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Durabilidade dos anticorpos neutralizantes para o SARS-CoV-2 pode aumentar com a administração de uma terceira dose
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Durabilidade dos anticorpos neutralizantes para o SARS-CoV-2 pode aumentar com a administração de uma terceira dose

Getty Images

Durabilidade dos anticorpos neutralizantes para o SARS-CoV-2 pode aumentar com a administração de uma terceira dose

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Vacina pode proteger da Covid-19 durante pelo menos dois anos. Estudos serológicos não bastam para concluir sobre a imunidade

Um estudo do CHUC reacendeu o tema da duração da imunidade oferecida pelas vacinas. Especialistas explicam ao Observador que esta pode durar pelo menos dois anos, mesmo sem anticorpos em circulação.

Os estudos que assinalam uma diminuição na quantidades de anticorpos contra o SARS-CoV-2 três meses depois da vacinação não têm utilidade para apurar a efetividade das vacinas. Os resultados obtidos através dos testes serológicos são “importantes em termos de informação científica”, e até podem desvendar como é que o organismo responde à estimulação praticada pela vacina, mas “não servem para tomar decisões técnicas”.

É aqui que as opiniões dos peritos divergem. Enquanto Luís Graça entende que os testes serológicos não devem influenciar quaisquer decisões técnicas relativas à revacinação da população, uma posição que vai ao encontro das diretivas da Direção-Geral da Saúde, o infecciologista Francisco Antunes, do Instituto de Saúde Ambiental da Universidade de Lisboa, defende ser incontestável a necessidade de reforçar a vacinação contra a Covid-19 num futuro próximo — mesmo não sendo essa a prioridade neste momento.

Luís Graça, imunologista do Instituto de Medicina Molecular e membro da Comissão Técnica de Vacinação contra a Covid-19, disse em entrevista ao Observador que a quantidade de anticorpos em circulação aumenta rapidamente após uma infeção ou a administração de uma vacina. No entanto, sabe-se que ela decresce ao longo do tempo e que isso “é esperado, não é especialmente surpreendente”. Os estudos mais robustos dizem que, mesmo diminuindo ao longo do tempo, os anticorpos mantêm-se em circulação durante pelo menos seis meses — alguns já apontam para os oito. Só o tempo dirá o que acontece a partir daí.

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Os resultados preliminares de um estudo efetuado pelos serviços de Patologia Clínica e de Saúde Ocupacional do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra (CHUC) trouxeram novamente para o debate público a longevidade da proteção que a vacina induz. Os dados indiciam que, em quatro mil profissionais de saúde (metade dos que participaram no estudo), os níveis de anticorpos caíram para um sexto do valor obtido após a vacinação ao fim de 90 dias. Ainda assim, em cada 100 voluntários, 98 ainda tinha anticorpos.

Ninguém arrisca colocar um prazo de validade à imunidade conferida pela vacina, mas a média Lucília Araújo, uma das autoras do estudo, argumentou que os anticorpos detetados ao fim de seis meses da vacinação podem já não ser protetores e que, por isso, será necessário administrar uma terceira dose da vacina contra a Covid-19 aos profissionais de saúde e depois à generalidade da população, “para que os surtos possam ser controlados” e para evitar a “evolução para variantes mais agressivas”.

E é aqui que as opiniões dos peritos divergem. Enquanto Luís Graça entende que os testes serológicos não devem influenciar quaisquer decisões técnicas relativas à revacinação da população, uma posição que vai ao encontro das diretivas da Direção-Geral da Saúde, o infecciologista Francisco Antunes, do Instituto de Saúde Ambiental da Universidade de Lisboa, defende ser incontestável a necessidade de reforçar a vacinação contra a Covid-19 num futuro próximo — mesmo não sendo essa a prioridade neste momento.

Francisco Antunes confirma estes argumentos: os últimos resultados do acompanhamento de pessoas infetadas no início da pandemia demonstram que a proteção conferida pelos anticorpos em circulação só parece chegar a níveis considerados nulos ao fim de um ano; e que, mesmo perante o risco de uma reinfeção, os casos dessa natureza são muitíssimo raros e normalmente assintomáticos ou ligeiros. Ou seja, a imunidade celular continuava a assegurar a proteção dos indivíduos, muito tempo depois da infeção.

