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Certo é que Verstappen igualou Schumacher e Vettel ao ser campeão com ainda quatro corridas por disputar – ficando apenas atrás de Mansell, com cinco, e do mesmo Schumacher, com seis – e esvaziou a competitividade de um Campeonato do Mundo que teve em 2021 um dos melhores anos da sua história recente. Se é impossível prever o futuro, também é fácil antecipar que será preciso esperar algum tempo até existir um verdadeiro rival para o neerlandês.

F1 Grand Prix of Japan - Qualifying

O neerlandês de 25 anos é agora um dos pilotos a ter conquistado o Campeonato do Mundo de Fórmula 1 com mais corridas ainda por disputar

Formula 1 via Getty Images

Red Bull vs. Mercedes: uma rivalidade que tem fora de pista o que não consegue ter dentro dela

As ondas de choque do Grande Prémio de Abu Dhabi de dezembro do ano passado, quando Max Verstappen venceu entre muita polémica e roubou o título mundial a Lewis Hamilton, prolongaram-se até à temporada que está agora a chegar à reta final. Nesse dia, que já carregava muitos dias anteriores às costas, Red Bull e Mercedes abriram oficialmente uma das rivalidades mais ferozes das últimas décadas de Fórmula 1 – dentro de pista e fora de pista.

A verdade é que, em termos práticos, a atual realidade da categoria rainha do automobilismo seria impensável há alguns anos. A hegemonia que a Mercedes teve, com sete títulos consecutivos entre seis de Lewis Hamilton e um de Nico Rosberg, parece estar a ser substituída por uma hegemonia semelhante da Red Bull, com Max Verstappen a tornar-se campeão do mundo ainda nos primeiros dias de outubro e Sergio Pérez na corrida pelo segundo lugar da classificação geral. E se é notório que a Red Bull está confortável neste novo papel, é ainda mais claro que a Mercedes tem dificuldades em ser qualquer outra coisa que não líder.

Um final épico, uma volta para a história, a corrida que todos merecíamos: a primeira página de Verstappen apagou a oitava de Hamilton

E acabou por ser esse o grande erro da equipa liderada por Toto Wolff. Ao longo da temporada, a Mercedes pareceu perder energia com casos inconsequentes, entrou numa competição quase individual com a Red Bull e esqueceu-se de se preocupar com o que se tornou óbvio: hoje em dia, em competição, o Mercedes não tem qualquer hipótese contra o Red Bull. A equipa de Max Verstappen e Sergio Pérez superou-se em termos técnicos, táticos e estratégicos e soube tomar as decisões acertadas em praticamente todos os momentos – basta olhar para o Grande Prémio da Bélgica, logo depois do verão, onde decidiu alterar componentes do motor do RB18 do neerlandês, arriscando um arranque em 14.º, e viu o piloto escalar pelo pelotão para ganhar a corrida.

A hegemonia que a Mercedes teve, com sete títulos consecutivos entre seis de Lewis Hamilton e um de Nico Rosberg, parece estar a ser substituída por uma hegemonia semelhante da Red Bull, com Max Verstappen a tornar-se campeão do mundo ainda nos primeiros dias de outubro e Sergio Pérez na corrida pelo segundo lugar da classificação geral.

É difícil, e até demasiado técnico, explicar a quebra de rendimento dos Mercedes. Parte dela estará relacionada com as novas regras adotadas pela Fórmula 1 em 2022 e que incluem a reintrodução do ground effect, algo que provoca um problema habitualmente chamado porpoising. Basicamente, resume-se ao aumento e consequente diminuição abrupta da downforce que faz com que os carros “saltem” em pista, algo que a Mercedes nunca conseguiu controlar ao longo da temporada e que chegou a provocar “problemas físicos” a Lewis Hamilton.

“Diria que esta é a pior era de um carro que já conduzi. Pilotar é um verdadeiro desafio, o carro parece uma cascavel. Mas temos uma boa luta à frente do pelotão e o pódio é possível, quem sabe? Vou lutar o máximo que puder e sair da linha o melhor que puder. Eu e o George tentámos coisas um pouco diferentes com os carros no fim de semana e espero que tenha sido uma boa aprendizagem para a equipa levar para a corrida”, chegou a dizer o piloto britânico ainda na Austrália, na terceira corrida do ano, onde nem sequer conseguiu chegar ao pódio.

Saltos à parte, a verdade é que a Mercedes corre o risco de terminar a temporada sem qualquer vitória, já que só Red Bull e Ferrari ganharam corridas este ano. Mais do que isso, Lewis Hamilton corre o sério risco de terminar a temporada sem qualquer vitória – algo que nunca aconteceu desde que o britânico entrou na Fórmula 1, em 2007, nem sequer nos anos em que foi quinto no final da época.

