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André Ventura faz discurso do final de noite após Chega ter ficado em terceiro lugar
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André Ventura faz discurso do final de noite após Chega ter ficado em terceiro lugar

FRANCISCO ROMÃO PEREIRA/OBSERVA

André Ventura faz discurso do final de noite após Chega ter ficado em terceiro lugar

FRANCISCO ROMÃO PEREIRA/OBSERVA

Ventura conseguiu tornar Chega a terceira força e já só quer lutar contra os pesos-pesados (PS e PSD)

O Chega é um dos grandes vencedores da noite. André Ventura passou a ter a companhia de mais 11 deputados no Parlamento e cumpriu o objetivo de se tornar a terceira força política nacional.

André Ventura entrou no quartel-general do Chega, no dia 30 de janeiro de 2022, como deputado único do partido e saiu, já no dia seguinte, com um grupo parlamentar com mais 11 deputados. É a consagração que o líder do Chega colocou como fasquia e que andou várias semanas a pregar: ser a terceira força política em Portugal.

Rui Paulo Sousa, Rita Matias e Pedro Pessanha por Lisboa, Rui Afonso e Diogo Pacheco Amorim no Porto, Pedro Frazão em Santarém, Pedro Pinto em Faro, Jorge Valssassina Gouveia em Aveiro, Filipe Melo em Braga, Gabriel Mithá Ribeiro em Leiria e Bruno Nunes em Setúbal. São os nomes dos deputados que vão fazer companhia a André Ventura nos próximos quatro anos, num mandato com um PSD fragilizado e com uma maioria absoluta do PS.

“A partir de agora, haverá quem diga as verdades naquele Parlamento. E não será 1 em 230 — serão 12 em 230, será um grupo parlamentar fortíssimo nesta próxima legislatura”, prometia o líder do Chega no discurso final da noite. Um grupo parlamentar em que oito dos membros fazem parte de órgãos nacionais do Chega, dois são conselheiros nacionais, dois acumulam cargos de vereadores e onde há apenas uma mulher.

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O cocktail que deu jeito a Ventura

Não é o cenário de bloco central que Ventura vaticinou no último dia de campanha eleitoral como sendo uma “dádiva caída dos céus”, mas é um cenário que permite ao Chega fazer aquilo que o líder chamou de “verdadeira oposição” e de “construção de uma grande alternativa de direita para substituir o PS”.

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No fundo, André Ventura abriu a porta a um crescimento do Chega que tem como objetivo aproximar-se cada vez mais do PSD, o partido que acusa de não ter feito uma oposição clara ao PS nos últimos anos, que acusou de ter estado ao lado dos socialistas em mais de 60% das vezes na última legislatura e de ter aberto a porta a um cenário de bloco central no pré-eleições.

Foi um cocktail perfeito que deu para o líder do Chega servir como um mix entre a memória do passado e os olhos postos no futuro: “Eu prometi-vos em 2019 que em oito anos seriamos a maior força política nacional. Passaram dois e já somos a terceira maior força política nacional.”

Nos últimos dois anos, o Chega elegeu um primeiro deputado único, André Ventura ficou em terceiro lugar nas eleições Presidenciais e elegeu 19 vereadores nas eleições autárquicas. A sucessão de acontecimentos, a implantação e o crescimento exponencial do partido em dois anos deu ao líder do Chega a possibilidade de sonhar relativamente ao partido que fundou e de não ser comedido nas promessas. Nunca o tem sido, mas esta noite foi menos ainda e voltou a falar sobre ser um partido de Governo (e não de protesto).

A pequena festa que só o espumante do líder veio animar

A festa que se fez no quartel-general do Chega, no hotel Marriott, em Lisboa, contou com poucas dezenas de pessoas. Já a noite ia longa quando os militantes começaram a chegar, quase duas horas depois das primeiras projeções que costumam animar ou entristecer as salas em que os partidos se reúnem.

Por ali, nem festejos, nem choros. Contavam-se pelos dedos de uma mão os jovens que marcavam presença no momento que poderia ter sido de festa, mas a grande surpresa foi mesmo o resultado dos socialistas, bem mais do que o terceiro lugar do Chega.

