O fim de semana era de decisões nas pistas, o fim de semana tornou-se um palco para pedidos de decisões. Como se não bastasse tudo o que estava em causa no Grande Prémio de Singapura, onde Max Verstappen pode tornar-se o segundo campeão mais precoce de sempre numa conjugação de resultados que teria de envolver uma posição fora do pódio do companheiro Sergio Pérez e um lugar fora do top 8 de Charles Leclerc além do triunfo do neerlandês, os ânimos aqueceram e muito fora do circuito de Marina Bay – e nada teve a ver com o que se passou com o carro de Pierre Gasly nas boxes da Alpha Tauri, que do nada começou a acender uma inesperada chama sem que se percebesse ao certo o que se tinha passado.

16 provas, 13 pódios, 11 vitórias: escolham a casa, Max Verstappen mostra o carro (e consegue cinco triunfos seguidos pela primeira vez)

“Do meu ponto de vista, não estou a pensar muito na questão do título mas lamento pelos adeptos. Para todos, mas também para nós depois do ano passado, com o título a ir até à última. Nunca é bom quando uma temporada acaba tão cedo, mesmo quando eu o consegui, como no México. Individualmente, na tua perspetiva, é fantástico, mas para o desporto não é espectacular. Sinto-me grato por ter tido um ano como 2008, com luta até aos últimos segundos ou, claro, no ano passado, que foi praticamente o mesmo. Vamos esperar que no futuro seja um pouco melhor”, comentou Lewis Hamilton, antigo campeão mundial que relativizou também o facto de poder terminar o ano de 2022 sem conseguir ganhar nenhuma prova.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Balanço da época? Globalmente, não posso estar contente. Tem sido uma época de altos e baixos. Mas há coisas com as quais estou feliz, como a progressão. Fui capaz de dar a volta a um início bastante complicado, reencontrei-me com um carro que ainda não piloto de forma natural. Com isso sinto-me orgulhoso, mas o início de temporada foi difícil e, embora tenha conseguido ganhar ritmo, e até bons resultados, a cada duas ou três corridas aconteceu algo que não me permitiu dar continuidade. Consigo entender que depois das primeiras corridas o Charles [Leclerc] estava claramente um passo à frente, tanto na classificação como em termos de ritmo, mas melhorei muito a meio da temporada. Comecei a entrar na luta e foi um pouco frustante porque parecia que alguns não me queriam ali”, admitiu Carlos Sainz, numa entrevista ao jornal As onde deixou alguns recados internos para a Ferrari.

No entanto, o grande enfoque acabou por ser uma notícia da Gazzetta dello Sport, que dava conta de que duas equipas tinham infringido o limite orçamental da última temporada: a Red Bull e a Aston Martin. Ou seja, e em termos práticos, o facto de a Red Bull ter gasto um valor pouco abaixo dos 5% do limite imposto pode levar a castigos ainda desconhecidos mas que podem passar por uma possível reprimenda pública pelo sucedido, dedução de pontos do Mundial de construtores e/ou de pilotos, exclusão de alguns eventos e ainda limitações de uso de túnel de vento e multas de avultado valor.

“Não sei de nada. As contas foram todas submetidas em março, é um longo processo que a FIA está a levar a cabo. Eles estão a seguir o processo e creio que na próxima semana será declarado o certificado. Acredito que as nossas contas estão abaixo do limite. Mas cabe à FIA, obviamente, seguir o protocolo”, disse Chris Horner, diretor da Red Bull. “A infração não afeta apenas 2021, mas também 2022 e 2023. São milhões de dólares que podem fazer a diferença entre ganhar ou perder. Estamos muito preocupados. Confio na FIA e no trabalho dos reguladores. O que acontecerá? Se alguém supera o limite e lhe é aplicada uma multa, então vou começar a fazê-lo também”, destacou Toto Wolff, diretor da Mercedes, entre outras declarações que levaram a que a Red Bull ponderasse colocar um processo ao responsável germânico.

Tudo temas que ainda darão muito que falar e que apimentaram ainda mais o fim de semana, que teve Lewis Hamilton a ser o mais rápido na primeira sessão de treinos livres com Max Verstappen por perto e a Ferrari a dominar na segunda sessão tendo Carlos Sainz como o mais rápido e o companheiro Charles Leclerc de seguida. George Russell, o terceiro melhor, confirmou também a subida da Mercedes (que ainda teve Hamilton em quinto), à frente de Verstappen e com os Alpine a deixaram também bons sinais. Esta manhã, final da tarde em Singapura, tudo podia mudar com o aparecimento da chuva que levou mesmo a que a terceira sessão de treinos livres acabasse por ser suspensa pouco depois do seu início.

A pista continuou molhada por altura da qualificação mas a secar (o que se percebia também nos tempos e nas opções de pneus) e as duas primeiras fases trouxeram uma grande surpresa na Q2: se no primeiro corte foi Daniel Ricciardo e Sebastian Ocon que ficaram com a “fava” a par de Valtteri Bottas, Alexander Albon e Latifi (com o francês a acusar problemas nos travões), de seguida foi George Russell que não foi além do 11.º lugar, partindo longe das decisões para o objetivo de voltar a chegar a um pódio. Em tudo o resto, era altura de decisões entre os melhores, com Hamilton a assumir a candidatura entre Red Bull e Ferrari.

A pista estava a ficar mais seca, os líder provisórios da Q3 iam mudando uns atrás dos outros. Tsunoda, Alonso, Leclerc, Hamilton, houve um pouco de tudo. A três minutos do final a situação começava a dar uma ideia de estabilização, com o Mercedes do britânico na frente dos dois Red Bull e dos dois Ferraris, que não passava de uma mera ilusão de ótica perante os melhores registos que iam sendo alcançados nos diferentes setores. O último minuto começava com Leclerc na frente de novo (e a sair depois para as boxes), Max Verstappen estava a esmagar todos os tempos do monegasco mas acabou por ser chamado às boxes antes de completar a volta. “Porquê? Porquê?”, gritava no rádio para a equipa, sendo que tudo aponta para que a razão tenha estado ligada ao combustível em falta. Assim, o neerlandês parte de oitavo, atrás de Leclerc, Pérez, Hamilton, Carlos Sainz, Fernando Alonso, Lando Norris e Pierre Gasly.