F1 Grand Prix of Singapore

Lewis Hamilton pode terminar uma temporada de Fórmula 1 sem ganhar qualquer corrida pela primeira vez na carreira

Formula 1 via Getty Images

Como capítulo final do ano e à margem dos festejos de Max Verstappen, Red Bull e Mercedes ainda vão continuar a discutir – agora, sobre dinheiro. Nas últimas semanas, o grande enfoque tem estado numa notícia da Gazzetta dello Sport que dava conta de que duas equipas tinham infringido o limite orçamental da última temporada: a Red Bull e a Aston Martin. Ou seja, e em termos práticos, o facto de a Red Bull ter gasto um valor pouco abaixo dos 5% do limite imposto pode levar a castigos ainda desconhecidos mas que podem passar por uma possível reprimenda pública pelo sucedido, dedução de pontos do Mundial de construtores e/ou de pilotos, exclusão de alguns eventos e ainda limitações de uso de túnel de vento e multas de avultado valor.

“Porquê? Porquê?”: Verstappen estava a voar, Red Bull mandou-o para as boxes e Leclerc sai na frente em Singapura

“Não sei de nada. As contas foram todas submetidas em março, é um longo processo que a FIA está a levar a cabo. Eles estão a seguir o processo e creio que na próxima semana será declarado o certificado. Acredito que as nossas contas estão abaixo do limite. Mas cabe à FIA, obviamente, seguir o protocolo”, disse Chris Horner, diretor da Red Bull. “A infração não afeta apenas 2021, mas também 2022 e 2023. São milhões de dólares que podem fazer a diferença entre ganhar ou perder. Estamos muito preocupados. Confio na FIA e no trabalho dos reguladores. O que acontecerá? Se alguém supera o limite e lhe é aplicada uma multa, então vou começar a fazê-lo também”, destacou Toto Wolff, diretor da Mercedes, entre outras declarações que levaram a que a Red Bull ponderasse colocar um processo ao responsável germânico. Pelo meio, o Mundial vai acabar. Mas o assunto não se esgota.

As promessas vazias de uma Ferrari que continua a prometer para 2023

O Campeonato do Mundo 2022 começou com a promessa de competição até ao fim. Charles Leclerc ganhou no Bahrain, Max Verstappen ganhou na Arábia Saudita, Charles Leclerc ganhou na Austrália e Max Verstappen ganhou em Itália. A partir daí, porém, a hegemonia entrou em ação: o piloto da Red Bull venceu 10 das 14 corridas seguintes, com o monegasco a festejar apenas na Áustria.

Lewis Hamilton corre o sério risco de terminar a temporada sem qualquer vitória — algo que nunca aconteceu desde que o britânico entrou na Fórmula 1, em 2007, nem sequer nos anos em que foi 5.º no final da época.

Um flashback rápido até março ou abril deste ano, mesmo no início do Mundial, permite recordar a sensação de que, contrariamente ao expectável, Leclerc poderia mesmo ser o grande adversário de Verstappen na corrida pela conquista da competição. E até permite recordar a sensação de que, contrariamente ao expectável, seria Leclerc e não Lewis Hamilton a colocar em causa a revalidação do título por parte do neerlandês. E até é difícil perceber quando é que essa sensação provou ser uma simples ilusão de ótica.

Saiu de 10.º, teve uma estratégia quase perfeita, não vacilou: o dia à campeão de Verstappen deu vitória na Hungria

A verdade é que, independentemente de Max Verstappen ter alcançado o título com ainda quatro corridas por disputar, 2022 não deixou de ser um ano de retoma para a Ferrari. A scuderia italiana ultrapassou a Mercedes, deixou a McLaren e a Alpine para trás e assumiu-se como a segunda equipa logo depois da crónica Red Bull. Algo que não evitou nem apagou erros, fins de semana para esquecer ou decisões mal calculadas – sendo o Grande Prémio da Hungria o exemplo paradigmático disso mesmo.

Aí, mesmo antes da pausa de verão, a Ferrari desperdiçou um segundo e um terceiro lugar na grelha de partida com uma estratégia de paragens inexplicável que procurou responder aos problemas de temperatura nos pneus com um composto duro que fazia parecer que Leclerc estava a conduzir em cima de gelo. Verstappen foi de 10.º a primeiro para ganhar a corrida, Hamilton e Russell garantiram o pódio para a Mercedes e Sainz e Leclerc foram apenas quarto e sexto num domingo em que pareciam lançados para a vitória. Ainda assim, e de acordo com o monegasco, foi preciso esperar até ao Grande Prémio seguinte para a Ferrari aceitar que não iria chegar ao título.

F1 Grand Prix of Japan - Qualifying

Charles Leclerc impressionou nas primeiras etapas, chegando a liderar o Mundial, mas perdeu fôlego ao longo da época

Getty Images

“Se recordar a Hungria, para ser honesto, o primeiro impulso que tive foi de que a estratégia estava bem. Depois, a partir daquela primeira paragem, a nossa corrida tornou-se muito mais difícil. Mas lá está, faz parte daquele conjunto de corridas que têm de nos fazer aprender e melhorar no futuro. Depois do Grande Prémio da Bélgica percebi que não ia ser campeão mundial. Foi logo depois da pausa de verão e ainda acreditava no título. Depois vi a diferença de performance entre nós e o Red Bull, uma diferença que nunca tinha existido na primeira metade do ano, e percebi que seria muito difícil”, explicou o piloto numa entrevista recente, recordando uma etapa em que Verstappen arrancou de 14.º devido a várias penalizações e acabou por conseguir ganhar.