O imunologista afirma que só os estudos que monitorizam o número de pessoas doentes entre quem já foi inoculado — os mesmos que permitiram aprovar as vacinas atualmente em distribuição na população — podem revelar o estado de proteção de um indivíduo ou a durabilidade da efetividade da vacina. É isso que as farmacêuticas como a Pfizer e a Moderna estão a fazer junto dos voluntários que participaram no primeiros ensaios clínicos: medem os títulos de anticorpos, mas também apuram a prevalência de casos de Covid-19 entre os indivíduos vacinados e comparam-na à dos que não estão vacinados. Quando a prevalência se tornar semelhante, então a vacina deixou de fazer efeito.

Até lá, mesmo depois de os anticorpos circulantes deixarem de ser mensuráveis, o organismo mantém células que, perante um novo contacto com o vírus, conseguem produzir mais anticorpos contra ele. Algumas também têm capacidade de eliminar células infetadas pelo SARS-CoV-2 e, em caso de infeção, também são reativadas.

Isso mesmo está descrito numa norma da DGS que determina que “os testes serológicos para o SARS-CoV-2 não devem ser utilizados para qualquer decisão sobre a vacinação contra a Covid-19” — algo que está em sintonia com as orientações de outras entidades técnicas, como o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC).  Como “os estudos serológicos (que medem os anticorpos) não permitem aferir totalmente a proteção contra a infeção”, porque não averiguam a memória celular que fica de retaguarda quando os anticorpos desaparecem, atualmente os seus resultados não estão recomendados como argumento para suportar decisões sobre vacinação.

Infecciologista aponta a necessidade de revacinar a população mais vulnerável — incluindo os idosos, os funcionários que trabalham com eles em lares, os profissionais de saúde e as pessoas com o sistema imunitário fragilizado — já para o próximo inverno. "Para que haja o efeito completo da imunidade, é preciso que os dois braços da imunidade, a dos anticorpos e a celular, funcionem sincronizadamente", argumenta: "Se há uma falha de um destes braços, há uma relativa perda da imunidade".

Pedro Madureira, imunologista do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto, confirma que tanto em pessoas vacinadas contra a Covid-19, como naquelas que foram infetadas pelo SARS-CoV-2, as células que produzem anticorpos são ativadas, proliferam-se e, perante um segundo contacto com o mesmo agente patogénico, voltam a produzir essas moléculas neutralizantes. Portanto, não é importante que os mesmos anticorpos continuem em circulação na mesma quantidade e eternamente para que a proteção se mantenha.

Aliás, isso nunca foi registado na história da imunologia. Sabe-se que o tempo de semi-vida dos anticorpos é de 23 dias — ou seja, de 23 em 23 dias, a quantidade de anticorpos neutralizantes em circulação passa para metade do que era. Isto é “normal, é simplesmente algo que acontece” e que não é necessariamente um problema: as células que as sabem produzir continuem ativas durante anos a fio, muitas vezes durante a vida inteira, daí que algumas vacinas não precisem de ser reforçadas no tempo de vida de um humano.

Anticorpos desaparecem, mas cientistas dividem-se sobre se isso é um problema

Francisco Antunes confirma estes argumentos: os últimos resultados do acompanhamento de pessoas infetadas no início da pandemia demonstram que a proteção conferida pelos anticorpos em circulação só parece chegar a níveis considerados baixos ao fim de um ano; e que, mesmo perante o risco de uma reinfeção, os casos dessa natureza são muitíssimo raros e normalmente assintomáticos ou ligeiros. Ou seja, a imunidade celular continuava a assegurar a proteção dos indivíduos, muito tempo depois da infeção.