Talvez a forma como o partido foi assistindo aos resultados seja um espelho do que se passa no Chega: a direção esteve sempre isolada, André Ventura só foi visto à entrada e a festa só começou quando a comitiva forte do líder começou a preparar a chegada do presidente do partido. Foi preciso que os ponteiros do relógio passassem das 23h30 para as bandeiras de Portugal e do Chega saírem das cadeiras para serem colocadas ao alto. A razão era a do costume: estava a chegar André Ventura à sala. O ambiente transformou-se por completo, os cânticos começaram a ecoar e era a chegada de um dos vencedores da noite.

A estratégia que pouco ou nada falhou e a orquestra que não pode desafinar

Até esse momento, os festejos resumiram-se a alguns momentos mais efusivos de cada vez que se elegia um deputado. E foram muitos. As expectativas do partido eram elevadas e ambiciosas, mas olhando para o que foi estabelecido como objetivo foi praticamente tudo conseguido: em Lisboa foi possível eleger quatro deputados (o partido acreditava no quarto, mas três já era visto como um bom resultado); a aposta no calcanhar de Aquiles que é o Porto surtiu efeito (o Chega não só elegeu um como dois deputados — Diogo Pacheco Amorim entra para o Parlamento); são eleitos deputados em todos os círculos apontados como possíveis (Pedro Pinto, que tinha sido uma aposta estratégica em Faro em vez de Portalegre é eleito) e até nos círculos menos possíveis houve surpresas, como foi o caso de Leiria.

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Por eleger ficaram dois membros da direção, Patrícia Carvalho e Rodrigo Alves Taxa, que seguiam nos segundos lugares de Setúbal e Braga, respetivamente, e que não conseguiram um lugar na bancada parlamentar. E também Marta Trindade, vice-presidente do partido que seguia em terceiro nas listas do Porto.

No final do dia, André Ventura recolhe os louros de um partido de um homem só, que poderá esta noite ter dado o passo para deixar de o ser. A escolha dos nomes foi responsabilidade do próprio e será também o presidente do Chega a encabeçar a bancada parlamentar — ainda que não seja certo que seja o líder parlamentar. Contudo, continuará a ser o maestro da orquestra — com a esperança de que os músicos não falhem como tem acontecido noutros casos, desde os Açores até a alguns protagonistas das eleições autárquicas.

Nada que atrapalhasse os flutes de espumante que vieram nas mãos dos protagonistas da festa que, em cima do palco, tiraram fotos, brindaram e festejaram os resultados que ainda nem estavam a 100% quando André Ventura abandonou a sala e se dirigiu a um dos pisos superiores do hotel.

A noite em que o Chega passa só a falar para cima

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A noite eleitoral marcaria ainda uma viragem no discurso de André Ventura: a forma como vai olhar para os adversários. O presidente do Chega arrastou durante vários dias a ideia de que a campanha era um ringue de todos contra um, que o partido que lidera era alvo de ataques constantes e que todos impunham uma linha vermelha de “com o Chega, não”.

Agora, André Ventura impõe a ideia de que esse discurso abriu a porta à maioria absoluta do PS e responsabiliza Rui Rio e o PSD por esse resultado. “O PSD errou por ter feito toda a sua campanha a dizer ‘com o Chega não’”. E a mensagem tinha um alcance ainda maior e era para toda a direita: “Espero que o PSD e toda a direita percebam que sem o Chega não há solução governativa.”

São precisos quatro anos para que o cenário volte a ser posto em cima da mesa, porém André Ventura não deixa de o referir mais uma vez.

Por outro lado, e quando confrontado com as palavras de Catarina Martins sobre “deputados racistas” no Parlamento, André Ventura abre espaço a mais uma mudança no comportamento do partido: “É conversa de derrotados, não estamos para falar de derrotados. A partir de agora falamos só com o PS e com o PSD.”

É um apontar para cima, a ideia de que, com a conquista da terceira força política, o Chega deixou de se preocupar com quem está atrás, com os partidos que não fazem parte da solução que o partido tem para o país e que, neste momento, apenas quem está acima interessa.

[Como se desenhou um mapa cor-de-rosa absoluto. O filme da noite eleitoral:]

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