De 14.º para 1.º, mais um dia na vida de Max: Verstappen vence categoricamente no GP da Bélgica

Charles Leclerc, porém, também sabe recorrer ao flashback de março e abril para encontrar motivação para 2023. “Se dermos uns passos atrás e olharmos para a big picture, acho que poucos acreditavam que poderíamos ser tão bons este ano. Esse é o lado realmente positivo desta temporada. Toda a gente já se habituou, porque estamos quase no fim da época, mas 2020 e 2021 foram dois anos muito difíceis para nós em termos de performance. Dito isso, temos de dar um passo extra para lutar realmente pelo título”, defendeu o monegasco da Ferrari.

E tem razão. Quase ninguém poderia antecipar a temporada positiva e competitiva da Ferrari, independentemente dos erros e de Verstappen ser campeão ainda em outubro, e essa premissa só pode garantir um 2023 em que Leclerc terá ainda mais ferramentas e bagagem para desafiar a hegemonia do neerlandês e da Red Bull.

"Depois do Grande Prémio da Bélgica percebi que não ia ser campeão mundial. Foi logo depois da pausa de verão e ainda acreditava no título. Depois vi a diferença de performance entre nós e o Red Bull, uma diferença que nunca tinha existido na primeira metade do ano, e percebi que seria muito difícil."
Charles Leclerc

Racismo, homofobia e insultos. O renascer da Fórmula 1 trouxe aquilo de que ninguém precisava

Desde que Max Verstappen chegou à Fórmula 1, em 2015, que foi construída uma aura de popularidade à volta do neerlandês. Uma aura que encontra poucos paralelos na história da modalidade. Se é certo que nomes como Niki Lauda, Ayrton Senna e Michael Schumacher assumiram o estatuto de lenda, também é certo que essa espécie de adoração de um piloto esgotou-se com o tempo – e com a perda de popularidade da Fórmula 1 nas últimas décadas.

Um popularidade reconquistada com “Drive to Survive”, a série da Netflix, com a juventude dos pilotos e com as redes sociais, onde nomes como Daniel Ricciardo, Carlos Sainz e Lando Norris adquiriram autênticas legiões de fãs. Pelo meio, existe Verstappen – que não é o rapaz cool, não é o rapaz simpático e nem sequer é o rapaz que mais se preocupa com aquilo que pensam dele. Mas é o rapaz que ganha. E isso chega para conquistar todos aqueles que estavam cansados do monopólio da Mercedes e de Lewis Hamilton e que suspiravam por um piloto à antiga, sem medo de ser agressivo ou de ser criticado, que vence depois de arrancar em 14.º e nunca escondeu que ia chegar onde chegou.

Mas tudo isso, pelo menos nos últimos meses, tem trazido consequências menos positivas. A mancha laranja que acompanha Max Verstappen tem sido a origem de problemas relacionados com o abuso de álcool, cânticos homofóbicos e racistas e um hooliganismo que não costuma estar presente nas bancadas dos Grandes Prémios. Na Áustria, no Red Bull Ring, a Fórmula 1 foi mesmo forçada a emitir um comunicado onde condenava as ações dos quase 50 mil adeptos do piloto neerlandês que assistiram à corrida, respondendo a relatos de assédio moral e comentários abusivos direcionados a espectadores que apoiavam outras equipas e até a festejos depois de um despiste de Hamilton.

F1 Grand Prix of Austria"F1 Grand Prix van Austria"

O piloto da Red Bull foi apoiado por uma autêntica mancha laranja no Grande Prémio da Áustria

ANP via Getty Images

“Tivemos conhecimentos de relatos de que alguns espectadores foram sujeitos a comentários completamente inaceitáveis por parte de outros durante a corrida. Falámos sobre o assunto com o promotor e com a segurança e vamos falar com todos aqueles que reportaram os incidentes. Estamos a levar o caso muito a sério. Este tipo de comportamento é inaceitável e não será tolerado. Todos os espectadores devem ser tratados com respeito”, podia ler-se no comunicado.

Na altura, Verstappen foi criticado por não condenar os episódios publicamente – através das redes sociais, por exemplo, algo que Hamilton fez – e por até desculpar de alguma forma aquilo que tinha acontecido quando foi questionado sobre o tema em conferência de imprensa. “Claro que não é bom. Estas coisas não devem acontecer. Li coisas chocantes, por isso, claro que não é ok. Nem sequer deveria precisar de dizer isto, deveria ser senso comum. Um ser humano normal deveria pensar assim e não se comportar desta maneira. Mas, às vezes, fazemos coisas estúpidas quando bebemos álcool. Não estou a desculpar nada mas algumas coisas deveriam ser reguladas”, atirou o neerlandês.

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