Com a vacina, é expectável que o mesmo esteja a acontecer. Os estudos indicam que as pessoas que desenvolveram respostas imunitárias à vacina mantêm essa capacidade protetora até agora, mesmo passado quase um ano desde que as primeiras pessoas foram administradas — as que participaram nos ensaios clínicos. É também o que acontece após uma infeção natural: a maioria das pessoas que recuperaram de uma infeção por SARS-CoV-2 estão protegidas ainda hoje e já lá vão 17 meses desde que os primeiros casos surgiram em Portugal.

Em declarações ao Observador, Manuel Carmo Gomes, epidemiologista da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, já tinha apontado que a imunidade celular parece durar pelo menos dois a três anos; e que, tendo em conta o que já foi observado noutras doenças, ela pode arrastar-se por longos anos. O virologista Pedro Simas, do Instituto de Medicina Molecular, também já defendeu esta tese e coloca a longevidade da imunidade celular para a Covid-19 nos cinco anos.

Isso descartaria a necessidade de revacinar a população nesse período de tempo. Só que o infecciologista não concorda que assim seja e aponta a necessidade de revacinar a população mais vulnerável — incluindo os idosos, os funcionários que trabalham com eles em lares, os profissionais de saúde e as pessoas com o sistema imunitário fragilizado — já para o próximo inverno. “Para que haja o efeito completo da imunidade, é preciso que os dois braços da imunidade, a dos anticorpos e a celular, funcionem sincronizadamente“, argumentou: “Se há uma falha de um destes braços, há uma relativa perda da imunidade”.

Há estudos que apontam que algumas pessoas infetadas pela epidemia de SARS (provocada pelo SARS-CoV-1) em 2003, continuam a ter alguma imunidade contra o SARS-CoV-2, apesar de todas as alterações que o vírus manifestou desde então. E mesmo sem terem os anticorpos em circulação quase 20 anos depois.

Seria como regressar ao início da campanha de vacinação, identificando quem são as pessoas em maior risco perante uma infeção (ou reinfeção) pelo SARS-CoV-2, compara Francisco Antunes. Mas com um grau de detalhe ainda maior: por exemplo, poderá fazer sentido que, dentro destes grupos de risco, os primeiros a receberem uma nova dose contra a Covid-19 sejam os que receberam a vacina da AstraZeneca e da Johnson&Johnson, precisamente por aparentemente estas estimularem uma produção de anticorpos menos acentuada do que a de outras vacinas.

É um problema que pode não ser partilhado com as pessoas que receberam as vacinas baseadas em mRNA. Um estudo publicado na revista Nature em junho comprovou que, no caso das vacinas da Pfizer/BioNTech e da Moderna, a reação imunitária desencadeada pelo organismo pode proteger durante anos. A descoberta foi realizada após analisar os nódulos linfáticos (as estruturas onde as células do sistema imunitário se desenvolvem) de pessoas totalmente vacinadas e conferir que eles continuavam altamente ativas quase quatro meses após a vacinação, sem sinais de abrandamento.

Mesmo que essas conclusões sejam comprovadas, essa não deve ser, no entanto, a prioridade das autoridades de saúde, prossegue o mesmo infecciologista: é preciso aumentar ao máximo a cobertura vacinal para reduzir a transmissão do vírus, dando-lhe menos oportunidades de se replicar e entrar em mutação, evitando assim variantes mais transmissíveis que a delta. E a terceira dose “aumenta a durabilidade do título de anticorpos” e isso é importante porque “a imunidade celular, que é mais persistente, é também mais lenta a responder”.

Pedro Madureira discorda: desde que a imunidade celular continue preparada para agir assim que o organismo for confrontado com um novo ataque, não há necessidade de manter os níveis de anticorpos em circulação iguais — nunca assim foi para nenhuma outra doença no passado. Aliás, há mesmo estudos que, segundo este imunologista, apontam que algumas pessoas infetadas pela epidemia de SARS (provocada pelo SARS-CoV-1) em 2003, continuam a ter alguma imunidade contra o SARS-CoV-2, apesar de todas as alterações que o vírus sofreu desde então. E mesmo sem terem os anticorpos em circulação quase 20 anos depois.

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